_ Toninho, vai de avião!
Teimoso, apanhei o autocarro Luanda/Huambo para depois fazer o Huambo/Kuito, num percurso total aproximado a 800 km.
Luanda/Maria Teresa (K-Norte) em Boa estrada, diga-se, foi o primeiro trecho a que se seguiu Maria Teresa/Dondo em estrada “andável” (muito estreita, porém já sem os buracos e em alargamento). O futuro pode torná-la numa “pista”, dizem os que a frequentam com regularidade.
Dondo/Kibala (K-Sul) é um trecho igualmente impecável sob responsabilidade da brasileira QG e que trás à memória dos mais velhos os tempos da “Junta”. Para os mais novos a lembrança é das manutenções que nos idos de 1980 trabalhadores afectos ao MCH efectuavam.
E seguimos viagem. Pelo caminho algumas paragens obrigatórias montadas pela polícia e sem explicação aparente. Zenza do Itombe, Desvio da Munenga/Calulo, só para citar exemplos. O pretexto é único: Dinheiro para alimentar os caprichos dos agentes da corporação.
-Sete mil. Pagar ou deixar a carta e apanhá-la em Calulo, disse descaradamente um sargento da corporação ao motorista, no desvio da Munenga.
Pretendendo evitar outros
A viagem retoma. Por enfrentar ainda os controlos do Kizouo e Nhia, antes do Waco Kungo. O sol atinge o “ponto G”, a traça apodera-se do estômago e a conversa bocal é sucedida pela conversa do motor a diesel até Kibala onde termina o novo asfalto. À música automóvel junta-se agora a dança dos buracos. Estamos a caminho do Waco.
A mesma QG e outras empreiteiras se esforçam em cumprir os prazos dados pelo governo, mas a chuva impede o andamento acelerado da empreitada. E as bocas voltam a ter motivos para comentar. A velocidade diminui e o sol acelera o seu passo para o poente. Passa-se pelo Waco, atravessa-se a ponte sobre o Queve e retoma-se a negrura asfáltica. Dizem os conhecedores da zona que assim seria até ao Alto Wama, Comuna do Londuimbali/Huambo, passando por Kassongue, Vila Franca, Ngalangue, entre outros aglomerados do Kuanza-Sul.
“Daqui também se vai ao Kuito passando por Bailundo”, aconselha uma nativa. Mas o anoitecer convida-nos, eu e meu tio Alberto, a seguir ao Huambo, cidade mais segura em termos de dormitório. A intuição transforma-se em razão, pois já passava da hora 22 quando o autocarro, com avarias pelo caminho, escalou a antiga Nova Lisboa, também em franca reconstrução.
E as primeiras informações davam-nos conta da paralisação da cidade no dia anterior, devido ao funeral do empresário Amões que morrera num acidente de aviação. Ele, contavam, era o maior investidor da província e da região central.
Entre sonhos e insónias a noite foi passada numa pensão citadina, com direito a pequeno almoço à saída (foi pena termos saido às cinco da manhã).
Já na sexta-feira 25 de Fevereiro, a maratona para o Kuito começou com os kupapatas (moto-taxi), do albergue à paragem dos carros.
A viagem mostra-nos obras e também desilusões. Muito ainda há por fazer. Caia chuva e a velocidade de 60/80 km/H reduziu-se para 20/30. Os buracos falam alto e o corolla quase rastejava. Precisamos de 3 horas para chegar ao Cisindo onde fomos acolhidos em apoteose pela família Salongue.
1 comentário:
Com correcções, publicada no semanário Cruzeiro do Sul de 12 de Abril de 2008.
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