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sexta-feira, janeiro 30, 2015

DE QUE SE SUSTENTAM OS JORNAIS PRIVADOS EM ANGOLA?

(CONSTATAÇÃO INACABADA)
De que se  sustentam os jornais "privados" angolanos?
Já lá se foi o tempo em que os jornais eram "cadernos com notícias intercaladas por anúncios publicitários",  onde a publicidade/propaganda "preenchia espaços sem noticias". Hoje, numa visão mercantilista focada, não só para informar, mas, acima de tudo, para o lucro, as noticias é que passaram para lugar secundário nas prioridades de paginação e preenchimento das páginas de um jornal. As noticias, razão de ser, na tradição dos jornais, passaram a "espaço de informação actual, interpretativa ou opinativa que intermedeia anúncios publicitários ou que preenche espaços sem publicidade". Perante esse novo conceito, folheei os dois hebdomadários que me chegaram hoje às mãos, tendo constatado que no primeiro, por sinal o mais lido (estudo divulgado pelo mesmo, a 10.jan. 2015), constam apenas dois anúncios de propaganda comercial e um institucional. No segundo jornal, também de referência, estão cinco anúncios, sendo um institucional e outro que me pareceu publicitação de um outro jornal da "mesma casa" patronal.
Perante esta constatação da fraca presença de anunciantes e tendo em atenção as fracas tiragens e o baixo número de pessoas que compram jornais regularmente, uma pergunta me ocorre.
- De onde os jornais privados angolanos  retiram o dinheiro com que pagam os salários, equipamentos, imóveis e impressão do jornal físico em gráfica?
a) com o dinheiro resultante da quase inexistente publicidade?
b) com o resultado das vendas do jornal físico?
c) com outras engenharias? c.1) quais e para que fins?
d) sem anunciantes em quantidade, é rentável criar e ou comprar jornais em Angola?
e) qual será a estrutura de custos médios mensais de um jornal hebdo (receitas-despesas funcionais-impostos)?

sábado, janeiro 24, 2015

AUSENCIA DE CERTIFICADOS CONDICIONA INSCRIÇÕES NAS UNIV´S PÚBLICAS

Tudo quanto há de oficial as inscrições ao ensino universitário público terminam hoje em todo o país.
Também é sabido que muitos institutos médios e, sobretudo, os colégios privados que ministram aulas até ao ensino médio, entregaram tardiamente os certificados, havendo aquelas instituições que ainda não certificaram os seus finalistas.
Há mesmo quem diga que essa morosidade na entrega de certificados é premeditada, existindo um "acordo secreto" entre os colégios e as universidades privadas.
Como a coisa funciona?
Atrasando os colégios privados a entrega dos certificados, os alunos ficam impossibilitados de concorrer, neste ano lectivo, ao ensino superior público, devendo recorrer às confrades universidades privadas.
Seja ou não verdade, os factos apontam para esse caminho, pelo que, em rigor aos factos, o Ministério do Ensino Superior devia prorrogar, pelo menos por mais uma semana, o tempo para inscrições.
Será que vai faze-lo?

terça-feira, janeiro 20, 2015

O FEIJÃO "ENXOTA CLIENTE"

Nos meus tempos de criança já tinha ouvido falar e visto o “peixe catana” ou “cikolamwenho”. Tão duro, tão duro que precisava de uma afiadíssima catana ou machado para o desfazer em bocados nem sempre ao gosto do retalhista/cozinheiro. Era o peixe que, em Kalulu, nos anos oitenta do século XX era vendido nas empresas cafeícolas Libolo I, Libolo II e Libolo III.
Tempos depois, com a fome que se seguiu aos dias das refregas pós-eleitorais de 1992, surgiram dois tipos de feijão. Um era o “espera cunhado” e outro o ”afugenta sogra”. O primeiro era de fácil cozedura, não demorando mais do que quarenta e cinco minutos. O segundo era de uma dureza nunca vista e que naqueles tempos de fome e penúria muito servia a algumas noras mal-educadas para afugentar as sogras.
- Mamã almoço hoje é feijão. Só que está já há duas horas e meia e não está a cozer. O gás, essa é segunda botija, e nada! - Diziam.
Quando pensava ter já ouvido e assistido a muita coisa, hoje fui surpreendido com o feijão “afugenta cliente”. Isso mesmo, “Afugenta cliente”. Não é bluff.
Fiz, com antecipação de 24 horas e reconfirmação de 4 horas antes o pretendido almoço, um pedido para pitéu em instância turística para o “magnata”, a digníssima e dois herdeiros do “trono sobático”. Gentil, como sempre, a gestora, parecia encaminhar o assunto em boa praia. Trocamos mensagens com as devidas cordialidades e formalidades. Um título e um agradecimento desse lado, outro título e agradecimento da praxe do outro lado.
- Papá, o almoço hoje é onde?- Perguntou Renato já acossado pela fome, ainda no meio do culto Metodista.

- Filho, ainda é cedo. Respondi-lhe com um vinco no rosto, dada a sua forma desconcertada de estar perante um local de adoração.
-Mamã, papá não está a falar onde vamos comer:- Resmungou, em busca de auxílio.
- Eu já disse que vamos almoçar num lugar turístico. Por agora devem prestar atenção ao culto e depois partimos para o almoço.
- Papá, vamos comer “papuço”? - Voltou a questionar, já mais alegre pela resposta.
- Sim. Vamos comer kakusu, se te portares bem.
O sol corria para o meio centro. As chapas que cobriam o local de cultos pareciam gritar. Estavam sendo esticadas pela temperatura que atingia o seu ponto mais alto. No estômago, as lombrigas brigavam descontentes e tudo fazia adivinhar outras perguntas sobre o local e hora do almoço.
- Mor, já confirmaste o almoço? - Desta vez foi a digníssima, talvez preocupada com a fome dos filhos (as mulheres têm essa “mania” de pressentir a fome dos filhos) ou mesmo reclamando o seu quinhão.
- Sim, já enviei mensagem a confirmar nossa ida ao local e obtive resposta garantindo que tudo estaria a ser preparado e pronto ao meio dia e trinta minutos.
“Teu culto finda aqui. Despede-nos Senhor. Dirija-nos até ao fim. Por teu excelso amor”! – O coro central entoou o seu último hino, o da despedida dominical.
Fez-se fila para saudar o pastor, o liturgista e os coristas perfilados à saída do templo físico. Renato corria de lado a outro. Se tinha apossado da igreja depois de duas horas e meia de “prisão” no seu imaginário traquina. Os apressados dirigiram-se aos veículos e motociclos e foram “rezar noutras freguesias”. Seguimos-lhe exemplo e procuramos por um ATM que encontramos sem muita demora. Fizemo-nos a caminho do Centro turístico que distava cerca de treze quilómetros.
- Papá olha praia! – Gritaram as crianças. A menina aproveitou lembrar-se que não tinha facto de banho.
- Não é praia, filhos. É lagoa natural. Aí não se nada. É perigoso.
- E só vamos comer mais nada?- Insistiu a menina.
- Sim, Mara, vamos comer e ir descansar em casa. Amanhã é dia de trabalho.
Estacionada a viatura, passamos pela cozinha que estava às moscas. Nem uma brasa acesa. Comecei a temer desconfiar das palavras amorosas da gestora que me garantira, de pés quase juntos, “encontrarás tudo pronto”.
-Será que já está mesmo pronto e só a espera que chegássemos?- Indaguei aos meus botões, sempre seguido pela digníssima e pelos putos que, por instantes, se tinham distraído com a exuberância da lagoa e deixado de perguntar sobre a comida.
- Boa tarde, jovens, podem mostrar-me o “gerente”?- Indaguei.
- Os três moços que jogavam à dama, entreolharam-se e apontaram-me o caminho da sala onde estaria o responsável.
- Boa tarde, jovem. É o gerente?
- Sim. Sou eu mesmo.
- A Drª fulana falou-lhe de quatro pessoas que viriam cá almoçar? O prato é kakusu…
- Sim, boa tarde, mano. Ela falou. Podem dirigir-se á mesa. Querem ficar na sala ou junto à lagoa? Também há sombra e cadeiras.- Aconselhou.
Escolhemos o espaço aberto, com uma visão mais ampla sobre a nascente natural barrada pela acção humana, resultando numa majestosa lagoa com margem betonada num dos lados. Os putos andavam de um lado ao outro como felino que demarca o seu espaço vital.
- Papá, quero andar de canoa.
- Papá, quero nadar nessa piscina bem grande.
- Papá, quero isso… - Renato e Mara não se cansavam de pedir o usufruto daquelas águas, entretanto barradas a nado.
E não tardou a explicação de Mara, que já sabia ler, ao irmão que via no papá um empecilho à sua vontade de mergulho.
- Mano, o papá tem razão. Aí está escrito “proibido tomar banho nesta lagoa”. É por isso que o papá não nos quer deixar tomar banho nessa lagoa.
Sem nado, as atenções voltaram à comida que demorava. A mulher, já impaciente, estava de pé, pronta a ir tirar esclarecimentos, quando o “gerente” se apresentou para o que chamou de uma pequena desculpa.
- Já está tudo pronto. Só falta o feijão!
- Só falta o feijão? Preferia que faltasse o kakusu que pode ser pescado por mim do que o feijão. Queres que aguarde aqui três horas a espera do feijão? – Questionei-o já com um vinco visível no rosto.
- Não chefe. Já está a ferver mas vai levar ainda algum tempo. É só mesmo o feijão que está a faltar.- Justificou-se, esfarrapado, o rapaz.

- Traz já o que tens e o feijão vem mais tarde. - Ordenou minha senhora algo aborrecida. Quatro peixes enxutos, bocadinho de mandioca e batata-doce, um molheco de tomate e cebola e nada mais. Os peixes tinham sido congelados, depois de grelhados, e aquecidos, estando secos e sem temperatura interior. O resto foram só reclamações e o feijão, ainda fervente, serviu mesmo o seu papel de afugentar os clientes que reclamavam de mesa em mesa.
Nota: Texto reeditado e publicado pelo Semanário Angolense, edição de 17.01.2015


quinta-feira, janeiro 15, 2015

REGRESSO À VIDA "PROLETÁRIA"


Com esse agravar da vida que se aprimora, dia após dia, com os discursos políticos e económicos todos direccionados à contenção de gastos e poupança,

Com a crise financeira que estamos com ela instalada nos nosso bolsos e fogões, poupando os burgueses, mas depauperando a “pequena-burguesia” que nos dias de hoje não passa de uma classe média-baixa, vou ensaiando medidas de austeridade que, espero, ajudem a atravessar o longo deserto que se vislumbra adiante e que pode conflituar com os hábitos de consumo instalados em muitos lares.

Pensei no regresso da "kandimba" para medir o arroz e no copo de "reco-reco" para o açúcar; na recolha da palha da serração (restos de madeira) para compensar o carvão e o gás; recorrer às escolas e universidade pública (quanto dói fazer ver o filho a fazer o propedêutico e o teste e ficar sem o nome na lista dos apurados por falta de “empurrão”?) em vez dos colégios e o recurso aos autocarros em vez de táxi e carro próprio para a digníssima.

Fiz uma lista de onde cortar ou poupar e rezava:

Corte no gás: a razão é que nos tempos da “pequena-burguesia” instalada na pós-ditadura do proletariado, a água fervia cerca de três horas, mesmo se sabendo que ela entra em ebulição aos 100 graus centígrados. A canalizada tarda em chegar e mesmo que a tivesse, conta-se, que não se recomenda ao estômago urbanizado.

Corte na comida: cheguei à conclusão que mais comida vai ao lixo do que ao estômago (em minha e muitas casas). Basta ver quão repletas andam as lixeiras e quão gordinhos andam os ngulus desgovernados. No natal, por exemplo, até o cão rafeiro de casa negou-se a comer carne. Apenas as galinhas estavam com os dias contados por causa das cabidelas diárias. Medir o arroz, o açúcar, o chá, o leite, e etc. seria um caminho para a poupança.

Corte nos combustíveis: aqui a coisa ficou complicada pois os autocarros de transporte público urbano e peri-urbano há muito se demitiram da sua função. A empresa distribuidora de energia, mesmo refundada, ainda não deu ar de sua graça e a luz continua no pisca-pisca forçando o gerador a gemer todas as noites. Mas sempre se encontram oportunidades de melhorias como desligar o gerador à meia-noite e a Senhora deixar de usar o carro aos fins-de-semana.

Corte nos gastos com educação: argumentei que toda a minha trajectória foi feita no ensino Público e quando mudei para a privada era já em “segunda agregação” e em tempo de vacas nutridas. Todos que iniciassem um novo nível deviam ingressar numa escola ou universidade pública, beneficiando, enquanto ainda der, de uma preparação propedêutica, se necessário.

Corte nas “kapurenquanto”: essa rubrica foi-me imposta mas arguiu que não precisava de fazer parte da lista por ser uma rubrica há muito extinta.

Apresentada a lista ao conselho de família, os filhos reclamaram que estavam a ser despromovidos. Acusaram-me de antiquado e de estar a igualá-los com quem não disseram. A mulher apresentou igualmente as suas objeções.

- Casa sem energia à meia-noite é escura e propensa a intrusões. Fim-de-semana sem carro é doloroso e mais. As vizinhas acabam confundindo poupança com desgraça. Filhos sem colégio deixam de ter amigos recomendáveis e se tornam rafeiros (?), argumentou a digníssima chefe do poder executivo caseiro.

Sem os argumentos traduzidos em factos, vou agora procurar por uma consultoria financeira ou por uma escola de formação para levar a família a reaprender a vida "proletária" que se avizinha com o "derrube" das vivências "pequeno-burguesas" que se foram instalando no kubico nos últimos anos de vivência folgada da economia petro-diamantífera. Tem de se voltar às origens!

Obs: adaptado e publicado no Semanário Angolense, de 24.01.2015, sob título "Plano Samanjata para a crise"

 

sábado, janeiro 10, 2015

PAU-DE-CABINDA

Entre amigos:
- Então, vais passar as férias em Cabinda?
- Sim. Tens uma recomendação a fazer ou recado a dar?
- Sim. Tenho. Não te esqueças de trazer um pedaço de pau-de-Cabinda.
- Hum? Pau-de-Cabinda?! Não é muito cedo para a tua idade?
- Traz só e deixa de comentários...
- Mas, diz ainda. Teu motor já precisa de reforço?
- Só porque o teu carro é novo não levas roda suplente?
E cada um foi no seu caminho...

segunda-feira, janeiro 05, 2015

KALIEMATOGI MOUTAIN


É assim que a geografia o regista. Está a 100m acima do nível médio do mar, na zona de transição entre a planície e o planalto angolano.
Falta conhecer quem atribuiu o topónimo e que razões estiveram na origem de tão "estranho nome" que muito se parece a uma expressão em Kimbundu, "kalye/kadye matuji", língua falada pelos povos de Kalulu (Libolo).
Vejamos: kalye/kadye matuji (coma fezes; vai comer fezes).
Para mim, são duas as hipóteses (a confirmar através do estudo da tradição oral)que terão levado à atribuição do topónimo:
 a) Existência (no início da edificação da vila de Kalulu) de fezes de canta-pedras no cimo da montanha pedregosa (quem quisesse lá chegar teria de "comer" muito matuji daqueles animais);
-b) Existência de fezes humanas, na base da montanha, junto à estrada Kalulu-Munenga-Ndondu (situa-se próximo de Musafu, primeiro bairro, e aqueles que não tinham/ têm WC se dirigem ao mato para as necessidades maiores).
Existirá outra causa para a atribuição do topónimo kaliematogi à montanha que é ex-libris de Kalulu?

domingo, janeiro 04, 2015

À BEIRA-MAR DIVAGANDO

Kamuxiba
Hoje começo com um pedido clemência aos antropólogos angolanos e busco harmonização do percurso etimológico do lexema supra.
Não sei se haverá entre os bakongu, donos da "zanga" (parece que a Samba era de Ngola ao contrário da ilha que era a casa de tesouro de Ntotila), vocábulo cuja raiz esteja na origem de kamuxiba. Por isso, vou divagar em kimbundu.
Muxiba=veia, (também extensivo à) canal de irrigação/desaguadouro.
Tal leva-me a deduzir que terá havido na área um canal fluvial desaguando sobre o grande "kalunga-lwiji", sendo ka=diminutivo e Muxiba=veia ou canal irrigador/desaguador.
Outra hipótese leva-me à existência de um povoado Muxiba (?), sendo os pescadores ou primeiros habitantes da praia pesqueira de Kamuxiba, em Luanda, originários de tal agrupamento populacional de  Muxiba.
Aqui, kamuxiba seria corruptela de "mukwa Muxiba" ou "akwa Muxiba" (originário/originários de Muxiba).
Convido os actuais akwa Muxiba e os ana-a-Zanga, vizinhos aí no ístimo, para darem consistência a mais uma divagação dum mukwa Lubolu.

quinta-feira, janeiro 01, 2015

UM DESAFIO AOS PENSADORES DA IMUA

IMUA: Igreja Metodista Unida em Angola

É inicio de ano e tempo para pôr as ideias em marcha. As sagradas escrituras há muito já se podem ler no telefone. Por que não digitalizar o hinário a fim de permitir tê-lo nos tablets e telefones como se faz com a bíblia cristã?

Há também hinos traduzidos para línguas bantu que precisam de revisão e actualização, pois nuns foi apenas usada a "grafização" (representação gráfica) da pronúncia, sem que os aspectos formais e normativos dessas "línguas africanas" fossem tidos em conta na hora da redacção.
 
O hino 160, secção kimbundu, por exemplo, lê-se no coro (refrão) "gloria, gloria, aleluia!", quando podia ser traduzido para "fumanesa, tanesenu" ou  outra expressão "glorificante".

Foi apenas uma provocação aos responsáveis e pensadores da minha "ngelú".