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terça-feira, dezembro 31, 2024

O NATAL HODIERNO E O DA MINHA MENINICE

Na década de 80, quando cheguei pela primeira vez a Luanda, e mesmo na década que se lhe seguiu, éramos pobres. Havia pobreza em todo o musseque. Contavam-se os que tinham carros pessoais ou motorizadas. Conhecíamos o roncar de cada motor. Eram raros os que podiam levar para casa uma caixa diferenciada de cabaz, distinta das compritas que todos os trabalhadores (operários, camponeses ou intelectuais) podiam fazer nas "lojas do povo". As excepções eram mesmo excepções. Uns porque tinham patrões cooperantes e outros porque eram kambalaxeiros ...

Poucos eram os que tinham cantinas, lojas do povo (os supermercados de então) ou outras actividades paralelas geradoras de rendimento, tirando as pequenas profissões como sapateiro, funileiro, alfaiate, pasteleira, kitandeira, etc. Havia carências de toda a ordem, mas vivia-se o Natal. Vibrava-se. Não era por causa os bolos, os presuntos, as gasosas, os vinhos, os doces, os perus ou outros bens. Era pelo simbolismo da data: festa da família. A família alargava-se, ou melhor, elasticizava-se pois todos eram nossos parentes com quem partilhávamos os bolos, as parcas gasosas, a kisângua e tudo quanto houvesse.
As faixadas eram colectivamente pintadas pela miudagem que, em adição, engalanava as ruas à medida, criatividade e possibilidades do seu agregado. Os jovens feitos, nossos mais velhos de então também faziam uso de bebidas alcoólicas, mas eram mais contidos. Talvez inibidos pela carência, mas bebiam mesmo pouco. Hoje o Natal é mais despesismo, individualismo, oportunismo e outros ismos que não me parecem unir famílias nem criar laços fortificantes para o início de um novo programa anual.
Que venha 2025 e reponha o Natal da minha meninice!

1 comentário:

Soberano Kanyanga disse...

Publicado pelo JE&F a 25 de Dezembro 2024