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segunda-feira, setembro 21, 2009

O BIFE E O PEIXE FRITO (CONTO)

Man Xaxo virou guarda depois de desmobilizado do braço armado do povo, as FAPLA. Em casa do ministro Kambondondo onde estava colocado, posto muito cobiçado por todos os companheiros da nova trincheira, assistia dias sim, dias sempre aos banquetes com que Kambondondo brindava os amigos, ex-companheiros de brigada, sócios empresariais, afilhados e até namoradas, sempre que a dona Kifunde se ausentasse para compras no estrangeiro.

Man Xaxo, visionário e audaz em pôr ordem na vizinhança, só de longe saboreava aqueles quitutes que bem lhe sabiam na imaginação. O seu prato vezeiro era o de arroz com peixe frito e pão seco que vinha da empresa de segurança. Junto à cancela estava um pitbull carnívoro, animal de estimação de Kambondondo, cujas regalias se equiparavam aos que oferecia aos filhos, ultrapassando mesmo as miseráveis vivências dos directores nacionais. O Xindandala tinha médico, dentista, adestrador e muito mais. As suas consultas eram seguidas ao pormenor e usava dos mais caros perfumes. Xindandala era, aos olhos de Man Xaxo, um cão com direitos humanos.

Farto da vida humana do cão e a vida de cão que lhe era brindada naquele rancho ministerial, Man Xaxo começou por dividir os bifes entre ele e o pitbull sem que os seus segurados o soubessem. Com o andar do tempo foi diminuindo a parte da carne destina ao cão mandando-a goela adentro, até que um dia pensou no que seria o seu golpe de artista: inverter os pratos. O peixe frito para o cão e o bife para si.


Mal pensou, pior fez. O engarrafamento daquele dia tinha atrasado a chegada da carrinha de distribuição do manjar aos vigilantes todos. O pitt Xindandala já tinha tomado leite, antes da refeição do dia. Man Xaxo engolia vento ainda. À hora do almoço, o bife tanto fazia verter fluídos da boca e das narinas do cã0, como também criava água na boca ao seu companheiro humano. Man xaxo não pensou nem pestanejou. Ao chegar o refogado tragou-o e aguardou pelo arroz com peixe frito que o cão sequer o tocou, abrindo-se em uivos que despertaram os proprietários da casa.

Qual o espanto?
_Repousava no canil intacta a marmita com arroz e peixe frito. Do bife nem cheiro!


Luciano Canhanga

3 comentários:

Anónimo disse...

Pois, meu filho, Eu tambem trocaria o peixe frito pelo BIFE! Podes ter a certeza.
Um abraço
São

Angelino disse...

Amigo Luciano.
Até para se ser é preciso saber...
Quanto a trocar não sei não,mas se o peixe é do Longa aí sim troco.
Um abraço.
Angelino

Soberano Kanyanga disse...

Que saudades do peixe cuja escama é o melhor que tem... Em tempos fui ao Bango de Cuteca, uma aldeia ribeirinha que fica do Lado do Libolo e os parentes ofereceram-me uns peixes para matar a saudade. Levei-os à casa e ninguém os sabia preparar. desescamaram-nos... Qie pena, a minha!