“Angola é um país com necessidades infinitas e recursos finitos” (sic. Severino de Morais, A.N., Dez. 09). Há que encontrar remédios que nos façam chegar a um equilíbrio entre a necessidade e a possibilidade. A meu ver passa pelo uso parcimonioso do que se tem e encontrar soluções duradouras para o que ainda não possuímos.
Em potência temos quase tudo. Rios e cascatas para gerar energia, este recurso imprescindível ao desenvolvimento, faltando-nos as melhores ideias, o dinheiro e as mini-hídricas que devem substituir as centrais termoeléctricas, a diesel, que são “mais um prejuízo do que benefício a longo prazo” aos olhos de quem quer poupar. Temos os campos, enormes prados e savanas propícias para a agricultura. A guerra levou as populações a desenvolverem outras actividades temporárias e de subsistência, perdendo, algumas delas, a perícia no tratamento do recurso vital, a terra. É preciso “dar anzóis e ensinar a pescar”. Significa ensinar técnicas e práticas agrícolas modernas (Cabinda é um bom exemplo disso), facilitar o crédito bancário ou em espécie (preparação de terras, sementeiras, fertilizantes e afins) e, sobretudo, estruturarem-se os mercados para a matéria-prima agrícola.
O elevado nível de iletracia e a falta de preparação/especialização técnica e profissional da maioria da nossa população rural levar-nos-á, irremediavelmente, ainda por muito tempo, a empregar essas pessoas na agricultura. E a agroindústria é mais uma vez chamada para fazer parte da solução. Ali onde não houver empresários, será necessário sair-se do campesinato individual e passar-se ao associativismo agrícola que deve ser incentivado, formando-se os actores rurais. Da empresa pública de mecanização agrícola aguarda-se também uma intervenção de fundo e com maior acutilância. Deverá saber onde estão as potencialidades e ir ao encontro dos lavradores que hipotecarão as suas colheitas ou os seus excedentes. Já assim o foi no tempo colonial quando se ia à loja comprar sementes. O pagamento era feito apenas no fim da colheita.
Por outro lado, sendo a terra “propriedade originária do Estado” (sic. Projecto consolidado de Constituição) é preciso que ela seja distribuída àqueles que a trabalham ou que a queiram trabalhar. Há fazendas paralisadas, há décadas, ocupadas ou entregues a pessoas que nada entendem do cultivo e da criação. É preciso redistribuí-la àqueles que saibam dar à terra o esperado valor acrescentado. A criação de Zonas Económicas Especiais, viradas para a indústria e a agricultura, é um bom passo ensaiado pelo governo que de minha parte merece os devidos elogios.
Tb. publicado pelo Semanário Económico (Angola), edição de 21.01.2010
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