A minha última reflexão sobre a política nacional aconteceu em 2008, depois das eleições legislativas onde eu sugeria à media para pôr termo às denominações bicéfalas nos partidos políticos, uma vez que a realização das eleições tinha nivelado a questão das lideranças ao aceitar determinadas candidaturas e chumbar outras. E parecia que as coisas estavam bem encaminhadas até que ressurgiu o caso FNLA, onde as eleições, por si só, não encerraram em definitivo o assunto, tendo o Tribunal Constitucional, em função das várias reclamações a ele dirigidas pelas partes envolvidas, comunicado um acórdão em que repunha a situação ao último congresso convocado pelo finado Holden Roberto.
Em 1998 Lucas Ngonda entrou em colisão com Holdenm Roberto por este nunca lhe passar pela cabeça a realização de um congresso. Ngonda criou uma quinta coluna e realizou um congresso que o elegeu presidente. Do outro lado permaneceu Holden e a sua entourage, com Ngola Kabango como actor principal da “orquestra”. O partido passou a ter duas sedes, uma na rua Samuel Bernardo e outra na Hoji-ya-Henda.
Uma mediação, composta por William Tonet, igreja e companhia, convenceu as partes para partirem para um congresso da unificação, realizado em 2004, onde a direcção ficou repartida entre as duas alas, ou seja: Presidência para Holden Roberto; 1ª Vice-Presidência para Lucas Ngonda; 2ª Vice-Presidência para Ngola Kabango e a Secretaria-Geral para Francisco Mendes (um correligionário de Ngonda). Este elenco teria de coabitar até à realização de um congresso ordinário nos dez meses seguintes, o que não aconteceu, pois o velho Holden assim não entendeu, resultando numa nova “rebelião” de Ngonda e parceiros que dois anos depois, realizou outro congresso à parte.
Com o líder fundador morto, Ngola Kabango, sentindo-se substituto natural, parte, finalmente, para um congresso em que não participam os da ala de Ngola e proclama-se presidente (herdeiro do programa de Holden). O congresso teve a participação e candidaturas de Carlinhos Zassala, Miguel Damião e um outro candidato. Todos eles reclamaram da organização e fraude, remetendo ao Tribunal Supremo a impugnação do conclave.
Em 2009, o Tribunal Constitucional, herdando os processos do Tribunal Supremo, através de um acórdão, remeteu a situação da liderança da FNLA ao congresso da reunificação, o último convocado por Holden Roberto, facto que fez transitar a presidência legal das mãos de Kabango para NGonda que acaba de convocar, nas vestes de presidente interino o congresso extraordinário, hoje (07.07.2010) terminado.
O que me inquieta é que mesmo os jornalistas e os órgãos de comunicação social conhecendo a realidade e a conturbada história desta formação política, em vez de procurarem por esclarecimentos legais e esclarecerem o povo, voltaram a embarcar na bi-cefalia do partido, ouvindo Ngonda e Kabango, ambos como presidentes.
E o povo que espera por um esclarecimento da media como fica? E pior é que Ngola Kabango grita aos quatro ventos ser o presidente legal prometendo um outro congresso para Novembro do ano que vem…
_ Continuará a FNLA ad eternum na condição de um partido onde as pessoas nunca se entendem?
_ E como fica a questão da obediência partidária dos deputados eleitos, dentre eles Ngola Kabango?
_ O partido continuará a ter uma sede na rua Samuel Bernardo e
Outra na Avenida Hoji-ya-Henda?
Eu, modestamente, até já sou pela extinção desta “batata podre” que pode contaminar outras “batatas” partidárias.