Tente pronunciar as palavras Kalulu e Honolulu. Soam-lhe parecidas? Então acompanhe esta crónica.
Quando Mangodinho e Kizwa se conheceram, nada indicava que viriam a ser amigos — e quase kisoko (quissoco). Cruzaram-se numa repartição pública, e o desabafo de um, em kimbundu, despertou a atenção do outro. Começaram ambos a reclamar, naquela língua, sobre o serviço precário e a desatenção com que eram brindados pelos servidores públicos de então.
— Mas ouve... Vocês não falam ngoya? Como é que tens um kimbundu tão refinado quanto o de um americano? — indagou Kizwa (Dias no BI).
— Bem, fazendo as “contas”, eu, nato lubolense, sempre falei kimbundu. Isso de ngoya são invencionices destes tempos em que a boca de quem tem microfone vira lei e ciência. No meu tempo, perguntavas ao vovô que língua se fala, ele respondia: “É mesmo kimbundu”, assim mesmo, conforme estamos a dialogar. Mas o mano colocou outra questão...
— Que questão, camarada Mangodinho?
— Aquela do americano. Será que quis comparar o katetense ao americano dos Estados Unidos da América?
— Ah, sim! Sabes que, para nós, tudo o que existe na América tem equivalente aqui? Veja só:
Entre conversa de fazer o tempo voar e busca efectiva de parentesco etnolinguístico entre katetenses e lubolenses, Mangodinho proseou assim:
— Nós, do Lubolu, somos americanos do Pacífico. Vês que não gostamos de jivunda, né? Somos pacíficos — ou melhor, do Pacífico — assim como os havaianos. O Barack Obama, que nasceu em Honolulu, Havai, é nosso. Retém ainda o som de Honolulu e Kalulu. São ou não parecidos? É por isso que Katete e Lubolu são como Nova Iorque e Havai. É a mesma nação. Quer seja Abílio Adá, Adá Ximá, Jorge Waxingi Tonho ou Mbalá Wabama (Barack Obama), são todos nossos, da Nação Kimbundu!
O povo que estava na administração e que prestara atenção à troca de argumentos brindou-os com uma ensurdecedora rajada de palmas.
Kizwa e Mangodinho abraçaram-se demoradamente e selaram um pacto de kimbundearem sempre que se encontrem.
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