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domingo, setembro 08, 2024

O TANQUE DO COMANDANTE KANDIMBA

 Junto à entrada à EN140, que nos leva da Kibala ao Mus(s)ende, há uma rotunda. Olhando para a esquerda, estão dois terrenos devolutos que guardam segredos de uma História ainda por escrever.

A rodovia que liga as localidades de Kibala-Karyangu-Mus(s)ende foi asfaltada na segunda década deste século (XX). Até 2010, era uma sofrível picada de terra batida que nos dirigia à Oeste de Kibala, empestada de minas pessoais e anti-carros implantadas pela Unita.
Na rotunda, as casas e casebres abeiraram-se da rodovia, restando os dois terrenos ainda devolutos em que se acham dois artefactos militares, ou seja, dois tanques de guerra que, para contar a história das agruras por que Kibala passou de 1984 a 2002, se juntam aos edifícios totalmente desaparecidos (a exemplo do Hotel Império), aos escombros dos que foram totalmente dinamitados e destruídos (Hotel Cunha) aos que sofreram destruição parcial ou outros ligeiramente estropiados. Não há edifício que não tenha sofrido nos diversos ataques infligidos à Kibala desde o fatídico 12 de Junho de 1984, data do primeiro ataque da Unita, a 2002, ano da proclamação da paz que vivemos até hoje.
Francisco Pinto, 65 anos feitos em Agosto de 2024, conta que em 1992, depois da desmobilização das FAPLA e criação do que era chamado de "Exército Nacional Único", as FAA, o Batalhão 722 chefiado pelo comandante Kandimba havia sido extinto e o comandante desmobilizado.
"Quando entrámos para as eleições, era comandante da região, pelas FAA, o Cara Podre que não havia sido desmobilizado".
O antigo Oficial Operativo no Batalhão 722 e no "Exército Único" saído dos Acordos de Bicesse, avança que até Novembro de 1992, militantes do MPLA e da Unita ainda coabitavam na vila da Kibala e até diziam que as escaramuças de Luanda não deviam ser replicadas na Kibala. Porém, conta, surpreendentemente a UNITA se retirou para Katofe e começou a bombardear a vila, matando várias pessoas como o professor Smith e sua mãe.
"Eu era amigo pessoal de kandimba. Ainda o aconselhei a ir a Luanda, depois de desmobilizado, mas ele me respondeu que aguentaria mais um pouco".
Tendo em conta a situação criada pela Unita, prossegue Francisco Pinto, o Comandante Kandimba teve de organizar os antigos militares desmobilizados para defender a vilar, só que não conseguiu obter o número desejado, tendo em conta a dispersão e a desmotivação de alguns para uma nova guerra.
"Em Finais de Janeiro de 1993 a Kibala recebeu reforço de tropas vindas do Waku Kungu. Como nem todos se conheciam (os da Kibala e os vindos do Waku) a Unita aproveitou infiltrar-se entre as forças e tomou a Vila, concentrando todo o seu fogo sobre os tanques que já não se movimentavam. O comandante Kandimba estava no primeiro que, embora ainda disparasse, não tinha mobilidade".
Pinto narra ainda que quando foi atingido o tanque tinha esgotado as "salvas" e jura que "Kandimba não foi capturado nem enterrado pelos familiares, pois ele se retirou do local e terá morrido em local incerto".
Um dos dois tanques que se acham na rotunda possui ainda a parte cimeira e o cano. O outro, desintegrado, que conserva apenas o esqueleto central e as esteiras locomotivas é nesse em que, na madrugada do dia 09 de Fevereiro de 1993, segundo Francisco Filipe tombou em combate o comandante Pedro Manuel Biano "Kandimba".

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