Translate (tradução)

segunda-feira, setembro 01, 2025

ODJOVE, MULONDOLO OU PAU-DE-CABINDA?


Crónica para quem ainda acredita que o amor precisa de raízes, cascas e mapas.

Na IV edição da FMCA, realizada no Lubango, em 2023, assim como na V edição que a cidade de Benguela acolheu em Agosto, o que desapareceu antes mesmo do primeiro batuque não foi o milho torrado nem o vinho de palma . Foi o famigerado pau-de-Cabinda, aquele que dizem “levanta até defunto cansado”. Não se sabe quem levou, mas os dedos apontaram para os nguvulados de cabeça grande na algibeira, os mais velhos de bolsos cheios e olhares discretos, que saíram com os pacotes escondidos entre casacos e promessas. Uns dizem que foi para uso próprio, outros que foi para presentear genros em apuros conjugais. O certo é que o produto esgotou antes mesmo de se saber se era vendido por dose ou por esperança.

O pau-de-Cabinda, vindo da região homônima, é mais que casca. É mito. Vendido em pó, cápsula ou infusão, é tido como afrodisíaco de elite, capaz de devolver vigor a quem já só vigia e usa o descarregador "apenas para mijar".

Mas há quem diga que o efeito é mais psicológico que fisiológico, e que o verdadeiro poder está na crença ou no bolso.

Mas se o pau-de-Cabinda é o rei das farmácias informais, o odjove é o príncipe das aldeias. E foi justamente nas duas edições da FMCA que ele apareceu em garrafa, com rótulo e até mapa. Sim, mapa. Porque o odjove não é só bebida. É roteiro também.

Feito à base da fruta de marula, aquela que dizem embebeda até elefantes,  o odjove vinha acompanhado de um mapa da embala: casa do sekulu, casas das esposas (com e sem filhos), casas dos filhos solteiros. E dizia o marketeiro:

“O sekulu, depois de beber odjove, percorre todas as casas das esposas, voltando leve e cansado no dia seguinte.”

Durante a colheita, os régulos afrouxam as penas de adultério. Afinal, quem pode resistir ao chamado da marula fermentada se até o elefante dança e tropeça?

Enquanto o odjove é kunenense, o mulondolo é raiz do Kwanza-Sul. As suas folhas são comestíveis e refogáveis como fokhas de batateira. As raízes é que são “tira-teima”. Dizem que quem consome o mulondolo tem a mulher permanentemente falar bem dele junto da sogra, o que, convenhamos, é milagre maior que qualquer ereção prolongada.

“Dá resistência inimaginável”, dizem os nativos de Lubolu e da Kibala. 

“Deixa o pau-de-Cabinda a ver navios e o longeso do Wambu a pedir reforma”, atestam os confessos consumidores de tudo quanto lhes dá a breve ilusão de borboleta.

Em quem acreditar?  

No pau-de-Cabinda que esgota antes de se tocar o hino nacional?  

No odjove que vem com mapa e promessas de fecundidade?  

Ou no mulondolo que não tem marketing, mas tem sogra satisfeita e bem-falante do esposo da filh'amada?

Talvez o segredo não esteja na raiz, na casca ou no licor, mas na história que cada um carrega. Porque no fim, o que embriaga não é o marula, é o desejo de continuar sendo lembrado como aquele que soube amar com  potência e força, com graça e com folhas refogadas!

Sem comentários: