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segunda-feira, setembro 30, 2013

A MINHA AGENDA ELEITORAL DE 1992

Em Maio, de 1992, um ano depois da assinatura dos Acordos de Bicesse, tinha acabado de fazer dezoito anos cronológicos. Porém, a necessidade do adiamento da minha convocação para o serviço militar, que era obrigatório, levou a minha mãe a diminuir dois anos à minha data de nascimento, ficando no registo o anos de 1976 como o do meu nascimento.
Cartão de eleitor: CNE 1992
Entre Junho ou Julho do mesmo ano fiz o registo eleitoral. Fi-lo no Cazenga (Luanda), numa brigada de registo que actuava nas imediações da Sonefe. Uns parentes que conheciam a minha idade real convenceram-me a fazer o registo, sendo eles testemunhas, conforme postulava a lei eleitoral (aqueles que não possuíssem documentos podiam ser  testemunhados por angolanos adultos, bem identificados). Lá fiz o registo eleitoral e não tardou para a campanha, realizada com muita euforia e troca de mimos entre os políticos, durante o mês de Setembro (não faltam microvídeos no youtube).
MPLA, UNITA, FNLA, PAJOCA, PDP-ANA, PRD, PSD, AD-Coligação, FpD, PLD, PAI, PDA, MDIA-PCN, FDA, entre outras forças políticas, expuseram argumentos, durante 30 dias, para convencer o eleitorado (até 27 de Setembro). O dia seguinte, 28 de Setembro, foi o de reflexão ou recolhimento.
Foi também dia de correria às cantinas e praças para o aprovisionamento logístico. O endurecer dos discursos entre os Partidos-Movimentos que tinham acabado de “desmobilizar” as suas forças armadas levava os angolanos a temer por dias de jejum. Era preciso encher as despensas. Havia sintomas de que algo correria mal ou que viesse a faltar comida. E aconteceu dias depois do pleito com os adiamentos do anúncio dos resultados e as escaramuças que se lhe seguiram, um pouco por todo o país.
As famigeradas lojas do povo tinham dado lugar às cantinas que, num abrir e fechar de olhos, brotaram como cogumelos em época chuvosa, mas ainda abastecidas pela mesma ENSUL que fornecia o mesmo arroz, feijão e óleo vegetal aos recém-finados "Supermercados" da sexta básica.
Eu e outros angolanos estávamos ansioso em eleger, pela primeira vez, os nossos governantes e ver Angola de forma diferente, “Novos Rumos” como se dizia.
A 29. Set. 1992, eram enormes as filas nas escolas para borrar o dedo indicador direito de tinta indelével e perfurar os cartões de eleitor. Filas intermináveis, nalguns bairros de Luanda, mas de forma ordeira, enquanto uns iam votando outros iam suando e acompanhando emocionados as noticias pela rádio... Eu, meu tio e meus primos passamos a manhã numa fila no bairro dos CTT, km7, em Luanda. Todavia, só pude votar à tarde, no escola Ekuikui II, ao Rangel.

E, a 30 de Setembro ainda se votava em regiões onde o acesso por terra (estrada) era difícil ou impossível. E todos viviam a mesma alegria. A alegria de poder ser deste ou daquele partido, de exercer o direito de escolha, de ser útil, pela primeira vez, na definição da governação do país.
Mau agouro o que se sucedeu semanas depois. Adiamentos do anúncio do resultado da votação, ameaça de "somalização" de Angola caso os resultados fossem divulgados, discursos musculados e respostas à medida. Das ameaças verbais passou-se ao uso do músculo e do gatilho. E o país descampou em nova guerra, essa, mais sangrenta e com elevadíssima destruição do pouco que tinha sobrado Dos 14 anos de luta para a independência, ao que se seguiram outros 15 anos de guerra civil. Foram mais 10 terríveis anos que, felizmente, ficaram para a história...

As primeiras eleições multipartidárias em Angola aconteceram há 21anos. 

quarta-feira, setembro 25, 2013

A NOVA CLASSE DE "HERBÍVOROS"

São bípedes. Preferem, entretanto circular sobre quatro ou mais rodas em dois os mais eixos. Os novos herbívoros já foram grandes apreciadores de carne, em tempos de vacas magras, e agora, eles todos gordinhos submetem-se às ervas, à mesa ou fora dela.  

Onde quer que estejam, distinguem-se das duas classes de mamíferos com que se aparentam: diferentes do homo sapiens sapiens porque este pensa antes de agir e conserva um termo que se chama moral. Única semelhança com o homo sapiens sapiens tem a ver com o gostar de valores. O homem sábio moderno conserva valores que modelam a sociedade. O novo herbívoro não. Gosta de valores monetários com os quais se exibe na “aquisição de ervas”: As que leva à mesa e a que leva ao passeio. Os “novos seres”, em descrição, são também diferentes dos demais herbívoros porque estes ruminam e  o novo “animal” que vou descobrindo em Angola não o faz. O novo herbívoro alimentava-se e alimentava socorrendo-se de folhas da “árvore George Waxing Tony”, a mais cara e bela do planeta terra.

Tal como as executivas do protocolo, os novos herbívoros andam divorciados dos valores e, quando ouvem soar este termo pronunciado pelos homens, seus aparentados, apenas lhes vem a ideia de pecúnia.

Intitulam-se pomposamente de “boi velho” e, como tal, dizem, “preferem capim fresco” que devoram desalmadamente, de dia, de noite e em horas esquivas. Tão longos têm sido os seus pastos que deixam as florestas caseiras desprotegidas de predadores de sua e doutras espécies. Casa desprotegida, oportunidade para ladrão. Ou não será?!

Nos seus discursos de ocasião, não se coíbem de apregoar: boi velho faminto, relva fresca devastada!

Os novos vegetarianos, também apelidados de “suga-mangas” são fáceis de identificar e localizar. Vá à praça do divórcio. As maratonas, em qualquer largo do bairro, têm sempre uns disfarçados ou ostensivos. Vá à Ilha seca do zango. E se quiser ver os “de quialidade”, faça-se passear ao Musssulo, adentre os lodjes e os hotéis de classe elevada. Até no aeroporto você os encontra prontos a voar para as casas de campo que embelezam as fazendas ou para turismo no estrangeiro.

É essa a nova classe de herbívoros. Um cancro a combater?!


Texto publicado pelo Jornal de Angola a 17 Set/2017

quarta-feira, setembro 18, 2013

AS TRÊS DIMENSÕES DO(s) 10ENCANTOS DE SOBERANO CANHANGA

Por: Nguimba Ngola
Setembro é o mês em que nasceu Agostinho Neto e no dia 17 nosso poeta transita. O povo lembra-se dele nas várias dimensões da sua vida, como poeta e político.  Na Cidade Diamante, a cidade da Pedra Brilhante, Neto também foi lembrado. Várias foram as actividades.
Na manhã do dia 16, o anfiteatro da Escola Média Politécnica, transbordou literalmente de alunos. Sim. Plateia jovem ouve atentamente a governadora, Cândida Narciso, palestrando sobre Agostinho Neto. Em seguida, vem a apresentação do terceiro (O Sonho de Kaúia, Manongo-Nongo, 10encantos) livro do escritor Soberano Canhanga, jovem de Libolo, onde nasceu há 37 anos… A mim coube a missão, desnecessária (?), de apresentar o livro que, depois de alguma relutância, aceitei porquanto tinha sido indicada outra apresentadora que por motivos alheios não se fez presente.
Poetas: Soberano Canhanga e Nguimba Ngola
Soberano é um dedicado “bloguista”. Tomei inicial contacto com seu texto poético no seu blog “10encantos” que é o título do mais recente livro publicado. Já na sua forma gráfica, cuja apresentação não deixa a desejar, peguei o “filhinho” do Soberano entre mãos, acariciei-o, senti-lhe o cheiro agradável, passeei brevemente nos textos, para constatar o modo de arrumação. Enquanto isso, a voz no microfone anunciava o nome Nguimba Ngola para tomar o lugar. Um friozinho toma conta de mim, é grande a responsabilidade, câmaras, olhares atentos expectantes da apresentação, “é o tio dos livros do tchilar…” ainda ouvi da plateia. Som e palavra é igual a poder. Ganhei o poder e comecei. Tirei partido da apresentação para o aconselhamento dos jovens sobe a importância da leitura. No final, as palmas. Ah, que alívio! Acabou, não é nada fácil falar ao público. Já no aconchego dos lençóis, eis que meu anfitrião comunica que lhe foi pedido o texto da apresentação. Não o tinha. Antes as notas rabiscadas em papel qual esboço orientador do pensamento. Um pequeno lap top foi-me entregue. Agora escreva o texto, disse-me Soberano Canhanga.
 
10encantos do Soberano
Analiso a poesia desencantada do Soberano em três dimensões: Dimensão textual, dimensão social e dimensão espiritual.
Os textos do Soberano se nos apresentam com uma estrutura externa não tradicional, não encontraremos formas fixas como o soneto. Sim. Os textos são desprovidos de métrica, impera porém o verso livre que deixa margens para maior criatividade e liberdade ao poeta.
Ainda assim, elementos poéticos básicos podem ser observados como a rima “Revejo/ num quarto agora vazio/ esse teu corpo tão esguio// Recrio/ emoções e amores loucos…/ voltam à vida aos poucos// Reencontro/ espalhados pelo chão/ roupas, beijos e paixão!” (in Sem medo, pg 85). O ritmo também confere beleza nos vários textos 10encantados. É sentir, por exemplo, “À fala com os meus botões” onde “tarda o sono/ nos sonhos a traição…” (pg 103), ou ainda “tórrida e sofrida/ minha pátria/ dorida…” (pg 53).
A linguagem poética, em muitos textos, torna-se expressiva pelo recurso de figuras e tropos, assim que encontraremos “pretinha cor de nuvens”, “espertinha na quilometragem da idade”, “o sol já brinca no quintal”, “fustigai-vos ó ventos/ maltratai-vos ó águas/ façam-se remoinhos”, “no além da curva sanitária/ morre o sémen preguiçoso”.

A dimensão social dos poemas do Soberano Canhanga, reveste-se de textos, alguns dramáticos, porém apontado esperanças, “e sonhos de liberdade”. Sinto isso no poema “Êxodo” (pg 29). Quem não constata hoje, o drama nas vidas de muitos que “ontem/ na sanzala/ gente farta gritando/ canções alegres, intrépidas!”? E “Hoje/ na cidade/ gente magra/ esfarrapada/ entoa baladas tristes”… Profunda para todos, pois o contrário seria como diz o sujeito lírico do Soberano Canhanga apenas “paz podre” (pg 61), “paz sem perdão/ é tentar esquecer/ sem dar o braço a torcer/ não é paz, é podridão”.
Eis então que no que depender de todos nós, devemos buscar sempre a paz. Sensível, o poeta, ante o drama da transição (morte), pede a que se chore a “mãe-grande”, mãe de seu “grande kota José Caetano”, “com prosa e poesia…// com pintura e escultura/ choremo-la com realidades e ficções/ choremo-la com ARTE!” (pg 33). São os 10encantos do poeta, desabafos e choros, “o mundo enfrentar/ sofrer (?)”. 
O fenómeno prostituição também é motivo lírico pois pululam ao vento “kitata kuribeka”, que deixam suas tetas moribundas serem sugadas “no leito da morte”. Hoje é intensa a correria ao “álcool barrigudo” e, despudoradamente, vão “xaxatando nádegas flácidas” “mbunda ya kitadi”, “mbolo ya kizwa/ kufwa kidi!” (in na cama de hotel, pg 18).
O falante lírico vive intensamente suas paixões, descrevendo-as com nostalgia, rememorando sonhos e traições, e muitas vezes encantando-se  com a beleza da(s) sua(s) amada(s).
Na dimensão espiritual, vejo o poeta convocar-nos para o cultivo. “Vinde e cultivai/ que é próprio o memento!” É o momento de amar verdadeiramente pois “ o nosso amor é a importância que nos atribuímos”. Todos aqueles que se furtarem ao verdadeiro amor devem perceber “que é chegada a ceifa” , “é chegado o julgamento/ do Cefeiro que chega à hora”, eis a infalível reintegração cósmica. O eu lírico confronta-se com a realidade mística “há vezes/ em que não sou eu quem age/ mas o oculto” (pg 44). Sim. É a inteligência universal comunicando.
Saurimo, 16.09.2013.

quarta-feira, setembro 11, 2013

MORTE DE MOTO-TAXISTA DESEMBOCA EM REVOLTA


Imagem retirada da net
Um morto por abalroamento, alguns feridos alvejados, outros detidos e várias viaturas com vidros quebrados é o balanço de escaramuças verificadas na última terça-feira, 10 de Setembro, na cidade de Saurimo, entre motociclistas e condutores chineses.
O jovem moto-taxista ia à frente do condutor chinês que abalroou a motorizada, atingindo-o mortalmente. Em retaliação, os colegas moto-taxistas organizaram-se em distintos grupos que se dirigiram às estradas que dão acesso ao Moxico, Malanje, Mukonda e Lucapa, ao encontro dos camionistas chineses que foram apedrejados e alguns agredidos.
 
Acto contínuo, os que se encontravam na cidade foram ao encontro dos lojistas chineses que não escaparam à fúria dos moto-taxistas.
Ao que se conta, a polícia de intervenção rápida teve de deixar o quartel para acudir a situação que, por um triz, escapava do controle, pois até outros condutores de pele mais clareada começavam a ser atacados.

Ao fim de alguns tempo, tudo voltou ao normal. As viaturas foram removidas, ficando apenas, para aguçar os comentários, o brilho nas estradas dos pára-brisas quebrados em todas as rodovias que dão à cidade de Saurimo.

segunda-feira, setembro 09, 2013

QUE TAL UM MABOQUE PARA A MELHOR CARREIRA JORNALISTICA?

Solicitaram-me alguns amigos jornalistas, habituados a ler os meus comentários nesta altura da atribuição do Prémio Maboque de Jornalismo, que debitasse algumas palavras ao último Prémio. Disseram ter estranhado o meu silêncio no dia 08 Setembro, tendo-o como sinónimo de concordância total com os critérios de atribuição do galardão e galardoados.
 
Abro aqui um parágrafo prévio para dizer que não sou: nem contra o prémio e nem contra aqueles que o venceram e ou venham a vencer, tal como sou inadimplente a tal prémio por me encontrar, há muito tempo, a assistir o “jogo pelas bancadas”. Sou, entretanto um “puto” que começou a exercitar o jornalismo em 1996, que esteve no campo como jogador, e agora como um experiente adepto e espectador. É nesta condição que me atrevo a debitar ideias sobre o jornalismo que se exercita no país e os prémios a ele relacionados.
 
No ano passado (2012), um dia como hoje, quando expressei o meu assentimento sobre os critérios e os eleitos do Prémio Maboque de Jornalismo, fui brindado com algumas intimidações, umas mais públicas e outras sub-reptícias endereçadas à minha almofada.

Defendi, na altura, a revisão/clarificação do regulamento do prémio e a observância do código de deontologia e do Estatuto do Jornalista Angolano. Fui mal compreendido.
 
O pronunciamento, nesta edição, do patrono do Prémio Maboque de Jornalismo, segundo o qual, "A partir do próximo ano, o prémio vai sofrer ligeiras alterações no seu regulamento. Vamos propor ao futuro corpo de jurado algumas alterações. Gostaríamos que pudesse demonstrar, do ponto de vista técnico, o porque de alguém ganhar, em detrimento de outro", surge como "pedra no charco" que a classe esperava e que vem clarificar que nem tudo vai bem no PMJ. Aliás, Armindo César vai mais longe ao afirmar que "Nomear jornalistas por apenas nomear não é justo nem é bom. Sei que aqui há entidades da classe que discordam de algumas decisões do júri  que deve procurar aclarar essas nuvens cinzentas, dúvidas, tornando o prémio transparente".
 
Para mim, ou o regulamento está desajustado, e aqui se torna urgente a sua conformação com a realidade, ou o júri confunde o exercício anual com a carreira dos artistas. Só assim se pode entender que o prémio maior seja entregue a profissionais com carreira irrecusável mas que pouco fizeram no período sujeito a premiação ou que há muito se encontram na bancada ou na condição de incompatibilidade.
 
Sendo comum, em situações como essas, o coro de prós e contra, e não sendo poupados aqueles que se mostrem desconfortados com os critérios de premiação, espero que, desta vez, haja coragem de se criticar Armindo Cesar, presidente do Grupo Cesar e Filhos, promotor da iniciativa, que quer ver o regulamento revisto.
 
É que, a meu ver, o grupo do empresário César muito bem podia atribuir a distinção a quem queira, podendo também mudar a designação para “Prémio Maboque de Reconhecimento à Melhor Carreira Jornalística” mas, atento ao que se passa, ano após ano, o patrono quer que o prémio vá ao melhor jornalista do ano ou que a sociedade saiba por que foi atribuído ao Mutaleno e não ao Mutambuleno.

sábado, setembro 07, 2013

AS EXECUTIVAS DO PROTOCOLO


 
AS EXECUTIVAS DO PROTOCOLO
São jovens na flor da idade, algumas ainda pubertárias. Estão sempre de salto alto, bronzeadas, cabelo emprestado do Brasil e Índia e unhas sempre em dia. Ao sair de casa, algumas se vestem à executiva, para fingir ser gente. Uma vez na rua, apresentam-se de forma muito ousada: de collants extravagantes, muitas vezes mostrando a natureza genitália, calções curtos e top less que deixam descoberta a “faixa de gaja”. Usam ainda pinturas labiais que as distanciam das demais fêmeas do bicho homem.
Habitualmente, dormem durante o dia, quando não têm trabalho extraordinário, e trabalham à noite. São as “organizadoras” de eventos sócio-culturais e “meninas do protocolo” para os notáveis da alta sociedade.
Apostando no marketing, as executivas do protocolo optaram por elaborar business cards com fotos ousadas e endereço telefónico que entregam a convivas bem aparentados e desacompanhados nos eventos públicos e ou restritos das cidades angolanas. O resto é preço a combinar.
Dessas negociatas das executivas do protocolo surgem os jeeps top de gama com que algumas raparigas, ainda púberes, se exibem, quando não são os famigerados i10 e arredores.
Endinheirados, pseudo empresários, administradores de empresas públicas, altos dignitários do Estado, kamanguistas e generais no activo fazem parte dos preferidos e muito cobiçados pelas “moças do protocolo” que chegam a resolver contendas entre elas com imposição de voz e músculos sempre que uma se antecipe ao cliente permanente de outra. Pena é que já não cantam as kalashenikov e de tanques, tirando os de lavar roupas, já ninguém morre de medo. Nos tempos doutra senhora seriam capazes de resolver as diferenças protocolares a balázios…
Perante outras mulheres, elas são diferentes. Deslizam no gingar. Ciciam como cadela no cio. Usam perfumes com fragrâncias super sex e têm perícias em coçar a barba do idoso ou roçar a zona baixa do “Cabo de Santo Homem”.
Têm também expressões decoradas que lhes conferem uma aparente cultura do bem falar e modos cordatos. Apenas trechos de folhas decoradas, porque o resto são borboletas. O verbo que melhor sabem conjugar é fazer. Sendo “se fazer” o tempo mais empregue.
Uma vez transitadas para a fase posterior, a do emprego com remuneração mensal, não se coíbem em passar pelo “teste do sofá”, galgando como alpinistas. De sofá em sofá e de homo sapiens sapiens ao homo sapiens… Do general ao praça, até que sua volúpia se esfume.
Para os pais, as filhas fazem biscates de protocolo em eventos culturais.
- O emprego está difícil. - Concluem.
Para as puritanas, elas são a nova peste que arrasa a humanidade. As estraga lares e outros epítetos.
– É preciso tomar medidas contundentes e urgentes, antes que o pântano nos engula. - Apregoam.
Para as mães libertárias, elas são coitadas, invejadas pelas más-línguas.
– São trabalhadoras honestas, submetidas a longas horas de labuta, sem tempo para descanso. – Acodem.
Para os músicos da nova vaga, elas são a razão de avultadas vendas, casas de espectáculos cheias e fonte de inspiração para temas prolixos.
– Essas munzúbias me ‘arrebentam’. – Evocam no seu pobre vocabulário.

Texto publicado pelo Jornal de Angola de 10/09/2017


 
 

domingo, setembro 01, 2013

JORNAL NOVA GAZZETA PERGUNTA

Luciano Canhanga,  jornalista e escritor
·        Depois de “Sonho de Kawia” e “Manongo Nongo”, o que  traz com os “10encantos” ?
·        Com o “10encantos” trago o lado e o grito poético que reside em mim. A fonte de inspiração continua  a ser a mesma: a sociedade e os seus contrastes. Porém, a forma de sentir e de narrar os factos é que mudaram.
·        Quando vai ser lançado e onde?
·        Em princípio, penso em lançar o livro na Lunda Sul, durante a semana do Heroi Nacional, por uma razão muito especial.  A minha produção literária é feita neste território que,  aos poucos, vai também ganhando leitores, sobretudo nas instituições de ensino superior em que colaboro. Temos feito um grande trabalho que visa incutir na juventude o gosto pela leitura e quero reconhecer este esforço e entrega da juventude com o lançamento, em primeira mão, de um dos meus livros.
·        Foi o jornalismo que o levou à escrita?
·        A escrita é anterior ao jornalismo como tal. Porém tenho dúvidas em aferir se seria capaz de chegar aonde consigo enchergar se não tivesse o jornalismo como profissão e vício. Continuo a dizer que a literatura é, em mim, uma extensão do jornalismo.
·        Quanto tempo leva para  escrever um livro?
·        Depende. É variável. Tudo começa como pequenos textos que vão ganhando forma ou que ficam na gaveta. Dos três livros já editados, “10encantos” foi o que durou mais tempo a escrever já que tem poemas do tempo do IMEL, 1993, e outros ainda do Ngola Mbandy, 1990. Sempre que publico um livro começo a escrever enquanto outro livro entra em revisão ortográfica. Isso permite-me ter sempre um em prontidão para entrar em produção, em caso de necessidade.
·        Geralmante onde é que busca inspiração para escerever? Qual é o momento do dia que mais o inspira? E onde é que escreve? Na praia, em casa, no escritório?
·        Todas as manhãs, encho a banheira e fico a meditar 20 a 30 minutos, em silêncio, pensando sempre em um tema do passado, do presente ou do futuro (imaginário). Depois traço os esboços ou as ideias chaves. À noite, depois dos compromissos profissionais com Catoca e com as Universidades em que colaboro, passo os esboços a limpo. Luanda é um território fecundo mas a redacção acontece normalmengte em Catoca, na Lunda Sul. 
·        É um homem de múltiplas actividades. A literatura para si é apenas um hobby?
·        Sim. Ainda não me sinto escritor, embora me sinta preocupado sempre que fique uma ou duas semansas sem escrever uma crónica. Também não tenho obcessão pelas coisas. A escrita acontece de forma espontânea e natural… Sem forçar e sem me sentir pressionado.
·        O que é ser escritor para si?
·        Ser escritor é, para mim, sentir de forma diferente o que sinto. Isto é, viver da escrita ou levar a arte muito mais a sério. Por isso, prefiro considerar-me apenas um contador de cenas.
·        Actualmente, o que o preocupa mais na literatura angolana?
·        Preocupa-me a falta de correcção no uso da língua pelos escritores emergentes, a falta de humildade em reconhecer que pouco se sabe da artes da escrita e do domínio das línguas e noto também a ausência dos mais experimentados para auxiliar os mais novos. Felizmente, não é o meu caso, pois tenho o José Caetano, Armando Graça e o Manuel Ruivo que sempre se mostraram disponíveis em me “puxar à orelha”. 
·        Hoje vão-se colocando alguns receios resultantes de uma aparente ausência de renovação geracional, entre os escritores angolanos. É uma questão real? Preocupa-o?
·        Considero que tudo acontece no tempo próprio. É obvio que se a minha geração estiver mais virada para a fama do que para a transpiração, os mais velhos a considerarão sempre como uma geraçãpo incipiente. Temos de nos aplicar mais naquilo em que nos propomos. Temos de mostrar que somos capazes de fazer a viragem, de continuar e aumentar o respeito que a literatura angolana já alcançou.  A questão que hoje me coloco é como fazer novos Aires de Almeida Santos, novos Agostinho Neto, novos Uanhenga Xitu, novos Viriatos, etc. É essa a questão que me persegue.
·        E o que pensa sobre a ideia comum de que os jovens escritores angolanos não sabem escrever?
·        Acho que não devemos generalizar em demasia. Reconheço que há alguma relutância de uns em se aprimorarem no domínio das línguas e da exposição artística das ideias.  Um texto literário ou para literário não é a mesma coisa que um texto não literário. Os primeiros têm de possuir elementos estilísticos que lhes conferem beleza e arte.
·        Já agora, o Prémio António Jacinto não teve vencedor pelo segundo ano consecutivo, e o argumento evocado pelo júri foi exactamente a falta de qualidade dos candidatos. Como olha para essa questão?
·        É uma pena que estando poucas vezes em Luanda ainda não tive a oportunidade de me candidatar. Vou no terceiro livro e nunca participei de tal prémio. Quero tentar para depois poder fazer um melhor juizo. Pode ser que os juízes tenham razão. A recíproca também pode ser verdadeira.
·        Que escritores angolanos tem como referência? Por quê?
·        Rodferick Neone, Isaqueil Cori, o incontornável Uanhenga Xitu, Jacinto de Lemos, Pepetela, Jofre Rocha, etc. São autores cujos escritos influenciaram a minha forma de encarar o mundo e a realidade. Já os li muito nos tempos do IMEL (curso de jornalismo) e continuo a lê-los.
·        Os angolanos não têm hábitos de leitura. Concorda? Há quem diga ser um falso problema.
·        Faltam hábitos de leitura, sim senhor! Houve um tempo em que os país se tinham demitido da missão de educar os filhos a ler. Já vi livros a serem rasgados para empacotar ginguba… Por outro lado, a carestia dos livros também afugenta quem quer ler mas não tenha dinheiro. No ensino médio, costumávamos emprestar os livros e em finais de anos oferecíamos e recebíamos livros. Também era obrigatório frequentar a União dos Escritores Angolanos. Não sei se a União ainda enche como nos anos noventa.
·        Que mecanismos devem ser usados para incentivar o hábito de leitura nos jovens?
·        Criar bibliotecas infantis é um bom caminho. Os pais devem ler para os filhos e diante dos filhos para que estes se orgulhem e lhes sigam o exemplo.
·        É fácil editar um livro em Angola?
·        Não. Ou se tem dinheiro para pagar ou se arranja patrocínio ou você é excelente e cai nas boas graças de uma editora que assume os custos na totalidade. A última vertente é a mais difícil.
·        Literatura na política, literatura politizada. Estas expressões existem, no contexto angolano? Que lhe dizem?
·        Já li alguns livros evocativos que me deixaram confuso se aquilo era literatura ou propaganda… Sendo apenas um amante da literatura e não um crítico, deixo essa tarefa aos especialistas para julgarem.
·        Que conselhos deixa a quem está à busca de uma oportunidade para mostrar o seu talento e entrar no mercado literário?
·        Que domine antes a língua em que vai trabalhar e leia muitos autores e diversificados estilos. É o que estou a fazer.
·        Tem projectos literários para o futuro?
·        Muitos. Tenho um livro em revisão ortográfica (“Predestinados” que já tinha anunciado com o título “Relógio do velho Trinta). Tenho ainda “As travessuras do Jacinto” e escrevo outras coisas que podem evoluir para esboços de livros. Não paro de escrever uma coisa ou outra.