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sábado, fevereiro 13, 2010

DE OLHO NA ENGRENAGEM 3

Reflito hoje sobre o poder da electricidade para o desenvolvimento industrial e para a redução dos custos de produção de bens de consumo. É sabido que electrificar o país representa um custo elevado, mas é assumidamente uma imperiosa necessidade. Também é ponto assente que temos recursos hídricos em abundância. Falta mesmo é, dentre as várias prioridades e poucas possibilidades, encontrar coragem para eleger este desafio indispensável ao desenvolvimento do país que não se deve “fazer à escuridão”.

Quem passeia hoje pelos arredores de Luanda a caminho do Bengo vê e com satisfação muitas unidades de produção de tijolos e outros meios de construção. Um passo de encorajar. Porém assiste-se também e com admiração, que o tijolo ainda não substitui o tradicional bloco de areia e cimento, tido como elemento encarecedor da matéria-prima (cimento) que ainda não temos em abundância. Pois é: o problema reside na carência e carestia da electricidade.

A trabalhar com geradores a diesel, que exigem elevados custos de manutenção, combustíveis e lubrificantes, nunca o tijolo e as telhas terão o preço médio esperado pelos angolanos e daí que entre a compra de produtos cerâmicos e a aquisição de blocos a preferência vá, em muitos casos, para o bloco feito de cimento. Conseqüências: construções cada vez mais caras, a começar pelo cimento, cal, mosaico e azulejo, etc.

Se extrapolarmos o poder da energia sobre as demais engrenagens, encontraremos as respostas do porquê da carestia dos bens e serviços produzidos no país em detrimento de outros importados, ou mesmo do porquê que muitos empresários preferem investir no comércio ao invés da indústria. É preciso produzir energia eléctrica em abundância para que a vontade dos que têm dinheiro pra investir se torne em realidade que accionará a engrenagem.

Notícias sobre a reabilitação do Ngove e Mabubas, remodelação e ampliação do Lomaum e Matala e sobre a criação de pequenas mini-hídricas como as anunciadas para o Maquela, Andulo e outras localidades são soluções duradouras que devem ser multiplicadas por todo o país. Aí onde houver água em quantidade e de forma ininterrupta durante o ano e, se esta puder gerar electricidade, que se junte ao útil o agradável. Por outro lado é importante que a implantação destas bem-feitorias seja acompanhada de estudos sobre o crescimento populacional e industrial das regiões e localidades, para que as nossas alegrias não se tornem efêmeras.

Sendo “objectivo do Governo angolano a eliminação da fome e da pobreza extrema nos próximos anos”, segundo o Ministro Manuel N. Júnior, aquando da apresentação do OGE para 2010, é importante que se encontrem fórmulas para baixar os custos de produção industrial para que o produto final chegue barato aos que detêm menor poder de compra. Só assim o pobre será menos pobre.


* lcanhanga@hotmail.com

Publicado pelo Semanário Económico de 05/02/2020

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