
O comércio, "motor de maior potência" é que, normalmente, dá vida aos movimentos fronteiriços pendendo estes mais para o lado forte. [Os laços familiares também têm influência, mas não são os que chamam as alfândegas, zungueiros, carteiristas, malabaristas e outros agentes do bem e do mal]. Quem tem mais a dar vende mais e recebe mais dinheiro que robustece a economia do seu país e povo.
Atravessei a fronteira, via Kasamba, saído de Dundo, por duas ou três vezes, tendo comprado bubus, vestidos e camisas congolesas chamado pelo pregão "basin de qualité". As bijuterias, maioritariamente, "banhadas" e passadas como verdadeiras, são deles. A comida, os combustíveis os electro-domésticos e os Kwanza são nossos, mas é deles a praça maior. Ou seja, há maior número de vendedores quando a praça é deles (do lado deles).
Em Dilolo, a "visita" calhou-me em um dia de mercado aberto. Os angolanos vendiam kakeya, mandioca e outros produtos alimentares que não eram tantos. Os "zaikôs" tinham quinquilharia diversa e vestuário "made at home", apresentando-se ávidos de atravessar e ficar, enquanto os deste lado (mais ao mar), quando passassem os quilómetros permitidos (ou dentro do raio) era para buscar saúde ou visitar parentes.
Tal encontrei no Luvu [2014], quando a formalização de laços familiares entre o meu irmão e uma moça de Mbanza-a-Kongo me levou ao mercado fronteiriços à compra de "Or", malavu, sapato-sola-seca e outras coisas infalíveis em um pedido de casamento tradicional [bantu]. O gasóleo, petróleo, feijão, arroz, peixe fresco e seco eram nossos. Eles também vendem coisas, mas as habituais e acima descritas.
Em todos os pontos fronteiriços visitados, há desequilíbrio entre quem vende o quê, mas nunca como vi na fronteira a Sul, onde os que mais vão e voltam somos nós [angolanos]. E dizem que a taxação alfandegária "desregrada?" afugentou os comerciantes empresariais, deixando o posto fiscal à mercê dos revendedores de rebuçados e maçãs. Não tive tempo para confrontar e não pode essa passagem ser tomada como verdade acabada, embora se notem cada vez menos compras empresariais. Isso é verificado e os moradores contam-no de boca desabrida. O que não diminui, porém, são as idas e vindas de angolanos para comprar coisinhas que devíamos já ter para consumo imediato ou encontrar algo que se venda no nosso lado para o consumo deles. Esse é um desejo ardente, mas o que é que eles, namibianos, não têm e que precisam de comprar em Namakunde/Santa Clara?
A planície com escassa vegetação é a mesma [nos dois lados]. A seca no tempo de estiagem e as zonas alagadas quando chove são as mesmas. A estrada sem buracos, as casas [grandes, médias ou pequnas] contruídas de forma ordeira, os campos de masangu e masambala à beira da estrada e das aldeias, as manadas sempre acompanhadas de pastores e fora da rodovia são deles.
Há bagre e tilápia em Namakunde e Oshakati, nas lagoas temporais que a chuva cria, porém é a carne que os nativos mais amam. Os ovambo [povos do sul de Angola e norte da Namíbia] não têm o bagre e o kakusu na sua dieta, mas podem ganhar dinheiro com esses peixes, em anos de chuvas fartas. Por que em Namakunde não se pesca para vender a norte?
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