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sexta-feira, setembro 29, 2006

SER CORAJOSO

É ser o último a saber que tem medo.

_Quantas vezes morremos de medo, mas como somos os lideres temos que dar exemplo e ser o último a desistir?

segunda-feira, setembro 25, 2006

É VERDADE, MOCIANO?


Já é secular que "Os filhos constituem a maior alegria dos pais". Esta alegria torna-se maior quando o pai ou a mãe encarna em si a dualidade de papeis.

O Mociano Canhanga e eu somos exemplo disso. Eu a fazer dele um rapaz e ele a fazer-me homem. Devemo-nos tanto um como outro. Se ele diz orgulhar-se do pai que tem, o meu júbilo é trancendental na medida em que até agora tem saído e feito aquilo que sempre quis fazer dele. Inteligente, embora demasiadamente tímido e bastante respeitoso.

Há dois meses fui a Luanda e assisti a uma reunião de pais e encarregados de educação. Disse-me a professora que tinha um comportamento exemplar e notas razoáveis para a idade dele e ensino que temos. Promessas foram feitas e até a professora foi convidada para um almoço. Estava eu seguro de que o meu filho aprovaria com mérito e, por isso, convidar a professora não macularia nem o trabalho dela nem o meu orgulho de fazê-lo passar apenas com notas verdadeiras.

Hoje, a coisa parece ter mudado. Recebi informações da madrasta que cuida dele, e bem, que o Mociano tornou-se indisciplinado e irriquieto em pouco tempo, faltando mesmo às aulas. São os dizeres da professora numa altura em que o ano lectivo está prestes a findar.

-Conhecendo o rapaz que tenho, devo apenas perguntar-me. Mudaram os interesses da professora ou é verdade, menino Mociano?

domingo, setembro 24, 2006

NZILA ZOLA

Significa em português "Caminho do Amor". Nasceu ontem o mais recente blog angolano. Ndombele Freddy, o autor, tem base em Luanda e trabalha na Lunda-sul.
Em três postagens o Freddy explica-nos o porquê do nome, o porquê do blog e fala também sobre a construção da Nação fundada no amor. Os escritos de Freddy prometem agradáveis temas para reflexão nos proximos números.

Por isso, o convite para uma visita e juntar-mos o http://nzilazola.blogspot.com à nossa lista de favoritos.

Bem haja!

Soberano Canhanga

domingo, setembro 17, 2006

A PALESTRA QUE FICOU POR SE DAR


Estava prevista para o dia 16 de Setembro de 2006 no recinto de lazer da SMC,Lda. Não aconteceu por razões organizativas, esperando o momento ideal.
Segue na íntegra o texto:
Sras. e Srs.,
A missão que me foi incumbida hoje não é fácil. Tratando-se de Neto uma figura de grande relevo. Quero antes referir-me à figura de um heroi... Qualquer dicionário dir-nos-á que o herói difere-se de indivíduos comuns pela sua capacidade de realizar proezas que exigem a abundância de alguma virtude crucial aos seus objectivos - fé, coragem, vaidade, orgulho, força de vontade, determinação, paciência, etc. O herói será tipicamente guiado por ideais nobres e altruístas - liberdade, fraternidade, sacrifício, coragem, justiça, moral, paz. Eventualmente buscará objectivos supostamente egoístas (vingança, por exemplo); no entanto, suas motivações serão sempre moralmente justas ou eticamente aprováveis, mesmo que ilícitas.
O heroísmo é um fato profundamente arraigado no imaginário e na moralidade popular. Feitos de coragem e superação inspiram modelos e exemplos em diversos povos e diferentes culturas, constituindo assim figuras arquetípicas. Situações de guerra, de conflito e de competição são ideais para se realizarem feitos considerados heróicos.

A título de exemplo, a França dominada pela Inglaterra surgir uma Joana d'Arc. No nosso caso, Agostinho Neto, a figura de que vos estou a falar.

Agostinho Neto, nacionalista, Percursor da luta de libertação nacional, primeiro Presidente da República de Angola, médico e poeta é Uma figura de larga dimensão social, política e cultural, por isso mesmo difícil de caracterizar.

Primeiro, dizer que esta será a vigésima quinta vez que se assinala no país o dia do herói nacional em homenagem ao fundador da nação.
A.Neto, Nasceu a 17 de Setembro de 1922, na aldeia de Kaxicane, município de Icolo e Bengo, próximo de Catete. O pai era pastor e professor da igreja protestante e sua mãe igualmente professora. Após ter concluído o curso liceal em Luanda, Neto trabalhou nos serviços de saúde, tornando-se rapidamente uma figura proeminente do movimento cultural nacionalista que ao longo dos anos quarentas conheceu uma fase de expansão.
Decidido a formar-se em Medicina, Neto fez poupança durante vários anos e foi com essas economias que embarcou para Portugal em 1947, tendo se matriculado na Faculdade de Medicina de Coimbra. Portanto, Neto Estudou primeiro em Coimbra e depois em Lisboa, depois de ter ganho uma bolsa de estudos dos Metodistas Americanos dois anos depois da sua chegada a Portugal.
Politicamente, Muito Cedo iniciou as actividades clandestinas e experimentou a prisão pela primeira vez em 1951, ao ser preso quando reunia assinaturas para a Conferência Mundial da Paz em Estocolmo.
Retomando as actividades políticas após a sua libertação, Neto tornou-se representante da Juventude das colónias portuguesas junto de um movimento da juventude portuguesa, o MUD juvenil. E foi no decurso de um comício de estudantes a que assistiam operários e camponeses que a PIDE o prendeu pela segunda vez em Fevereiro de 1955, sendo posto em liberdade dois anos depois.
Por altura da sua prisão em 1955 foi lançado um livreto com os seus poemas e o caso da prisão do poeta angolano desencadeou uma vaga de protestos em grande escala. Realizaram-se encontros; escreveram-se cartas e enviaram-se petições assinadas por intelectuais franceses de primeiro plano, como Jean-Paul Sart, André Mauriac, Aragon e Simone de Beauvoir, pelo poeta cubano Nicolás Gullén e pelo pintor mexicano Diogo Rivera. Em 1957 foi eleito Prisioneiro Político do Ano pela Amnistia Internacional.
Em 10 de Dezembro de 1956 fundaram-se em Angola vários movimentos patrióticos para formar o MPLA, Movimento Popular para Libertação de Angola que lançaria a luta armada contra Portugal fascista.
Em 1958, Agostinho Neto doutorou-se em Medicina e casou no próprio dia em que concluiu o curso com a cidadã portuguesa maria Eugênia Neto. Nesse mesmo ano, foi um dos fundadores do clandestino Movimento Anticolonial (MAC), que reunia patriotas oriundos das diversas colónias portuguesas.
Neto voltou a Angola com a mulher e o filho de tenra idade (Mário Jorge) a 30 de Dezembro de 1959. Ocupou, então, a chefia do MPLA a exercer a medicinanbuma altura em que muitos integrantes do movimento tinham sido forçados ao exílio nos anos que antecederam o seu regresso ao poaís.
Em 8 de Junho de 1960, o director da PIDE veio pessoalmente prender Neto no seu Consultório em Luanda. Uma manifestação pacífica realizada na aldeia natal de Neto em protesto contra a sua prisão foi recebida pelas balas da polícia. Trinta mortos e duzentos feridos foi o balanço do que passou a designar-se pelo Massacre de Icolo e Bengo.
Receando as consequências que podiam advir da sua presença em Angola, mesmo encontrando-se preso, os colonialistas transferiram Neto para uma prisão de Lisboa e, mais tarde enviaram-no para Cabo Verde, para Santo Antão e, depois para Santiago, onde continuou a exercer a medicina sob constante vigilância política. Foi, durante este período, eleito Presidente Honorário do MPLA.
O MPLA lançou uma implacável campanha em prol da sua libertação, apelando para a solidariedade mundial para com Neto e todos os prisioneiros políticos angolanos.
Sob esta forte pressão, as autoridades fascistas viram-se obrigadas a libertar Neto em 1962, fixando residência em Portugal. Todavia, pouco tempo depois da saída da prisão, a eficaz organização do MPLA pôs em prática um plano de evasão e Neto saiu clandestinamente de Portugal com a mulher e os filhos pequenos, chegando a Léopoldville (Kinshasa), onde o MPLA tinha a sua sede exterior, em Julho de 1962. Em Dezembro desse ano, foi eleito presidente do MPLA durante a Conferência Nacional do Movimento.
Em 1963, Já eleito presidente do MPLA, Neto lança-se a uma intensa actividade quer no interior, quer no exterior do País. Dirigiu pessoalmente as relações diplomáticas do Movimento, podendo assim visitar numerosos países e contactar grandes dirigentes revolucionários que nele reconheceram o papel dirigente de um povo heróico que travava uma guerra justa pela independência nacional, pela Democracia e pelo Progresso Social.
Com a "Revolução dos Cravos" em Portugal e a derrocada do regime fascista de Salazar, continuado por Marcelo Caetano, em 25 de Abril de 1974, o MPLA ( a FNLA e a UNITA) assinaram um acordo de cessar-fogo com o Governo Português.
Agostinho Neto regressou à Luanda no dia 4 de Fevereiro de 1975, sendo alvo da mais grandiosa manifestação popular de que há memória em no país. Dirige, pessoalmente, a partir desse momento toda a acção contra as múltiplas tentativas de impedir a independência de Angola, proclamando a Resistência Popular Generalizada.
E a 11 de Novembro de 1975, após 14 anos de dura luta contra o colonialismo e o imperialismo, o Povo Angolano proclamou pela voz do Presidente Neto a independência Nacional.
A figura de Neto, como militante total, corajoso revolucionário e estadista eminente não se limita às fronteiras de Angola. Ela projecta-se no contexto africano e mundial, onde a sua prática e o seu exemplo servem de impulso à luta dos Povos que, no Mundo, estão ainda submetidos à humilhação, ao obscurantismo e à exploração.
Assim é que, nas tribunas internacionais a voz de Neto nunca deixou de denunciar as situações de dominação colonial, neocolonial e imperialista, pela Libertação Nacional, a favor da independência total dos Povos, pelo estabelecimento de relações justas entre os países e pela manutenção da paz como elemento indispensável ao desenvolvimento das nações.
Pelo seu empenho na libertação dos povos, Agostinho Neto na África de expressão portuguesa é comparável à Léopold Senghor na África francesa.
Agostinho Neto foi também um esclarecido homem de cultura para quem as manifestações culturais tinham de ser, antes de mais, a expressão viva das aspirações dos oprimidos, para denunciar situações injustas.
A atribuição do Prémio Lótus, em 1970, pela Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos e outras distinções atribuídas a algumas das suas obras de poesia, são mais um reconhecimento internacional dos seus méritos neste domínio cultural.
Também na República Popular de Angola, a eleição de Neto como Presidente da União dos Escritores Angolanos cuja proclamação assinou, traduz a justa admiração dos homens de letra do jovem País, pelo seu mais destacado membro, que tão magistralmente encarou a "SAGRADA ESPERANÇA" de todo o povo
Agostinho Neto Morreu a 10 de Setembro de 1979 em Moscovo, e foi sepultado aos 17 de Setembro.
A carreira política de Neto foi acompanhada de uma intensa vida porofissional como médico e poética retratado o homem negro, a escravidão a exploração e o desejo de repor o que nos foi tirado pela presença colonial.
Assim é que tanto a medicina quanto a poesia foram instrumentos de uma luta que se forjou, sobretudo, pelo direito à vida.
Sua obra literária pertence a uma forma especial de poesia, cujas principais preocupações foram instigar, pelo verso, a prática revolucionária capaz de gerar transformações e afirmar uma identidade cultural nacional, necessária para a revolução política que fervilhava em Angola.

Assim, encontramos nos escritos do Maior poeta nacionalista uma interrogação e uma negação da condição do homem colonizado e explorado. Expressões que marcam "O Choro de África" de que sempre se assumiu como libertador seguindo passos de seus antecedentes e contemporâneos. (Senghor, Keniata, Lumumba, Nierere, entre outros).
O choro durante séculos/ nos seus olhos traidores pela servidão dos homens/ no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticas/ nos batuques choro de África/ nos sorrisos choro de África/ nos sarcasmos no trabalho choro de África//
Sempre o choro mesmo na vossa alegria imortal/ meu irmão Nguxi e amigo Mussunda/ no círculo das violências/ mesmo na magia poderosa da terra/ e da vida jorrante das fontes e de toda a parte/ e de todas as almas/ e das hemorragias dos ritmos das feridas de África
E é em negação desta condição humana que Neto escreveu:
Não creio em mim/ Não existo/ Não quero eu não quero ser/ ... Não contem comigo/ para vos servir as refeições/ nem para cavar os diamantes/ que vossas mulheres irão ostentar em salões/ nem para cuidar das vossas plantações/ de algodão e café/ não contem com amas/ para amamentar os vossos filhos sifilíticos/ não contem com operários/ de segunda categoria/ para fazer o trabalho de que vos orgulhais/ nem com soldados inconscientes/ para gritar com o estômago vazio/ vivas ao vosso trabalho de civilização/ nem com lacaios/ para vos tirarem os sapatos/ de madrugada/ quando regressardes de orgias nocturnas/ nem com pretos medrosos/ para vos oferecer vacas/ e vender milho a tostão/ nem com corpos de mulheres/ para vos alimentar de prazeres/ nos ócios da vossa abundância imoral/
Não contem comigo/...

Ainda em Sagrada Esperança, livro lançado na década de setenta, porém escrito inicialmente ao longo dos anos quarenta, nota-se a esperança de uma Angola livre em detrimento à existência de cânticos simples de saudades.
Minha mãe/(todas as mães negras/cujos filhos já partiram)/tu me ensinaste a esperar/como esperaste nas horas difíceis//Mas a vida/matou em mim esta mística esperança/Eu já não espero/sou aquele por quem se espera//Sou eu minha mãe/a esperança somos nós/os teus filhos/partidos para uma fé que alimenta a vida (...)/

Depois da partida para o exilo de muitos patriotas que se tornaram os heróis dos nossos dias, onde se preparou a luta para a libertação do país, Agostinho Neto profetizava:
Às casas, às nossas lavras/às praias, aos nossos campos/havemos de voltar//Às nossas terras/vermelhas do café/brancas de algodão/verdes dos milharais/havemos de voltar//Às nossas minas de diamantes/ouro, cobre, de petróleo/havemos de voltar//Aos nossos rios, nossos lagos/às montanhas, às florestas/havemos de voltar/À frescura da mulemba/às nossas tradições/aos ritmos e às fogueiras/havemos de voltar//À marimba e ao quissange/ao nosso Carnaval/havemos de voltar//À bela pátria angolana/nossa terra, nossa mãe/havemos de voltar//Havemos de voltar/À Angola libertada/Angola independente.
Podemos perceber que a esperança de Agostinho se alimentava numa espécie de renascimento. A mãe, no caso a representação da África, não pode mais esperar pela partida ou pela morte de seus filhos e cabe aos mesmos a inauguração de um novo tempo, de uma nova liberdade. Neto dizia em Renúncia “Impossível” que
“ (…) E o que é mais importante:Salvei o mundo"! Assim, constrói-se a literatura do poeta, como um ponto nascedouro, próprio de uma pátria a ser fundada. Ricos em oralidade, seus poemas constituíram-se como cânticos capazes de organizar seus compatriotas para um conflito armado que durou de 1961 até 1975.
Uma vez começada a guerra pela independência Neto apela à resistência e à confiança para que não se traíssem os ideais. O poeta argumenta ainda o porquê da atitude contra o opressor:

Não direi nada/ nunca fiz nada contra a vossa pátria/ mas vós apunhalastes a nossa/ nunca conspirei nunca falei com amigos/ nem com as estrelas nem com os deuses/ nunca sonhei/ durmo como pedra lanzada ao poço/ e sou estúpido como as carnificinas vingativas/ nunca penséi estou inocente/ não diréi nada não sei nada/ mesmo que me espanquem/ não diréi nada/ mesmo que me oferejam riquezas/ não diréi nada/ mesmo que a palmatória me esborrache os dedos/ não diréi nada/ mesmo que me ofereçam a liberdade/ não diréi nada mesmo que me apertem a mão/ não diréi nada mesmo que me ameacem de morte/…

Conseguida a independência, Neto lança-se à conquista da liberdade de outros povos oprimidos. E encontramos slogans do seu tempo como:
“Na Namíbia, na Rodésia e na Africa do Sul está a continuidade da nossa luta”.
Ou ainda
“Angola é e será por vontade própria, trincheira firme da Revolução em Africa”, slogans que foram seguidos de uma práis, tal foi o nosso envolvimento na luta pelas independências do Zimbabué ( antiga Rodésia do Sul) da Namibia e eliminação do Apartheid na Africa do Sul e constituiçãos da organização "Países da linha da frente" precursora da SADCC, actual SADC… Como podem ver São inúmeros os ângulos de abordagem sobre Agostinho Neto, pelo que prefiro, por hoje, ficar por aqui e continuarmos a conversa já num sentido mais horizontal.

Muito obrigado.
Luciano Canhanga “Soberano”

segunda-feira, setembro 11, 2006

A CULTURA QUE TEMOS


Traço o mapa histórico e geográfico do país (Angola) e situo-me num ambiente influenciado pelo conceito cultural Europeu a que V. Kajibanga denomina como "o espaço Sociocultural luso-descendente", portanto, europeu e colonial, baseado no padrão imposto de “homem branco, culto e adulto” e que sem tal comportamento não se adquiria a condição de assimilado.

Geograficamente, sou um ocidental em relação ao país. Nasci numa região onde o sol tarda chegar, embora a luz europeia tenha chegado primeiro. Portanto, duma cultura influenciada ao longo de 5 séculos de presença portuguesa.

Tento situar-me agora no Leste, onde trabalho, e encontro um povo quase ainda arraigado às raízes profundas do seu tronco Cokwe, com suas autoridades e instituições tradicionais ainda vigentes, com o feitiço e a magia a superarem a medicina e as ciências sociais e exactas.

Noto também, por outro lado, a desarticulação daquilo que é ancestral aparecendo outras formas socio-culturais, ou seja, a miscigenação cultural fruto de influências recebidas via TV, sobretudo, e via contactos inter-pessoais (destaque para o Brasil, EUA, Portugal e RDC). Encontro na sua realeza o Soberano local vestido de peles, empunhando no pulso o mais sofisticado Quartz ou Omega. Comendo com as mãos para depois sentar-se num sofá de couro ou vestindo panos para fazer-se passear num X5 top de gama.

Andando pelas aldeias encontro casas de adobe e cobertas de capim enfeitadas com antenas parabólicas importando culturas alheias, sempre mal digeridas, fazendo com que o pano, principal vestimenta feminina ceda às calcinhas e sainhas curtas de verão brasileiro.

Encontro igualmente velhos que apenas falam Cokwe, crianças que não falam língua nenhuma e jovens que se arriscam nas duas ( Cokwe e português).

No ocidente angolano, mais à moda europeia do que à africana, encontro expressões aglutinadoras de povos e culturas como “zairenses, bailundos, sulinos, nortenhos, kacokwes” e outras para caracterizar o outro diferente do Eu luandense e pergunto-me:

_Que cultura temos e que cultura teremos amanhã?

Meus botões dizem-me que sou produto sociocultural que não é estanque, sendo minha família produto biológico.

Dizem-me também que o amanhã será a fusão, ou no mínimo, a conciliação entre o ontem e o hoje, do eu e do outro, quando o outro for meu semelhante com suas formas peculiares de ser e estar e pensar. Quando os empréstimos não mais constituírem motivos para censura, tão pouco a diferença motivo de exclusão.

E concluo que a compreensão e a inclusão em vez da imposição farão a cultura do amanhã. Quanto ao hoje vale pensar em alteridade como desafio. Aconselha Gusmão.

Soberano Canhanga

quarta-feira, setembro 06, 2006

REDACÇÃO SOBRE OS PAIS


Hoje é um dia especial. Fui a Luanda e fui contemplado pela primeira vez em nove anos com uma redacção. Quis o meu primogênito que estuda a quarta classe numa escola pública falar sobre o pai que (não) tem. E ele escreve assim:
"O meu pai não é mau e tem respeito por todos, não gosta de briga e é inteligente. Trabalha muito. Trabalha na Lunda Norte.
Sobre o que eu quero, em dinheiro ou em presente, quando eu aprovar para a quinta classe, vai me dar como presente um video game, uma bomba de bicicleta e um livro dos três porquinhos".
Assinado em papel de caderno:
Mohamed Mociano dos Santos Canhanga

sexta-feira, setembro 01, 2006

AS PERGUNTAS DE SETEMBRO

Depois de duas semanas de muita "Fesada" com bebícios e comicios, inclusive de líderes de ONG's a assumirem de forma aberta e velada o activismo político... Surge agora o Setembro do Heroi Nacional, uma data e festa plasmada no calendário.
_Será desta que Os ensinamentos do guia imortal da revolução angolana serão recordados?
_Teremos a Fundação Sagrada Esperança transformada em FAN (Fundação Agostinho Neto) e a fazer barulho e realizações à dimensão do seu patrono?
_ Neto está presente ou esquecido pelos políticos da Actualidade?
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