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terça-feira, dezembro 31, 2024

O NATAL HODIERNO E O DA MINHA MENINICE

Na década de 80, quando cheguei pela primeira vez a Luanda, e mesmo na década que se lhe seguiu, éramos pobres. Havia pobreza em todo o musseque. Contavam-se os que tinham carros pessoais ou motorizadas. Conhecíamos o roncar de cada motor. Eram raros os que podiam levar para casa uma caixa diferenciada de cabaz, distinta das compritas que todos os trabalhadores (operários, camponeses ou intelectuais) podiam fazer nas "lojas do povo". As excepções eram mesmo excepções. Uns porque tinham patrões cooperantes e outros porque eram kambalaxeiros ...

Poucos eram os que tinham cantinas, lojas do povo (os supermercados de então) ou outras actividades paralelas geradoras de rendimento, tirando as pequenas profissões como sapateiro, funileiro, alfaiate, pasteleira, kitandeira, etc. Havia carências de toda a ordem, mas vivia-se o Natal. Vibrava-se. Não era por causa os bolos, os presuntos, as gasosas, os vinhos, os doces, os perus ou outros bens. Era pelo simbolismo da data: festa da família. A família alargava-se, ou melhor, elasticizava-se pois todos eram nossos parentes com quem partilhávamos os bolos, as parcas gasosas, a kisângua e tudo quanto houvesse.
As faixadas eram colectivamente pintadas pela miudagem que, em adição, engalanava as ruas à medida, criatividade e possibilidades do seu agregado. Os jovens feitos, nossos mais velhos de então também faziam uso de bebidas alcoólicas, mas eram mais contidos. Talvez inibidos pela carência, mas bebiam mesmo pouco. Hoje o Natal é mais despesismo, individualismo, oportunismo e outros ismos que não me parecem unir famílias nem criar laços fortificantes para o início de um novo programa anual.
Que venha 2025 e reponha o Natal da minha meninice!

sábado, dezembro 28, 2024

PARTIU O "TONY D'AQUI"

[Com funeral em Portugal, ainda sem data, o corpo deve partir de Luanda na próxima semana e ser cremado à chegada]

Perdi, a 27.12.24, o meu amigo-como-irmão e produtor do meu livro "Kitotas: recuos e avanços". O Antonio Rosario Pinto produziu ainda "O relógio do Velho Trinta", "Canções ao Vento" e "Amor sem pudor". Tínhamos outros projectos literários em carteira e ele não era de negar os meus desafios aos quais se entregava de forma altruistica.

_ Muitos dos que me chamam de kota 'portuga' eram pirralhos ou não existiam quando cheguei pela primeira vez a Luanda, no início da década de 80". _ Costumava dizer, o produtor e prestador de serviços de comunicação institucional e imagem organizacional.

Profissionalmente, há muito vimos realizando procedimentos concursais para a contratação de serviços e produtos de comunicação institucional. Foi nessas circunstâncias que nos conhecemos. Chamei-o para a Lunda Sul, para apresentar e explicar a sua proposta. Deste encontro nasceu uma amizade irmanada que se estendeu aos meus liderados (na Lunda Sul e em Luanda) e às nossas famílias. 

Fruto de suas idas a Saurimo e da sua mundividência, o António Pinto passou, como eu, a amar a cultura cokwe. Fez palestras para os meus estudantes na Universidade Lueji A'nkonde e para os constituintes do Núcleo de Leitura e Literatura da Lunda Sul (LevArte Lunda Sul). Visitou a "Oficina de Jornalismo" que realizámos a convite da Diocese de Saurimo que começava a dar preparação básica aos seus "futuros" profissionais da Rádio Diocesana.

Nisso de ligação com a Lunda, em particular, o António foi mais longe. Fez várias tatuagens com dizeres e imagens daquela língua e cultura, que me comunicava e pedia para confirmar a tradução, antes da aplicação. Uma vez, no Luari, fomos comer "mulambandjangu com xima". O António pediu água e a garçonete trouxe-lhe uma bacia para lavar as mãos. Entendemos o sinal como um convite para que apreciássemos aquele manjar com as mãos. O António, não se fazendo rogado, foi o primeiro a atacar com as mãos. Era tão angolano que metia inveja a muitos angolanos sem angolanidade. E o espanto foi total. 

_ Um branco a comer com as mãos não se vê todos os meses!" _ Comentava-se, procurando saber de onde ele era. Realmente, não era de se ver todos os meses. Era raro e só aplicável ao nível de pessoas descomplexadas como ele.

Em Luanda, estava eu a ministrar aulas de Rádio em uma IES (instituição de ensino superior). Quando ele se apercebeu logo solicitou vozes que podiam estrear na publicidade e fazer outros trabalhos de comunicação. Indiquei a Ana, uma jovem que tinha muito talento, e que me disse ter sido bem acolhida e treinada. É hoje voz incontornável em uma rádio da capital angolana.

Este ano, estivemos no seu último aniversário (62°). Já padecia, mas sempre esboçando alegria e vontade de viver. Tinha acabado de sair do hospital, por isso, questionei-o por "que nos convidara se ele não parecia estar bem"?

_ O nosso repasto já estava marcado e pago. Não podíamos cancelá-lo. _ Disse-me, seguido de um abraço. 

Mesmo sem o vigor de sempre, quis estar com os seus amigos angolanos que muito prezava. Dividiu-se entre os seus convidados angolanos e portugueses com quem procurou conversar e entreter. Fálamos sobre o sabor da vida, da amizade, de negócios e sobre o futuro. Esse que não sabemos!

Quando procurou por uma segunda opinião médica, empenhamo-nos em indicar-lhe uma clínica e uma casa em Windhoek, aonde fora buscar saúde. Regressou dias antes do Natal. Trocámos mensagens há 4 dias (23.12). Não falámos sobre saúde. Evitei. Pretendia levar-lhe mensagems positivas, todavia, li nas palavras que me escreveu que não estava bem, mas tinha o desejo de viver.

"Nossas mulheres e filhos precisam muito de nós e temos de viver, nem que seja por eles", costumávamos dizer/escrever.

Perdi o amigo que me levou a conhecer Alenquer e outras façanhas da vida. Não o acomlanhei no tour a Maputo. Devo-lhe. Tínhamos combinado ir a Moçamedes, passando pela Lucira. Também não cumpri porque a estrada prometida ficou por ser concluída.

O António era um cidadão do mundo, opened mind, sonhador, ecológico e que não dava espaço a conflitos, quaisquer que fossem.

_ A vida terrena é demasiadamente curta para ser desperdiçada com baboseiras. _ Dizia.

Quando a Isabel Ferreira publicou o seu livro "Fernando Daqui", passei a chamar o António Pinto por "Tony D'aqui", uma homenagem "in vita" a um cidadão português que escolheu Angola como sua casa e os angolanos de todas as raças, credos e culturas, como seus irmãos. Ele aceitou o cognome.

Manuela Ramos Pinto (esposa), André e Catarina (filhos), estou convosco nesse momento triste. O António é daqui, de Angola, e não sairá nunca dos nossos corações!

Até já ARP!

quarta-feira, dezembro 25, 2024

UMA EXPERIÊNCIA QUE SUPEROU DIPLOMAS

Se o motivo fosse académico ou procura de emprego a mesa de Natal seria um desfiladeiro de diplomas académicos. Mestre havia. Pessoas com dupla licenciatura também. Com mono-licenciatura e uns terminando, havia vários e de distintas áreas de formação. A que menos frequentou a escola, mas com um básico feito no bom tempo e uma experiência de mais de setenta anos, era a matriarca.
Depois de mesa posta, faltando horas para a transição do dia 24 para o de Natal, as luzes da sala se apagaram. Não tinha sido ainda corte de energia, nem obra de um "malandreco" de casa. Foi redução da potência. Algumas lâmpadas "chinesas", colocadas nos corredores e nos candeeiros de banca estavam acesas.
Enquanto os adultos e jovens procuravam recordar as teorias aprendidas nas escolas para tentar encontrar uma solução, a idosa, caminhando lenta com o peso da sua idade apreciava os "doutores e engenheiros" que viajavam e recitavam autores clássicos do mundo vasto da física e da electricidade.
O mais incomodado com a escuridão já tinha mandado comprar velas incandescentes para substituir a luz dos telefones que ficavam sem carga. Só o rés-de-chão, em que imperavam as "lâmpadas tuguesas", no dizer do dono do imóvel, estava entregue à escuridão. Os pisos superiores tinham umas luzitas que permitiam caminhar sem tropeçar e enxergar com quem se cruzasse pelo corredor.
Passou quase uma hora, os debates estavam acalorados e a solução distante. Ao jovem (quase) engenheiro electromecânico, apesar da sua categoria de filho, se dirigiam as maiores perguntas em busca de uma aparente saída airosa.
_ Diz-me filho, tu que estudas essas coisas, o que devemos fazer para acender as lâmpadas cá de baixo? Pelo menos podermos nos ver olho no olho e o garfo não escapar do prato. _ Atirou um dos tios.
_ Bem, aqui é preciso redimensionar o consumo total da estrutura e subdividir em fases diferentes. É uma das soluções futuras. _ Respondeu, convicto de sua ciência um dos jovens que se formava em Electromecânica.
O relógio caminhava apressado e não tardaria, todos cantariam o Feliz Natal!
Foi naquele instante, vendo a nossa aflição, que a septuagenária decidiu apresentar o seu "Ás de trunfo".
_ Aqueles candeeiros de banca estão a acender e a casa tem vários. Vejam ainda se há bastantes tomadas aqui na sala e experimentem.
o é que a ideia da velha Argentina Ernesto funcionou?!
A experiência da idosa superou todos os diplomas e teorias da academia.

domingo, dezembro 22, 2024

IRLANDA E LEONILDE VOLTAM AO AL NUR

A primeira visita aconteceu a 9 de Novembro/24 e visou assinalar os 45 anos da Irlanda Salongue que contou com o apoio abnegado de sua prima Leonilde Lusitano.

Para a segunda visita, as primas benfeitoras, Irlanda Salongue Canhanga e Leo Lusitano Paulo, chegaram ao internato de rapazes "Al Nur" às 11horas, deste sábado, 21.12.24, para comemorar o Natal com os cerca de 60 rapazes, levando consigo almoço, lanche e mantimentos diversos.

Porém, depois do almoço que lhes foi oferecido e servido pelas beneficentes, os meninos e os seus tutores muçulmanos abandonaram os visitantes, recolhendo-se para fazer o Asr, a oração da tarde. 

Os "maometanos" oram cinco vezes ao dia, nomeadamente, ao amanhecer (Fajr), ao meio-dia (Dhuhr), à tarde (Asr), ao pôr do sol (Maghrib) e à noite (Isha).

Segundo os frequentadores desta religião monoteísta "cada uma dessas orações tem uma importância espiritual significativa e serve como um momento de conexão com Alah" e são feitas voltadas para Meca e incluem recitações do Alcorão.

Os muçulmanos que consideram "Jesus um profeta, mas não filho de Alah", não assinalam o Natal (data festiva dos cristãos), sendo o Ramadão a sua principal festa religiosa.

Em 2025, o Ramadão está previsto para começar ao entardecer de 28 de Fevereiro e terminar ao entardecer de 30 de Março.

Papá Ibrahim é o responsável do Lar Al Nur, em Viana, Rua da Sanzala, tutelado por uma organização pro-islamista.

Terminada a reza, reapareceram em peso para saborearem o bolo e os bolinhos e receberem, formalmente, a oferta que incluiu uma caixa de loiça de porcelana e talheres, dois balões de roupa de fardo, bolas de futebol, caixa de pasta dentífrica, arroz (75 kg), embalagens de guardanapos e papel higiénico, massa alimentar (4 cx), sabonete (cx) sabão em pó (300 pct), calçado, água, sumos, bolo de Natal, bolinhos, etc.

"Quem não agradece o pouco, não o faz em presença de muito", disse Ibrahim, o tutor dos meninos.

Se o trabalho altruísta e beneficente são de extrema valia, olho para a islamização silenciosa e galopante com alguma preocupação, pois um dia "poderemos acordar com o Islão" como religião predominante em Angola, tendo de arcar com todas as suas "(des)graças". No meu Lubolu dizia-se "quem avisa amigo é!"

quinta-feira, dezembro 19, 2024

NEM TUDO ANDA PERDIDO

Odiano Francisco vive no Zango IV, na via que nos leva à centralidade do Zango V (Ex- 8 mil), no chonhecido como Bairro da EPAL. 
Com experiência em oficina (reparação de molas de viaturas e motociclos) e outros serviços, Odiano leva a sua vida entre trabalho por conta de outrem e alguns "biscates", preferindo vender a sua força de trabalho a "mexer em coisa alheia". Mas, Odiano é também dotado de um grande sentimento e acção altruístas.

Cheguei a ele por via de um incidente de trânsito que um buraco "mortífero" e crescente me provocou (19.12.24) na via que liga a Estrada para o Kalumbu e o Zango V. Saindo da centralidade, quase a chegar à via Zango-Kalumbo, próximo do troço em que se juntam os dois sentidos (descendente e ascendente), há um buraco crescente, estreito, profundo (motivado pela chuva e descaso de quem devia cuidar dele) e com uns dois metros de cumprimento. A iluminação pública que enchia de gaudio os ocupantes das casas da Centralidade do Zango V e os moradores próximos deixou de existir. Ou fundiram as lâmpadas e não aparece ninguém para as repor ou, pior do que isso, ter-se-ão roubado os cabos que alimentam as luminárias. Só pode ser!

Tendo passado inadvertidamente pelo buraco, estoiraram, de uma só vez, dois pneumáticos da minha viatura, criando-me um grande embaraço, das 19 às 23h00. Tão logo o Odiano se apercebeu da ocorrência e da desgraça a que eu estava votado, encostou-se a mim, dando-me apoio e conforto. Aconteceu perto de sua casa e ele dirigia-se à busca da sua esposa que trabalha em uma pequena superfície próxima.

_ Kota, não te vou deixar aqui sozinho. A zona é escura e podem aparecer "garlas". _ Disse ele em forma introdutória, perante a minha incredulidade e desconfiança que foi dissipada pelo correr dos minutos, criando em mim confiança e segurança.

Contou um pouco se sua vida, suas lutas e pequenas conquistas. Limpou-me as lágrimas que me inundaram o coração e respondeu-me aos vários porquês que não exteriorizei.

_ Kota, uma vez, eu e o meu irmão saíamos da ilha e tivemos uma avaria. Era noite e não tínhamos meios para reparar a viatura. Recebemos apoio de pessoas que não conhecíamos. Eu penso que ajudar quem precisa é importante e pode criar fortes amizades. _ Explicou.

A chuva é "obra da natureza". A correcção dos estragos provocados pela acção da chuva sobre a obra humana e facilitadora da vida é tarefa de reservada a alguns.

_ Infelizmente, kota, aqui, esse não é primeiro carro que estoira pneus. São muitos e quase todos os dias. Sorte é que ainda ninguém despistou ou morreu. _ Disse Odiano, na tua jornada de consolo, terminada com um desafio:

_ O kota tem cara de possuir muitos conhecidos lá em cima. Pode só lhes mandar uma reclamação para ver se vêm tapar esses buracos da via da Centralidade? Assim se morrer pessoa vão vir lamentar?!

Mais não lhe disse. Ele falara por mim. Ajudei-o a lavar as mãos e a garganta que já ia ressequida de tanta fala e esforço em desmontar e montar 4 pneus, depois de aparecer o socorrista saído de Cacuaco com mais um pneumático suplente. Tivemos de combinar, dois a dois os pneus de uso permanente e os suplentes, o que nos levou igualmente a desmontar os dois sobrevivos.

Por tudo quanto disse e mostrou o Odiano, coadjuvado pelo esforçado e diligente Cardoso António, meu colaborador na Kam&mesa, tenho cada vez mais convicção de que as excepções existem e nem tudo (ainda) anda perdido!

domingo, dezembro 15, 2024

APROVEITANDO A CHUVA, PLANTANDO BATATA

As notícias desta semana, apontam algumas mortes feridos e desalojados como consequência da chuva em algumas cidades de Angola, sendo Luanda, Bengo e Benguela algumas reportadas pelos media. Pois é, enquanto a chuva é “amaldiçoada” por alguns citadinos, sobretudo em áreas com drenagem deficiente, ela é aplaudida pelos camponeses e agricultores que dela dependem para fazer os campos florescerem. Hoje, trago como anotações o plantio de batateira. A batateira quer produz batata-doce. Para início de conversa, importa anotar que há diferentes tipos de batata-doce, diferindo pela coloração, sabor, etc.

Em Angola, as regiões que mais produzem batata-doce incluem as províncias de Benguela, Uíge, Malanje, Cuanza-Sul, Moxico e Lunda Sul. Em Benguela, por exemplo, a produção de batata-doce tem aumentado significativamente nos últimos anos, especialmente na área de Dombe Grande. Todavia, é possível ter batata-doce em quase todo o país, incluindo Luanda, tendo em conta a fácil adaptabilidade da herbácea.

As espécies de batata-doce mais produzidas no nosso país são a Ipomoea batatas (batata-doce comum) e a Ipomoea batatas var. purpurea (batata-doce violeta), existindo outras.

A espécie Ipomoea batatas tem tubérculos de cor amarela ou laranja e é a mais comum. É conhecida por seu sabor doce e textura cremosa.  A Ipomoea batatas var. Purpurea tem tubérculos de cor violeta ou roxa e é menos comum. É conhecida por seu sabor mais intenso e alto teor de antocianina, um antioxidante.

A batata-doce é uma importante fonte de nutrientes e possui várias utilidades para o homem e animais domésticos:

Ela é rica em carboidratos, vitaminas (especialmente vitamina A e C) e minerais (como potássio e magnésio), sendo utilizada em uma variedade de pratos, desde sopas e saladas, purês, bolos, pães e sobremesas e ainda em panificação e confeitaria, especialmente em dietas sem glúten. Pode ser fermentada para produzir etanol, utilizado como biocombustível. Possui propriedades medicinais, como a redução da pressão arterial e a melhoria da digestão e contribui significativamente para a economia agrícola.

As folhas são comestíveis e podem ser cozidas como espinafre. São ricas em vitaminas A, C e K, além de minerais como ferro e cálcio. Servem ainda para forragem para Animais, sendo utilizadas como alimento nutritivo para gado bovino, cabras, porcos e outros animais. Possuem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, ajudando na saúde em geral, podendo ainda ser usadas como cobertura vegetal para melhorar a qualidade do solo, aumentando a matéria orgânica e a retenção de humidade.

A batata-doce é também usada na indústria alimentícia como espessante e em outros produtos como adesivos e cosméticos.

Quanto ao melhor método de plantar batateira, aqui estão algumas dicas essenciais:

A batata-doce prefere solos arenosos e bem drenados. Evite solos pesados e argilosos; Antes de plantar, prepare o solo arando e remova as ervas daninhas. Adicione matéria orgânica para melhorar a fertilidade; plante as mudas de batata-doce em sulcos ou montes, com espaçamento de cerca de 30 cm entre plantas e 1 metro entre linhas; mantenha o solo húmido, especialmente durante o período de crescimento inicial. Todavia, evite o encharcamento.

Controlar as pragas e doenças é crucial. Geralmente, a batata-doce geralmente está pronta para a colheita entre 4 a 6 meses após o plantio, dependendo da variedade.

Em terrenos declivados, que deixam escorrer a água da chuva, esse é bom período para o plantio. Em terrenos alagados ou baixos, o melhor é esperar que a chuva diminua ou cesse.

domingo, dezembro 08, 2024

LAMENTOS TRAZIDOS PELA CHUVA

Em 1996, em Luanda, choveu aos cântaros. As ruas do Rangel e de outros bairros estavam literalmente inundadas e encharcadas, não havendo porções de terra firme e seca para se pôr os pés calçados em sapatos ou ténis. 

Como era "proibido faltar às aulas da Professora Gabriela Antunes (ALA, Inglês e Português), um jovem (de primeira caminhada) que estudava no IMEL e vivia no Rangel, Comite Njinga, decidiu calçar botas de chuva e fazer-se à escola. Para o seu espanto, em vez de os colegas se jogarem contra a administração que não cuidava do saneamento, atiraram-se, em estigas, contra o colega. Um fraco teria desistido de frequentar as aulas, mas ele, focado, seguiu o seu rumo.

"Chover é obra da natureza" e chove em todo o lado. Em outras paragens, a administração, através de trabalhos de engenharia hídrica, cuida de encaminhar as águas pluviais a córregos naturais e valas artificiais que as conduzem ao mar ou outros canais de recepção. Não acontecia no Rangel.

Em vez de se atacar o culpado pela situação de intransitabilidade nas ruas do Rangel e em outros bairros de então, atacou-se a vítima. E parece que procissão continua.

O jovem estigmatizado é hoje o Soberano Kanyanga

domingo, dezembro 01, 2024

HOJE VAI A ENTERRAR UM GÉNIO

(Rangel em Luto)

Os génios são raros e aparecem na vida das pessoas e das sociedades de forma esparsa. Cada génio o é no seu mundo (que pode ser grande ou circunscrito). O inventor da lâmpada foi um génio. Mozart também foi (ninguém tocava como ele no seu tempo cronológico e histórico), assim como quem (nascido no meio da pobreza) retira a família da indigência, dá dignidade e, acima de tudo, um nome reconhecido e respeitado pela sociedade. 

Nelson Ferreira Cabanga  enquadra-se nessa última descrição de génio. Todavia, a sua genialidade não se ficava por aí. Nos seus últimos anos, tinha se tornado em um exímio tocador de reco-reco, amante da música nacional de qualidade e vida intemporal (sempre acompanhada à dança), promotor de literatura no bar da sua Capirica (Pousada) e de convívios inter-amigos do e no Rangel, Sumbe e outras paradas. O Ngulu do Capirica era uma de suas marcas, para além da "Brand" NEFECA que era abreviatura de seus três nomes.

Ainda pequeno, no areal defronte ao antigo Supermercado Kiluanje (onde se acha hoje a Escola Ekwikwi II), Nelson destacou-se no trato com a bola, o que lhe fez ganhar a alcunha de Ndunguidi, por sinal, nome de um craque do futebol angolano de então e de todos os tempos. 

Pandy Santana, contemporâneo de Nelson Cabanga, recua ao "Ano da Formação de Quadros", 1979, e decreve o amigo de infância com quem conviveu mais de 45 anos:

"Um amigo do futebol com bolas de meias e sacos, das brincadeiras nocturnas à luz da Lua no nosso musseque Rangel. Já adolescente, Nelson deixou Luanda rumo a Ngunza Kabolo, Sumbe, onde ingressou no Instituto de Petróleo, formou-se engenheiro e construiu uma carreira exemplar, sempre pautada pelo brio e pela dedicação.

Mais que um profissional de sucesso, Nelson era um visionário, um empreendedor. No bairro, onde guardamos com alguma vaidade as nossas memórias da infância, criou o Capirica, um espaço que se tornou um marco no Rangel, ponto de encontro de gerações, amigos e de outras pessoas de pontos próximos da banda. Com este projecto, ele uniu pessoas e fomentou a cultura, o desporto e algumas iniciativas de solidariedade, marcando positivamente a vida de muitos.

Homem de família, Nelson edificou não apenas um legado profissional, mas também uma bela família, que agora carregará a sua memória como inspiração".

Quanto a mim, o primo Nelson, ultimamente "kota Cabanga", era o primo inspirador. Conheci-o apenas em 1989. Eu saído de férias do Lubolu e ele do Sumbe onde estudava no INP.

Ele era amigo de seus amigos e eu construindo ainda os meus poucos (da minha faixa) em Luanda. Havia, contudo, algo comum que era/é a escola. Quando, em 1992, ele terminou o ensino médio e começou a trabalhar em uma petrolífera francesa, perguntei-lhe que curso tinha feito e, em 1993, escolhi igualmente o de Geologia e Minas, no mesmo instituto que, entretanto, não cheguei a fazer. 

Lembro-me como hoje o dia em que fomos ao Kikolo (entre o Cemitério e a igreja católica) comprar os primeiros blocos com que construiu a casa para a família. Foi ele quem retirou os pais da casa de renda.

O tempo correu. Ele crescendo na indústria petrolífera e eu no jornalismo, fomos aprofundando a comunicação e os laços de parentesco. O nosso último plano era desenhar a árvore genealógica, aproveitando os poucos idosos que ainda nos restam. A empreitada fica pela metade. Algumas coisas estão anotadas e publicadas, mas falta o detalhe trazido por uma amena discussão. Quando me apresentou a Capirica, de novo o imitei e projectei a Kam&mesa.

_ Ó Nelson, tens de deixar que os parentes usem as instalações da Capirica sem pagar no mínimo metade dos custos. Tens salários e manutenção no fim de cada mês. _ Alertei ao me aperceber que cedera quartos para parentes que se deslocam ao Rangel.

_ Tens razão, primo, mas eles são nossos parentes e têm mais dificuldades do que nós. _ Respondeu-me. Corria o mês de Setembro e estávamos engajados em solucionar o funeral e pós-funeral de um nosso cunhado.

Chegou Outubro e a saúde do Nelson fraquejou.

_ Primo, estou avariado no cubico. A velha Maria está a cuidar de mim. _ Disse-me em mensagem no dia da independência.

_ O Nelson doente em casa e a tia Maria a cuidar dele só pode ser coisa leve. _ Pensei enganado.

Dias depois, mandou-me descrever fotos de nossos parentes já finados.

_ Primo reconheces?

_ Tio Ferreira (teu chará), tio Ernesto e avó Hebo. _ Anotei.

_ E o último? _ Indagou o Nelson Cabanga.

_ Este é o Moisés. Não precisei de descrever porque é de mais fresca memória. _ Expliquei, ao que ele concluiu:

_ Afinal és mesmo kota!

Conhecedor do seu mundo, vivendo e respirando o seu Rangel, Nelson foi autor de várias crónicas publicadas no seu mural de Facebook e algumas no Jornal Cultura, descrendo vivências no Rangel e Sumbe, sempre apimentadas com aspectos históricos e culturais.

Retomo o Pandy Santana para dizer que nenhum discurso nos ameniza a dor da perda do "kota Cabanga" que é grande. Todavia, "as suas conquistas e o seu exemplo permanecerão como testemunho de uma vida vivida com propósito e generosidade".

Os que ainda têm voz choram. 

Os que têm lágrimas lacrimejam. Os que têm força procuram levar o Nelson à sua última morada.

O Nelson era um homem de paz e com um coração que bombeou o altruísmo até ao último toque. Que o seu exemplo nos inspire, alivie o fardo da pobreza intelectual e material e amenize os nossos egos!

Até já, kota Cabanga!

Soberano Kanyanga, 01.12.24.