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terça-feira, junho 22, 2021
WAKYUKILA KWAMAMÔ
terça-feira, junho 15, 2021
ESTÓRIAS À MARGEM DO CUEBE
terça-feira, junho 08, 2021
O RIO QUE SEPARA KK DA HUILA
Agora que "as terras do fim do mundo" parecem proximas e já são apelidadas de "terras do progresso", apesar da sua enorme extensão e com alguns círculos a reclamar divisão em duas províncias, há quem olhe para a designação da província e para os marcos que lhe dão o topônimo (Kwandu-Kuvangu) e faça sair um novo grito.
terça-feira, junho 01, 2021
A KATOMBELA E O LOPITO QUE NEGA SER BG
(Ponto prévio: não gaste em vão sua pedra).
domingo, maio 30, 2021
AMEKO
Quando cheguei a Quilengues, terra de meus amigos e colegas de profissão, as jovens que encontrei a aproveitar a sombra da "árvore grande", que em Luanda chamam mulembeira, perguntaram-me:
segunda-feira, maio 24, 2021
À BUSCA DE PEDAÇO DE PÃO FÁCIL
Todos somos filhos de Deus, aliás, cidadãos luandenses e cada um de nossos administradores procura pelo seu *pedaço de pão fácil*.
segunda-feira, maio 03, 2021
O MEU PRIMEIRO COMISSÁRIO
Quando conheci o primeiro comissário municipal (presencial e nominalmente) já estava a caminho dos 13 anos. Foi em 1987, em Kalulu. Outros apenas ouvia falar. Nunca os tinha visto. Até mesmo aquele que (se conta), que, na Munenga, ao fugir da Unita "viu a gola do seu casaco presa em espinhos e, pensando que fora alcançado, implorou prostrado que o soltassem, dizendo que já havia cessado o comissariado e aguardava apenas pelo substituto para entregar as pastas", nunca cruzámos caralmente.
quinta-feira, abril 29, 2021
UM "SÓSIA" EM MALANJE
quinta-feira, abril 22, 2021
A MULHER QUE PERCEBIA AS FORMIGAS
Caminhava exausta pela savana. Era tempo chuvoso e capim alto a mostrar apenas as cabeças de pessoas altas. O sol, bom para alegrar a vida e as sementes a querer ser vida, brilhava no alto dos céus de meio-dia, fazendo-a caloriar[1] como se tivesse atravessado um dos imensos rios a nado.
Perto de uma pequena floresta, onde pacaças e alguns elefantes buscavam
sombra, encontrou um animal inanimado, mas ainda com sinais vitais. Aproximou-se
corajosa, sem espingarda, nem catana, e verificou que a pacaça tinha sido
atacada por um crocodilo.
- Há carne para conduto, há "mahaki"[2], há pele para alparcata,
há chifres para soprar e levar mensagem distante. Haverá festa nas aldeias
todas. - Disse a formiga sortuda.
Com auxílio de um pau e uma pedra, desmontou um dos chifres do animal e fez
uma corneta. Ganhou mais força ainda. O cansaço que trazia tinha sido
literalmente anulado pelo achado. Era só a festa que lhe corria no sangue.
Subiu ao topo de uma kamunda[3] que se achava no centro de
cinco aldeias e gritou com toda a força que permitia o seu diafragma:
- Vocês aí, nessa aldeia onde se põe o sol, tragam baldes, facas e homens
fortes. Temos pacaça.
Virou-se à nascente:
- Mwa mama, lyatata. Tokano. Ambatano
l'ombya phala masaki ly langinga. Utana ly laphoko mwaxyale![4]
Ao norte e sul fez mesmos apelos e, num correr de pouco tempo, a floresta
encheu-se de homens e mulheres corajosos, cheios de vigor e vontade de uma rica
funjada de miudezas regada com maluvu[5].
As mulheres acondicionaram o sangue, o fígado, o coração, os rins, pâncreas
e pulmões em panelas. Com a água trazida nas cabaças as jovens raparigas
lavaram as tripas e os intestinos para a confecção de jinginga[6].
Os jovens, rápido acenderam uma fogueira para os assados de primeira hora,
enquanto os makota[7]
planificavam e repartição do animal pelas cinco aldeias. Depois seria a gestão
de cada soba, dividindo a parte a receber por cada lar da sua comunidade.
Essa cena já leva milênios. Porém, até hoje, quando a mulher se senta de
baixo da árvore do seu terreiro, a catar os piolhos na cabeça da neta, vem-lhe
à memória o grito, daquela formiga que achou no meio do capim uma mosca e
chamou todos os seus semelhantes das aldeias à volta para carregarem e
repartirem a carne do grande animal que era a mosca.
[1] Transpirar.
[2] Sangue para sarrabulho
ou para colorir a jinginga (Kimbundu).
[3] Monte, elevação ou
pequena montanha (Umbundu).
[4] Mulheres e homens,
venham. Tragam panelas para o sangue e as miudezas. Não esqueçam de trazer
catanas e facas Kimbundu).
[5] Vinho de palma ou
seiva de palmeira (Kimbundu).
[6] Miudezas: tecidos do
tubo digestivo, fígado e outros órgãos internos (Kimbundu).
[7] Os mais
velhos (Kimbundu)
quinta-feira, abril 15, 2021
O COCO[1] QUE DIZIMOU OS PIOLHOS
Um conterrâneo da Kibala, recuando no tempo, narrou episódios da nossa infância que é transversal a uma geografia que envolve os municípios à volta do Libolo e Kibala e num tempo que, se calhar, morre em 2000, podendo prolongar-se em algumas aldeias recônditas. É o nosso feudalismo que pouco há de escrito, dada a fraca imersão na nossa etno-sociologia e etnografia.
Quando nos debruçamos a estudar a história
clássica e medieval de Roma e Grécia, recaímos, invariavelmente, em episódios
angolanos do Séc. XX, em nossas aldeias interiores.
É exemplo a mãe que "cata" piolhos ao
filho, aproveitando adormecê-lo, podendo usar duas fórmulas: cantando e
catando.
Vivi esse tempo. Algumas mães, no escuro da
noite, sem saber se o achado por seus dedos entre o cabelo alto e sujo é ser
vivo ou grão de areia, levavam-no ao dente e largavam depois, um rio de saliva.
Vivi ainda do tempo da bitacaia[2], pulga de javali ou porco
doméstico que adentrava os terminais de nossos dedos e calcanhares. A comichão,
lenta e incómoda, resultava em dor da ferida escancarada, depois de extraído o
animal hóspede oportunista com a ponta de um alfinete ou de um pau aguçado.
Mas o meu conterrâneo contou mais e recordou-me
o seguinte:
Noite sem luar na Kibala ou outra aldeia do
circuito ambundu kwanza-sulino. Nas terras mais a sul e ou norte o cenário
também pode ser idêntico.
O archote é lamparina na cozinha escura. A
kizaca, peixe de agua doce ou carne de caça ferve na panela de barro. Há fumo
largado pelas lenha que reclamam por mais dias de seca ao sol. Mas quando a
lenha seca rareia em tempo de chuva é a semi-seca que se leva à fogueira. No
escuro e fumegante da cozinha a mãe pede:
- Mwiha mwombya (alumiar para a panela).
Na atrapalhação, o rapaz tanto alumia como deixa
cair na panela a ponta do archote ardido, já em forma de cinza.
- Nzayá, matubá, matondoá![3] -Dispara a mãe impaciente,
complementando a emenda com um valente "coco" que mata uma dúzia de
piolhos e lêndeas na cabeça do infante.
- Kwolule (não grita). - Adverte, prevenindo
para que não se acabem, de uma só vez, os piolhos todos na cabeça com outros
cocoricos.
Terminada a confeção do "kondutu"[4], é a vez da panela do
funji/pirão. O cuidado é redobrado. Em fuba branca, a cinza preta do archote é
vinho tinto em toalha imaculada.
-
Mwiha kyambote. - Adverte a mãe.
E o infante, com um grito adiado ou reprimido da
primeira pancada, lágrimas do fumo nos olhos, comichão na cabeça dos piolhos
famintos de sangue, acende, de novo, o archote que aproxima delicadamente à
panela de barro para a qual o fogo chia.
- Mwiha!
-
Ñi mwiha a mama!
-
Mwiha kyambote.
Depois
o repasto: as meninas na cozinha ou fora dela, no terreiro da casa, com a mãe,
quando há luar. Os homens na sala ou no njangu. Rapazes juntos.
O
rapaz quando não vai à escola da vida, o njangu, volta a reclamar o carinho materno,
"lambicando" como cão que se deita sobre a cinza quente da fogueira
recente. Dobra-se à frente da mãe que "jijina"[5] lêndeas, piolhos ou grãos
de areia escondidos no cabelo a reclamar por uma tesoura.
Contando
anedotas, ou canções do seu tempo de menina, a mulher afugenta os males e a
infra vida que a pobreza impõe, adormecendo o infante para uma nova aurora e
lavoura.
Tal
como a geração do último quartel do Séc. XX, as nossas crianças continuarão a
ler a história clássica e o feudalismo greco-romano. Quanto às nossas vivências
que são recentes, restarão poucas crónicas!
Soberano Kanyanga
quinta-feira, abril 08, 2021
UMA CODORNADA AO FERIADO
Mangodinho, na vida dele de homem com careca no lugar de cabelo branco, lugar de peixe é no rio assim como o javali é na mata. Na adolescência tentou criar um macaco na jaula e perdiz na capoeira. O tiro saiu-lhe pela culatra. O macaco fugiu na primeira oportunidade em que viu floresta e sem cinto à cintura. Até a perdiz que já aprendia a cacarejar com as galinhas, meteu-se no mato e jamais voltou ao convívio doméstico.