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segunda-feira, julho 22, 2024

NÓTULAS SOBRE KIBALA

Wathithi kwamunzembe, walepa kakwata kolu, Ndonga-a-ngulu wandongile!*

Visitei a vila de Kibala no dia 13 de Julho. Não foi a primeira, sendo apenas última de muitas e com a felicidade de ter percorrido grande partes das ruas doi seu casco urbano que é muito maior do que a imagem que se oferece ao transeunte. Sendo "imagem de marca" os edifícios danificados pela acção da guerra civil (1975-2002), fiz recurso a fontes orais, escritas e à IA (inteligência Artificial) para buscar pistas sobre "quantas vezes a vila de Kibala foi atacada e ocupada pela insurreição armada e recuperada pelas forças governamentais". Não encontrei resposta numérica. O que é certo é que "foram várias as vezes que tal ocorreu" e em cada uma das acções de ataque, ocupação temporária e recuperação, sempre resultavam em danos humanos e infra-estruturais, fazendo com que o rosto presente da vila seja: prédios duramente estropiados, escombros e montulhos que indiciam ter existido ali e acolá casas e instalações comerciais e/ou industriais convertidas a zero.

Bem desenhada e implantada em terreno com pequenos declives que conduzem as águas pluviais a córregos naturais de fluxo permanente, Kibala, cercada a sul por montes pedregosos, tinha tudo para ser cidade.
Depois de percorridas as ruas e ruelas da "cidade" da Kibala, faço "mea culpa" por um dia ter negado tal designação, embora os dados oficiais apontem que ela foi somente elevada à categoria de vila em 15 de Janeiro de 1974, e, ao que se diz, "com planos da administração colonial portuguesa para elevar a vila ao estatuto de cidade". E tinha tudo para sê-lo, se tivermos que comparar a Kibala a outras vilas de então que foram elevadas à cidade como é o Dondo, Gabela e ou mesmo Henrique de Carvalho.
O sexagenário Xavier Nhanga da Julieta, natural da Kibala, contactado a buscar por suas memórias, avança que “o primeiro relato de que a vila tinha sida atacada e que resultou na destruição dos edifícios Império, edifício da DOM (Departamento de Organização e Mobilização) e o Banco Totta, assim como outros edifícios ocorreu em 1984”. Esse dado é confirmado por Matias Pascoal Manuel que à data vivia na Kibala e precisa que "o primeiro ataque foi a 12 de Junho de 1984, data em que a CAIMA foi igualmente destruída".
De lá em diante, a vila foi tratada como “gato sapato”, apesar da entrega e tenacidade do Batalhão comandando pelo mítico Kandimba, de quem o cancioneiro popular regista e guarda a sua bravura na defesa da vila.

Ana Viana, natural da Kibala, tinha 12 anos em 1984 e relata que "1984 o ano da defesa e da produção. Kandimba era comandante de um Batalhão da Brigada 150. A tropa tinha ido prestar socorro no Lwati, Libolo, onde ocorrera outro ataque. Os tropas que tinham ficado eram poucos. O segundo ataque foi em junho de 86. O terceiro foi quando mataram o Felizardo que foi secretário da Jota. Até aos confrontos de 1992, houve mais ataques..." fazendo recurso á memória de uma rapariga (em 11984) que já estudava a quarta classe, Ana acrescenta que "o primeiro ataque durou 3 dias, até que (regressado do Lwaty) Kandimba assumiu o controle da situação". Lamenta a perda de amigos, colegas de escola, parentes e conhecidos e finaliza:
_ É por isso nunca me esquecerei do ano 1984.

Olhando para as "sobras da guerra" (alusão ao romance de Ismael Mateus) quem vai ou passa por Kibala nota que o mais alto edifício são as instalações da moageira CAIMA (Companhia Angro-Industrial de Milho de Angola, instalada na década de sessenta do séc. XX e que tinha uma capacidade de processamento de aproximadamente 120 toneladas de milho por dia), que fica na EN 140, a que liga a Gabela ao Mussende, cortando diagonalmente a vila da Kibala. É uma pena que a CAIMA, detentora das marcas "canini e tari" esteja como está: parada e sem horizonte para a sua reabilitação.
Todavia, nem tudo são abrolhos. Entre as décadas 50 e 60 do século XX, a Kibala gabava-se de possuir aquele que era tido como "o melhor hotel do Império", propriedade do senhor Cunha. O libolense José Carlos de Oliveira Cunha "Oca", herdeiro do sobrenome e neto, confirma esse dado. "Situava-se ao pé da Administração municipal da Kibala, lado oposto".
A próxima melhor instalação hoteleira da Kibala vem pelas mãos de Eduardo Fernando, um natural que fez vida fora da circunscrição e decidiu juntar "patacas" para as investir em sua terra. Com três andares é tido como "o mais alto da circunscrição, depois do edifício da CAIMA. São acções como essas que replicadas fazem evoluir as localidades.
Impávida e persistente olha-nos, a partir do cimo do monte rochoso, o fortim, conferindo cada fracasso ou vitória dos homens e mulheres da Kibala que é eterna. E para terminar, que tal uma rua para homenagear o comandante Kandimba?
...
* Na variante local de Kimbundu significa: Não desprezes o baixinho, pois o homem mais alto nunca tocará os céus.

1 comentário:

Soberano Kanyanga disse...

Publicadas no Jornal Litoral (Angola) de 25 de Julho de 2024