O PERIGO DO "LUGAR COMUM"
Enquanto jornalista,
Intrigava-me, sempre que fosse a províncias, encontrar e reportar factos
noticiáveis que aos olhos dos confrades locais não passavam de algo comum ou
sem interesse jornalístico.
Pois, a repetição e o hábito fazem dos factos, mesmo anormais, lugares comuns ou
factos normais. É isso que faz com que se desvie deles a nossa atenção que se
dirige ao periférico, ou para o nada, fazendo com que na aparente ausência de
factos dignos de atenção e registo, o nosso olhar
se fixe na propaganda e no simplesmente lúdico.
A exemplo, temos o que mais incomoda em Luanda e em algumas outras cidades de Angola:
falta de transportes públicos, grandes congestionamentos do trânsito, deficiente recolha de lixo e
drenagem, elevados níveis de poeira, gritante falta de H2O e energia eléctrica,
poluição sonora, vadiagem, promiscuidade, prostituição, bebedice, delinquência juvenil, desleixo
e espírito "deixa andar" das autoridades policiais, transporte de
pessoas em caixas de carrinhas e camiões, gente pendurada em entradas de
comboios, venda em passeios e passagens superiores (pontes para peões), etc.,
assuntos que deveriam encher, de forma critica e pedagógica, as páginas dos
nossos jornais e noticiários audiovisuais deixaram de neles fazer presença
constante.
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Do Kambwá |
Por que será?
Tornaram-se lugares comuns. Os jornalistas coabitam
todos os dias com eles. Os nossos corpos e mentes ganharam anti-corpos. Deixamos
de sentir dor.
E, enquanto não despertamos, nos vamos contentando
com assuntos periféricos como maratonas e danças que roçam a pornografia.
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