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sexta-feira, novembro 01, 2019

KALUNGA DE CÁ E DE LÁ

Entre os ambundu do Kwanza-Sul, Kalunga é um antropónimo feminino que personifica morte, abismo, sem esperança de sobrevivência. Tal designação é atribuída á menina, recém-nascida, que sucede a outros nado mortos ou que tenham falecido prematuramente.
No sentido mais lato, Kalunga é abismo, morte, mar (vastidão), infinito.

No Brasil, Calunga (grafam com C) é o nome dado ao espírito ou divindade que se manifesta principalmente através da Umbanda. Estas entidades são popularmente conhecidas como “pretos-velhos”, e possuem um amplo conhecimento sobre diversos assuntos.
Lê-se no Wikipédia que "a principal característica de um calunga é a sua sabedoria". De acordo com a crença umbandista, lê-se ainda na página acima citada, essas entidades são harmoniosas e dotadas com uma grande vontade de esclarecer os problemas do quotidiano das pessoas.

Eventualmente tenha sido essa última caracterização que levou
Damian Garcia a fundar em 1972 a A Kalunga Comércio e Indústria Gráfica Ltda, rede brasileira de produtos de materiais de papelaria e artigos de informática contando com 204 lojas em 20 estados brasileiros.
No dizer dos seus colaboradores, "a Kalunga esclarece e resolve os problemas do quotidiano das pessoas...".

Certa vez, em visita a São Paulo, Estado Brasileiro, adentrei, em companhia de outro angolano e kimbundófono, uma loja kalunga onde encontrámos uma senhora que acabara de comprar um telefone.
- Sabe, a senhora o significado de Kalunga?, questionou Kizwa.
- Não, senhor. O senhô, pode explicá? deve ser nome bacana! exclamou ela curiosa.
- Kalunga é morte.
- Não senhô. Só pode estar do gozo comigo, retorquiu a senhora, fazendo cara de quem chupou limão.
- Sim. Nós em Angola, numa língua chamada kimbundu, Kalunga é morte… Espero que não esteja a levar Kalunga para casa, atirou jocoso, Kizwa que não a olhava nos olhos.
Contrariamente, eu estava atento aos dois e ao jovem atendedor que se manteve sem fala.
A senhora, apavorada com as palavras de Kizwa, quase abandonava a compra, pondo-se a correr. Faltava pouco para ver fantasmas ao seu redor e ver Kalunga na sua acepção Kimbundu.
Foi então que o moço da loja balbuciou umas palavras tentando parar o Kizwa e acalmar a cliente que, por pouco, pedia de volta a sua "grana", abandonando o aparelho de telefone que comprara para (ao que disse) "uma pessoa que guardava no peito".
- Kalunga é, em Kimbundu, língua angolana, morte. Mas tem outros significados como imensidão e nfinito (amor, bondade, sabedoria, etc.). Veja por exemplo a expressão "Kyadi kalunga=o amor/compaixão (dela) é infinito". É, portanto, importante traduzir kalunga em suas múltiplas dimensões e significados, Conclui, apaziguando uma e outros.

Continua a Wikipédia que: etimologicamente, este termo se originou a partir do quimbundo ka’lunga, que significa literalmente “mar”, mas também pode ser usado para transmitir a ideia de “imensidão” e “grandeza”. Os negros utilizavam este nome para se referir ao deus dos missionários católicos (Deus), pois consideravam-no vago como a imensidão do mar.
Através desta explicação, é comum associar as entidades calungas com os orixás ligados às águas do mar, como Iemanjá, por exemplo. No Brasil, alguns etimologistas ainda consideram a diferença de significados entre os termos kalunga e calunga, sendo o primeiro relativo às entidades espirituais e crenças religiosas, e o último referente ao que é pequeno e inferior, sendo também um termo bastante empregado durante a escravatura para se referir aos negros, visto que eram considerados “pessoas inferiores”.
Os calungas também são conhecidos como os descendentes de escravos fugitivos e libertos que formaram uma comunidade autossuficiente na região atualmente conhecida como o estado do Goiás, no centro do Brasil.

Publicado pelo Jornal de Angola de 15.11.19

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