Se o motivo fosse académico ou procura de emprego a mesa de Natal seria um desfiladeiro de diplomas académicos. Mestre havia. Pessoas com dupla licenciatura também. Com mono-licenciatura e uns terminando, havia vários e de distintas áreas de formação. A que menos frequentou a escola, mas com um básico feito no bom tempo e uma experiência de mais de setenta anos, era a matriarca.
Depois de mesa posta, faltando horas para a transição do dia 24 para o de Natal, as luzes da sala se apagaram. Não tinha sido ainda corte de energia, nem obra de um "malandreco" de casa. Foi redução da potência. Algumas lâmpadas "chinesas", colocadas nos corredores e nos candeeiros de banca estavam acesas.
Enquanto os adultos e jovens procuravam recordar as teorias aprendidas nas escolas para tentar encontrar uma solução, a idosa, caminhando lenta com o peso da sua idade apreciava os "doutores e engenheiros" que viajavam e recitavam autores clássicos do mundo vasto da física e da electricidade.
O mais incomodado com a escuridão já tinha mandado comprar velas incandescentes para substituir a luz dos telefones que ficavam sem carga. Só o rés-de-chão, em que imperavam as "lâmpadas tuguesas", no dizer do dono do imóvel, estava entregue à escuridão. Os pisos superiores tinham umas luzitas que permitiam caminhar sem tropeçar e enxergar com quem se cruzasse pelo corredor.
Passou quase uma hora, os debates estavam acalorados e a solução distante. Ao jovem (quase) engenheiro electromecânico, apesar da sua categoria de filho, se dirigiam as maiores perguntas em busca de uma aparente saída airosa.
_ Diz-me filho, tu que estudas essas coisas, o que devemos fazer para acender as lâmpadas cá de baixo? Pelo menos podermos nos ver olho no olho e o garfo não escapar do prato. _ Atirou um dos tios.
_ Bem, aqui é preciso redimensionar o consumo total da estrutura e subdividir em fases diferentes. É uma das soluções futuras. _ Respondeu, convicto de sua ciência um dos jovens que se formava em Electromecânica.
O relógio caminhava apressado e não tardaria, todos cantariam o Feliz Natal!
Foi naquele instante, vendo a nossa aflição, que a septuagenária decidiu apresentar o seu "Ás de trunfo".
_ Aqueles candeeiros de banca estão a acender e a casa tem vários. Vejam ainda se há bastantes tomadas aqui na sala e experimentem.
o é que a ideia da velha Argentina Ernesto funcionou?!
A experiência da idosa superou todos os diplomas e teorias da academia.
1 comentário:
Por isso é que tem se dito que existe a escola dá vida e ela ensina-nos muito!!! E, os mais velhos por mais que não tenham Estudado muito, são sempre uma fonte de conhecimento.
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