No dia 26 de Abril, duas situações de profunda comoção aconteceram e, a mim, não passaram despercebidas:
Depois de dez anos de vivência e cinco meses de ausência física, o Nelson ainda vivia [simbolicamente] em casa da Lena. Ao entregar os pertences de uso particular do esposo finado ela [viúva] estava a retirar de sua casa o que restava do marido. Era a desaparição total [física] do Nelson daquela casa [não da mente dela, isso leva tempo ou mesmo é impossível]. Por isso, a viúva entrou em prantos. Chorei com ela.
Infelizmente, manda a tradição que a viúva ou o viúvo deve apresentar/entregar aos parentes de sangue os pertences de uso pessoal do de cujus.
Quando chegámos ao Rangel, depois de reunir com a tia Maria [mãe do Nelson], o cenário repetiu-se.
A tia Maria nasceu em Luanda, mas glosa um refinado Kimbundu kibalista que provoca inveja a muitos que nasceram lá e se "calcinharam", misturando 70% de português e restos de palavras de que se recordam em Kimbundu kibalista.
Quando a convidei para ver as coisas do filho finado, resgatadas da casa da viúva, onde este morou durante uma década, a tia Maria exteriorizou:_ Omon'ami watoka'a kwamamô!
Essa expressão, para quem interpreta a língua [e não faz tradução linear] é muito profunda.
Estava a receber, espiritualmente, o filho peregrino.
O Nelson Ferreira Cabanga já não está entre nós desde 27 de Novembro de 2024. A recepção, pela mãe, dos seus antigos pertences foi como receber o que restava do filho. Daí o "watoka'a kwamamô [regressou à casa da mãe]. Foi tão profundo que as lágrimas não me avisaram e seguiram o caminho habitual da tristeza.
Sem comentários:
Enviar um comentário