Translate (tradução)

sexta-feira, setembro 29, 2023

QUEM DISSE QUE HOMEM NÃO CHORA?

A fila não era longa. A manhã é que já  levava quilómetros de tempo perdido de forma inglória.  Esperar, em uma fila, sem saber, de certo, se o atendente vem ou não e se a que hora chega, é, deveras, uma seca. 
Chamados a provar o que os próprios  cientistas reconhecem "haver erros recorrentes em resultados apresentados", lá estavam líderes e liderados para o teste de despistagem ou confirmação do corona vírus. 
Uma dúzia e meia, entre falsos sorrisos e receio aparente. Todos apreensivos quanto ao método de exame a que seriam submetidos e  resultado que podia ser inesperado.
- Será?
- E se for?!
- Bem. Sandinga. Se for, que seja. Se não, for melhor! - Atirou Dois Tempos, um dos melhor graduados daquela esquadra.
Não demorou a chamada. Primeiro para o alistamento e, depois, para o tira teimas.
O exame consistia em fazer "endoscopia", sem gritar, nem lacrimejar.
- Está tudo bem, senhor? - Indagou a médica. 
- Está bem. Mas se lhe disser que está tudo bem estaria a mentir. É um desconforto esse tubo dentro de mim.
- Realmente. Mas isso passa. O mais importante é o resultado. Pode sair, sô tor 2 Tempos.
- Obrigado pelas palavras. Estou apenas a endireitar o rosto para não aparecer à frente da tropa com lagrimas visíveis.
- Ah! Um homem chefe tambem chora?!
- Deixa, Cda médica. Para mim, o choro são as palavras exteriorizadas. Sei guardar a angústia para o momento privado. 
E foi saindo e se endireitando ao encontro da "tropa" que aguardava por notícias, preferencialmente boas. O teste era inédito.
- Chefe, doeu?
- Não. Até dá prazer em bisar. É como amêndoa.

Lembram-se das vacinas em que davam amêndoas? Nada de medo. Está e vai estar tudo bem! - Concluiu 2 Tempos, fazendo a curva para apanhar a viatura que deixara desguarnecida na rua do Giraflor.

domingo, setembro 24, 2023

EXPERIÊNCIA DE SEA POINT NA FISCALIZAÇÃO DO ESTACIONAMENTO URBANO

Essas senhoras (na foto ) é que fiscalizam o "street parking" de Sea Point e Cape Town.

Munidas de equipamentos de facturação, chamada de polícias e outros, gerem os espaços demarcados para o estacionamento temporário, colectando para a edilidade e agindo contra os incumpridores (resulta em outras colectas).

Aqui, os espaços para o estacionamento nas ruas da cidade não são dos jovens preguiçosos e viciados como em Luanda. São da edilidade que buscou uma parceria público-privada (ppp) para a sua gestão.

Ao fim do dia, os gestores dos espaços para estacionamento urbano dirigem-se, como a imagem mostra, ao "post-office" onde fazem as contas. 

Dá prazer vê-las a entrarem, depois de contas feitas, em lojas ou "street market" para pegarem o jantar e suprir outras necessidades caseiras.

Em 2020, eu havia feito uma reportagem ao meu Cda. de feliz memória Sérgio Rescova, enquanto governador de Luanda. Pareceu ter acolhido os dados que lhe passei, mas não demorou e foi enviado ao Uige, perecendo tempo depois.

Num curso sobre Economia Moderna, ENNAP 2020-2021, apresentei o assunto como meu "paper" reflexivo (espécie de monografia), tendo merecido um efusivo acolhimento do professor que recomendou "elevá-lo a artigo científico e ou materializar a experiência em Luanda".

Espero que o meu Cda Manuel Homem leia e mande uns olheiros aqui. Estamos prontos para contribuir.

terça-feira, setembro 19, 2023

NEM TUDO O MAR ACEITA

Apesar de largo, profundo e acolhedor, todo o mar também sabe defender-se e rejeitar as imposições. 

Os sul-africanos de Cape Town não depositam descartados na praia (escarpada e pedregosa) de Sea Point. É o próprio mar que devolve à terra as algas e raízes que suas ondas arrancam das encostas. 

Quanto a nós, Angola, que fazemos do mar "depósito" de lixo variado, a nossa paga pode estar por vir!


Por outro lado, há, aqui, um vento forte que encurva as árvores na marginal.

Sem detritos jogados pelo bicho-homem, as praias são pedregosas e impróprias ao mergulho, adicionando-se-lhe algas e raízes arrancadas de mangais de ilhas próximas.

_ Deus é bom em dar, quando quer, figos a quem não tem dentes ou impedir que dentes cariados enfrentem ossos duros de roer.

sexta-feira, setembro 15, 2023

ODJOVE vs MULONDOLO

A ilustração à volta do produto "licoroso", feito à base da fruta de (a)marula, a tal que "embebeda" elefantes, tem a ver com uma embala que, não é mais do que uma aldeola familiar. 


Na Fmca2023, à garrafa contendo odjove foi apensado um mapa contendo diversas construções como: a casa particular do patriarca, a zona de recepções, as inúmeras casas de esposas (com e sem filhos) as casas dos filhos e filhas (ainda solteiros) etc.

E dizia o marketeiro:

_ O sekulu, depois de beber odjove, percorre (em acto fecundativo) todas as casas das esposas, voltando leve e cansado em sua casa particular no dia seguinte.

Mais disse ainda que "no período da colheita da fruta,  tendo em conta as suas propriedades afrodisíacas, os régulos atenuam as sentenças de casos de adultérios que acontecem com frequência,  devido ao consumo do odjove".

Enquanto o odjove é kunenense, no kwanza-sul as raízes que dizem "dar sucesso" e "criar amizade entre genros e sogras" são as de mulondolo. Também já vi e provei o dito liquor de mulondolo.

Contam os nativos do Lubolu e Kibala que "quem usa mulondolo (as folhas são refogáveis e as raízes 'tira-teima') tem a mulher a falar constantemente bem dele junto da mãe".

Não é descrito, do ponto de vista de marketing, como o odjove dos kunenenses, mas dizem "dar uma resistência inimaginável que deixa abaixo do chinelo o famigerado pau-de-kabinda ou o longeso do Wambu".

Em quem acreditar e em que confiar?

sexta-feira, setembro 08, 2023

ENTRE PORT'AMBOIM E LONGA

 

Depois do Porto Amboim, a caminho do Rio Longa (EN100), há uma aldeia em que vendem mudas de plantas frutícolas e peixe seco do mar.

Parei para atender ao pedido da mulher que encomendara peixe. Durante a barganha mantida entre o cliente e a vendedora ficou uma promessa não vinculativa, mas que era preciso procurar honrar de alguma forma. Ela pedira saldo de Kz 500 para compensar o desconto feito de Kz 27 mil para os Kz 20 mil que eu tinha disponíveis.
Vasculhados os bolsos e a viatura, inexistindo mais dinheiro, procurei por algo de valor simbólico para oferecer à senhora, mas também não encontrava.
É que me deparo, depois, com uma t-shirt nova do MPLA na minha mochila de campo que fica permanentemente na viatura.
Para confirmar se podia oferecê-la sem ferir susceptibilidades, indaguei:
_ Aqui nessa aldeia de que partido são?
_ A maioria como eu somos do MPLA. O bocado que resta são daquele partido aí.
A senhora não pronunciou o nome. Apenas apontou para uma bandeira que esvoaçava rota como cuecas de uma dilaji.
Compreendi e dei-lhe a t-shirt com muito gosto.
_ Muito obrigado, camarada cliente! _ Agradeceu a senhora a quem respondi com um leve sorriso.
_ Fi-lo com prazer, minha camarada!

sexta-feira, setembro 01, 2023

ESTÓRIAS LUBOLENSES (II)

1-Estrada Munenga-Kalulu: concebida como rodovia de terceira classe (intermunicipal) viu-se forçada a receber todo o tráfego rodoviário da EN120, quando se reparou o troço Desvio da Munenga-Lususu. Como consequência, ficou "gravemente maltratada" e demanda profunda reparação.

2- Rodovia Kalulu-Lwati-Kibala: Ainda em terra batida, recebeu o tráfego da EN120 (Lwanda-Wambu), desviado da Munenga. Como era de esperar, o solo ficou moído e a poeira impera. Quando a ela se junta o nevoeiro kasimbático, todo o cuidado é pouco. Ao tempo em que HC era Ministro das obras públicas estava no plano das que deviam deixar de ser estradas de terra batida. Porém, iniciada a asfaltagem da Kibala à Ponte (Leste) sobre o Longa, nunca o asfalto chegou a Kalulu, aguardando nova oportunidade que pode ser realidade, visto que a empreitada foi já adjudicada.
3- Troço asfaltado, entre o Rio Longa e Lwati, em território Lubolense. Nesse período seco, quando não é a poeira que incomoda, são as queimadas desordenadas que ameaçam a integridade do automobilista.
4- Uma Classe ou Centro de Pregação Metodista numa aldeia entre o Longa e Lwati. A chama do metodismo mantém-se acesa no Lubolu, contrariando os homens do "roteiro metodista que omite as estações da Margem Sul do Kwanza". A Missão de Mbang'wanga foi fulcral na expansão do metodismo para Kyenya, Kisongo, Kalulu e Munenga.
5- Kabuta, comuna do Lubolu que se liga a São Pedro da Kilemba reclama pela reposição da "Estrada Nacional" que corta Kalulu, passando pela Ponte Filomeno da Câmara. Sem a reposição dessa importante rodovia, Kalulu será sempre um "matuku" (esconderijo/enclave) aonde só vai quem tiver de visitar parentes, negócios ou em missão de serviço. Repondo a Estrada Nacional Kilemba-Kabuta-Kalulu-Kibala, encurtar-se-á a distância entre o Leste e Norte em relação ao Centro e Sul do país, conferindo maior movimento e vida a Kalulu.

Confira fotos em: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid0NfmcZJ1ykXfq2QAxsRuCdUd6CnYZF1vPsxWeGGL7PTDRLo6b7xHSZYsgcZdHBSkal&id=100001342406431&mibextid=Nif5oz