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sábado, julho 08, 2017

MODA DE RUSSOS E CUBANOS

Terminava 1993, a guerra civil, depois das primeiras eleições multipartidárias, estava no auge. Em Lusaka tentava-se salvar o que restava do acordo de Bicesse. Porém, só em Novembro do ano seguinte o ministro Venâncio de Moura e Manuvakola assinariam o acordo de Lusaka que também não veio a funcionar como se expectava.
Até então, nunca a UNITA tinha estado em tanto lugar como depois das primeiras eleições.
 
Não pude estudar Geologia e Minas, no Sumbe, nem pude ir ao Quéssua fazer agronomia. O IMAQ, "irmão gémeo do IMEL", financiados pelo BAD, tinha acabado de abrir as portas mas, aos tiros e emboscadas, seria missão impossível ir a Malanje com a família espalhada entre Pedra Escrita (Libolo) e Luanda. Até Sumbe, em ambiente de guerra, ficava longe. Decidi fazer um curso de informática e aprimorar conhecimentos de electricidade de baixa tensão. Já era um alfaiate, quase. Os dois anos com o kota Goncha, em Kalulu, e outra temporada em Luanda com o kota Ngunza Makongo permitiam-me biscatear sem dificuldades.
 
Chegadas as inscrições para testes de aptidão no IMEL, curso de Jornalismo, consegui passar no exame. Surge daí uma nova necessidade em termos de atavios para iniciar a temporada académica em princípio de 1994.
 
Em Dezembro, fui à Pedra Escrita para mais um saco de macroeira. Andava-se por cima de camiões e muitas das pontes que haviam sido recuperadas para permitir a livre circulação de pessoas e bens, antes das eleições, estavam novamente debaixo d'água. A que fica depois do desvio de Kalulu, na EN 120 e a do Longa, depois de Lususu, são exemplos.
 
Desci na Munenga e segui a pé até Pedra Escrita. Era um jovem atrevido e destemido. Ignorava que os homens estivessem por perto. E chegaram dois dias depois. Alguns já me conheciam. Desta vez, os carrascos eram os meus ex-colegas da pré e primeira classe, pessoas com quem brinquei na infância, convertidos em kwaca de última carruagem. Esses chegava a ser mais perigosos dos que os Unita originais.
O kota Goncha fazia suas costuras: bainha a um pano, remendo por cá, recostura acolá. Eu ajudava o meu mestre e aproveitava uns biscates quando fosse possível.
Os homens da UNITA encontraram-me uma tarde a costurar, em casa do Velho Xika Yangu, e exigiram que eu devia diminuir o tamanho da minha "jens buluada" (azul e larga). Neguei fazê-lo. Foram buscar um alfaiate deles e quando regressaram eu havia desmontado a máquina e despido as calças.
Diziam ser moda de russos e cubanos e que o doutor deles se opunha àquela forma de vestir. Trungunguei. Não aceitei que diminuíssem a largura e o tamanho da boca das minhas calças de eleição. Porém, enquanto não completava o saco de macroeira, tive de abdicar de usar aquelas calças, até retornar a Luanda onde, se dizia, estavam na moda.

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