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sexta-feira, dezembro 20, 2024

NEM TUDO ANDA PERDIDO

Odiano Francisco vive no Zango IV, na via que nos leva à centralidade do Zango V (Ex- 8 mil), no chonhecido como Bairro da EPAL. 
Com experiência em oficina (reparação de molas de viaturas e motociclos) e outros serviços, Odiano leva a sua vida entre trabalho por conta de outrem e alguns "biscates", preferindo vender a sua força de trabalho a "mexer em coisa alheia". Mas, Odiano é também dotado de um grande sentimento e acção altruístas.

Cheguei a ele por via de um incidente de trânsito que um buraco "mortífero" e crescente me provocou (19.12.24) na via que liga a Estrada para o Kalumbu e o Zango V. Saindo da centralidade, quase a chegar à via Zango-Kalumbo, próximo do troço em que se juntam os dois sentidos (descendente e ascendente), há um buraco crescente, estreito, profundo (motivado pela chuva e descaso de quem devia cuidar dele) e com uns dois metros de cumprimento. A iluminação pública que enchia de gaudio os ocupantes das casas da Centralidade do Zango V e os moradores próximos deixou de existir. Ou fundiram as lâmpadas e não aparece ninguém para as repor ou, pior do que isso, ter-se-ão roubado os cabos que alimentam as luminárias. Só pode ser!

Tendo passado inadvertidamente pelo buraco, estoiraram, de uma só vez, dois pneumáticos da minha viatura, criando-me um grande embaraço, das 19 às 23h00. Tão logo o Odiano se apercebeu da ocorrência e da desgraça a que eu estava votado, encostou-se a mim, dando-me apoio e conforto. Aconteceu perto de sua casa e ele dirigia-se à busca da sua esposa que trabalha em uma pequena superfície próxima.

_ Kota, não te vou deixar aqui sozinho. A zona é escura e podem aparecer "garlas". _ Disse ele em forma introdutória, perante a minha incredulidade e desconfiança que foi dissipada pelo correr dos minutos, criando em mim confiança e segurança.

Contou um pouco se sua vida, suas lutas e pequenas conquistas. Limpou-me as lágrimas que me inundaram o coração e respondeu-me aos vários porquês que não exteriorizei.

_ Kota, uma vez, eu e o meu irmão saíamos da ilha e tivemos uma avaria. Era noite e não tínhamos meios para reparar a viatura. Recebemos apoio de pessoas que não conhecíamos. Eu penso que ajudar quem precisa é importante e pode criar fortes amizades. _ Explicou.

A chuva é "obra da natureza". A correcção dos estragos provocados pela acção da chuva sobre a obra humana e facilitadora da vida é tarefa de reservada a alguns.

_ Infelizmente, kota, aqui, esse não é primeiro carro que estoira pneus. São muitos e quase todos os dias. Sorte é que ainda ninguém despistou ou morreu. _ Disse Odiano, na tua jornada de consolo, terminada com um desafio:

_ O kota tem cara de possuir muitos conhecidos lá em cima. Pode só lhes mandar uma reclamação para ver se vêm tapar esses buracos da via da Centralidade? Assim se morrer pessoa vão vir lamentar?!

Mais não lhe disse. Ele falara por mim. Ajudei-o a lavar as mãos e a garganta que já ia ressequida de tanta fala e esforço em desmontar e montar 4 pneus, depois de aparecer o socorrista saído de Cacuaco com mais um pneumático suplente. Tivemos de combinar, dois a dois os pneus de uso permanente e os suplentes, o que nos levou igualmente a desmontar os dois sobrevivos.

Por tudo quanto disse e mostrou o Odiano, coadjuvado pelo esforçado e diligente Cardoso António, meu colaborador na Kam&mesa, tenho cada vez mais convicção de que as excepções existem e nem tudo (ainda) anda perdido!

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