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terça-feira, abril 22, 2025

NÃO SUJE NOSSAS RUAS!

(Andando por Cape Town)

Esse "warning" |Don't rubbish our roads| muito nos serve e, se calhar, mais a nós do que a eles que grande parte da população juvenil e adulta já sabe que "as ruas e a higiene colectiva são para manter e preservar". 

Nem os "bígamos", casados com "Mari & Joana", que por cá abundam, ousam em deitar as beatas em qualquer lugar ou nos contentores plásticos que se acham em boas quantidades ao longo das vias urbanas. 

Os causadores de incêndios, urbanos ou florestais, são exemplarmente castigados e a fama corre, anos afim, em suas "villages" ou "contryside" de origem onde a moral pública não tolera desacatos à ordem social estabelecida. 

Quem quererá ser rotulado como causador de um dano moral público repugnante que tenha chocado a sua família e a comunidade? Há honra a preservar!

Nós, por cá, nas passagens superiores os pedestres efectuam desavergonhadamente as suas travessias sobre a plataforma (via) confiada aos automóveis e, como se as nossas caras fossem tão largas para que nelas não coubesse sequer uma réstia de vergonha, já que sobre valores alguns entendem apenas de pecúnia, alguns agentes reguladores do trânsito automóvel ainda se dão ao desplante de pararem o trânsito para que os preguiçosos e violadores de normas atravessem a via como manadas. Os contentores plásticos, já insuficientes, são queimados por fogo posto. As rodas dos contentores plásticos e metálicos são simplesmente roubadas e vendidas aos olhos dos agentes de segurança e ordem públicas. As redes separadoras das vias como a 21 de Janeiro e Deolinda Rodrigues são desmanchadas, roubadas. Os bens públicos destruídos sob a inacção de quem tem a segurança como tarefa e silêncio dos que deviam denunciar, mas aplaudem com os glúteos. Só mesmo em terra "nostra"!

Mas, isso tem de acabar! Como?

1. Educação da nova geração por via de debates e conteúdos académicos; 

2. Informação da sociedade em geral, por via de anúncios em media, panfletos e outdoors; 

3. Punição, por via de multas administrativas (quando seja possível), trabalhos sociais (temos muitas fossas por desentupir e "montanhas" de lixo por desbastar e valas por desassorear. 

4. A cadeia remota (a exemplo de Bentiaba ou outras colónias que devem ser criadas para os criminosos perigosos e reincidentes) não é excluída nesse exercício. 

Afinal, fomos dotados de semelhantes capacidades intelectuais e desejo de usufruto de vidas seguras e sadias. Rebuçados e porrinhos, quando bem doseados, podem ser bons suplementos!

quinta-feira, abril 17, 2025

ESCULTURAS NA AREIA LEVAM PÃO À CASA DE VITA


O jovem na foto
é Joaquim Vita Jorge, natural de Benguela, onde aprendeu a esculpir na areia com o "mestre Fernando", um angolano.

Joaquim faz as suas esculturas de areia há nove anos (sendo 4 anos em Benguela e outros 5 em Luanda).
A entrada da "Ilha" de Luanda (junto à Casa do Desportista) e no Ponto Final têm sido os seus locais predilectos.
"As pessoas ficam impressionadas, fazem fotos e aqueles que gostam da arte e têm dinheiro dão alguma coisa", avançou o "artista", acrescentando que "dá para comprar pão e, às vezes, fuba e conduto".
Tem sido nos fins-de-semana que mais recebe ofertas, todavia "depende da qualidade dos visitantes". Os turistas estrangeiros, regra geral, são os que mais "peso" colocam no seu "balaio". O "mestre" Vita levou 1 ano a aprender a fazer as estruturas e confessa que "cada obra é uma nova aprendizagem" que o leva a aperfeiçoar os detalhes e a encurtar o tempo.
Claúdio, 19 anos, sem registo de nascimento, é aprendiz há um mês. A sua tarefa é retirar água salgada do mar e ajudar a molhar a areia, antes da modelagem. Contou que já vai fazendo algumas pequenas coisas. Cláudio diz que, se nada o atrapalhar, poderá também ganhar autonomia em um ano.
Aproximando-se a Páscoa, data memorável para os cristãos, encontrei Joaquim Vita Jorge e o seu ajudante Cláudio a esculpirem o "último repasto" entre Jesus e seus mais dilectos discípulos, uma obra que pode perdurar perto de duas semanas, sendo tempo de calor.
"Em tempo seco, as esculturas em areia podem estar intactas até 2 meses", segundo os "artistas" que podem ser localizados no "Ponto Final da Ilha" de Luanda ou Farol da "Ilha".

sábado, abril 12, 2025

PRIMEIRA VISITA À MUNENGA MUNICÍPIO

A "Paz de Abril" foi a principal conquista dos angolanos nos 50 anos de independência. Assim declarei em entrevista difundida pela LAC, na sexta-feira, 04 de Abril, em que estivemos a reflectir sobre os 23 anos da cessação da confrontação militar, pós-eleções de 1992, entre a rebelde Unita e o Governo angolano. A debitar ideias estivemos: Luciano Canhanga, Nadir Taty,  Honorato Silva, Domingas do Monte, Alexandre Lucas, Lucinga Jamba e Álvaro Mendonça, sob co-moderação de Zé Rodrigues e Pedro Fernandes. 

Defendi a minha colocação de que "a paz é a maior conquista dos 50 anos de Angola Independente", pelo facto de permitir-me que me possa deslocar ao Lubolu, Moxiku Leste, Kwimba ou Njamba Kweyo sem impedimentos e ou riscos de ataque ou accionamento de minas. E muitos terão concordado comigo, a contatar com a aprovação dos meus co-arguentes durante o debate.

Foi neste espírito que, na manhã do Dia da "Paz de Abril", rumei ao novel município da Munenga, em companhia da esposa (Irlanda Salongue Canhanga) e dos meus compadres (o casal Higilda e Joaquim Aveleira).

A viagem despreocupada, que apelidámos de "turística", foi, na verdade, um kuñwalañwala [em Umbundu, andar sem rumo rígido]. O mote era ir passear à Munenga, pernoitar na Mukonga e afugentar ou, no mínimo, dispersar, alguns males derivados de trabalho intenso e contínuo, mas teve outros aditivos.

O almoço foi na Marginal do Dondo que estava apinhada de gente e viaturas de diferentes cilindradas, uns tendo o Dondo como destino e outros de passagem apenas. 

A "Velha Cidade" tinha músicos de cartaz, com destaque para o Don Kikas que foi apresentado pelo animador, enquanto degustava umas boas kakusadas "doadas" pelo tangencial Kwanza que, naquelas bandas, escorrega pachorrento e profundo a caminho de Lwanda. 

Marginal do Dondo

A sede da Munenga foi o ponto imediato, depois de forrar os estômagos com apetitosas chopas, regadas de pomada do dourense e água angolana. 

Antes, agentes da polícia, em acção preventiva, mandaram-me parar e estacionar, à chegada do Desvio da Munenga [4 quilómetros do vilarejo].

O homem alto, pele enegrecida pela melanina e sóis de muitos dias de trabalho na estrada, estrela única no ombro, fez-se diligente e respeitoso.

_ Bom dia, caro automobilista!

_ Bom dia, senhor Inspector! _ Respondi-lhe, baixando de imediato a música e os vidros.

O subinspector policial abeirou-se o mais próximo possível, tentando interceptar algum odor que se aproximasse ao consumo etílico. Estudei-lhe as maneiras.

_ Então, como vai a viagem, qual é o destino e vossa procedência? 

_ A Vamos à sede municipal falar com a camarada Fátima Cunha, a administradora municipal. A nossa procedência é Lwanda e pensamos em passar a noite aqui, na Mukonga, caso haja espaço e condições.

_ Vão para pedir terrenos, chefe? _ Voltou a indagar, ao que lhe respondi:

_ Sou daqui. A minha aldeia é o Kuteka que fica atrás daquela montanha, porém os meus parentes vivem na aldeia de Pedra Escrita. Viemos para mostrar umas ideias à administradora a quem pretendemos e temos já estado a ajudar para erguer o município que é novo. Quanto a terras, "tenho algumas à venda". _ Brinquei.

Aldeia de Pedra Escrita

Mostrei-lhe uma imagem com Emblema e Slogan da Munenga, projectados por mim, que pareceu gostar, tendo agradecido com a frase "é bom que todos os filhos ajudem a sua terra".

Confirmado também de onde ele era [Kalulu], liberou-nos sorridente e fizemos os 4 quilómetros que separam o desvio e a sede municipal em estrada (Munega-Kalulu) que mostrou obras em curso. 

Na colina em que se acham as residências da administradora e seus dois adjuntos, assim como o antigo comissariado [por uma questão de hábito recorrente, os mais velhos ainda chamam a administração de comissariado] e o Posto Médico, cuja sala de espera são uns bancos de betão implantados debaixo de pequenos arbustos, encontrámos apenas a jovem secretária que nos informou sobre um jogo amistoso de futebol entre os mistos da Munenga e de Kalulu [a antiga capital do Lubolu que também foi elevada a município, absorvendo a comuna da Kabuta].

_ A chefe está no campo. Se me derem quinze minutos, posso levar-vos até lá. _ Explicou, solícita.

Conhecendo a Munenga desde os anos em que a jovem secretária sequer era projecto de seus pais,  rumamos à procura do campo. 

_ Só pode ser na Banza de Munenga,  junto à antiga Junta [instalações da JAEA¹ e posteriormente MCH²]. _ Informei aos meus três companheiros na viatura, para os confortar, e lá fomos conhecer e saudar a Administradora Fátima que nos recebeu diligente e informou que a "Munenga esta a vencer Kalulu por 2-0". Aditou o seu plano para reabilitar a quadra de jogos de salão e estender a energia para aquele espaço que se acha fora da zona habitada, embora a poucos metros.

_ Com luz, à noite, os jovens poderão jogar futebol de salão, basquetebol e outras modalidades. Vamos fazer um esforço e procurar estar sempre com eles. _ Justificou a mais alta entidade no município, recebendo os meus elogios e palavras de conforto. 

Seguimos à Mukonga, antiga Estalagem do Ngana Mbundu, o alemão Walter Kruk, assim baptizado pelos nativos e raptado, sem volta, pela Unita, em Fevereiro de 1984. As camas estavam limpas e mostravam-se confortáveis. Pagámos e decidimos ir jantar na Kibala, cerca de 94 quilómetros, a caminho do Wambu, com paragem breve na Aldeia de Pedra Escrita onde residem muitos meus parentes. 

_ Passar pela aldeia sem cumprimentar a velha Nzumba [Alcinda Soares Kazenza] é quase pecado. _ Expliquei aos meus compadres, detalhando o que ela representava para mim. Adentramos e aproveitámos ver futura casa de campo.

Com o jantar já encomendado ao amigo Luís Perninhas, tendo o estômago e os olhos que contemplavam a natureza verdejante em sintonia, tudo corria sem pressa, tirando o tempo que é alheio, bastando bem administrá-lo. 

"Kipala kya Samba" recebeu-nos às sete da noite, deixando-a para trás às vinte e duas e qualquer coisa, com chegada à Mukonga a roçar à meia-noite.

Sábado, dia acordado para o regresso a Lwanda, tínhamos de fazer os vinte e dois quilómetros até, novamente, Pedra Escrita para pegar uma "soca" de bananeira rocha encomendada ao sobrinho Nelo que a fora buscar na aldeia de Lususu. Todavia, a minha esposa estava dividida entre ir, antes, a Kalulu ou outro destino. 

_ É preciso tirar proveito do tempo que nos restava, antes de encetar a viagem de regresso à capitalíssima (Lwanda). _ Disse ela sob concordância de todos nós.

Nisso, a irmã dela, nossa comadre Higilda Salongue Aveleira, perguntou por chouriço caseiro, despertando a mana mais nova a sugerir o almoço no Waku Kungu que distava 150 quilómetros percorridos sob chuva incessante e velocidade moderada e contemplativa. Em algumas rectas e descidas que pediam ao motor maior velocidade, o capim, as árvores e os rochedos que ladeiam a EN 120 pareciam empurra-nos para frente, enquanto eles, fixos, pareciam correr apressados para trás.

Waku

À semelhança do Dondo e Kibala, a refeição fora encomendada ao telefone. Quem faz frequentemente o mesmo caminho tem de possuir contactos e poder encurtar o tempo de espera.

Atendido o aparelho digestivo e a necessidade de aquisição de produtos campestres, despedimo-nos da antiga Santa Comba-Dão, [assim baptizada em homenagem à terra onde nascera José de Oliveira Salazar] quando o sol minguante se despedia entre a montanha leste. O tempo, "uma invenção dos capitalistas para vender relógios", segundo Karl Marx, anunciava dezassete horas. Luanda ficava a mais ou menos quatrocentos e vinte quilómetros superados até às vinte e três horas e cinco minutos, entre conversas, várias, e paragens, algumas.

Corpo cansado, mas mente lavada para mais extenuantes dias de labor, num feito que só a paz pode proporcionar.


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1- Junta Autónoma de Estradas de Angola

2- Ministério da Construção e Habitação

segunda-feira, abril 07, 2025

AS CHALADICES DO "BEBÊ"

Nota prévia:

O meu primo de quem me fui despedir pela última vez (ele em outra dimensão da vida e eu nesta prevalecente e ainda racional) nasceu Kitumba. Uma razão terá existido para que lhe fosse atribuído um nome relacionado a amuleto feiticista. No registo civil, entenderam os pais dar-lhe um "pomposo" nome português e passou a Adriano Kambota. Quando fosse a Luanda, tratávamos-lhe por "Guerra fiz mal", em alusão a uma de suas calinadas quando se comunicava em língua portuguesa, dado que toda a sua comunicação era feita, essencialmente, em Kimbundu.

Também soube, da minha mãe, que o antropónimo Kambota está relacionado a uma praga de gafanhotos que aconteceu em um ano qualquer da década de 20 ou 30 do século XX. Primeiro surgiram os gafanhotos, vindos "dos céus" que devoraram tudo o que esverdecia. Chamaram ao fenómeno Ikoho [gafanhotada] e todos os que nasceram naquele ano ganharam o nome de Kikoho [grande gafanhoto ou gafanhotada].

Aditou ainda a septuagenária que depois de devorarem as lavras e o mato incultivado, "os gafanhotos ovificaram e nasceram outros menores em tamanho e quantidade. A estes insectos, menos 'agressivos' e lesivos aos interesses agrícolas do que os precedentes, tendo sido usados para 'forrar os estômagos', enquanto 'conduto', foram apelidados de kambota. Assim, grande parte dos rapazes nascidos naquele ano que a iliteracia não registou foram apelidados de Kambota".

O meu tio, que no registo civil ganhou o nome Xavier Kambota, nasceu no tal ano em que eclodiram os gafanhotos kambota, depois do ano dos kikoho.
Bem, a prosa é sobre Bernardo, rapaz do Dondo [Marginal], que me encontrou junto à barraca [cacussaria] da dona Páscoa, onde, normalmente paro para fazer a minha refeição de "meio-da-viagem" ou encomendo algo para abocanhar à chegada ao destino. Desde que o meu filho Arlindo entornou o frasco da dona Páscoa contendo a "farinha museke" que paro para adentrar a barraca dela, para pegar a encomenda feita previamente ou indico parentes e amigos a frequentar o sítio dela. Estão já transcorridos dez ou mais anos.
_ Papá, deixa-me lavar os teus ténis, é só duzentos. _ Atirou o bernardo, algo simpático e marketeiro.
_ Filho vou à lavra. _ Respondi, afagando-lhe os ombros.
_ Pai, pode limpar os ténis. É para os macacos te estranharem. _ Insistiu o Bernardo, com elevado sentido de humor.
Recebida a encomenda da Dona Pascoa, pois seguia apressado para a aldeia de Pedra Escrita [Munenga] para assistir ao óbito do meu primo Kitumba e não havia tempo para sentar e apreciar a chopa, levei a mão à algibeira das calças e a minha mão conseguiu "pescar" uma moeda de kz 50 que dei ao Bernardo. Este, sempre bem-humorado voltou a recomendar.
_ Papá, cuidado com buracos na estrada que estão a ser tratados como frangos.
_ Como frangos? Como assim? _ Retorqui.
_ Sim, Papá. Primeiro, deixam engordar, depois é que abatem [tapam].
Só quando estava a trafegar entre o desvio da hidroeléctrica de Kambambi e o [novo] Kyamafulu [ponte sobre o rio Kwanza] me apercebi que havia um trabalho de tapa-buracos que tinham deixado engordar.
...

Episódios ocorridos a 18 de Março de 2025. Texto publicado no Jornal de Angola a 23.03.2025.

terça-feira, abril 01, 2025

KWALE: PONTO DE PARTIDA E DE CHEGADA

_ O que tens feito pela aldeia, vilarejo, vila ou cidade em que nasceste?

Essa é a pergunta, ponto de partida, para o "mahezu" de hoje.

A comuna do Kwale (os portugas e angotugas decidiram escrever Cuale) foi elevada a município, com efeito a 01 de Janeiro de 2025. Na condição do Kwale, novo município de Malanji, cuja vila sede completa este ano cem anos, estão várias localidades, a exemplo da minha Munenga, perfazendo perto de 150 novos municípios.

Por causa das guerras que o país viveu, não se tendo poupado sequer uma localidade, muitos dos novos municípios possuem "diáspora" numerosa e que cria desenvolvimento em terras de acolhimento.

_ O que tens feito pela terra que te viu nascer ou que viu teus pais nascerem?

Bem, os filhos e descendentes do Kwale residentes em Lwanda e Ikolu nyi Mbengu (nova província de Icolo e Bengo) reuniram, este domingo, 30 de Março, no Zango Zero. A razão congregadora foi "discutir as contas da Cooperativa Kudisagesa [sociedade], rever os estatutos e eleger os órgãos sociais".

Se calhar, você pergunte:  Como foi lá um munengense parar? Recebi um convite do meu amigo-como-irmão Alberto Colino Cafussa [no nosso Kimbundu vernacular devia grafar-se Kafusa] de quem conservo muitas similitudes vivenciais. Nascemos na aurora da independência. Fomos à escola no mesmo período e coincidem as andanças a pé [forçadas pela guerra civil], o refúgio em Lwanda, a busca pelo saber, a profissão de jornalismo, o amor pela cultura e pela terra que nos viu nascer e [nos últimos tempos] a assessoria de imprensa a que fomos emprestados. Portanto, o Cafussa, que preside à mesa da Assembleia Geral da Cooperativa Kudisangesa é um amigo-como-irmão que mereceu a minha resposta afirmativa ao convite.

Todavia, quem mais se beneficiou fui eu. Pude "aprender" com os kwalenses o dever de cada um olhar para a terra que guarda o seu cordão umbilical, a necessidade de todos os que, por razões diversas, deixaram a sua terra umbilical pensarem naquilo que foi o seu ponto de partida e pensarem no seu crescimento e desenvolvimento.

Particularmente, há muito tenho estado a reflectir: os portugas que saíram de suas terras distantes [na época, dois a três meses a navegar pelo Atlântico] fizeram coisas maravilhosas em terra alheia: construíram estradas, habitações, fazendas etc., onde a imaginação do citadino destes tempos não penetra. E nós, que nascemos no interior e crescemos em grandes cidades, o que temos feito pelas localidades em que nascemos?

Voltemos ao Kwale, cuja administradora, nova no cargo e na idade, fez-se presente no "Encontro do Zango", acompanhado de autoridades do poder tradicional e religiosos que propagam a fé cristã no município. Calculadamente bem assessorada, a jovem administradora Cidalina Chamassango [na casa de seus trinta a quarenta anos, se tanto] meteu-se à estrada, percorrendo mais de 400 quilómetros, consciente de que para erguer o Kwale, enquanto município, deverá ir ao encontro daqueles que possuem conhecimentos científicos e técnicos e, sobretudo, daqueles que, amando a sua terra umbilical, pensem em lá investir as suas moedas conseguidas por via de trabalho árduo [por décadas] em outras localidades de Angola.

Os kwalenses reuniram-se para abordar o presente e o futuro da cooperativa Kudisangesa, entretanto, o momento serviu para reflectirem sobre o retorno das pessoas e de investimentos ao ponto de partida, assim como matar saudades.

"Cada povo tem a sua Canaã", sua origem e [que deve ser] destino [terra prometida]. E foi bom vê-los e ouví-los, sempre moderados pelo meu amigo-como-irmão Cafussa que é um dos precursores do "retorno ao Kwale". 

Ajamos como os pássaros que voam durante o dia, mas que nunca se esquecem do seu ninho!

Sendo que a tarefa de promover o desenvolvimento das nossas terras de "uvalukilu" pede cooperação e imitação de boas práticas, aproveitei mandar umas mensagens à camarada Fátima, administradora do novel município da Munenga [região do Lubolu repartido em três], informando-a que a colega do Kwale estava perto de Lwanda a mobilizar sinergias para erguer a sua jurisdição, ao que ela, a administradora da Munenga, acolheu o apontamento, transmitindo "saudações calorosas" à colega edil e aos kwalenses reunidos.

_ O que tens feito para desenvolver a terra em que nasceste?

Os kwalenses residentes em Lwanda e Ikolu nyi Mbengu transmitiram-nos um exemplo que merece ser aplaudido em pé e ruidosamente!

sábado, março 29, 2025

SOBRADOS DE CASÓRIO


Verdade ou mentira, Sembe cumpriu. Recebido com sobrados do repasto anterior, fez do estômago um saco elástico. Aliás, antes serviu uma aguardente para "matar as lombrigas".

_ É para abrir o apetite, manos. Não me olhem só assim. _ Argumentou.
Seguiu-se a pratada regada com vinho que degustou até ao fim. Quando o “mwene-a-bata” (dono de casa) chegou e se sentou à mesa da sala interior, o puto Sembe foi chamado também.

_ Come um pouco de funji. Ontem estavas muito ausente e quase ninguém te viu. _ Disse o comissário Sabalu, pai da noiva e tio de Sembe e Mangodinho.

Entre um dedo de conversa, uma garfada e um gole, tragou o que lhe fora apresentado. Uns copos de vinho e outros de aguardente que não o deixaram ébrio de momento.
Já no avião, máquina de ferro no ar, Sembe não se emporcou, mas no assento se transformou em pedra e roncador. Dormitou até que o pássaro poisou no chão da Ngimbi, não se dando conta que a sua carteira de documentos caíra para debaixo do banco.

Ao transpor a migração, mão no bolso, carteira com bilhete nada. Revista na pasta de mão, nada. Revista na pasta de roupa, nada.
_ Ai wê, môs docs! – Gritou.
Um polícia de fronteira se abeirou e sentiu o alambique em que sembe se tinha transformado.
_ O moço tem o canhoto da passagem?
- Sim chefe, tenho. Faxavor, me ajuda só ir nas aeromoças procurar debaixo do banco.
_ O moço tem certeza que veio com os documentos em mão?
_ Sim, sô polícia. Exibi o bilhete ao entrar no avião.

Diligente, o agente, três riscos em vê no ombro, subiu no pássaro e deu-lhe o achado, fazendo o sinal do “pode passar!”
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Publicado pelo JA a 02.02.2025

segunda-feira, março 24, 2025

CARTA AO REI MBALUNDU

Ó PAI, com todo o respeito ainda, meu quase culegu.

Tambula hãndi ovilamo vyange. 

Dizem que o pai ainda estudou lá direito. Eu não.

Se estudou mesmo direito positivo, então o pai sabe que o costume e a tradição não podem "se chocar" com a Constituição e a Lei. 

Essa parte ainda eu só ando a ouvir a falarem nos doutores de lei que estudaram.

Então, se o pai estudou mesmo Direito, se o pai sabe, se sabe também que Angola é Rés Pública e não monarquia (salvaguardado o respeito à remanescente autoridade pré-Estadual), como é que o pai foi se "ferrar" através daquele "julgamento mortal" que não salvaguardou o direito sagrado VIDA, e agora vem ameaçar seca severa ao coitado povo sofredor? Ainda bem que já choveu!

Assim mesmo que o "fitiçu" falhou, muitos estão a dizer que a "bazuca encravou ou explodiu na própria arma do bazuqueiro", nesse caso o próprio pai mesmo.

Na remessa das talas para a "sua inimiga juíza" será que já não sobrou nenhuma?

Assim, o pai quer mesmo só andar à pé, do Wambo a Lwanda, tipo é Xavimbi que voltou e ocupou de novo "Nova Lisboa"?

Pai, me ouve só ainda, faxavor!

Cada sete dias de caminhada, o teste da covid-19 caduca. Se onde o pai completar a semana não houver testadores, não vai avançar. E se o pai conseguir chegar à capital (que é mbora território do seu culegu kamundongu), mas encontrar o Chefe Grande foi gozar férias dele, fica como?

E se os pés do pai ficarem inflamados de tanto marchar e o povo pensar que "a tala virou contra o talador" fica como?

Papá, fica mbora na sua Embala de Mbalundu.

Não aceita só agitação desse povo que tem mais ar do que juízo na cabeça. Às vezes ter cabeça grande não é ser grande cabeça!

[01.03.2022]

terça-feira, março 18, 2025

VISITA RELÂMPAGO AO LONGA

(Comuna que passou à categoria de município)

Atraído pelas notícias sobre a fazenda que produz arroz em boas quantidades, ainda no tempo de Kwandu-nyi-Kuvangu, decidi chegar ao famigerado Longa, visto estar na capital "Menonge". Abro parêntesis para assinalar que grafo os topónimos como devia ser, em obediência ao que demanda a parca regulamentação angolana e a do CICIBA sobre as línguas bantu. A visita aconteceu há já dez anos, e foi durante as minhas férias de 2015, tendo saído a solo da "capital das capitais", Luanda" à sede da província do Sudeste angolano. 
Como antigo estudante de Didáctica de História, no ISCED que era anexo ao Mutu Yá Kevela e colaborador [entrevistador] no Projecto "Angola nos trilhos da Independência", tive de ir conhecer o local aonde muitos dos obreiros da nossa independência haviam sido "desterrados e a sofrer sofrimento" por terem ousado usar (por outras palavras) que "Angola é dos angolanos!".
Conhecer o passado é maravilhoso, pois quem conhece a história só tropeça nos erros registados se for tolo. Todavia, as estórias sobre o arroz impeliram-me a meter-me ã procura do Longa. Não se trata do rio que nasce no Lonye, atravessa Karyangu e se afunda no Atlântico, separando Lwanda do Kwanza-a-Sul. Falo do Longa que vem do Moxiku e empresta as suas águas ao Kalahari. 
_ Aqui travaram-se encarniçados combates pela defesa da pátria ameaçada. "Aqui tombaram camaradas" de várias procedências do nosso vasto país. Aqui se conta, nos dias que correm, estórias sobre resistência ao colono, na Sub-zona da terceira Região político-militar do Glorioso, estórias sobre a resistência heroica contra os invasores sul-africanos quando os homens de Roelof Pik e Pieter Botha pretendiam fazer em Angola um "passeio turístico" militar em socorro de amigos angolanos que a história se encarregou de catalogar. Hoje a luta é reerguer o que se destruiu durantes as várias guerras (contra ocupação colonial, contra a invasão sul-africana, contra a insurreição interna) e construir coisas novas. É produzir arroz, milho, leguminosas e tubérculos e aumentar o nível académico-cultural dos seus habitantes. _ Estas foram as palavras de boas-vindas do Professor primário com quem mantive curtos, mas inolvidáveis momentos de prosa.

Longa, com perto de cinco mil almas, era, à data, "uma comuna que perdoa o passado lúgubre", mas que "jamais o esquecerá para que não se repitam as atrocidades que apagaram vidas e transformaram em escombros casas, lojas, hospitais e outros haveres". 
A carcaça de um helicóptero militar danificado na cabeceira da sua pequena pista de terra batida e alguns edifícios coloniais convertidos em pedaços pela aviação e artilharia sul-africanas são registos históricos que devem passam de geração em geração, desconfortando-me o facto de ver muitos destes "documentos históricos" estarem a ser recortados e levados à fundição.

Os meninos do Longa contavam a história lida nos poucos livros existentes e jogavam à bola em um pedaço lateral do "campo de aviação". A língua que mais se fala é Ngangela, sendo a língua portuguesa a segunda língua, todavia, obrigatória na escola que foi felizmente poupada e reconstruída. 
Uma outra maior, de 12 salas, construída de raiz, aguardava pela inauguração, "devendo elevar o nível de ensino e o número de alunos escolarizados", contou João Mbambi, professor do primeiro ciclo do ensino primário que ganhou um livro "O relógio do velho Trinta".
Os petizes, uns vestindo calções e camisolas amarelos e outros de tronco à mostra, imitavam, emotivos e sonhadores, os craques do Girabola.
_Quero ser como Job ou Ary Papel, disse um deles quando convidados para a foto-testemunho.
O arbitro vestia calças jeans, uma t-shirt e calçava chuteiras, ao passo que os pequenos "artistas da bola" poucos mostraram ter o privilégio de jogar com os pés calçados. Alegres, sem temor, nem represálias. Hora pós-escolar, 5h30 da tarde. Girava alegremente a bola no Longa, enquanto me aprumava para a viagem de regresso a Menonge que é longa, cerca de 90 quilómetros de distância.
Moisés Sacinene, 14 anos, frequenta(va) a sétima classe. Foi meu companheiro de conversas e fotógrafo de ocasião. Não se fez ao campo por considerar aquele "um jogo de crianças".  O seu campeonato é outro. Naquele pedaço de terreno plano roubado ao aeródromo militar ou assiste apenas os putos a se trumunarem ou é convidado a ajuizar os jogos dos kandenges.
_ O nosso campo é no lado de lá da estrada, onde os colonos jogavam. _Contou.
Quem vai de Menonge ao Kwitu Kwanavale tem, no lado direito do Longa a pista, parte da aldeia e o quartel. Do outro lado da Estrada Nacional 280 ficam os edifícios administrativos e os equipamentos sociais como o mercado, as escolas, o posto médico e, por mais incrível que pareça, um campo relvado a reclamar por novas balizas.
_ Esse campo foi sempre assim desde que nasci. Contou o professor Mbambi, quarenta anos, mais ou menos (à data).  O campo é mesmo do Governo. É ele quem manda cortar a relva quando fica muito alta. _Argumentou.
Podem ainda ser vistos, no lado norte, a antiga quadra de jogos de salão e sobras da guerra como tanques blindados e "mwana kaxitu" (lança rokets) já recortados em pedaços e aguardando pelo transporte à siderurgia onde as "laças e canhões que serviram a guerra serão transformados em enxadas e arado" para lutar contra a fome e a pobreza.
Mais abaixo, junto ao rio que dá nome à circunscrição e à fazenda que é exemplo nacional em termos de produção de arroz, um vasto prado se espalha em milhares de quilómetros quadrados de área, ladeando longitudinalmente as margens do Longa cujas águas não só me convidaram para matar a sede, mas também para lavar a "Maria Canhanga" que me transporta nessa odisseia.
_ Tio não toma banho ali. Visita tem de ser acompanhado. _ Alertou-me um dos rapazes que desafiavam a lei de Pascal sobre a submersão, ao que obedeci.
Na verdade, embora o Longa me tivesse convidado, a intenção era apenas lavar o rosto e saciar do caudal corrente e límpido a sede que caminhava comigo desde Menongue.
Enfim, conheci a [então] Comuna do Longa, fruto da paz que o povo tanto pedia. E não fui em cumprimento da "vida Kwemba", nem em serviço forçado numa cadeia pidesca do kaputu ou disesca da ressaca revolucionária. Fui em desfrute desta nossa Angola e os benefícios da força da razão que sempre lutou mais forte do que a razão da força que fez de todos nós meros objectos. Que saibamos todos dizer "tri-ti-ti nunca mais", porque agora que a paz já chegou "vamos 'mbora no Kwitu, porque a guerra Já acabou". E a visita ao Kwitu Kwanavale, perto de 100 km a leste de Longa, fica na agenda a cumprir nas próximas férias de um ano por determinar.

quinta-feira, março 13, 2025

OS REFORMADOS E A VISITA APRESSADA A CRISTO

Todos os seres humanos nascem, (alguns) crescem e todos acabam por morrer. É dado adquirido. Uns nem chegam a reproduzir, por vontade própria, alheia ou por antecipação da morte. Sabemo-lo. Todavia, entre os que morrem, os aposentados constituem um bom número.

A aposentadoria, por limite de idade (60 anos em Angola) ou por tempo de serviço (420 meses de contribuição ou 35 anos de trabalho contínuo), é um direito que se adquire com a idade e/ou tempo de trabalho, algo que devia animar quem chega a tal meta.

Já se imaginou, você e seu(a) cônjuge; filhos crescidos; netos a chegar, ano sim, ano também; isentos de trabalharem por conta de outrem que vos impõe agenda (agora são vocês os donos do vosso tempo total); "árvore sombreira" crescida; pensão de reforma a pingar (embora tripliquem as idas ao médico). Imagine que a sua/vossa "árvore sombreira" esteja também a frutificar para acrescer moedas à pensão de reforma e possam "desforrar" os dias de estresse e trabalho intenso com saídas prolongadas ao interior e/ou exterior do país. Você quereria, com certeza, viver e desfrutar por mais 60 anos. 

O que vejo, no meu Kuteka umbilical, é que os aposentados morrem cedo, alguns tão logo depois de deixarem de trabalhar por conta de outrem. Por que será? 

Outros, reclamam do patrão por lhes ter dispensado do trabalho para o usufruto da reforma que é de lei e moral. Alguns chegam a manifestar repúdio em público e lançar impropérios contra o "ingrato" do patrão que "não mais o quer ver trabalhar", para descansar. O que vai mal?

Não será porque o trabalhador exímio e exemplar deixou de pensar no pós-patrão, plantando, em tempo certo (antes de se chegar à aposentadoria), a "árvore sombreira e frutícola", tornando-se num ser ocioso e enjoado de ver as cores das paredes da casa todos os dias?

Noutras latitudes, os idosos são os que mais desfrutam da vida, viajando, conhecendo novos lugares, enchendo os navios cruzeiros, ocupando os hotéis, cuidando da natureza ou abraçando causas sociais. 

No meu Kuteka, a coisa é diferente. Os aposentados morrem cedo. Será por caso da mísera pensão de reforma? Mas, que tal (e volto à questão da "sombreira") se tivessem levado metade do ordenado ao estômago e alguma porção em poupança ou investimento?

Não sei qual foi a causa que matou o meu homónimo que "ofereceu todo o seu sangue" a uma rádio, até adquirir o direito à reforma, tendo sido ouvido ainda a reportar algumas vezes, mesmo já na condição de aposentado.

Não tendo nenhuma outra utilidade ou justificação, esse apontamento visa apenas levantar interrogações sobre a morte "precoce" dos nossos aposentados. Por que não "lhes é concedido" tempo para usufruírem do direito de não mais trabalhar por conta de outrem?

Algo deve estar errado e é tarefa de todos, empresários e gestores de topo de empresas, gestores de Capital Humano e colaboradores, encontrar uma nova fórmula que nos leve a gostar da reforma e a ter uma vida saudável e prolongada depois dos 60 anos.

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Obs: o autor é jornalista, MSc em Ciências Empresariais e foi Dir. de um GRH.

sábado, março 08, 2025

UMA VISITA AO MUSEU DO CORAÇÃO

Num hospital público de Cape Town, em 1967, um homem economicamente realizado, de 53, padece de insuficiência cardíaca irreversível e ninguém acredita em sua salvação, não existindo outra saída que não fosse encomendar a sua alma àqueles em que acreditava dar-lhe existência ultra-tumba. Apenas um médico, o Dr. Christiaan Barnard se recusou a desligar a respiração assistida.
A cadeira do receptor e a viatura sinistrada

Corria o mês de Natal. No dia 02, mãe e filha, esta de 25 anos apenas e a fazer carreira em um banco de referência, são atropeladas por uma pequena e, "aparentemente, inofensiva" viatura. A mãe teve morte súbita e a filha com traumatismo craniano, sendo-lhe declarada morte cerebral, horas depois, embora tivesse o coração ainda a bombear.
Já sem forças, Edward Darvall, ainda sem se refazer da má nova sobre a partida da mulher Myrtle Darvall, recebe outro telefonema do hospital.

_ O que será desta vez? Já "não caíram o Carmo e a Trindade?" Que há mais por cair? - Terá pensado sem o dizer.
Do outro lado do telefone estava jovem médico cirurgião, com PhD nos EUA, exausto, triste pelas ocorrências, mas ganhou coragem, fez o anúncio derradeiro, seguido de uma pergunta.
_ Tudo tentámos para salvar a jovem Denise Darvall, mas fomos incapazes. Todavia, ela tem um coração ainda a funcionar. O senhor autoriza que seja transplantado em um paciente que dele carece há muito tempo?
Seguiu-se silêncio. Depois uma voz entre a fraqueza e a coragem determinante de quem quer que o mundo dê uma gigantesca volta (ao nível do conhecimento).

Denise: primeira doadora
_ Sim. Já que não conseguiram salvar a minha filha Denise, no mínimo, tentem salvar a vida de quem precisa_. Esta resposta dada por Edward Darvall ao Dr. Barnard, deu lugar ao primeiro transplante de coração humano, realizado a 3 de Dezembro de 1967. Antes já outras experiências haviam sido tentadas pelo Dr. Barnard e sua equipa usando, principalmente cães, um deles exposto no museu do coração.

O receptor, Louis Washkansky, um comerciante sul-africano de 53 anos que sofria de insuficiência cardíaca terminal, viveu 18 dias com o coração emprestado e morreu de outra causa não ligada ao coração [pneumonia].
Essa é a história que foi mostrada e contada à turma de angolanos que procuram reforçar o inglês naquelas paragens.

Atrás da colecção dos factos feitos, fotos e objectos está o curador e guia do Museu do Coração da Cidade do Cabo Hennie Joubert. 
Perguntado se as sensações e sentimentos são como antes do transplante, Joubert conta que "o coração leva o sangue ao cérebro que tem a missão de amar, interpretar coordenar e ordenar as demais actividades do corpo". Falou sobre alguns pequenos cuidados que observa em termos de medicação, todavia, negou qualquer limitação física por causa do "coração alheio" que agora é dele. "Eu jogo golfe".
Na cama: manequim do receptor

A história do Dr. Barnard é demais conhecida. Por isso, é de Hennie Joubert, homem quase incógnito, "dono do museu" que me atrevo a rabiscar algumas linhas [História de sua vida]. É um sul-africano, de Ceres, em cujo corpo "coabitam duas pessoas," ou seja, ele e um coração que lhe foi doado em 2006, inspirando-o para homenagear o Dr. Barnard, pessoa que conheceu de perto e amigo de seu pai. Heenie afirma que "trabalhou árduo", enquanto teve excelente saúde, quando adoeceu, teve sorte de encontrar um doador. Todavia, para recompor o cenário completo da sala de cirurgia (daquela noite) tive de gastar cerca de sete milhões de Rands para conseguir os direitos de autoria das imagens e a propriedade de alguns objectos que estavam em falta para completar o cenário. 

Ao assinalar-se os 40 anos do primeiro transplante humano de coração (2007), investiu pessoalmente no projecto, vendendo tudo o que tinha para montar o museu no hospital público de Cape Town, Groote Schuur, que tem ao lado uma universidade. E não foi fácil recompor as peças e produzir os manequins com as feições dos personagens reais. Até o carro envolvido no acidente, metade está no museu. O quarto da jovem Denise, os adereços, etc. A cama em que o receptor do coração se encontrava havia sido doada ao Hospital Católico Romano de Windhoek, mas consegui tê-la de volta em troca de uma nova. As luzes do "anfiteatro" ou sala operatória haviam sido doadas a uma instituição de medicina animal, foram resgatadas, assim como fotos, entrevistas do Dr. Barnard e muito mais.

Quanto à turma de angolanos, brasileiras e sauditas, da English Plus Academy, "a visita realizada a 27 de Fevereiro de 2025, foi espetacular", na medida em que permitiu conhecer uma página sobre a história da evolução da medicina humana e conhecer parte da vida daquele homem (Heenie) que vive com um coração emprestado.
O seu contrato de gestão do museu termina este ano, havendo dúvidas quanto ao destino do espólio pessoal acrescido ao do Hospital.


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Publicado pelo Jornal de Angola a 02.03.2025

terça-feira, março 04, 2025

CARTA DE UM HEREGE AO SEU KAMBA DO PEITO

Meu amado amigo da muxima, do peito e "das confianças", como decidimos nos tratar nos dias que correm, para diferenciar essa nossa "amizade-como-irmandade", espero que essa carta/desabafo te encontre bem. Na verdade, são aquelas palavras que sempre te quis dizer, mas que fui protelando e postergando em função desta ou daquela situação subtil e que podia, num ambiente mais aberto, macular a honra de nossas virgens-parturientes.

Como o dia é de festa, descaso e descanso, isso depende do que cada um gosta e faz nesses longos dias de ócio, decidi, no silêncio e recolhimento que te é característico, mandar-te essa mukanda.

Soube que hoje, por lá, é dia de Carnaval, merecedor de um longo período que já se vai arrastando há 4 dias de festanças e desbundas com o salário acabado de receber. Embora tu não precises deste aviso, mas tens gente à volta e conhecida que pode carecer, volta e meia, de uma forma de "remind": o salário de Fevereiro é para comer e curar-se durante o mês de Março que tem trinta e um dias.

Aqui, na South onde me encontro, não vejo Carnaval. "Somente" vocês que "amam mais a colonização mental/cultural do que o próprio colonizador" é que o vivem com a euforia de quem tem já todos os males curados. Aqui é dia normal de busca de pão. Lembraste daquela vez em que o teu filho, meu sobrinho, te perguntou "por que não estavas a levar o saco para pôr o pão", quando em vez de lhe dizeres que ias trabalhar disseste que ias à procura de pão? Pois é. Aqui é mesmo dia de procurar pão e não de beber umqombothi (cerveja caseira) como fazem os nossos kimbombeiros do México e do Sete & Meio.

A propósito do Carnaval, que por lá se diz "é festa popular" ou é "manifestação da nossa cultura", tive na última madrugada uma acesa discussão com a minha tetravó, a trisavó da minha mãe. Encontrámo-nos num espaço com pessoas de várias idades, proveniências e culturas. Uns que era na nossa terra e falavam a nossa língua, mas que se tinham "casado e amigado" com outros, começaram a ignorar as vivências dos nossos ancestrais e chamaram aquilo que veio de longe e imposto pela força das armas e de um deus alheio como "nossa cultura". Será que é mesmo essa a nossa cultura? Ou é a cultura dos que sentem vergonha da terra que lhes recebeu e guarda o umbigo?

Talvez por desgosto, vi a minha tetravó e todas as pessoas da sua era que me estavam a contar lindas estórias partirem sem se despedirem. Foram um a um, mulheres e homens.

Uma das lições com que fiquei, da curta conversa que mantive com ela foi que as nossas danças e os momentos festivos colectivos como as cerimónias dos "tundandji, cinganji, evamba, ekano, efundula, omwongo" e outras festas ligadas à iniciação femininas, como efiko, efundula e ufiko, ou ainda de entronização que têm seus períodos e nunca abrangeram/paralisaram o país todo.

Lembrei-me agora da expressão "izaji" do meu Kimbundu materno, que significava feriado/recolhimento. Nos nossos dias de feriado, nunca alguém simulou ter sido raptado e a pedir resgate.

Em 2019 estive na Áustria, terra alheia de brancos que pensam que o crescimento e desenvolvimento residem no trabalho e na inovação técnica e científica. Foi na semana do carnaval. Não vi nada, nadinha que se parecesse ao carnaval que vocês festejam à boca-larga e saia-curta. As pessoas foram trabalhar. Mesmo em Portugal, não se vive essa euforia dos "pretos que receberam e injectaram o ópio" no corpo, tornado perene a autodependência. 

Repara ainda no que acontece nas igrejas? Os brancos fizeram o seu papel. Introduziram o ópio, eles deixaram de consumir e nós abrimos igreja em todas as esquinas. Vai espreitar quantas missas realiza uma igreja na tuga e quantas pessoas lá vão. Depois, compara com as nossas. É colonização. Só que, desta vez, o cego tem olhos desvendados, entretanto que não quer ver!

sábado, março 01, 2025

FUNJI COM SALADA

[Mangodinho na estranja]

_ Não se mete na minha vida! _ Assim mesmo me respondeu o kota que só quis ajudar. Vou contar:

Mangodinho, desde que começou a se deslocar do Kuteka para a Ngimbi e da Ngimbi para a estranja, ficou estranho. Até a comida que come virou diferente. Desta vez, o indivíduo pediu lingua-de-boi com funji. Até aqui está mbora certo. Faltou apenas um kabucado de kizaka, jimbôa, myengeleka, súmate ou kandonda. Podia ser qualquer verdura ou coisa da horta, mas tinha que passar na fervura ou, no caso da kandonda, que na Lunda é coisa obrigatória no jantar de um mwana lunga, tinha de, pelo menos, passar em água fervida e quente. Mas, o Mangodinho, nessa nova mania dele, aceitou mesmo lhe darem salada que seria a comida para o tal boi, cuja língua lhe deram com ele no prato. Isso se faz?!

E, quando lhe fui perguntar, qual é o motivo que te fez comer funji com salada, o Mangodinho a me responder que é por causa do médico.


Primeiro, ainda, me disse não tenho que lhe tirar satisfações porque a boca que comeu e o estômago que recebeu são mbora dele. 

Mas, que médico é esse que recomenda dar ao outro funji de milho branco com salada e um kabucado de língua-de-boi? E você, um mais velho que os miúdos todos te seguem como exemplo da aldeia e do país inteiro, aceita uma coisa dessas?

Até a língua de boi também está a negar e a dizer que é de vaca. Ara xisa, pá!

Segundo, é porque, ah, o médico me falou tem que comer verduras. Segundo é porque o boi quando lhe matam vira vaca. Como é que vira vaca?

Mesmo no curral grande, com hama nyi hama jya jingombe [com centenas e centenas de bois], "o dedo que mata é aquele que aponta o animal" e "o boi morre no dia em que lhe apontam para o abate". Como é que um gajo aponta o boi e morre a vaca que é para fazer aumentar o curral?

Terceiro, como é que o Mangodinho, um gajo mesmo vivo, nascido e criado no nosso Kuteka, acredita na receita invejosa de um medico qualquer? 

Quando não tínhamos dinheiro para criar bois ou comprar carne, a kizaka e outras verduras de todos os dias era connosco. Agora que a vida evoluiu lá um kabucado, o médico te manda voltar à vida de kizakices e tu aceitas, ó Mangodinho?

Esse kota ou já lhe meteram na mayombola ou lhe cozinharam ou então temos que lhe levar no kurandeiro para saber e nos dizer o que se está a passar com essa boelice que está a lhe entrar na cabeça. 

Um homem de verdade não pode aceitar tudo o que lhe dizem!

sexta-feira, fevereiro 28, 2025

O CAMINHO PARA A LIBERDADE

Os aprendizes de novas línguas procuram sempre por alguém com quem possam testar o que julgam estar a aprender, assim como os nativos ou residentes há mais tempo gostam de medir e saber quão aptos os "foreignar" [estrangeiros] estão para comunicar na sua língua. É nessas circunstâncias que surgem sempre pequenas conversas ocasionais nos cafés, nos elevadores ou nos táxis.

_ O senhor já viajou para alguma outra cidade de países estrangeiros, para além do seu e da África do Sul? _ Perguntou Kingsley Kenechukwu, taxista, que se apresentou como natural de Biafra e a residir por "long time" em Cape Town.

_ Ontem mesmo, caminhando para Waterfront, fiquei a reflectir em como as nossas independências foram obtidas e como temos ou não temos conseguido preservar o património material que herdámos da colonização.

_ Oh! What you have been thought [Oh! O que andou a pensar]?

A conversa era em inglês que o taxista dominava com perfeição e Mangodinho a tatear, mas a procurar explicar e argumentar, embora não tivesse as palavras todas ao pé da língua. Era como um mestre que tinha vontade de trabalhar, mas com os instrumentos necessários dispersos por uma grande dependência. Entretanto, lá se ajeitou com o parco vocabulário que tinha à disposição. Afinal, "the most important is communicate and beeing understood" [o mais importanteé comunicar e ser percebido].

_ Pois é. Veja! Há países que receberam as suas independências como se de um "gift" se tratasse. Esses tiveram de aceitar as condições prévias exigidas pelo antigo colonizador, como guardar o dinheiro dos novos países nos bancos centrais do antigo colonizador, permitir que os países colonizadores fossem tidos como preferenciais no acesso aos recursos minerais, ter bases militares nas antigas colónias, manter as propriedades das anteriores famílias colonizadoras, etc. Por outronlado, há países que obtiveram as suas independências à forças das armas, fazendo com que os colonos tivessem de fugir, deixando tudo para trás. Infelizmente, em alguns desses países, os novos detentores do poder não tinham hábitos de vivência urbana, formação para administrar condignamente o património material e imaterial que receberam, assim como melhorar o provimento de serviços aos citadinos. O que se vê é que as cidades ocupadas pelos que saíram das aldeias, dos maquis e dos subúrbios ficaram degradadas e descaracterizadas. 

Num terceiro grupo estão os países que chegaram à autodeterminação por via de décadas de luta política e ou militar que culminaram com negociações sobre a forma em que se chegaria pacificamente à desejada liberdade. O que noto é que, aqui, tudo se manteve como antes: os ricos, que fizeram parte do sistema opressor, continuam nas cidades que se mantêm organizadas e em constante adaptação às axigências do presente. A maioria dos pobres, por seu turno, continua a viver nos subúrbios e nas aldeias afastadas, acedendo às cidades apenas para o trabalho. É um tema importante, para compreender os contrastes de Africa, e que pretendo aprofundar. _ Concluiu Mangodinho, algo cansado,  todavia satisfeito pelo esforço de ter, mais uma vez, aproveitado a oportunidade de abrir a boca e ensaiar o seu inglês com o "driver".

_ You made a good analysis but look! There is many poverty and poor people in the countryside and suburban areas. People in that places doesn't live well as other in the city. If you go there you will find small sheet metal houses [você fez uma boa análise, mas preste atenção! Há muita pobreza no interior e nos subúrbios. Se for para lá vai encontrar pequenas casas feitas de chapas metálicas].

Seguiu-se um período de mutismo. Mangodinho a reflectir no que ouvira e a pensar no desfasamento entre o nível de vida das pessoas nos três tipos de cidades descritas por ele e o que deve ser a realidade campesina e nos subúrbios de Cape Town, Mwangope e Dakar. 

O motorista, por seu turno, terá levado o seu cérebro a reflectir sobre a incursão de Mangodinho sobre as vias pelas quais se chegou às independências e como os países foram/estão a ser geridos ao longo do tempo. 

Numa noite de vento a atingir os 30 quilómetros por hora e um trânsito desafogado, não demorou para que o silêncio fosse cortado pelo "we just arrived" [já chegámos] enunciado pelo homem proveniente de Biafra. Despediram-se com um simultâneo "think about what I told you!" [pense no que eu lhe disse!]

sábado, fevereiro 22, 2025

A FALSA OLIVEIRA

Quando a recebi, a arvorezita era franzina e alta que baloiçava ao vento. À chagada, a relação entre ela, a terra em que fora plantada e, se calhar, o sol tórrido do Zango IV, não foi boa, não! Levou perto de dois anos numa espécie de "toca e ninguém se mexe". Não secava nem apresentava folhas novas.

Em uma de minhas idas a Malanje, trouxe calcário dolomítico e polvilhei a base da planta. Talvez tenha sido um "santo milongo" e ela começou a sacudir-se da hibernação. Vieram-lhe folhas novas, verdes e fortes. Largava poucas ao longo do ano todo.

Quando comecei a podá-la para direccioná-la, o caule passou a engordar e a dar mais ramos que lhe formaram a copa. Continuou a poda para o direccionamento. Em finais de 2023, surgiram as primeiras flores e, no desabrochar do novo ano, surgiram as frutas parecidas às azeitonas agridoces e pretas quando amadurecidas.

Inicialmente, chamávamos a planta de oliveira. Três anos depois consegui uma oliveira original (daquela espécie que todos conhecemos e facilmente identificamos). Daí descartamos o nome anteriormente atribuído. 

Colhi duas ou três frutas que provei (já os guardas haviam saboreado umas e dito que "eram doces"). Voltei à pessoa que me ofereceu a árvore ainda pequenina, em 2020, e perguntar-lhe o nome da árvore que iniciara a frutificar em 2024.


_ São azeitonas pretas _. Disse.

_ Se são azeitonas, a árvore é oliveira (talvez uma das várias espécies existentes). _ Conclui, mas não muito satisfeito.

Desta vez, aumentou o número de flores e as frutas estão à mostra. É jamelão e está plantado no Zango, município de Kalumbu que, até 31 de Dezembro de 2024, era Luanda.

O jamelão, também conhecido como jambolão, guapê ou azeitona preta, oferece diversos benefícios para a saúde, tais como:

1- Sendo rico em vitamina C, ajuda na manutenção da saúde da pele, dos ossos e do tecido conjuntivo.

2 É fonte de fósforo, importante para a formação e manutenção dos ossos e dentes.

3. Possuidor de antioxidantes, contém compostos como antocianinas, quercetina e rutina, que ajudam a prevenir doenças como o câncer e outros problemas inflamatórios.

4. Possui propriedades anti-inflamatórias e ajuda a reduzir inflamações e aliviar sintomas de doenças inflamatórias.

5. Actua no controle da glicose, podendo ajudar no controle dos níveis de açúcar no sangue, sendo útil para diabéticos.

6. Saúde cardiovascular: Os antioxidantes presentes no jamelão ajudam a proteger o coração e melhorar a saúde cardiovascular.

7. Exerce acção anticarcinogênica, podendo ajudar na prevenção e no tratamento do câncer.

8. Melhora da digestão, pois ajuda a aliviar problemas como prisão de ventre, diarreia, cólicas e gases intestinais.

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Publicado no JE&F de 28 de Fev.2025

domingo, fevereiro 16, 2025

JUNTOS ERGUEMOS MUNENGA!

Nesta data, 16 de Fevereiro de 2025, publico, em primeira mão, o Slogan "MUNENGA_ Juntos Erguemos o Município!", assim como a grande "Pedra Escrita", localizada a cerca de 26 quilómetros da (actual) sede municipal, servindo de Ex-libris do novo município criado (por elevação de categoria) a 01 de Janeiro de 2025.

O Slogan e o Emblema são partes de mesma peça artística da autoria de Luciano Canhanga (contando com o suporte de Elizabeth Jai e Dilson Mota).

Todos os direitos reservados ao autor deste blog.

 

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sexta-feira, fevereiro 14, 2025

A QUALIDADE DO SOLO E A SAÚDE DA PLANTA


Repare no que lhe pode parecer "saúde" destas herbáceas.

A parte que apresenta um verde intenso é sorgo (massambala) e já vai na segunda colheita. Sim, a sorgo não seca, após colheita. Nascem-lhe filhotes que também produzem grãos.  Diz a ciência agrícola que a planta pode ir até à terceira ou mais colheitas, cujo rendimento vai baixando, obvio.

As herbáceas que apresentam um verde-amarelado são milheiros. O milheiro é de colheita única, assim como a bananeira. Mas aqui a diferença de coloração tem a ver com a riqueza do solo e exigência da planta. O milho requer melhores cuidados e solo mais humificado para que a planta cresça com vigor e tenha grãos desenvolvidos. A carência ou excesso de água tornam-se críticos para o milheiro, ao contrário do seu "primo" sorgo que é mais tolerante em relação à riqueza do solo e ausência de água. Todavia, o sorgo resiste melhor à inundação, pois cria raízes aéreas (acima do solo) que tanto podem absorver humidade em tempo seco como isolar a base da planta inundada e continuar a viver. Por essa razão, o sorgo é plantável. Sempre que apresente raízes acima do solo, pode ser cortado e plantado. O milho não!

O campo de herbáceas rasas é de batateiras que me estão a poupar alguns Kwanzas.  Kingombo, aliás quiabo, também temos, mas são poucos. Trinta metros quadrados, semeados de quiabos na minha horta, ficaram inundados. A batateira regozija-se com a inundação temporária, pois a água depõe matéria orgânica que serve de alimento à planta rastejante que se multiplica e cobre de verde o espaço.