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segunda-feira, maio 25, 2009

PALAVRA MINHA

Hoje apago velas. Aos cinco anos ingressei na OPA. Era um ingresso directo que coincidia com a entrada na pré-escolar ou iniciação. Foi em 1981 na aldeia de Calombo, que distava sete quilómetros da fazenda Israel onde meus pais residiam e trabalhavam que tomei o primeiro contacto com um professor.
Depois mudamo-nos para o Rimbe. Terra nova, pouco habitada e sem escola. O percurso para fazer a primeira classe era de aproximadamente 4 quilómetros, pois a aldeia/fazenda de Israel tinha ganho um professor que trabalhava num antigo estábulo bovino improvisado de sala de aulas que acolhia pioneiros da pré à quarta classe. Era nosso guia o Zé Borracha.
Depois mudou-se o professor e o local da sala de aulas. Sempre uma para cinco classes. Estávamos no ano de 1983 e era professor Jorge Manuel Carlos "Caconda", também ele meu primo, tal como o Zé que fora marido duma prima minha, a Rosa Manuel. Estudávamos na mesma fazenda, mas noutro acampamento, junto ao campo de aviação. Quem conhece a Pedra Escrita conhece os locais. Em 1984 ainda com o professor Jorge a escola mudou-se para um descampado que intermediava a aldeia de João Salomão e do Velho Azevedo. Frequentava eu a terceira classe. Foi o melhor ano do ponto de vista do aproveitamento, mas o pior em termos de estabilidade miliotar. E começava a compreender as tantas vezes que o professor se escondia e furtava-se à missão de nos ensinar o que ele dizia ter vointade de transmitir. Queriam-no para as matas e ele negava-se curvar-se. Mantinha a verticalidade e sofriamos todos. Várias noites foram de regadio chuvoso, nas matas. Muitos quilómetros, à pé. Deslocamentos e refúgios até que fomos a Luanda, ainda em 1984, carregados nas traseiras de um Ural militar...
Quem vive ou for a Luanda se perguntar a alguém que esteja acima dos trinta anos o que é/foi sabão "cocó", certamente encontrá alguém que lhe explique.
Sabão cocó eram restos industriais da fábrica de óleos e sabões Induve, em Luanda que os populares apanhavam, acrescentavam mais água e soda e desta mistura obtinham uma espécie de detergente líquido, mas bastante agressivo para a pele. Este produto eu comprei e vendi com os meus 10/11 anos.
Eram tempos difíceis, tal como retratam as peripécias vividas pela "Maria Coragem". Baptizado nas vivências de Luanda durante 3 anos, fui, contra vontade, enviado a Calulo onde a diferença social me transformariam no "jovem ideal" e vivi com um primo alfaiate (Gonçalves Carlos) tendo com ele aprendido a arte de talhar tecidos e costurar. A alfaiataria marcou os anos de 1987/90.

A guerra, porém, e o desejo de transpor a sexta classe fizeram-me viajar, mais uma vez para Luanda, tendo feito continuidade à alfaiataria com outro tio, Ramos Ngunza, e feito um curso de electricidade de baixào tensão. Transcorriam os anos de 1991/92. Luanda vivia a euforia dos acordos de Bissesse que puzeram fim à guerra entre MPLA/Governo e UNITA.
O povo fartava-se de rir, pelo menos em Luanda quando no interior o medo tomava conta daqueles que se tinha abstido das matas e das rapinas. De repente os militares de farda verde, e comandos castrados tomaram conta dos hoteís onde bangozamente viviam vidas nunca ensaiadas em solo pátrio. Os comités pilotos substituíram o trabalho da polícia e uma simples queixa podia resultar em morte sumária. Da televisão e radiofusão ecoavam ameaças de somalizar ou incendear...
Em 1992 fiz a minha estreia como educador primário. Primeiro dando aulas de superação (explicação) e depois no ensino público. Da minha improvisada escola de superação nasceram empregos para amigos.

Em 1997, terminado o médio de jornalismo, comecei a trabalhar como jornalista na LAC e hoje já são tantas as publicações em que tenho impressão digital ou vocal. Hoje estou aqui como responsável da área de comunicação institucional de uma grade empresa (risos), pelo caminho fui estudando e parando, mas sempre pensando no avanço. Parar é morrer!

Tenho duas licenciaturas por defender; uma no ISCED e outra na UPRA mas se houver vida uma delas conseguirei.

Tal como muitos sofredores e vencedores desta Angola, sempre defendi que filho de pobre tem apenas duas saídas: aprender profissão/ões e aumentar o nível técnico/académico.

Deus e o meu esforço permitiram com que homens de boa vontade me pudessem ajudar (mantendo=me empregado), mas tal como diz um ditado popular da nossa região, "quem se afoga deve ajudar o socorrista".
Um abraço.

Luciano Canhanga

5 comentários:

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

"Feliz aniversário, a festa em teu lar, queremos felizes festejar".

Espero que não sejas daqueles q odeiam aniversários pelo aumento inerente à idade (as mulheres completam 35 anos a partir do 42º aniversário, já dizia o escritor).

kanuthya disse...

Abraço carinhoso de parabéns, Canhanga! Não apenas pelos anos cumpridos, mas pela pessoa que se constrói a cada dia que passa :)

Soberano Kanyanga disse...

Obrigado ao Patiisa e a Kanuthya. Ques Deus nos dê saúde!

Anónimo disse...

Parabens meu Filho Kibaleiro.
Muito Obrigado pelo teu carinho e muita força!
São sabugueiro

Carol disse...

Comemora teu dia, amigo!
Nossa amizade é um tesouro precioso para mim, e sei que é recíproco o sentimento...
Viva em plenitude por mais estes 365 dias que o Criador te oferece gratuitamente e seja muito feliz!

Obrigada por estar ai, bem ao lado...do outro lado do Atlântico!
Nadarei até ai sempre que possa, prometo!

Um beijo, fica na paz,
Carol Vicente