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sexta-feira, dezembro 31, 2010

A FECHAR

Anexo e casa mãe
Acontece o dealbar do ano de 2010. Para uns foi demasiadamente longo, para outros, e é o meu caso, foi demasiadamente curto. "Faltaram dias". Tenho a casa por concluir a primeira fase (rés-do-chão) que me permitirá para lá mudar. Por isso seria bom que o ano de 2010 tivesse mais uns trinta dias. Porém, como ninguém pára a marcha do tempo contento-me com as realizações que me enchem de orgulho.

1- A realização do meu sonho enquanto jornalista que foi "O Sonho de Kaúia", um romance publicado a 17 de Dezembro. Melhor prenda dada por mi mesmo nunca tive.

2- Aquisição de uma parcela de terra no Km-30, ao Benfica, para auto-construção. Foi outro marco da gestão responsável dos parcos.

3- Já acima citada, a continuação da "obra" e a construção do anexo contíguo (foi tudo em 2010 e aguarda apenas pelo betão da laje).

4- A família que entre desencontros e encontros ficou "reencontrada".

5- A "Sombra do amanhã". A futura quinta deu frutos, os primeiros.  Vai, aos poucos, crescendo o terreno lavrado e vão, aos poucos, crescendo as laranjeiras, tanjarineiras, os limoeiros, mangueiras, bananeiras, abacateiros, etc.

6- Os meus amigos de peito. São muitos que me torno ingrato para alguns se os citar pelos nomes. Todos úteis à medida. Ressalva para o Beto Spina (que nem o cão e o amo), o José Caetano (tornou possivel o "Sonho"), o Kota Armando Graça (que pena que ele não esteja mais a atender as minhas provocações)...

7- Os meus leitores. Estes, com os elogios e críticas (mesmo as mais bizarras) ajudam-me a rever o pensamento e a prosa. O meu muito obrigado e critiquem mais em 2011.

terça-feira, dezembro 28, 2010

OS CAMINHOS DO DESENVOLVIMENTO RURAL

Angola, apesar de pouco habitada, debate-se com a existência de numerosas "pequenas comunidades rurais" que se defrontam com carências de vária ordem como: crianças fora do sistema de ensino, assistência médica, água potável, entre outras.

Os governantes estão atentos a isso e tudo fazem para inverter a situação, mas a dispersão de pequenas comunidades isoladas umas de outras dificultam a instalação de equipamentos sociais comunitários.
  
"Há aldeias com apenas vinte famílias ou menos e distanciadas das outras por muitos quilómetros. Como construir uma escola numa aldeia com mennos de 30 crianças"? A pergunta de um governante (identificado)triste com o que viu ilustra bem o longo cxaminho que há por trilhar para que o bem-estar social chegue aos confins do território.

Para esta empreitada os sobas (autoridades tradicionais) são chamados a pôr de parte os seus antagonismos e egoísmos, juntando as comunidades de modo a torná-las numerosas e possibilitarem a instalação de escolas, centros ou postos médicos, fontanários, postos policiais, campos para a prática desportiva e outras benfeitorias.

Um dos modelos que está a ser ensaiado, e que pode trazer bastante sucesso na operação de aglutinação de comunidades, é a manutenção dos sobas das anteriores aldeias geminadas.

"Os mais velhos continuam a ostentar o título tradicional, a usufruir dos mesmos direitos perante o seu povo e o Estado, mas abandonando o aldeia e juntando-a à outras(s). Só assim consegui(re)mos ter aglomerados suficientes para a extensão dos serviços básicos de educação, saúde e água para todos. Doutra forma, avança a fonte, continuaremos a ouvir as mesmas reclamações e a prometermos soluções sem nunca as atingirmos" disse o responsável político a que vimos citando.

Províncias como o Kuanza-Sul e Lunda Sul já trabalham neste sentido, apelando as pessoas que vivem em aleias minúsculas a juntarem-se a outras de modo a engrossar o efectivo populacional. Pedra Escrita, no Libolo (Kuanza Sul), é um exemplo bem conseguido de aglutinação de pequenas aldeias anteriormente dispersas e já conta com uma escola de treis salas de aulas, um jango cmunitário e um posto médico em construção, ganhos impensáveis a anos quando as comunidades que constituem a actual aldeia estavam ainda espalhadas pelo sertão.

Na Lunda Sul, nasce na localidade de Muandoji (município de Saurimo) uma nova aldeia geminada com a de Caíta e estão em construção uma nova escola, um posto médico, posto policial, campo para a prática de despostos de salão,  fontanário e outras benfeitorias. As autoridades desdobram-se em apelos às outras populações para se juntarem e constituirem bairros maiores "que permitam o governo trabalhar". É essa a luta que deve ser levada a cabo em todo o interior de Angola e são esses os caminhos, a meu ver, por que deve  passar o Desenvolvimento Rural.

sexta-feira, dezembro 24, 2010

LUAU: TÃO DISTANTE E TÃO LINDO

Quando o comboio de Benguela chegar ao Luau os seus passageiros já encontrarão um sítio em condições para comer e se albergarem. Trata-se do Hotel que a foto mostra. Tem Tv por satélite e mobília de qualidade.

Apesar de ser o ponto mais distanciado do Atlântico angolano, o Luau cresce a olho nú. Quem por lá tem estado sabe disso. Eu vi e por isso narro neste espaço.

segunda-feira, dezembro 20, 2010

KAÚIA JÁ VENDE (SONHO)

Aconteceu a 17.12.2010 o lançamento do romance "O Sonho de Kaúia".
A critica foi eficaz. Manuel Muanza, mestre em literaturas africanas e professor universitário, encarregou-se da empreitada.

Em breves palavras e sem querer deturpar “a exposição sintética do conteúdo”, o mestre em Literatura Africana disse que a obra de Soberano Canhanga, pseudónimo do escritor, projecta uma abordagem objectiva da realidade. A mesma, salientou, merece uma melhor investigação para se confirmar, ou não, tratar-se de uma narrativa autobiográfica. “Parece haver similitudes entre os traços do protagonista Kaúia e o autor”, observou, acrescentando que “a escolha feita pelo principal actor, ao prometer que seria jornalista quando adulto, evidência a suspeita de autobiografia”.

Segundo Manuel Muanza, sem seguir a ordem da história, o texto mostra ser um instrumento de denúncia social e de crítica a práticas que se tornaram preceito na sociedade angolana, isto é, a invasão do campo para cidade. Salientou que os problemas do quotidiano narrados no texto lembram a estética realista do século XIX, a qual transforma a linguagem culta do romantismo em fala formal.

In: JOrnal de Angola, 18.12.2010

O Sonho De Kaúia tem alguns indícios de história e comportamento social da Luanda actual dando a conhecer muitos factos reais e que poucos conhecem e despertar as pessoas para aquilo que se vive actualmente de anormal. Editada pela Mayamba, a obra teve uma tiragem de mil exemplares e está a ser vendida ao preço de Kz.2000 nas livrarias de Luanda.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

CONVITE LITERÁRIO

A Mayamba Editora anuncia o lançamento, na próxima Sexta-feira, dia 17 de Dezembro, no CEFOJOR – Centro de Formação de Jornalistas, do romance O Sonho de Kaúia, de Soberano Canhanga.

A apresentação estará a cargo do mestre em literaturas africanas e docente do ISCED Manuel Muanza.

Sobre o livro

O Sonho de Kaúia é a história de um jovem de origem humilde que promete ao pai iletrado, antes deste falecer, que seria jornalista. Depois de duro bregar, consegue materializar o sonho. Cumpre-se aqui o velho adágio: querer é poder! Nas sociedades em transição, como a nossa, quando um filho termina os estudos e consegue um emprego, significa ascensão social para toda a família. Kaúia, que também prometera à mãe voltar ao campo para ser caçador, não cumpre a promessa, mas, com os proventos do seu trabalho de jornalista apreciado pela chefia e respeitado pelos colegas de redacção, confere-lhe uma casa condigna para passar a sua velhice. Ao longo das 112 páginas, o personagem Kaúia assume-se como uma voz que verbera os desatinos da sociedade em que vivemos. A sua composição que serve de teste de admissão para a carreira de jornalista é bem revelador da sua capacidade de captar a realidade.

Sobre o Autor

Soberano Canhanga é pseudónimo de Luciano António Canhanga, jornalista, nascido no Libolo, Kwanza-Sul, há 34 anos. O seu sonho era o de se tornar engenheiro mineiro ou agrónomo, mas estudou jornalismo no Instituto Médio de Economia de Luanda (IMEL).

Estudando mais tardem Ensino da História pelo Instituto Superior de Cièncias da Educação (ISCED-Luanda) e em Ciências da Comunicação na Universidade Privada de Angola (UPRA), também de Luanda.

Trabalhou como jornalista na Luanda Antena Comercial – LAC, onde foi editor, e leccionou no ensino geral público, ao mesmo tempo que colaborava, publicando artigos e informações para vários medias angolanos e estrangeiros, com destque para RDP-África e Correio da Manhã, ambos de Portugal, Seminário Económico, Cruzeiro do Sul e Jornal dos Desportos de Angola.

É, desde há cinco anos, respons´vael pela comunicação institucional da Sociedade Mineira de Catoca, Lda.

Contacto do autor telemóvel: 923 55 86 51 Email: ; / contacto da Mayamba: 924 07 90 30.

Um excerto do livro:

Kaúia termina a sua composição, não sabendo ainda qual seria o parecer dos directores do jornal. É que o uso do português, segundo a receita encontrada na gramática de José Maria Relvas, está difícil, mesmo para jornalistas com já muita tarimba.
E esperou, ansioso, no sofá da sala de espera, até que o vi­gilante, Man-Xaxo, que fora transferido pela Njovoli para aquela empresa jornalística o convidou:
–Sr. Kaúia, o chefe ainda está a chamar. Parece que você vai ficar.
– Sério? – Questionou, num misto de alegria e descon­fiança.
– Sim senhor jornalista. Ouvi lá dentro. Discutiram muito. O director-geral Francisco Kitembo a dizer que vale a pena aceitá-lo e o Dr. Adão a negar… Mas a menina Isabel Antonina que fica ali na frente (apontava para o lugar da chefe de redacção) foi chamada a votar e desempatou…

Kaúia levantou-se e, endireitando a gola da camisa que mostrava um pouco de sujidade, provocada por suores mais internos do que externos, apresentou-se ao director Fran­cisco Kitembo que o recebeu com um abraço.

– Estás entre os nossos. Lemos a tua prosa e o teu esforço nos convenceu. Tens três meses de estágio remunerado e já podes assi­nar. – Sentenciou o director.

– Obrigado, Sô ‘tor101. Obrigado mesmo. Foi sempre o meu sonho. – Agradeceu.

Kaúia conseguiu ter, mesmo sem os processos transitados na Direcção de Recursos Humanos, um assento na redac­ção, ambiente que lhe parecia meio estranho com homens e mulheres mantendo conversas sem tabus. Parecia-lhe que as senhoras eram todas sem pudor e sem vergonha, abor­dando assuntos sem filtro. Todos tratando-se por tu…

Os primeiros seis meses de jornalismo deram-lhe as fer­ramentas práticas que não possuía. Depois foi só deslizar como as águas calmas do Kuanza à jusante. Kaúia tinha uma grande queda para as crónicas e artigos que alegravam os directores Kitembo e Carlitos Adão.

– Uma boa aposta. – Reconheciam, sempre que passassem a pente fino o crescimento de uns e a estagnação de outros jornalistas mais antigos na casa.

– Esse rapaz tem futuro! – Desabafavam vezes sem conta.

Kitembo e Carlitos, amigos desde a infância no Sete e Meio, viam em Kaúia o irmão e companheiro que lhes fal­tava. Sempre que se recordassem da adolescência notavam a ausência de alguém para preencher o puzzle. Era Kezito, por sinal também amigo de infância de Kaúia, desapareci­do nas curvas e contracurvas da vida. E Kaúia, que muito cedo se encaixou naquela dupla de exímios profissionais de imprensa, preencheu a vaga de Kezito, sendo-lhe con­fiada a página “REGIÕES”, tão logo completou um ano de casa.

Ser repórter e editor da página que fala sobre o esta­do das províncias e das localidades proporciona-lhe muitas viagens ao interior que aproveita com mestria, fugindo da prisão em que se tornou Luanda, onde as torres engolem todos os dias os campos do trumunu, os parques infantis e os jardins que ainda resistem aos maus-tratos da população. Até os namoros da miudagem perderam a graça doutros tempos. No que se constrói à volta, amplamente difundi­do como Centralidades, não passa de outras prisões mais apertadas ainda. Eram quarteirões murados e vida privada amplamente vigiada.

– Então meu! Estão a abrir candidaturas para a Zona Leste. Vais aderir ou preferirás continuar no gueto? – Perguntou-lhe certa manhã o director de informação, Carlitos Adão, que já mora no New Life.

Viver no New Life e nas Centralidades dá um novo esta­tuto social. As camisas normais ganham a companhia dum casaco e gravata, mesmo que conseguidos na zunga. É a nova forma de aparecer e transpirar intelectualidade. Mas Kaúia não é desses complexos.

– Não chefe. Vou remodelar a casa que a velha me deixou no Rangel e investir no campo. Sabe, é lá que ficou o cordão… – Respondeu com convicção.

Mesmo com a vida remendada e frequentando o campo, Kaúia não pôde ir às caçadas e satisfazer a velha promessa feita à mãe na infância, mas conferiu-lhe uma casa em con­dições e uma velhice tranquila.

domingo, dezembro 12, 2010

UM ALBERGUE CHAMADO PONTE

A imagem mostra a passagem superior sobre a estrada Deolinda Rodrigues, à Terra Nova, em Luanda. É dia de chuva, 24 de Novembro. Muitos, como eu, foram surpeendidos pela queda pluviométrica e nem de capas de chuva se faziam transportar. E, como a solidariedade deixou de fazer morada entre nós, nada melhor do que usar a cobertura da ponte para evitar um banho maior, enquanto outros afoitos procuravam por refúgios junto aos alpendres dos edifícios contiguos à estrada.

Afortunados, os zungueiros, faziam a sua candonga, conhecendo as capas de chuva uma procura impressionante. A nossa sorte, Mociano e eu, foi que o Beto Spina, levava consigo duas capas de chuva o que nos permitiu comprar apenas uma. E fomos até ao km 30 do Benfica onde São Pedro tinha decretado umas férias temporárias. O bairro em emergência estava totalmente seco e poeirento.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

SONHO DE KAÚIA JÁ É REALIDADE


Já está editado pela Mayamba editora.
O lançamento acontece no dia 2o de Dezembro de 2010 em Luanda.

Sinta-se convidado, ganhe autógrafo e, acima de tudo, uma rica prosa histórico-social.

Cento e vinte páginas ao preço de Akz 1500,00 vale a pena.

Conto consigo.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

KANJALA: QUEM TE OUVIU E QUEM TE VÊ

KANJALA, significa fome, na língua nacional umbundu. Geográficamente é uma localidade da província de Benguela, na estrada que liga o Sumbe ao Lobito.

Kanjala foi uma torradeira de viaturas e de vidas humanas. Um local predilecto da guerrilha levada a cabo pela UNITA  até à paz conseguida em 2002, tornando-se na localidade mais perigosa e temida ao longo das estradas do litoral angolano.

Antes da reconstrução da estrada nacional, as proximidades da localidade de Kanjala eram um amontoado de viaturas abatidas pela guerrilha, fantasmas de almas mal acolhidas e corpos insepultos. Um lugar que metia medo e que levava a questionar quão desumanos tinham sido os homens... Hoje Kanjala é a paragem obrigatória de quem vai ao Lobito/Benguela ou de quem de lá sai em direcçào ao Sumbe/Luanda. É local de venda de produtos do campo e de gente alegre.

- Oh mano, ainda compra só ginguba. É boa!
- E galinhas vais mesmo deixar?
- Compra também mandioca. OLha que na kanjala não tem e em Benguela é ainda mais pior ...

Expressões como essas inundam o ouvido do viajante quandoi se para na localidade de Kanjala que muita fome de paz teve nos dias de fogo.

Hoje a fome é outra: É do crescimento e desenvolvimento. E esta, felizmente, vai sendo saciada.

Kanjala já não tem carros abatidos ao longo da estrada. Foram todos retirados dalí para muito longe. Os que se vêem ao longo da rodovia são d'outra guerra: da pressa, da imprudência e da imperícia ao volante.

Data da Foto: XVIII.XI.MMX

domingo, dezembro 05, 2010

VENDO BEM AS RAZÕES DO GUIA IMORTAL

O jargão "um só povo e uma só nação" encerra em si alguma utopia quando analizados os níveis de coesão implantados pelos movimentos de libertação nacional e os níveis de distensão há muito semeados pela colonização.

Embora se esforçasse em manter um amplo território sob seu domínio a que acabou por designar por Angola, a colonização lusa sempre tratou os autóctones que habitam o que é hoje a República de Angola segundo a sua origem e tribo. Assim é que encontramos na literatura daquele tempo expressões discriminadoras como bailundus, kiocos, kimbundus, kuanyamas, bakongos, etc. para se referir a grupos etnolinguísticos e culturais, dos muitos que há no país.

Neste mar de desprezo apenas as organizações cívicas e os religiosos protestantes se oposeram ao  tratamento xenófobo. Os protestantes e outros iluminados pelos ventos libertadores procuravam tratar os povos angolanos como pertencentes a uma única unidade que é Angola, incutindo neles também o sentido de Nação.

Os movimentos de libertação, cuja emergência data das décadas de cinquenta e sessenta do século vinte, embora tivessem como horizonte um Estado Unitário, debateram-se com sérios problemas relativos às suas bases de apoio, origem dos líderes e zonas de implantação.

A UPA- FNLA surgida no Norte dificilmente atingiu o Centro do território. A UNITA criada no Leste/Centro teve dificuldades em atingir o Norte. O MPLA foi o que mais esteve próximo de aglutinar  simpatias por todos os quadrantes do território, por ser o que mais intelectuais congregava, sobretudo no exterior, conseguindo implantar-se no Litoral, Norte e Leste e com importantes bolsas no Centro (Huambo, Huila, Bié etc).

Conseguida a independência em Novembro de 1975, com o país (República Popular de Angola) mergulhado em guerra civil que opunha os três movimentos de libertação (apoiados por forças externas),  que em teoria representavam em larga escala os ambundu (MPLA), bakongo (FNLA) e ovimbundu (UNITA), uma das soluçções ensaiadas pelo Guia Imortal e comandante das FAPLA foi a de procurar a coabitação entre povos de diferntes procedências, o que criou uma espécie de crioulismo tribal e efectivo sentimento de angolanidade.

Jovens procedentes do Sul foram levados a cumprir o serviço militar obrigatório no Norte, junto de outros idos do Leste e Centro, e vice-versa. Esses cruzamentos criaram amizades e famílias com um sentimento cada vez mais nacional (já que delas brotaram filhos de país com origens diferentes) do que nos dias que antecederam a independência.

Hoje, apesar da tendência para a (re)valorização das origens e culturas locais, o angolano sente-se mais nacional e menos tribal, fruto da materialização do slogam lançado pelo Guia Imortal.
Cumprido este desiderato, já nos sentimos em condições de realizar o outro sonho de Neto manifestado no seu poema "Havemos de Voltar".

quinta-feira, dezembro 02, 2010

UMA NOVA SEDE ADMINISTRATIVA PARA MURIEGE

Esta é a nova instalação da administração comunal de "Yenue nuri eje" (vocês são gatunos), expressão mal entendida pelos primeiros tugas que por aí "aportaram" tendo baptizado a circunscrição com a denominação de Muriege.

A administração comunal não só se instalou em "nova casa" como também recebeu um novo imobiliário.

Para trás ficam os dias em que o administrador e a sua equipa tiveram de prestar serviço público em condições de acomodação menos dignas.

O ministro da defesa, Cândido Van-Dúnem, acompanhado do seu homólogo da agricultura e governantes da Lunda Sul e Moxico.

Muriege é comuna do municipio de Muconda, província da Lunda Sul.
Reportagem: 09.11.2010

terça-feira, novembro 30, 2010

ALÔ PAPÁ, HÁ CHUVA EM LUANDA!

- Papá, a caminho da escola molhei-me. Sorte é que estava prevenido com outra roupa.
A mensagem enviada por sms carregava alguma preocupação do pai distante no nordeste.

- Filho, coragem - disse-lhe a amansar a dor- o papá também andava à pé do rangel ao IMEL e muitas vezes à chuva. - Concluiu encorajando o rapaz.

- Ok papá. - voltou a teclar o rapaz, treze anos às costas e frequentando a oitava classe.
- Filho, tenho orgulho de ti. Estás no bom caminho e precisas te fazer um homem.
- Ok papoite. Olha papá, dia 30 de Novembro há uma festa. Para entrar serão necessários Kz 700.
O pai liga preocupado com a chuva e a festa. Tudo a fazer-lhe confusão na cabeça. 
- Alô Mociano!
- Sim papá.
- Quem organiza a festa?
- São os meus colegas e amigos do bairro.
- Mas que tipo de festa é essa?- Perguntou algo aborrecido pelas respostas secas que ouvia.
- Não papá. Não é REIV.
O pai acalma-se um pouco, suspira, sorve ar puro, mas não fica por ai.
- Qual é a idade?
- De 14 anos para baixo, papá.
- Mas tu ainda só tens 13...
- Oh papá, falta pouco para 2011...

Seguiu-se um silêncio e o pim-pim-pim. As operadoras de telefonia móvel estavam sem cobertura de rede.

A curta conversa e as sm's anunciando a chuva, que por quase inundou a capital angolana a 17 de Novembro, tinham sido registadas às 11h41minutos. Daí em diante nada mais houve de comunicação entre pai e filho. Na memória do pai surgiam agora as más recordações de casas sem tectos, ruas completamente inundadas e um trânsito automóvel insuportável. Pior ainda porque o colégio ficava longe de casa e não se sabia se o menor teria formas de sair da escola para casa.

Em viagem para Luanda, o pai aeroportou pelas 17 horas transportado numa aeronave da Palanca. Os 15 quilómetros de carro foram realizados em 5 horas até Viana. Num percurso de pára-anda-pára e sem contacto com o filho que ao proteger-se da chuva desprotegeu o telefone que encharcou.

Apenas no dia seguinte trocaram novidades.

domingo, novembro 28, 2010

PONTE SOBRE CASSAI: FRONTEIRA ENTRE ANGOLA E RDC

Adicionar legenda
Na imagem a ponte ferroviária sobre o afluente do Cassai que permite o cruzamento da fronteira entre Angola e o Congo Democrático aguarda pelo apito das composições do CFB.

A empreitada de reabilitação está em curso e o comboio já apita no Huambo. Até aqui (Luau) levará algum tempo mas, tarde ou cedo, cá estará para a alegria das populações da antiga vila Teixeira de Sousa.
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terça-feira, novembro 23, 2010

CRUZANDO A FRONTEIRA COM A RDC

Aqui, neste local em que foi feito o retrato, estava no lado do Congo Democrático, passando pelo posto fronteiriço do Luau.

A ponte sobre o afluente do Casai que serve de marco fronteiriço entre os dois países tem duas cores e é feita de materiais diferentes.

Na parte angolana foi pintada em vermelho e amarelo e é metálica até ao meio do rio. Na parte congolesa (a que a foto mostra) é de betão e pintada de cor azul.

Aqui, o movimento transfronteiriço é intenso, bastando um salvo-conduto (laissé passé) para as populações ribeirinhas. Dos dois lados compra-se e vende-se tudo o que no oposto não haja.

Ainda a fazer falta está a ligação ferroviária. Informações recolhidas no local apontam para um "dia sim e dia talvez" da parte do comboio congolês até à fronteira, enquanto que da nossa parte (Angola) os trabalhos de reabilitação da ferrovia iniciada no Lobito ainda não atingiram o seu epílogo.

No posto fronteiriço existem já infraestruturas novas como posto da polícia fronteiriça, centro médico, unidade da polícia fiscal e uma escola. O último troço da via (cerca de cinco quilómetros entre a vila do Luau e a fronteira, está em reparação e alargamento).

O comboio do Lobito também está a caminho...

quinta-feira, novembro 18, 2010

UM OUTRO ROSTO PARA CASSAI SUL

Cassai Sul é a sede da comuna com o mesmo nome, do Município de Muconda, Lunda Sul, na margem do rio Cassai fronteiriço com a província do Moxico, através do município do Luau.

Aqui, no tempo Tuga, "havia (segundo relatos de quem lá nasceu), um aeródromo militar e um grande quartel" que serviam para manter a fronteira e conter o avanço dos independentistas do MPLA também tratados pelos tugas por "turras".

A guerra e o isolamento levaram a localidade  ver quase tudo a desabar, embora persistam ainda alguns edifícios antigos como a escola, a igreja em reconstrução, o hospital local, o tanque de elevação de água, o ex-posto (onde os sobas levavam palmatoadas dos sipaios bufos), etc.

Foi bom ter viajado com um homem na casa dos quarenta e nasceu na localidade que no dia 09.11.2010 viu ser inaugurado um fontanário para minimizar a procura de água.

A poucos metros da saída para o Moxico, foi reerguida a grande travessia de betão sobre o Cassai, ligando Cassai Sul ao município do Luau.

Governantes do Poder Central,  províncias da Lunda Sul e Moxico, público local e convidados testemunharam estas realizações que conferem dignidade de vida a mais angolanos do interior.

Testada a Ponte, seguimos ao Luau, onde as velhas carruagens, gastas pelo tempo e danificação humana, guardam ainda lembranças do tempo que foi bom: a ligação ferroviária entre o Lobito e Luau, seguindo para o Ex-Congo Belga. 

sábado, novembro 13, 2010

O INTERIOR INVERTENDO A PARAGEM E DESTRUIÇÃO

SEDE COMUNAL DE MURIEGE, MUNICIPIO DE MUCONDA, LUNDA SUL.

Para os habitantes do pequeno vilarejo a água corrente já é realidade.

Em tempo foi um posto comercial e militar dos Tugas...

Hoje, na Angola Independente, é uma comuna que procura sair da letargia, deixando para trás os longos anos em que não houve investimentos públicos e privados acompanhado de um cerco cerrado nos anos de guerra.

quarta-feira, novembro 10, 2010

ANDANDO E CRESCENDO COM O LESTE DE ANGOLA

SAURIMO-MURIEGE-MUCONDA- CASSAI SUL- LUAU- RDC

A estrada reabilitada convida para o baixar do pedal do acelerador. Mais de 300 km de percurso.

Na comitiva seguem os ministros da defesa, agricultura, secretário de Estado das obras públicas, governadora da Lunda Sul, vice-governador do Moxico, outros intregrantes governamentais empresariais e eu.

A data é 09.11.2010.

Ao longo do troço, mais de dez pontes reabilitadas, com destaque para as de Tamba, Luachi, Luachimo, Mombo,  Tchiumbe, Lufige e Cassai.

domingo, novembro 07, 2010

COMO AJUIZAR SEM TER SIDO PRATICANTE?

Nesta semana que finda recebi, com agrado e preocupação, um convite da direcção provincial da cultura para presidir ao juri do concurso de danças tradicionais.

Agradado porque o convite surgiu como reconhecimento às minhas reflexões sobre a cultura local. Um dos textos que terá estado na origem do convite foi publicado na Revista Lusango editada pelo Governo da Lunda Sul.

Preocupado porque nunca fui bom dançarino (nem mesmo de kizomba) e nem sou natural do leste/nordeste de Angola, região em que trabalho há já cinco anos e com uma grande interação com as comunidades e sua cultura.

E tal como me mostrei inquieto, perguntando-me, sem negar ao convite, por que teria de ser logo eu a preisidir ao juri, muitos também se terão questionado: por que razão um mukuakuiza com tantos peritos que há por cá?

Após reflexão, achei por bem usar uma postura de liderança. Os líderes não têm de ser necessáriamente peritos em tudo. Têm é de estar bem ladeados e bem aconselhados. E foi o que fiz.

Documentei-me o suficiente sobre as indumentárias que acompanham as danças tradicionais locais (com realce para a Cianda, Cisela, Makopo, Kafundeji e Mukixi ), os instrumentos musicais (tipos de ngomas), os movimentos e sua descrição, sendo o resto ciência: entoação, harmonia, coreografia, enquadramento, movimentos, tempo de exibição, etc.

E foi uma bela experiência. Tudo o que o corpo de juri (seis integrantes) e a assistência poderam ver foi que nenhum dos grupos fugiu à modernidade, inovando aqui ou alí nalgum pequeno detalhe. Vimo-lo nas indumentárias, nas coreaografias, nas entoações musicais, etc.

Uns, os grupos dos municipios do interior (Dala e Muconda), conservando a ainda a matriz identitária das danças tradicionais e outros, os grupos do municipio sede (Saurimo), com uma grande propensão para a fusão de vários elementos culturais (empréstimos com outras danças contemporâneas), o que, na verdade, tornou difícial a missão de escolher quem representará a província no concurso nacional a acontecer no Huambo.

Um dos elementos a ter em conta é que sendo danças tradicionais a matriz deve ser no máximo protegida (mesmo sabendoo-se que nenhuma cultura é estanque e que os empréstimos são inevitáveis). A indumentária (incluindo as coberturas ou chapéus) deve ser rigorosa: Ou toda a tender para o modernismo ou toda ela confeccionada com materiais tradicionais o que lhe confere um aspecto mais rústico e indentitário com o passado; os toques devem ser originais

A transmissão nas escolas deve obedecer ao tradicional para que não se mate o passado. Aprendido o original, deve partir-se para as inovações que se acharem pertinentes, já que a cultura é um bem comercial e turístico.

Assistido ao concurso em que despontaram grupos formados por pessoas adultas e experientes, e jovens e adolescentes com potencial, um dos questionamentos que me coloquei foi: Quem devia ir representar a Lunda Sul, visto que escolhendo “o aluno” poder-se-ia desencorajar “o professor”, sendo válido o posto?

A votação individual em todas as categorias, obedecendo-se ao estipulado no regulamento do concurso e ao principio de que “ganha quem mais pontos somar” resolveu a questão.

A título individual, e neste espaço sou porém a recomendar: O representante da província deve ser rigosoro na observância da indumentária (conforme acima exposto), no comando do grupo e acatamento das ordens dadas pelos executantes dos instrumentos, no cumprimento dos tempo para exibição, na execução ordenada dos passos (entrada e saída do palco) e noutros quesitos. Se assim for, o grupo escolhido pelo juri pode trazer uma medalha do Huambo.

segunda-feira, novembro 01, 2010

O MEU CAMPEÃO DO GIR'A BOLA 2010

Depois da vergonha do Angola-Argélia no CAN organizado por nós, até aqui somente comparado ao Portugal-Brasil (Mundial da África do sul), eis que fomos brindados com um anti-jogo que fabricou um campeão, perante a passividade do arbitro escalado para julgar a partida.

Inter e Santos F.C. um aflito para ser campeão e outro aflito para se manter na primeira divisão acabaram por protaginizar uma brincadeira de péssimo gosto para quem gosta de futebil jogado com entrega.

Com o Recreativo da Caála (Huambo) a vencer em Luanda o Petro Atlético por um/zero, o Inter começou a perder, ao intervalo, vendo a taça quase na montra dos caalenses. No segundoi tempo os políccias tiveram de se aplicar para alcançarem o empate que os colocaria em igualdade pontual com a equipa planáltica, entretanto em vantagem, dado o saldo de golos que possuiam os polícias.

Por seu turno, o Santos que apenas precisava de um empate, apercebendo-se da derrota em cabinda de outro afoito, O Desportivo da Huila (que precisava de empatar para se manter na primeira divisão) abrandou a marcha, tal qual o inter. Um jogo de amigos que se arrastou por uns trinta minutos, sem que alguém ousasse transpor o meio campo contrário foi o que nos brindaram os "campeões" do anti-jogo.
  
Por tudo quanto fez, derrotando na penúltima jornada o até então também candidato ao ceptro, Recreativo do Libolo, e vencendo em pleno estádio 11 de Novembro, em Luanda, o então campeão em título, Petro de Luanda, o Recreativo da Caála merecia mais do que um segundo lugar em ex aequo pontual com o Inter. É por isso o meu campeão.

sexta-feira, outubro 29, 2010

FATO E GRAVATA É INTELECTUALIDADE?

Começo a falar de mim. Sinto-me intelectual apenas uma vez por dia. Às primeiras horas da manhã, quando me sento no vaso sanitário. Aí sim. Navego no espaço, produzo ideias e, algumas são transmitidas aos mais diversos públicos. Boas ou más, submeto-as a julgamento neste espaço.
Frequentei universidades, mas isso não me dá ao direito de roubar um título que é de meritocracia.

Quanto aos outros:
Consultando o dicionário, define intelectual como sendo "aquele que  produz pensamento".
Noto muitos vestidos de fato e gravata fingindo que são gente pensante. Vejo também muitos, ainda sem o fato, debicando ideias de reter. Outros, formados em universidades de renome, gabando-se de tal facto, mas ficando pelo fato e gravata e pela universidade. Pensamento próprio nada!

E em que ficamos?

sexta-feira, outubro 22, 2010

RELOJOEIRO: UMA PROFISSÃO EM EXTINÇÃO?

Alguém viu por aí um relojoeiro de esquina?

Nos anos oitenta (séc. XX) quando comecei a me reconhecer como homem via na baixa e nos musseques de Luanda inúmeras casas com a inscrição "Relojoaria" ou "consertam-se relógios". Espreitando nelas encontrava homens aparentemente muito sérios e concentrados que usavam candeeiros auxiliares, chaves muito finas e bancadas com "buracos" onde se conservavam os pequeninos parafusos dos relógios mecânicos que consertavam.

Em finais da década de oitenta e princípios da de noventa popularizaram-se os relógios electrónicos e os relojoeiros foram tendo menos trabalho. Mesmo assim, havia ainda a coabitação dos velhos medidores de tempo, à corda, e os novos, movidos à pilha. Os relógios popularizaram-se tanto que a sua compra se tornou  acessível a qualquer bolso, chegando a perigar a vida dos que viviam do conserto dos aparelhos mecânicos.

Hoje, é raro, mesmo nas próvíncias do interior, encontrar uma bancada com um relojoeiro a consertar os "mede tempo". E nem mesmo por hobbie se exerce o ofício.

Será que inexistem pessoas com relógios muito queridos por revitalizar?
E onde andam os funileiros e outros que tanta saudade e falta fazem?

segunda-feira, outubro 18, 2010

KANDONGUEIROS SOBEM PREÇO DA CORRIDA EM LUANDA

O termo KANDONGUEIRO vem do kimbundu kandonga, o mesmo que especular. Estes fazedores do serviço de taxi colectivo vão, a partir desta manhã, subir o preço da corrida (viagem) para Akz 100,00 que equivalem a cerca de Usd 1,1, como reflexo da subida do gasóleo e da gasolina verificada há dois meses.
E se aparentemente nos tínhamos equivocado ao escrevermos que todos os demais preços de bens e serviços subiriam em cadeia, com a alteração do custo dos combustíveis, eis que, para a nossa tristeza, "a segunda pode ser de vez".

O Kandongueiro é o principal meio de transporte em Luanda e noutras cidades capitais de províncias, razão pela qual, a subida da corrida de Akz para Akz 100,00 influeirá directamente no custo de vida das populações que procurarão a compensação nos serviços que prestam e ou nos bens que produzem/vendem.

Para o bem dos que pouco ou nada têm para levar à boca, espero que a economia real não reaja conforme se prognostica.

quarta-feira, outubro 13, 2010

INÉDITA FÉNIX TRAZ MINEIROS À LUZ

Pela primeira vez um grupo de 33 mineiros "soterrados" há cerca de três meses são resgatados com vida dum "abismo" a 700 metros de profundidade.

Deus e a ciência contribuiram para tal proeza. A Cápsula Fénix, desenvolvida pela marinha chilena, circula num espaço de aproximadamente 50cm e leva apenas uma pessoa de cada vez. O processo está ainda em curso no memento em que escrevinho estas linhas.

Para nós, angolanos, que também não estamos isentos de catástrofes e calamidades, seria de todo desejável que parte das grandes verbas alocadas para a defesa e segurança fossem aplicadas em ciência e tecnologia, como aconteceu com o Chile que não recorreu nem à China, nem aos capitalistas do ocidente para trazer os seus "quase mortos" à luz.

Bem haja!

Nota: Por indicação do comentarista sou a reconsiderar o texto agora avermelhado.

domingo, outubro 03, 2010

O TOP, AS DUAS, A INJUSTA E O BOOM

"As duas" dos irmãos Almeida (música que retrata o amor doentio por duas mulheres) foi à fase final do "top dos mais queridos" 2010, mais por força do conjunto (disco) e da popularidade grangeada pelos manos do que pelo conteúdo da letra elevada ao concurso (análise minha).

É certo que uma das funções dos actores que exercem influências sobre a sociedade é observarem, descreverem e alertarem a sociadade. Daí que o problema evocado/levantado (cantado) pelos Almeida não deixa de ser pertinente. Aos actores, também sociais, cuja missão é moralizar a sociedade cabe fazer a interpretação correcta das mensagens e encaminhar "as ovelhas para o bom pasto". Até aqui o padre Apolónio esteve bem, na sua recente homilia na Igreja católica dos Remédios (Luanda). Porém, estendeu-se ao comprido ao ter sugerido que apenas "temos de cantar o que é belo" como se a letra sobre a poligamia e a poliandria que existem aos "olhos e gostos" até de padres fosse algo feio.

E o padre criticou também em hasta pública o " vai dar boom" (sexual) da Ary. Teria sido mais lógico se se tivesse referido à forma pouco sadia e ortodoxa como ela se veste e exibe, do que atacar a letra da música que descreve formas de viver activamente uma vida sexual a dois. "Na varanda, na cozinha, na sala ou no quarto" (desde que a dois e sem zongolas) não é, a meu ver, pecado algum.

Julgo que enquanto político (anthropos zoon politikon) Apolónio Graciano deve evitar juizos pouco abonatórios para si e para o património colectivo que é a igreja Católica.

Os músicos que cantem o que vêem e ouvem. Os clérigos que façam a interpretação correcta das mensagens lançadas pelos músicos e outros actores sociais, junto das comunidades que tutelam, para que todos moralizemos a sociedade angolana que anda doentia, conforme palavras do próprio padre por quem nutro respeito.

Quanto ao Top: ganhou quem já devia ter levado o "top" a muito tempo, por quilo que já fez na música: Yola Se(m)medo e a sua "injusta".

terça-feira, setembro 28, 2010

ESTÓRIAS CONTADAS

Tchibinda Ibinda, caçador estrangeiro do além Kassai, em perigrinação pelo oeste do seu homeland, conheceu e enamorou-se por uma bela princesa Lunda, Lueji-a-Nkonde de seu nome, cercada de amores e ódios de dois irmãos deserdados pelo pai, o soberano Nkonde daquelas terras de caçadores e comerciantes da África Central.

Impossibilitada pela tradição de usar o lukano, símbolo do poder real, nos dias do fluxo menstrual, Lueji deu-o à guarda do seu amante "mukuakuiza"* levantando a ira dos irmãos que se viram longe do trono, "oferecido" de mãos beijadas ao estranho caçador.
- Que ingenuidade desta miúda! - terão dito.
Desta contenda começou a expansão do império, com Tchinguri a rumar para a direcção do sol poente (oeste) e Tchinhama em direcção ao Sul (Moxico). 
Este trecho da tradição nordestina de Angola ensina-me a encarar o comportamento pouco amistoso do irmão Lunda em relação ao cunhado extra-territorial, acompanhado sempre de um olhar desconfiado e uma aceitação duvidosa, sobretudo se este não tiver dado ainda aos cunhados a riqueza que a tradição Lunda-Cokwe muito preza: Os sobrinhos.

É um ciúme secular e fundado na tradição destes povos que se esvazia em pessoas mais aculturadas, informadas (com maior intercâmbio inter-cultural) e ou de elevada instrução.

Por outrto lado, apesar de se reconhecer, por cá, que "enquanto mais mel fabricar uma abelha, mas ela se torna habilidosa", há um sentimento de que o estranho pode apossar-se do "mel" e deixar a colmeia às moscas. E não é tudo. Há também um outro sentimento, este mais racional e economicista, de que "se aqui o estranho faz dinheiro, aqui o deve gastar", ainda que em futilidades.

Tal como conclui José Redinha, na sua obra "Etnosossiologia do nordeste de Angola", apesar do desajustamento de determinadas atitudes comportamentais, "é contraindicado tentar modificar, em curto espaço de tempo, o que levou séculos a construir", daí que, se é extra-nordestino, conheça a idiossincrasia, adapte-se e viva em conformidade.

* O que vem; o mesmo que estrangeiro.

quarta-feira, setembro 22, 2010

CRISTÃOS AO ENCONTRO DO DINHEIRO E DO REBANHO

PONTO PRÉVIO
“A sociedade é mutável. A concorrência cria desenvolvimento e a carência desenvolve o engenho” (autores anónimos).

Por que haverá tamanha distância, em termos de adesão de novos prosélitos, entre as comunidades religiosas tradicionais e as ditas emergentes, se todos pregam a felicidade?

A Bíblia nos diz que a saúde e os bens materiais são os pilares indissociáveis da felicidade: a saúde é gozada enquanto viventes na terra e os bens materiais também.  

- Uns pregam a felicidade na terra, onde vivemos hoje, e onde temos carências materiais e espirituais: A mensagem que se tem passado é de que viver bem (de forma desafogada materialmente e cristã) tem de ser aqui (terra). Incute-se nos homens e nas mulheres a necessidade de servir a Deus com fé e obra material (Tg. 2:18) para que esta, a última, se multiplique e redunde em saúde e bem-estar material. E os homens e mulheres são apelados a trabalhar e a ofertar cada vez mais, buscando a sua própria realização (espiritual e material) e com as doações proporcionarem também o bem-estar material das suas confissões religiosas (templos bem acabados e ornamentados) e dos seus líderes religiosos (aparentemente ricos). Os adeptos da felicidade em vida presente e na terra apoiam-se de instrumentos modernos de persuasão (publicidade e marketing e às vezes até da propaganda) para chegarem aos grandes contribuintes e moldadores de consciências (figuras públicas e políticas) que por sequência lógica acabam arrastando os seus admiradores e dependentes. Há porém que ter em atenção a interferência que o dinheiro pode causar na vida do cristão como nos aconselha a bíblia em Marcos 10:23-27 e Eclesiastes 5:10-12.

- Outros pregam a felicidade celestial o que pressupõe que a verdadeira felicidade seria/será aquela a viver na vida ultra tumba. Para tal a mensagem tem sido a de viver uma vida imaterial na terra (Lc. 18:25) para gozar de uma vida celestial abundante junto de Cristo. Os homens e as mulheres são apelados a seguir a Cristo, com uma vida modesta, sem apego aos bens materiais, na terra, para usufruir de uma vida tranquila nos Céus. Note-se, porém, que quando o plantio (busca por bens materiais) é escasso, escassa será também a colheita (ofertas materiais para o trabalho da igreja). Daí que estas igrejas tradicionais vivem hoje uma carência financeira.
Recorrendo o texto bíblico encontramos várias referências sobre serventes de Deus que tiveram bens materiais com o rei David (Ecl. 12:13-14). É necessário que o cristão com posses tenha uma conduta responsável perante o seu Deus, conforme Hb.13:5 ou ainda I Tm. 6:8.
- E quem serão os que desfrutarão da vida junto de Cristo? - A bíblia fala-nos de um número limitado de homens e mulheres que tiverem uma vida digna de tal recompensa: 144 mil pessoas apenas que ajudarão o Rei na governação (Ap. 14:3).

- E o que será então da terra (Sl.115:16). O salmista diz-nos que “os céus são do senhor, mas a terra deu-a ele aos filhos dos homens”.

Com tudo isso, quanto acima se elucidou, basta escolher o nosso caminho e segui-lo firmes, sempre firmes, tendo em atenção que as sociedades moldam-se com o passar dos tempos. O cristão é um ser social, como os demais, e deve estar a par de todas as transformações, independentemente dos dogmas que defenda. Uma conduta demasiadamente ortodoxa pode levar o cristão a recuar no tempo. Não é lícito que fiquemos a lamentar a falta de membros nas nossas comunidades religiosas assistindo impávidos as outras que se tornam cada vez mais cheias. Não devemos lamentar a falta de obras nas nossas igrejas quando as outras estão cada vez mais ricas.

Devemos sim, encontra os caminhos expeditos para fazer uma concorrencia leal e sadia ao nosso "vizinho/irmão": evangelizar, pregar a santa palavra, trazendo novas ovelhas para o rebanho do Senhor (independentemente do que são e do que fazem) e moldá-las à vida cristã. Juntar e não discriminar.

Deus requer a nossa fé e as nossas obras e não a forma como nos apresentamos (se bem vestidos ou rotos, se bem-falantes ou mal-falantes de determinadas línguas, se ricos ou pobres, etc.). Todos somos poucos para a grande obra que a nós se impõe.

sexta-feira, setembro 17, 2010

DE OLHO AOS 88 DE NETO

NGUXI-DIÁ-MULAÚLA completaria hoje, caso estivesse vivinho, oitenta e oito anos. Mas assim não quis o destino e partiu, para nunca mais voltar, no já longínquo ano de 1979, sete dias antes do seu aniversário.

Entendeu o governo angolano homenagear o primeiro presidente do país com uma data de reflexão e festa que é Feriado Nacional, o 17 de Setembro - Dia do Heroi Nacional. Um pouco por todas as províncias houve actividades políticas, culturais e recreativas com inaugurações de infra-estruturas sociais não faltando as já costumeiras "maratonas" de comes e bebes à fartura. Sendo numa sexta-feira, dando lugar a um fim-de-semana prolongado, é de imaginar a quantidade de garrafas que as ruas terão de acolher até segunda-feira e a fraca produtividade dos "melhores frascos" de cada repartição.

Este ano, o acto central do 17 de Setembro foi na Lunda Sul. Cerimónia simples e bonita. Ao invés dos habituais comícios, onde as pessoas ouvem as mesmas coisas de sempre, entendeu o Governo fazer um acto semi-público, no cine Chicapa (Saurimo) que esteve lotado. Pitra Neto, falou aos presentes sobre a dimensão política e humana de Neto, recorrendo às profecias do Kilamba que, a par da poesia, se mantêm actuais para o desenvolvimento da Nação em construção. O Ministro recordou slogans como "Defesa, Produção e Estudo";  "Agricultura é a abse e a indústria o factor decisivo"; "Um só Povo e Uma só Nação" e a visão cultural do poeta guerrilheiro. Pena mesmo foi que a exiguidade do espaço do recinto não tenha permitido que mais munícipes de saurimo podessem assistir à disssertação inovadora sobre Agostinho Neto. Mas a rádio lá esteve e transmitiu em directo.  

Ontem (16.09.20100), aconteceu no mesmo local uma gala cultural, tendo se falado sobre a(s) passagem(s) de Neto por estas terras e as amizades que fez. Foram distribuídos certificados a motoristas (uns quatro ou cinco), cozinheiros (uns três ou quatro), membros da então comissão directiva do Partido, jornalitas que o "entrevistaram" na década de setenta (Sec. XX) e outros camaradas. Foi bom ter em palco músicos da praça de casa (Saurimo) e outros idos de Luanda como o Gabriel Tchiema, que já é nacional e não apenas um tucokwe, e o duo kanhoto. Os meus apreciados Sassa Cokwe fecharam a gala que teve muita poesia, história e musicalidade.

Pitra Neto, Ministro da Administração Pública, Emprego e Segurança Social, presidiu aos actos testemunhados pela viúva de Neto, Maria Eugênia, e outras individualidades dos Governos Central e provinciais (das Lundas e Moxico) e convidados.

segunda-feira, setembro 13, 2010

ALGUÉM VIU POR AÍ UM "LAMBE-BOTAS"?

Já se chama ao meu país (Angola) "terra do anormal", tendo a excepção se tornado regra em muitos casos. O anormal, hoje, é viver e agir conforme os ditames. Na função pública, nas privadas, nas igrejas e na media também, são contáveis os que ainda fogem à "regra" da anormalidade quando o assunto é o tramento do superior ou do político com poder.

Aos poucos, sorrateiramente, surge uma nova "disciplina" no nosso modo de transmitir informação pública e obediência: o bajulismo ou simplesmente lambe-botismo, também conhecido entre os brasileiros (de quem tiramos muitos dos maus exemplos) por puxa-saquismo, instala-se entre nós a olho nú.

Os grandes mestres desta "cadeira" estão aí. Bem localizados e conhecedíssimos dos líderes e políticos a quem servem (cega e caninamente) pisotenado outros.

Em tudo quanto os aduladores dizem (escrito ou falado) 90% é graxismo. Normalmente são pessoas que estiveram errantes, tentando mostrar agora que estão sarados ou arrependidos dos estragos provocados num passado ainda de memória fresca.  Estes novos "mestres", que se fazem passar por guardiões dum templo em que nunca entraram, são capazes até de guerrear e maldizer aqueles que sempre se dedicaram às causas, pelo simples facto destes, os últimos, mostrarem ideias inovadoras e ou contraditórias.

Tal como sugere o bloguista Rangel Alves da Costa (Recanto das Letras em 01/01/2010), "Infelizmente os nossos legisladores e os juristas responsáveis pela elaboração de projectos legislativos nunca tiveram a preocupação de incluir nos textos o tipo que seria tipificado como "puxa-saquismo", cuja tipificação seria:

-“É crime utilizar-se dos meios de comunicação, do diálogo pessoal com as demais pessoas ou de qualquer meio de escrita, com o intuito exclusivo de forjar a criação de uma imagem positiva de outra pessoa, instituição ou ente governamental.
I – A pena será agravada e triplamente cominada se o beneficiado for algum político, com ou sem mandato;

II – Incorrerá na mesma pena aquele que denegrir a imagem de uma pessoa em benefício de outra.

Pena: Reclusão, de 2 a 5 anos".

 

quarta-feira, setembro 08, 2010

NO DIA "MUNDIAL" DO JORNALISTA PROPONHO:

O jornalismo é a actividade profissional que consiste em lidar com notícias, dados factuais e divulgação de informações. Também define-se o Jornalismo como a prática de colectar, redigir, editar e publicar informações sobre eventos actuais. O jornalismo é uma actividade de Comunicação.

Ao profissional desta área dá-se o nome de jornalista. O jornalista pode actuar em várias áreas ou veículos de imprensa, como jornais, revistas, televisão, rádio, websites, weblogs, assessorias de imprensa, entre muitos outros.
Em angola, uma das principais dificuldades que os jovens que enveredam pelo jornalismo encontram no exercício da profissão, e que redunda em muitos erros, é o fraco domínio do instrumento de trabalho (a língua portuguesa).

A falta de domínio da língua dificulta a construção técnica eficiente do texto jornalístico, daí que, atento a este handicap, me junto aos esforços das direcções provinciais de comunicação social e da media pública e privada no sentido de ajudar a suprir (est)as lacunas que em nada ajudam no desenvolvimento do nosso jornalismo.

PROGRAMA DO CURSO PROPEDÊUTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA

1- CONTEXTUALIZAÇÃO DA GRAMÁTICA
2- NOÇÕES ELEMENTARES DE MORFOLOGIA
- ARTIGOS
- SUBSTANTIVOS
- CONJUNÇÕES
- PREPOSIÇÕES
- INTERJEIÇÕES
- VERBOS
- ADVÉRBIOS
- ADJECTIVOS
- PRONOMES
- NUMERAIS
3- USO DA VIRGULA

4- USA DA CRASE
5- NOÇÕES ELEMENTARES DE SINTAXE
- SUJEITO
- PREDICADO
- COMPLEMTENTOS: DIRECTO, INDIRECTO E CIRCUNSTANCIAIS
6- DISCURSO DIRECTO E INDIRECTO

7- VOZ ACTIVA E PASSIVA
8- FORMAS DE TRATAMENTO
9- PRONOMINALIZAÇÃO
10- CONJUGAÇÃO PRONOMINAL REFLEXA

11- TEMPOS SIMPLES E COMPOSTOS
12- REGÊNCIA:
13- CONCORDÂNCIA VERBAL
14- TRANSLINEAÇÃO


CARGA HORÁRIA: 5 DIAS=40 HORAS
Estou disponivel: Luciano Canhanga (formado em Comunicação Social e Pedagogia de História)
lcanhanga@hotmail.com
Tlm. 923558651

quarta-feira, setembro 01, 2010

À VOLTA DO PETRÓLEO: VIDA EM ANGOLA MAIS CARA

A experiência do passado dita que o custo de vida em Angola será mais alto a partir de hoje.

Tudo porque o Governo, através da SONANGOL, decidiu retirar parte do subsídio que inside sobre o preço da gasolina e gasóleo que passam doravante a custar Akz 60 e Akz 40, respectivamnete, contra os Akz 40 e 30 praticados até ontem, por cada litro.

Atendendo que as quintas agrícolas são irrigadas por motobombas a gasóleo e gasolina; a electricidade para as moageiras e padarias gerada a diesel; as câmaras de fio idem; os transportes marítimos, rodoviários, aéreos e ferroviários também movidos a diesel e gasolina, um reajuste dos preços de bens e serviços é inevitável.

Se nas vezes passadas o custo de vida disparou na mesma proporção da subida dos combustíveis,  na melhor das hipóteses teremos uma subida média na ordem dos 40%, já que o valor da gasolina evoluiu 50% e o do gasóleo 33%.

Com uma taxa de inflacção média anual de 10% e um incremento salarial (para a função pública) que ficou nos 5%, é de imaginar "quantos furos terão os angolanos de abrir nos cintos" para fazer face à carência de dinheiro para adquirir bens e serviços essenciais.

quinta-feira, agosto 26, 2010

ZIGUE-ZAGUE

Em que acredita afinal de contas a editoria do jornal de Angola?

Abaixo duas matérias sobre o mesmo assunto:


Data: 16.08.2010
Fonte: Jornal de Angola
Tema: Congresso da juventude do maior partido da oposição


Depois da polémica com as teses do congresso da Juventude da UNITA (JURA) a reunião dos jovens da organização decorreu sob o lema “na luta contra a exclusão social”. Gente esteve la e gostou da organização e da forma como deocrreram os trabalhos. Os jovens da UNITA assumiram o compromisso público de dar combate à exclusão social sobretudo entre os jovens. É bom ver os jovens empenhados nos grandes designios nacionais como aquele que está em marcha de combate à pobreza. O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, deu posse à nova direcção e exortou os jovens a reflectirem sobre as estruturas e métodos de trabalho para “engrandecer o partido”. os novos dirigentes da JURA prometem dinamizar os trabalhos e qu não querem ser uma “direcção de gabinete”. Pela forma como decorreu o congresso, eles vão conseguir.

=
 
Data: 28.07.2010

Fonte: Jornal de Angola
Tema: Congresso da juventude/As teses do congresso defendem insurreição


Justino Justo (anónimo) 


Um destes dias, fui abordado por um jovem que, pelo nível da linguagem que já lhe conhecia, sempre me pareceu próximo da família Unita. Vinha com o semblante carregado, como se tivesse estado longas horas a fazer reflexões sérias sobre alguma coisa importante.

Saudou-me com o respeito de sempre e de imediato, sem que eu terminasse a minha saudação, fez a seguinte afirmação:

- Mais velho, eu pensava que o tempo da guerra, da subversão, do apelo à desobediência popular e de todas as outras formas de promoção do ódio, do desrespeito às instituições e ao povo ... tudo isso, mais velho, eu pensava que fazia parte do passado e que agora tínhamos entrado numa era de paz definitiva, concórdia, fraternidade, democracia (onde quem é eleito governa e quem perde continua a apresentar propostas que, mesmo sendo diferentes, podem ser úteis) tal como nos outros países ... afinal não ... ainda há alguns que continuam a procurar formas de criar agitação e trazer mais problemas, só porque querem o poder a qualquer preço”.

Não sendo, para mim, uma novidade, quis saber mais:

- Dinho, onde queres chegar?

O jovem olhou fixamente para mim e perguntou-me:

- O mais velho já ouviu dizer que a JURA, a nossa organizaçãoj uvenil, vai realizar o seu II Congresso?

Respondi-lhe que não me havia apercebido de nada, mas que isso não era problema nenhum e que até é bom que os jovens se reunam para discutir coisas sérias e boas para o presente e o futuro da nossa jovem Nação. Aos jovens compete conduzir o destino do nosso País.

O Dinho, acortou-me a palavra :

- O problema não é esse. Até aí o mais velho tem razão. O problema é que há dias estive num almoço de confraternização organizado pelo maninho Didi Chiwale e o Dirceu Liberty Chaka, que ainda é o Presidente da Jura, fez um discurso inflamado contra tudo e contra todos os que “integram o sistema”.

Porque já conheço a retórica do seu discurso e porque, naquele momento, tinha outras prioridades, não dei muita atenção. Mas ontem deram-me este documento, que é cópia do que o Liberty apresentou no almoço e eu fiquei estupefacto com algumas coisas que li. Mas, como eu posso estar enganado, quero que o mais velho também o leia e me ajude a interpretar algumas coisas que são aí ditas.

Foi neste momento que o jovem me entregou um texto em cuja capa está inscrito: JURA – TESES PARA O II CONGRESSO ORDINÁRIO.

Comecei a ler e verifiquei que o texto estava “impecavelmente escrito”, como diria o nosso saudoso amigo de outros tempos e outras lides, o Fernando Norberto de Castro, que, como todos sabemos, também foi um fervoroso militante do partido UNITA.Li a introdução e fiquei a saber, embora pouco, mas alguma coisa mais sobre a JURA Juventude Unida e Revolucionária de Angola.
(...) O nosso Liberty (confirmando o que me disse o Dinho) traça como “desafios político-estratégicos”, dentre outros, “a identificação das oportunidades, ameaças, pontos fortes e fracos” da UNITA e “a definição de planos de acção pro-activos que potenciem oportunidades e forças próprias e maximizem ameaças e fraquezas do adversário (MPLA/Governo)”.

A partir daqui comecei a perceber que a JURA para além de estar preocupada com os problemas do Partido, também queria contribuir para “minar” o MPLA e o Executivo.

TESES GOLPISTAS
Sim senhor, estes jovens “jurados” estão fortes. Vão utilizar a ciência para investigar e descobrir (em laboratório especializado) a fórmula “política” para derrubar o poder instituído. Como as eleições em 21012 são gerais (Presidenciais e Legislativas), é caso para dizer que a JURA se está a preparar para matar dois coelhos com uma cajadada só. Agora é que vai…

Continuei a leitura e, (juro que levei um susto): A JURA projecta como oportunidades, a “criação de factos” e/ou “o aproveitamento de situações que ocorram no país” tais como “eventos políticos, sociais, económicos, culturais, desportivos, académicos, religiosos e naturais” (devem querer referir-se a calamidades de qualquer tipo), para “desgastar por todos os meios a imagem do Presidente da República”, “transferir o foco de contradições UNITA/MPLA para o Povo/MPLA, alimentando e acirrando contradições sociais e económicas entre o MPLA/Governo e o povo”, “mediante a propagação” de “denúncias permanentes” do “carácter fraudulento das eleições de 5 e 6 de Setembro de 2008, o golpe jurídico-constitucional de 21 de Janeiro de 2010” e a “ilegitimidade democrática do Presidente da República”, incitando a população a “perder o medo de manifestar-se”.

É assim mesmo que os nossos jovens da JURA/UNITA querem contribuir para o reforço da unidade nacional, o respeito pelos direitos humanos, a aceleração do processo de reconstrução nacional e a melhoria de condições do nosso povo?

Na minha idade e democrata como penso que sempre fui, não me preocupa que as pessoas se manifestem de forma pacífica na defesa ou para a conquista de direitos que considerem legítimos. Isso não me preocupa. Só demonstra que se está perante um país livre e democrático. Mas não é isso que a JURA nos propõe! O que a JURA pretende fazer é um apelo irresponsável à desobediência civil.

O que a JURA e o Liberty nos propõem é que rejubilemos de alegria perante tudo que de mal possa acontecer ao País e ao nosso Povo.

Acusar o Executivo por um mau resultado desportivo, ou porque há seca, e utilizar isso para agitar o Povo para que se manifeste nas ruas contra o Executivo é algo que só pode vir de alguém que ainda não se encontrou com o presente ou então continua imbuído do espírito destruidor que caracterizou a forma de actuar da organização em tempos que não pretendo reviver.

LIÇÕES DO PASSADO
Sou mais velho para me deixar levar em brincadeiras de garotos. Já sofri muito e não quero mais. Mas, como pretendo deixar de ser ingénuo e porque aprendi que, em política, “o que parece, é”, sinto-me na obrigação de pedir ao Estado Democrático e de Direito que se proteja e tome todas as medidas necessárias para defender a Paz que tanto nos custou e que tanto amamos.

Não me queria referir às eleições e aos resultados por ela produzidos. Lembrar apenas que, em democracia, as decisões do Povo, devem ser acatadas e respeitadas, sob pena de em actos posteriores a penalização poder ser maior. Se dúvidas subsistirem, lembremo-nos todos que o facto de em 1992 não termos aceite os 45 por cento de votos que o Povo Angolano nos deu, fez com que, em 2008, apenas conseguíssemos dez por cento.

Se continuarmos a agir assim, o que poderá acontecer em 2012? E, se acontecer, vamos voltar a culpar o Executivo? Continuar a desrespeitar a Constituição, que, mesmo não sendo perfeita, tem a mão de todos nós (todos mesmo), é positivo? O que é que pretendemos alcançar com isso?

Continuar a questionar o mandato do Presidente da República, (mesmo sabendo o que dizem as normas transitórias da Constituição) vai dar a vitória, à UNITA, em 2012?

É assim que os actuais dirigentes, da UNITA, pensam? Os Dirigentes da UNITA revêem-se nesta estratégia ou estão a preparar-se para, como Pilatos, lavar as mãos e dizer que nada sabiam e que nada viram ou ainda que se trata apenas de “assanhadice” dos nossos miúdos para darem nas vistas e apresentarem-se como bons militantes?

Enquanto lia, fui-me preparando para esclarecer algumas coisas, do passado, ao Dinho, como é o caso do Manual dos Quadros da UNITA, produzido pelo Dr. Savimbi, e tentar que ele entendesse que, infelizmente, ainda há quem não tenha percebido que a história mudou de rumo e que o retorno ao passado só é possível de persistir em pessoas que, por serem incapazes de se enquadrar na nova sociedade, ainda acreditam que o recurso à violência é a sua tábua de salvação.

COLIGAÇÃO NEGATIVA
Mas, voltemos às estratégias que o Liberty, o Chiwale, o Muzemba e outros membros da JURA/UNITA, querem implementar, para lembrar que eles pretendem a “mobilização e enquadramento político de membros e dirigentes de partidos políticos, igrejas e outras associações extintas pelo sistema” e a “cooperação com todas as forças, movimentos sociais e políticos ávidos da alternância do poder”. Pensar que participei no processo de libertação e na luta pela democracia e ver o partido UNITA continuar a agir como um “gang de malfeitores” que, há revelia da lei, pretende usurpar o poder, é algo que me constrange e que me preocupa sobremaneira. Então, os nossos Deputados da UNITA que aprovaram, na generalidade, o pacote legislativo eleitoral, não sabiam que os partidos que não atingissem o mínimo de 0,5 por cento dos votos válidos, seriam, automaticamente, extintos?

Hoje, pretendemos culpar o sistema? Qual sistema? Não estávamos todos representados nos Órgãos de Soberania que decidiram sobre as regras? Mas, não é isso que me preocupa. O que me preocupa é que a direcção da UNITA continue a pensar que agindo assim está a criar mais valias e que com esse quadro de dirigentes e políticos pode contribuir para o desenvolvimento do País. Assim já é demais. Estamos tão fracos que essa é a melhor aliança que podemos fazer?

APOSTA NO CAOS SOCIAL
Ver a JURA/UNITA assumir o seu “fraco entendimento da natureza do regime que sustenta o Estado angolano, como surgiu, e para que existe, sugerindo que se determine o tipo de combate que se impõe travar” é ainda mais constrangedor.

Assumir que não se conhece o Estado em que se está e, mesmo assim, alimentar a pretensão (presunção) de um dia o governar, é, no mínimo, ridículo e caracteriza bem o nível de dirigentes e a organização que temos hoje.

MOMENTO DE LUCIDEZ
O único mérito que se pode colher da constatação que a JURA/UNITA faz é que em todo o tempo que perderam a definir os termos da conspiração contra o Estado e o nosso Povo, houve um momento de lucidez em que se assumiu que o mais importante é destruir.

Afinal, aqueles que o dizem têm razão: A UNITA continua igual a si própria. Não fomos capazes de nos transformarmos em partido político e continuamos a pensar em conquistar o poder a qualquer preço.

Pensar que é possível “usar contra o regime os movimentos sociais por ele criados” constitui prova inequívoca de que ainda não fomos capazes de perceber e muito menos conhecer, a real grandeza do principal adversário político que temos pela frente. Assim sendo, vamos alimentando estas pseudo estratégias que, alicerçadas no desconhecimento, jamais poderão constituir rampas que nos possam catapultar para posições favoráveis à melhoria da nossa inserção social e ao concomitante reflexo disso em futuros resultados eleitorais. Continuamos a pensar que o regime vai entrar de férias e que tomaremos o poder ao som de valsa, regando o festim com um delicioso maruvo.

Li no documento das teses que a JURA/UNITA pretende “deslocar o combate das instituições públicas para as ruas, praças, bairros, escolas, hospitais, etc.” sustentando que o “regime deve ser levado a combater no terreno escolhido pela oposição e que lhe seja desfavorável” para que “a população se torne mais auto-confiante no desafio ao poder”.

Fiquei incrédulo: será que a UNITA assume, como nossa, a estratégia de criar o caos social e, por essa via, ascender ao poder? Invadiu-me o espírito a convicção de que esta estratégia não pode estar a ser gizada pela nossa organizaçãojuvenil e que por detrás disto tem que estar a própria Direcção do Partido, sendo que aquela apenas está a servir de instrumento.

O Presidente Samakuva e todos os actuais dirigentes da UNITA não se podem ilibar das responsabilidades advenientes de uma estratégia tão macabra, despudorada e anti-patriótica, como a que me foi dada, agora, a conhecer. Não me revejo nisto e não quero voltar a passar por caminhos que me fizeram sofrer tanto. Não foi para isto que eu dei a minha juventude.

Apelar à insurreição popular, sabendo das consequências desse acto nefando e irresponsável, mesmo acreditando que “verão o espectáculo a partir de alguma vereda luxuriante”, só pode vir de alguém que não tem um mínimo de amor à nossa Pátria e que nutre um profundo ódio ao nosso Povo.

Como homem que contribuiu para o que somos hoje, não posso evitar de soltar o meu grito de revolta e apelar que se tomem medidas sérias para que os mentores de tão vil estratégia jamais tenham a possibilidade de a materializar. Mas, vejam o que vem a seguir. De acordo com a proposta de teses para o II Congresso, a JURA/UNITA pretende “enfraquecer economicamente o regime e provocar a falta de recursos financeiros e materiais”, motivando a retracção do investimento estrangeiro e consequentemente “reduzir as fontes de financiamento do poder (entenda-se Executivo), causando atrasos no pagamento de salários, inclusive das Forças de Defesa e Segurança do Estado”, com o objectivo de criar um clima de “insatisfação geral”, visando o “princípio do fim” do regime.

Os mentores da estratégia apelam à observância do sigilo por acreditarem que quanto maior for a capacidade de guardar segredo dos planos e intenções, maior será a força da organização em surpreender o adversário e resultará em mais confiança na juventude. Tendo tomado conhecimento disto, jamais me calaria. Desde logo porque o único adversário que vislumbro na pseudo estratégia é o Povo Angolano. Assim sendo, também me sinto na pele de adversário, porque, com orgulho e honra jurei servir a Pátria e, por isso mesmo, não defendo interesses mesquinhos e, muito menos, acobertarei criminosos.

Como cidadão, cumpri o meu dever. Não pensem que traí o Dinho. Longe disso. Tive o cuidado de lhe dizer o que pensava do que li, pedi-lhe que jamais participe em acções que não tenham o respaldo da Constituição e das Leis da República, que ambos amamos de paixão, e que me autorizasse a trazer a público toda esta tramóia. Por último, pedi-lhe que fizéssemos umas cópias do texto para remeter aos Órgãos de Imprensa da nossa terra.

Luanda, 19 de Julho de 2010

Nota da Redacção

- Esta denúncia de um leitor identificado e militante da UNITA só agora é publicada porque houve necessidade de confirmar a veracidade das afirmações atribuídas às teses para o II Congresso da JURA. Todas as afirmações são verdadeiras e foram por nós verificadas.