=Homenagem ao Pedro Menezes=
Tentei ao longo dos 5 anos, completados hoje, não falar, nem escrever sobre os meus últimos momentos com o finado amigo Pedro Menezes. Foi por força da grande dor e vazio que deixou em mim. Porém, por nos terem atribuído acções inverídicas, trago à luz os nossos derradeiros momentos.
À hora da mudança de turnos (13horas) cruzámos no pátio. Polaco Pedro, Pedro Menezes, Lito Costa e eu.
_ Comué, hoje há? - perguntou o Pedro ao Polaco ao que ele acenou afirmativamente.
- Yá, então logo a concentração é aqui. - Continuou o Pedro, desta vez olhando para o Lito Costa. Próximo da cabine estava o Adilson Santos que é colega de Lito, sendo eu e o Pedro Menezes funcionários da mesma área. O Polaco é amigo comum, pois tem um programa independente na LAC e lida quer com jornalistas, quer com os técnicos (sonoplastas).
Lito e Adilson combinaram, à parte, a hora da largada. Cada um tinha o seu carro e não precisavam de favores. Pedro e eu combinamos na redacção, depois de termos, antes, reclamado das impertinências da Amélia de Aguiar sobre os estacionamentos do Pedro Menezes.
Momentos antes a Amélia abordara o Pedro sobre a sua manobra que, a seu ver, revelava inexperiência de condução automóvel. E tudo aí morreu.
_ Comué Canha, vais hoje ao colégio (ISPRA)? - indagou-me.
_ Não. Só na sexta-feira é que vou entregar o pedido para a confirmação da matrícula, - respondi-lhe.
Estávamos no dia 31 de Maio. Tinha eu chegado havia dez dias de Lisboa e era o nosso primeiro momento de conversa.
_ Então, já ouviste a conversa do pátio... o teu carro está bom? - voltou a questionar-me o Pedro.
_ Ainda, mas... é melhor ir no teu...
_ Yá, então pede já a Elsa e depois confirmas.
_ Não tem maka, - respondi. Estou a me comportar pra caramba!
Assim nos separamos às 15h10. O destino seria a vila de Viana, à noite. À casa do Polaco ou à discoteca Múkua. Era a terceira vez que Menezes e eu iríamos procurar os amigos de Viana, o Polaco Pedro, O Zé Assis e o Zé do Múkua.
Tentei ao longo dos 5 anos, completados hoje, não falar, nem escrever sobre os meus últimos momentos com o finado amigo Pedro Menezes. Foi por força da grande dor e vazio que deixou em mim. Porém, por nos terem atribuído acções inverídicas, trago à luz os nossos derradeiros momentos.
À hora da mudança de turnos (13horas) cruzámos no pátio. Polaco Pedro, Pedro Menezes, Lito Costa e eu.
_ Comué, hoje há? - perguntou o Pedro ao Polaco ao que ele acenou afirmativamente.
- Yá, então logo a concentração é aqui. - Continuou o Pedro, desta vez olhando para o Lito Costa. Próximo da cabine estava o Adilson Santos que é colega de Lito, sendo eu e o Pedro Menezes funcionários da mesma área. O Polaco é amigo comum, pois tem um programa independente na LAC e lida quer com jornalistas, quer com os técnicos (sonoplastas).
Lito e Adilson combinaram, à parte, a hora da largada. Cada um tinha o seu carro e não precisavam de favores. Pedro e eu combinamos na redacção, depois de termos, antes, reclamado das impertinências da Amélia de Aguiar sobre os estacionamentos do Pedro Menezes.
Momentos antes a Amélia abordara o Pedro sobre a sua manobra que, a seu ver, revelava inexperiência de condução automóvel. E tudo aí morreu.
_ Comué Canha, vais hoje ao colégio (ISPRA)? - indagou-me.
_ Não. Só na sexta-feira é que vou entregar o pedido para a confirmação da matrícula, - respondi-lhe.
Estávamos no dia 31 de Maio. Tinha eu chegado havia dez dias de Lisboa e era o nosso primeiro momento de conversa.
_ Então, já ouviste a conversa do pátio... o teu carro está bom? - voltou a questionar-me o Pedro.
_ Ainda, mas... é melhor ir no teu...
_ Yá, então pede já a Elsa e depois confirmas.
_ Não tem maka, - respondi. Estou a me comportar pra caramba!
Assim nos separamos às 15h10. O destino seria a vila de Viana, à noite. À casa do Polaco ou à discoteca Múkua. Era a terceira vez que Menezes e eu iríamos procurar os amigos de Viana, o Polaco Pedro, O Zé Assis e o Zé do Múkua.
Posto em casa, pedi à mulher para me ausentar à noite. Ela não colocou entraves, pois sairia com alguém por quem tinha confiança. O Pedro não fazia uso de bebidas alcoólicas nem qualquer substância psicotrópica. Aguardei por ele e apareceu sozinho, às 22 horas, vestindo um terno preto, o que motivou a Elsa a aconselhar-me a usar um casaco preto que tinha trazido de Lisboa, devido ao frio. Minutos depois partimos. Era da LAC que sairíamos em coluna. Antes, aos congolenses apanhamos o Mateus Gaspar.
No local da concentração, no largo da LAC, onde o Adilson e um irmão mais novo nos aguardavam, decidiu-se que iríamos ao Cassenda visitar o Mário Inácio que fazia anos naquela noite. Assim foi. Uma hora e meia foi quanto gastamos em casa do Marito Perez Inácio. De saída, numa rua próxima do terminal de cargas da TAAG, uma festa tinha sido interrompida pela ausência de energia eléctrica. Dela saiam muitos jovens estarrecidos. Entre eles uma colega, Rosemary Vieira, acompanhada de irmã, Ana Vieira e uma prima.
Depois de se informarem do nosso destino as duas irmãs decidiram connosco seguir a Viana e passar o resto da noite, ao que acedemos. Rosemary e a irmã seguiram no carro do Menezes e o Mateus Gaspar passou para o carro do Adilson. Era a primeira vez que víamos a Ana Vieira que ao longo do percurso se mostrou indisposta queixando-se de uma dor de cabeça. Quase não conversou.
O destino era a discoteca Múkua. Lá estavam os nossos amigos. Foi uma noite muito animada, pois cairia num feriado, 1º de Junho. O Menezes procurava por motivos de reportagem cultural. Eu queria apenas distrair-me e tomei uns copos. Depois dos anos 90 em que frequentei "dancings" na Precol, nunca mais tinha tido noite semelhante.
Às três da manhã decidimos partir de volta a Luanda. Decidimos partir em coluna, tal e qual na ida. Ordenei que o Pedro seguisse em frente, devido à sua lenta condução que desencorajaria os demais colegas a acelerarem em demasia, e que os que seguissem atrás o não ultrapassassem. Ordenei ainda para que o Pedro não fosse para além dos 80km horários. Todos os condutores concordaram e assim foi até nas próximidades da FTU onde o Adilson ultrapassou o Pedro.
A estrada estava vazia. O Kia Avela inundava-se de frio e a música era suave, ao gosto do Pedro. A Rosemary, que sabíamos era namorada de um colega nosso, estava no banco da frente. A irmã, Ana, adoentada, estava no de trás comigo. Falava-se de coisas vãs, sem memória.
O instante final do percurso foi junto ao monumento ao camionista, à Avenida Deolinda Rodrigues, junto ao cemitério da Sant'Ana. A roda dianteira esquerda do carro transpôs o lancil. O Pedro despertou e puxou o volante à esquerda, mas em demasia e o carro subiu o lancil contrário. O exercício acontecia em fracções de segundos e nem tempo tivemos para palavras. Assisti lúcido aos acontecimentos. A terceira tentativa de pôr o carro no eixo da via foi a fatal. Uma árvore, à esquerda, acolheu-nos. A Ana e a Rosemary choravam. Eu as encorajava sem saber das lesões internas contraídas. O Pedro expelia o último fôlego da vida. Sem esperanças contive-me em assisti-lo partir...
Momentos depois, o Victor Hugo Mendes reportava para a Rádio Luanda o sucedido. Foi quem tudo fez para que houvesse socorro. Surgiu primeiro um carro patrulheiro da polícia e depois os bombeiros que tentavam, a custo, retirar-nos da viatura que abraçara a árvore. Primeiro arrombaram as portas, depois o tejadilho e nada conseguiam. O carro estava encolhido. Com a voz que me restava ainda aconselhei esticarem o carro, o que fizeram com sucesso.
Já mais de duas horas se tinham passado desde o acidente. Esticado o carro, levaram primeiro ao hospital o Pedro que já era cadáver. Seguiu-se-lhe a Rosemary e depois a Ana. Fui o último transportado numa carrinha de patrulha policial. Em vão, ainda pedi aos polícias que me levassem ao Hospital Militar.
No Josina Machel, jogados ao cimento, a Rosemary Vieira ainda chorava a sua dor e a perda do Pedro que estava inanimado. A Ana recebia os primeiros cuidados. E eu, aí na cadeira de rodas ou maca, sentindo as dores que me derrubavam a coragem.
Depois da cirurgia, e ainda sob os efeitos da anestesia, soube, pela Televisão Pública de Angola, que a Rosemary também tinha morrido. Da Ana nunca mais ouvi falar apenas os dizeres acusadores do povo sobre uma cumplicidade que nunca houve...
Luciano Canhanga
4 comentários:
Mas que triste história, meu amigo. E vivenciaste tudo no local do acontecido, tendo participado da tragédia, onde segundo o que disse, ainda as más linguas teceram falsas acusações contra ti e Ana... Espero que a verdade já esteja esclarecida, apesar de valer mais a vossa consciência tranquila do que a opinião popular.
Um grande abraço!
Adriano Berger
Uma narração com a força literária suficiente (meu juízo é subjectivo) para se ler de uma só sentada! Concentro-me nisso apenas que julgo entender... Abraço!
Muito se disse na epoca. lembro-me como se fosse hj. Mas terá sido o Victor Hugo Mendes ou o Almir a narrar para a RL - Radio Luanda. Sei que isto não importa agora, mas ... Força, as más linguas não derrubam os rectos de pensamento. Infelizmente é asim no mundo ( as vezes surreal) do jornalismo da banda.
Mv
Seattle- EUA
Epá,
Quem sabe esteja a cometer uma incorrecção quanto ao repórter. Mas que era da Rádio Luanda era.
MV, ajuda-me esclarecer...
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