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quinta-feira, julho 10, 2014

RETRATOS de LUANDA

Na estrada: não importa a marca do carro nem a cilindrada para ver que no congestionamento do trânsito, em Luanda, os utentes da via acabam sendo iguais. O stress é geral. Tenha ou não AC, potência para cavalgar sobre os buracos ou música soft. Os rostos estão sempre carregados e a boca pronta a despejar impropérios contra quem use da esperteza para ganhar posições.
 
Debaixo da ponte: a jovem sentada sobre a caixa térmica e vendendo água, refrigerantes e ou cerveja lê, anota no caderninho escolar e prepara-se para um futuro longe da venda. Enquanto atende, esboça um sorriso semelhante àquele largado pela empresária que fechou um negócio milionário.
 
Atravessando a via: o jovem é roboteiro (do russo rabota=trabalho) e carrega, por cima dum rudimentar carro de mão, um grande embrulho. Sujo e calçando chinelos sem cor, esfomeado talvez, sorri abertamente, invejando executivos em escritórios climatizados. Quando se gosta do que se faz não há trabalhos entristecedores.
 
Amor de mãe: vende laranjas debaixo da ponte. Ao pé do negócio, engatinha o kasula tendo como bola uma laranja que aprende a jogar. Ao lado, outra senhora descontraída, sentada sobre o balão de roupa de fardo, trança a amiga que agarra nos braços o mona da companheira. Contam-se episódios da última novela televisiva e, quase abraçadas, mostram os caninos, incisivos e molares.
 
É a vida: alegre quando queremos e gostamos do que fazemos. Não é o dinheiro que a torna feliz. É a forma como a aceitamos!

De baixo da ponte, ainda (pedonal): incautos ignoram segurança proporcionada pelo governo e arriscam vidas. Polícia regula os kandongueiros, atravessados, quase perpendicularmente, na via. E manda o trânsito parar para pedestres deixar passar. Quê isso, sô polícia? Não vê que o lugar deles é por cima da ponte?!

Texto publicado pelo jornal Nova Gazeta a 17/08/2017

terça-feira, julho 08, 2014

AS ESTRATÉGIAS DE AVRAM CHOMSKY E A CULTURA QUE A MEDIA NOS VAI DANDO

Obs: qualquer semelhança com o que se passa na "nossa casa republicana" é mera coincidência.

Depois de Maquiavel ter escrito e publicado o tratado dos detentores de poder "monárquico" ou pró-monárquico/autocrático que tem sido a bíblia dos ditadores e longevos no exercício da governação/subjugação, outro grande autor que não aconselha o uso de meios violentos para governar, mas cujo tratado acaba sendo pior do que a "tirania" aconselhada por Maquiavel é o filósofo e linguista estadunidense Noam Chomsky com a sua  lista das “10 estratégias de manipulação” através da media:
1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e económicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranquilas')”.

2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a ideia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranquilas”)”.

6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar ideias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranquilas’)”.

8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto desvaloriza e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!

10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.
 

sábado, julho 05, 2014

O ONTEM COGNITO E O HOJE

Hoje deu-me vontade de escrever sobre:
- O tempo em que algumas pessoas pediam "trapos" emprestados de amigos e parentes para irem bem apresentados às festas, eventos e ou mesmo à igreja. Era tudo pedido e entregue com naturalidade. Ninguém se embirrava ou fofocava.
- Quando os fogareiros com esticadores na brasa preenchiam as vagas dos inexistentes salões de beleza;
- Quando havia manos a usarem o mesmo par de sapatos para a escola, esperando-se na esquina combinada para a troca dos pisos.
- Quando os homens cortavam-se o cabelo uns aos outros, evitando as barbearias que não eram para todos.
- Quando o arroz era medido em copos antes de ser colocado na panela, havendo, entretanto, mais comida para visitantes e vizinhos famintos. Hoje grande parte da comida vai ao lixo.
- Quando a água era transportada à cabeça ou nos carros de mão, a grandes distâncias, mas havia sempre um copo de água para o transeunte acossado pela sede. Até água fresca havia para o vizinho chegado do serviço…
- Quando moedas metálicas ainda tilintavam nos balaios das igrejas e quase todos os templos tinham órgãos e pianos.
- Quando as crianças choravam para não faltarem à igreja ou actividades religiosas como a EBF (escola bíblica de férias). Hoje algumas têm de ser pagas para acompanhar os pais à igreja!
- Quando não havia carros para todos. Nem táxi e nem boleias, mas os ensaios dos coros aconteciam a hora certa e quase faltava espaço na igreja para acomodar os coros.
- Quando os pastores tinham tempo para aconselhar a comunidade e os jovens, sobretudo, e eram “espelhos” perante as suas “ovelhas”.
- Quando os pais o eram de facto, servindo de exemplo, de educadores e conselheiros para toda a miudagem.
E hoje?

terça-feira, julho 01, 2014

SEGURO OBRIGATÓRIO: UMA "KIBYONA" DE MESTRE?

 
Até agora ouvi tanto mas todas explicações sobre a obrigatoriedade do seguro automóvel contra terceiros passaram ao largo. Ninguém me convenceu.
Entendo que o mercado tem de estar regulado e normalizado. Os culpados pelos sinistros têm de transferir a responsabilidade do ressarcimento às seguradoras... É assim que se opera noutros países e Angola não pode ser ilha num mundo global.
 
Porém, dizer que "querem diminuir os acidentes e os congestionamentos com a obrigatoriedade do pagamento do seguro automóvel" é conversa para boi dormir. Sejam directos. Digam que querem ir ao bolso do cidadão, que não tem transportes públicos fiáveis e em condições e forçado a comprar carro para chegar ao serviço, para engordar bolsos de particulares embora o Estado arrecade algum dinheiro com o pagamento de impostos por parte das seguradoras. Digam que querem ver todos de joelhos e de rastos. Como é que chegarão ao serviço os moradores do interior dos bairros do Osso, Nguanhã, Fu-Bu,  Mundial, Kasumuna, Caop-Cacuaco, Honga, etc.? Mesmo que os queiram ver todos  "maconizados, turizados e teculizados" haverá já transportes em quantidade e qualidade a circular por todas as ruas de Luanda? Inventem outra e não venham com falácias.
 
Os verdadeiros argumentos são: os donos das seguradoras estão sem kumbu e o Estado pode recolher mais impostos, dando lufada de kwanzas a esse sector da economia.

E, a propósito, qual será a próxima? Privatização das rodovias?

domingo, junho 29, 2014

NZONJI DERRADEIRO


- Me larga. Ó mana, me larga só. Tira a mão da minha camisa, pode rasgar. Estou a falar ´mbora a minha verdade. Não te fiz nada de mau. Não te devo dinheiro, nunca te maldisse, nunca entrei na tua casa... por que me persegues e me prejudicas, ó mana desgraça? - A música expelida pelos altifalantes soava alta. Os munícipes, que já se acotovelavam para passar naquele beco estreito, que leva os Kalulenses ao Bairro Azul, tinham de se esforçar ao máximo para perceberem outras conversas sobre a última chuva de Abril que tinha arrasado a aldeia de Musafu. Na phela[1] do soba, nas abcissas das ruas apertadas, no arreió-arreió[2] e até nos leitos mais íntimos das casas era sobre a última chuva e sobre a chegada do filho do dono do carro arrastado que se comentava.

A vila de Kalulu vivia um dia anormal. Matadidi, o mecânico, tinha perdido o carro dum cliente, arrastado pela fúria da água que desceu da kamunda[3] ao riacho Kambuku, levando tudo o que encontrara pelo trajecto. Nela dos Prazeres, a mulher mais encaixotada do Musafu, teve de se pôr a nado para salvar os filhos e o televisor que engoliam já litros de água, enquanto ela e o amante navegavam entre prazer e mar chuvoso.
Entre o antigo cinema e a casa que já foi comité municipal do MPLA, hoje conservatória dos registos civis, ficava a minha casa. O quintal era amplo, asseado e com muitos visitantes. Uns parentes e outros negociantes que procuravam curtos refúgios do sol ou para dar de mamar as crianças acossadas pela sede e fome.

A rua dianteira, a que nos leva ao Kwame Nkrumah, estava muito cheia. Parecia uma rua de Luanda, com adolescentes que iam e vinham do Instituto, carros e mulheres kitandeiras[4] a preencherem os passeios com magoga[5], bujingangas[6] de vestir e despir roto. Até apitos para o próximo carnaval estavam à venda. Era também no meu quintal que muitos vizinhos da rua de trás, a do Miguel Neto, passavam para atingir a rua principal. Eu era já um idoso, sessenta anos mais ou menos. Não tinha mais a rabujice de hoje. Eu era pacífico e passivo. Ao pé de mim estava um homem a ascender à casa dos quarenta. Cheio de vida e voz firme a pôr ordem na casa. Tinha chegado de visita com uma carrinha carregada de coisas ainda por ver.

Enquanto eu sorria para as pessoas que passavam pelo quintal, umas cumprimentando ou se desculpando por transpor o quintal e outras não fazendo caso disso, ele fervia por todos os poros, reclamando do abuso de fazerem da casa do seu pai um desfiladeiro.

- A vida aqui é assim, filho. Todo mundo é família. Acalma-te. Vai conhecendo as pessoas, ou pelo menos os kandenges[7] que choram pelo quintal. Serão os que te vão oferecer a carne fresca quando tiveres a minha idade. – Aconselhei ao que me deu ouvidos. Tinha inteligência para tal.
- Está bem , pai. Vou cuidar das crias e da hortaliça.
Pegou sementes e lançou-os na sua horta. Pegou milho e distribui-o aos patos, gansos, galinhas e pombos. Estávamos todos em véspera de festa.
Com MMC tinha chegado o meu neto primogénito que começava a ganhar fama de engatatão[8]. Na grande cidade onde moravam as coisas eram feitas precocemente. Aqui não. Há até os precoces, mas tomam juízo e comem a broa do seu trabalho.
- Kutimbe!- Chamei pelo neto.
- Papá!
Fingi não ter ouvido. Dava-me banga[9] ser tratado por vô e repeti a dose. - Kutimbe?!
- Já vou, vô.
- Meu neto! A vida é boa, mas é melhor quando vivida por etapas. Etapas programadas ao detalhe. Olha aqui o teu vô. Careca, dentes incompletos na boca, casa grande, viúvo, quase inválido, mas todo mundo que passa faz vénia, Já viste?
- Sim vô. O chará é Grande na sua pequena vila. Mas eu quero que me ensine a ser grande numa grande cidade.
- Pois bem. Presta então atenção. Tenho umas palavras que te queria dizer no dia do teu aniversário mas antecipaste as coisas. Estava para preparar viagem na semana que vem, quando o mecânico me entregar o jeep. Ouve bem, meu neto: até aos dezoito anos, somos ainda um ovo que não tem vida própria, embora já fora da galinha. Depois disso o pintainho aprende a andar, a fugir, a seguir os conselhos dos progenitores e se vai autonomizando. O melhor é que esse período chegasse aos trinta. Você deve trabalhar e gozar sem chatices de ninguém, tirando o vinho para o vovô. Dos trinta aos sessenta é o período de trabalhar a dobrar, construir um património que não será teu, porque será dela e deles, e depois virão outros anos incógnitos, de velhice e canseira e de desfrute e luta pela vida. A segunda e a terceira etapa da vida têm de ser de grande responsabilidade para que tenhas uma casa e um quintal grande como o meu. Ouviste? É esse o percurso. É esse o caminho que te mostro. Só espero que o encontres.
- Ouvi e vou satisfazer a sua vontade, vô. Obrigado pelo conselho e nunca deixe que o meu comboio descarrile, enquanto estiver vivo.
MMC não era homem de muitas palavras. Era mais conhecido pelo seu pragmatismo. Era de dizer e fazer. Era por isso que a vila toda estava em alvoroço. A fama deixada nos tempos em que fora militar naquelas paragens ainda se mantinha viva e intacta, mesmo entre a geração que nem sequer o conhece pela fotografia.
Avisado pelos mais atentos, o mestre Matadidi pegou um cabrito ainda sem chifres e foi à vila, à casa do cliente que ficou com o carro inundado, desculpar-se e buscar entendimento.
- Pai, bom dia, meu kilamba[10]. Soube da chegada do mano MMC e vim explicar-lhe o sucedido, desculpar-me e prometer que em quinze dias meto a maquina a roncar como no antigamente.
Peguei-o no ombro e trocamos sorrisos. Mostrei-lhe o MMC, todo calmo e a cuidar da horta e das galinhas. MMC abraçou-o de forma inesperada e dentre muitas coisas que lhe disse ouviu-se o “Vim apenas ver o Velho e comer uma galinha”.
O Cabrito ficou amarrado junto à goiabeira e o mecânico juntou-se aos preparativos do que viria a acontecer.
Alertados pela miudagem curiosa que circundava a Power Glic, avô e neto dirigimo-nos à carrinha que gemia a cada quilo que perdia. Estava empanturrada de comidas e bebidas. O resto da família chegaria horas depois para a festa do Kutimbe programada para a casa do avô.
Um pássaro que festejava o raiar do rei sol cantou à janela. Despertei. Uma luzita invadia meu quarto. Olhei para o relógio: seis e meia da manhã. Foi apenas um nzioji[11]. Somente o décimo sétimo aniversário do meu primogénito tinha sido real. Aconteceu a 29 de Junho.

Obs: texto publicado pelo Jornal de Angola, Caderno Fim-de-Semana, 06.05.2018

[1] Palácio, casa oficial do régulo.
[2] Negócio de rua; comércio ambulante e informal.
[3] Montanha; elevação. Do umbundu.
[4] Vendedeiras; do kimbundu kitanda: equivalente a praça ou mercado.
[5] Sanduíche.
[6] Artigos diversos de pouco valor.
[7] Crianças.
[8] Namoradeiro.
[9] Gozo, prazer.
[10] Senhor; amo. Do kimbundu.
[11] Sonho.

 

terça-feira, junho 24, 2014

"ANGOLÊS": NOVA LÍNGUA OU VARIAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA?

Dou continuidade ao debate iniciado na Universidade Lusíada, Instituto Superior da Lunda Sul, onde ministro como convidado a cadeira de LP I e II, sobre as tendências da Língua Portuguesa.

Partindo de estudos sincrónicos e diacrónicos (evolução histórica) das línguas, atentos às tendências, autores como Francisco Edmundo,  G. Bender, Amélia Mingas, entre outros, apontam os desvios visíveis na utilização da Língua Portuguesa em Angola como propiciadores do surgimento de uma "nova" língua a que designam por "Angolês, Português Angolano, Angolanos", etc.
Atendendo que as línguas têm sempre diferentes níveis de utilização (vulgar/popular, padrão/norma e erudito/científico) qual acha que será o desfecho?
 
a) Os desvios à norma (uso popular/vulgar da língua) coabitarão com o uso sincrónico/normativo, sem que para tal surja uma nova língua motivada pelos excessivos desvios à norma.
b)  Os excessivos desvios, os empréstimos/importações de outras línguas africanas (angolanas) e o génio criador/inventivo de novos vocábulos (neologismos) levarão ao surgimento do "Angolês".
c) Pode ser que haja, em Angola, dentro de séculos, uma língua distinta do português, mas ela só será autónoma quando tiver uma norma própria (léxico próprio e normas gramaticais) que a diferenciarão do simples desvio à norma da L. Portuguesa.
 
Está convidado (a) a seguir os comentários debitados no face book e deixar aqui os seus argumentos.
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Armando Graça: Já temos um exemplo concreto dessa evolução em Cabo Verde. O português continua a ser a língua oficial, mas o Criolo cada vez mais se afirma como idioma local.
Os puristas da linguística só têm mesmo que reconhecer o facto. E os puristas (nacionalistas) portugueses só têm de se orgulhar com as várias evoluções do idioma inicial.
Não lhe chamo "original" porque, bem vistas as coisas o idioma Português não é mais que a evolução de um conjunto de idiomas que parte dos Celta, do Latim, do Castelhano, etc. etc. etc.
Portanto, Um viva a todos os povos capazes que "criar" novos idiomas, Angolanos incluídos!!!

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Domingos Manjolo BomAno:  É muito difícil manter a unidade de uma língua que é falada por muitos milhões de pessoas. Assim o português será diverso na unidade.

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Victorino Tchikunda: Caro Luciano Canhanga, tendo em atenção a esses itens avançados, sou de opinião que o "Angolês" é uma necessidade imperiosa, visto que ele está aí nos nossos bairros, na musicalidade do " Kuduro" e na literatura, onde o nosso kota Jacinto de Lemos é dos maiores incentivadores desta corrente ou forma nova de falar-se o portugues, ou melhor pretuguês, " angolês", nos seus livros "Undengue" e o mais recente " Chico Nhô", do qual meu caro LC, vais beber algumas coisas, em outras manifestações sociais, concretamente no meu Sambila e no teu Rangu. É uma realidade. Se efectivamente existir vontade e interesse o "Angolês" irá vingar.
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Luciano Canhanga: Amigo Victorino Tchikunda, nas falas dos meus personagens já há manifestação de "uma língua" distinta do Português "original". Como monitor dessa cadeira sou suspeita em ditar caminhos, mas vou apelando à reflexão. Aliás, é esse o propósito da Academia: levar o estudantes a pensar e agir.
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Victorino Tchikunda: Correcto! Lançar as bases para os futuros linguístas agirem.
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KBgala Gala: Acho que terá vocabulário próprio com a mesma norma. Bom debate Luciano Canhanga.
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Alberto Baião Bebeckson: Se todo povo tem a sua filosofia, o angolano é um povo. Por que não ter também o seu idioma. Mestre Luciano Canhanga, basta olhar-mos para as colónias britânicas e francesas em Áfrika em termos de expressões, difere muito dos seus colonizadores! E o povo angolano é aquele que sempre procurou exprimir a sua linguagem na forma mais aberta de se compreender, isto engendra até o próprio sotaque e a influência das línguas regionais. O Angolês pode ser uma nova viragem na montanha lusófona!
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KBgala Gala: Ontem apanhei uma torra de katrungungu. Hoje estou bem malaique.
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Alberto Baião Bebeckson: Isto também, merece um olhar sumo do ponto de vista social até mesmo literário. Também há que se indagar muito sobre as gramáticas e os dicionários de Língua- Portuguesa totalmente angolano! Ora vejamos a mesma língua também está concebida de muitos vocábulos angolanos que durante a época colonial a enriqueceram para melhor facilitar a comunicação com o povo local... Tudo temos para reflectirmos perante este debate tão alto que ajudará muito na organização sócio-cultural e político em Angola.
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Isaías João: Pra frente que eu sei que não vais desconseguir.
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Luciano Canhanga: Kota KBgala Gala, no caso "Ontem apanhei uma torra de katrungungu. Hoje estou malaique" é um desvio ou importação de vocábulos Kimbundu para o léxico português?
Quando chegar o "Angolense", com nome, baptismo e cédula (norma) terão os estudiosos de definir como se deverão escrever as palavras (léxico próprio). Pois, pelo contrário, cada vai redigir de sua forma. Veja as variações caso se escreva a pronúncia sem regra ortográfica: catrungungo/katrungungu; malaike/malayke/malaique).
Que venha o "Angolês", mas com instrumentos próprios de regulação/modelação para que não surja depois "Vianês, Sambilês, Rangelês, Kazengwês" e outros "eses" linguísticos. Quanto aos níveis de fala ou utilização oral da língua os autores que tenho consultado não convergem. Eu aponto tês níveis sendo um abaixo da norma, a norma e outro acima da norma ou mais rebuscado (uso vulgar ou popular da língua sem recurso/apego à norma; uso da língua normativa ou falar como se escreveria; uso rebuscado e erudito da língua).
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Armando Graça: Não haja dúvidas! Este Facebook é fenomenal para debates sérios como este.
Claro que há por aí muito lixo, mas a esse, a gente não liga e não dá troco!
Parabéns, Luciano Canhanga!
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KBgala Gala: Luciano Canhanga bem colocada a questão. ..o vocabulário é o inventário das palavras e o dicionário o dos seus sifnificados.a norma e os níveis de linguagem já os enumeraste com propriedade. p.e. (por exemplo) "kupapata", em todos níveis será assim dito por nós angolanos. Quem dirá que “estive em Benguela e andei de taxi de motorizada”?
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Carlos Figueiredo: Amigo Luciano Canhanga, discordo radicalmente quando diz que os desvios e empréstimos levarão ao aparecimento do Angolense. De facto, ele já existe e só os conservadores que continuam presos à norma europeia é que não querem admitir isso. A confirmação científica do uso de determinado desvio (a variação) que se fixa definitivamente na língua (a mudança) só pode ser constatado com recurso a estudos que incidem sobre dados de fala. A disciplina que faz estes estudos é a sociolinguística quantitativa, que, com recurso a métodos apropriados, analisa o comportamento diacrónico dos dados de fala e observa como os fenómenos se encaixam na gramática inata do falante e da sociedade em que ele está inserido. Este é o único método que nos permite garantir, sem margem para dúvidas, que um determinado fenómeno deixou de ser pontual para passar a ser sistemático. Para tanto, é também preciso observar como factores linguísticos e sociais exercem pressão sobre o fenómeno, levando a que ele se implante na comunidade. Tanto quanto sei, apenas existe um trabalho com base nesses métodos sobre o português de Angola: é o extenso artigo que produzi no ano passado, em parceria com a colega Márcia Oliveira, da Universidade de São Paulo, sobre o sistema dos pronomes pessoais do português de Angola, e que já tive o privilégio de enviar ao meu amigo. Observe como foi feito diacronicamente esse estudo sobre o uso dos pronomes no português de Angola. G. Bender, Amélia Mingas e outros colegas, apenas têm apontado alguns fenómenos que apresentam variação, sem produzirem prova científica de que eles já fazem parte da gramática inata dos angolanos, pois não trabalham com sociolinguística quantitativa. Neste momento, tenho mais 3 artigos inéditos no prelo sobre o português de Angola, individualmente ou em parceria com os colegas que fazem parte da minha equipa de pesquisas do "Projeto Libolo". No início de Agosto estaremos num Congresso em Aruba, Caraíbas, apresentando o projecto e mais 3 artigos inéditos. Seguem-se depois Congressos em Brasília, ainda no mês de Agosto, Bahia, em Novembro, e Macau, em Dezembro, sempre com trabalhos sobre o "Projeto Libolo"/Português de Angola. Um abraço.
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Luciano Canhanga: Carlos Figueiredo, aprecio suas aparições e seus estudos socio-linguísticos que muito gostaria de ler na totalidade. Ir à Universidade angolana, dizer que já temos uma nova língua (ainda não pautada/normatizada) é um pouco arriscado. O melhor caminho é ir alertando (gradualismo). Quando tivermos estudos suficientes e um quórum que permita a apresentação do paradigma, ai sim. Mas devo confessar-vos que estou a viver bons momentos de debate com estudantes. Ontem, tive apenas aulas até às 20h mas permaneci nas instalações pois um grupo que vai debater hoje convidou-me para presenciar a sua preparação. E lá fiquei mais uma hora e meia. Noto que os estudantes estão a gostar, pois ensinar língua deve ir para além do já "corriqueiro" sujeito-predicado-complemento.
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Carlos Figueiredo: Amigos, podem fazer o download do artigo em: http://revistas.fflch.usp.br/papia/article/view/2078
revistas.fflch.usp.br
Português do Libolo, Angola, e português afro-indígena de Jurussaca, Brasil: cot...ejando os sistemas de pronominalização // The Portuguese spoken in Libolo, Angola, and the Portuguese spoken in Jurussaca community, Brazil: comparing the pronominalization... Ver mais
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KBgala Gala: Destrinçar entre a valorização e aceitação de uma nova língua ou que já é resultado das contribuições de palavras e expressões de que nos apropriamos e incorporamos ao léxico corrente e até são aceites em textos de várias latitudes: literatura, ciência, história... isso não pode significar escrever mal... sem estrutura normativa e regras. Nós não falamos angolense, (porém) nem temos uma escrita angolese... (por isso) continuamos a falar e escrever português que, entretanto, sempre recebeu e continua a receber das várias línguas angolanas alguns contributos. E não nos precipitemos a proclamar o nascimento de uma nova língua. O que se passa é na literatura (onde são) são admissíveis a criatividade e a invenção ou incorporação de vocabulários que resultam da linguagem popular, mas já não se poderia dar o caso no direito.  Na verdade, tal como dizemos que há 1 Português do Brasil, também temos um português de Angola, com normas do português de Portugal.
Todas as línguas, o sânscrito, latim, as línguas indo europeias foram dinamizadas pela linguagem popular. Assim, na Península Ibérica, do romano ou latim rudimentar deu lugar a línguas como o português, que como lembrava o meu mestre. E,(assinale-se) não é uma língua romântica.É uma língua românica.
Um dia quando o volume de palavras de cunho popular for de tal forma usadas em grande escala seremos obrigados a sentar numa grande conferência linguista para normatizar a nossas falas ou a corrente que defende a pureza normativa prevalecerá. E ai entram os bastidores da política.
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Luciano Canhanga: KBgala, concordo com seus comentários e faço delas minhas palavras.
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Carlos Figueiredo: O volume das palavras não é problema para a linguística, amigo KBgla Gala, já que a incorporação de novas palavras é absolutamente normal em todas as línguas, por condicionantes várias. A morfossintaxe e a fonologia é que são o cerne da questão. O que é mais correcto dizer: "Eu dei-lhe um livro" ou "Eu lhe dei um livro"? Para os europeus, a segunda forma é um desvio. No tempo colonial, essas construções eram pejorativamente apelidadas de "pretoguês". Mas preste atenção na forma mais generalizada em Angola. Veja a colocação do pronome pessoal. Isso impede a função primeira da língua, isto é, comunicar, passar a mensagem? A segunda frase é incompreensível? Não sei se o meu amigo fala kimbundu ou umbundu. Mas se fala, pense agora na língua africana e veja como é a colocação do mesmo pronome nessa língua. Isso é desvio? Claro que não. Mas é identidade! O que é que os angolanos querem no futuro? Seguirem fielmente a norma europeia, porque durante centenas de anos os portugueses lhes incutiram a ideia de que as línguas africanas eram sinónimo de desprestígio social? Ou marcarem a sua identidade milenar na língua oficial que falam, sem subverter a sua função? Os brasileiros já deram o passo em frente, vincando a sua identidade na língua, pois ganharam consciência que é essa que reflecte os verdadeiros usos de fala de milhões de pessoas. Identidade essa que, afinal, reflecte também a sua africanidade, que tarda a ser reconhecida pelos próprios africanos. Um mestiço pode renegar o seu sangue africano? E pode renegar o seu sangue europeu? As palavras da frases que apontei são o sangue europeu. A estrutura gramatical da segunda frase é o sangue africano. Qual é o problema de assumir isso? Como se diz em Portugal: Os parentes vão cair na lama por isso? Muito pelo contrário, amigo Kbgala Gala: essa é a heranças dos nossos antepassados africanos, que foi maltratada, vilependiada e subvertida durante séculos. Essa é a homenagem que todos nós lhes devemos.
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Horácio Cambole: Fala quem sabe. Grande remate final. Gostei do didactismo. Afinal a língua portuguesa também é nossa. Conquistamo-la com a independência. Agora pergunto o que falta para que Angola e Moçambique adiram ao novo acordo ortográfico? É o lado politico a que te referes, grande kbgagala. É que, as tantas, não me dou conta se estou a escrever bem o Português e penso que tenho de começar tudo de novo para reaprender. Ou seja tenho que ir novamente frequentar o ensino primário?!
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Carlos Figueiredo: A ortografia é simplesmente a tentativa de tentar transpor para o papel a forma como se pronunciam as palavras.
Há dias, o nosso amigo Luciano Canhanga perguntava, e muito bem, como se deviam grafar certas palavras do kimbundu. Essa é a questão, amigo Horácio Cambole. Devemos simplesmente grafar Pungo Andongo, por adaptação fonética ao português europeu por este não possuir certos sons do kimbundu e a antiga administração colonial portuguesa assim o ter determinado, ou devemos respeitar a verdadeira identidade da língua nativa, grafando Pungu a Ndongo?
Devemos renegar a existência do antigo reino do Ndongo, do qual as pedras em questão eram parte integrante? As coisas não são tão lineares como às vezes parecem, pois perda de identidade significa aculturação ou, pior ainda, desaculturação.
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Horácio Cambole:  Claro português falado em Angola. Com identidade própria. É nosso (angolano). O João lhe bateram na mãe dele.
Em kimbundo: Zwa a m'beta kwa ma'nha. (Nzwa a mubeta kwa ma’nha). Em Português de Portugal: O João foi batido pela mãe.
Na primeira frase há sim interferência da minha língua materna o kimbundu. As línguas nacionais interferem sim na fonologia da língua portuguesa em Angola e porque não? As diferenças fonológicas também existem em Portugal. Os do norte tem pronunciam diferente dos do sul. Vinho é binho. Os erres e os ierres, enfim. Creio ser fundamental criarmos primeiro uma identidade linguística tendo o nosso calão, a gíria as línguas nacionais e só depois o acordo.
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KBgala Gala: Amigos Carlos Figueiredo e Horácio Cambole, Os amigos acrescentaram ao sumário do debate muitos outros tópicos. Todos eles chaves da mesma questão. A questão da fonética é levantada frequentes vezes pela Dra. (Amélia) Mingas. O aspecto antropológico aqui colocado pela CF. Não respeitá-la ou mesmo denegri-la resultará na inquinação da nossa africanidade. Subscrevo, portando. No vou tanto pela grafia normativa mas acreditou que as duas fórmulas não conflituam. No Brasil raramente os textos não adoptam a norma corrente em oposição às (grafia) consciente de académicos e escritores. Os portugueses puritanos querem a pureza “camoniana” e os puritanos brasileiros querem a pureza da (sua) grafia. (Quanto ao AOLP) Angola pediu uma moratória. Entretanto em Portugal e no Brasil o acordo foi abalado nas suas estruturas de barro e isto fortaleceu a convicção dos oposicionistas. Mais não posso adiantar, amigos, porque tive domínio da matéria na qualidade de membro representante da CS dentro do mecanismo angolano que estudou o acordo. Mas, Luciano Canhanga e Gociante Patissa, só por mera distracção nossa não criamos ainda aqui no FB o Clube das Línguas Nacionais, Circuito Fechado. Neste momento estou a aprender lingala a partir da música de Franklin Boukaka. É que este formato aqui é muito apertado para esgrimir argumentos.
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KBgala Gala: Perdão. Não raramente escritores e académicos desprezam a norma autêntica para adoptar a norma coloquial: "lhe disseram tunda", "disseram-lhe...vá-se embora."
Meus amigos, até as implicações biológicas dos falantes devem ser observadas. A cadência fonética brasileira e angolana já é diferente da portuguesa..."ta bala!"..."ta bom!"..."muito bem!"...essa nossa urgência decorre de uma realidade sociológica, que produziu falantes que situados as margens da norma objectiva da gramática portuguesa, por exclusão social e económica, vão criando um vocabulário próprio para expressar as suas vivências.
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Horácio Cambole: Amigo Carlos, Angola não o corre o risco de ficar ultrapassada (quanto ao AOLP)? Angola e os nossos irmãos do Índico africano (Moçambique) por não subscreverem o acordo. É     que  Portugal avançou e pronto. É só ver as obras que estão produzidas ao abrigo do acordo… dicionários, gramáticas. A própria RTP e as lições do Bom Português, (baseadas) no novo acordo. Nós corremos o risco de sermos ultrapassados. Os nossos putos (filhos), nas nossas escolas, estão a aprender com a nova gramática ou não? É que, reparem Carlos e KBgala, há aqui uma disparidade pela não assumpção do acordo. Para os dois gigantes, Portugal e Brasil, a língua é dinâmica… Que se lixem os pretos e que estes venham a reboque.
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Luciano Canhanga: Temos tantas razões para assumirmos uma variante angolana da LP que incorpore, de facto, a génese do discurso africano/angolano com as incrustações das línguas africanas bantu e não bantu. Temos também razões para pensar num alinhamento com a norma internacional(?) da LP e abordarmos a questão do alinhamento ou desalinhamento com o AOLP. Se calhar, alguém pense que fiquei esvaziado nos meus argumentos. Não. Todos os argumentos aqui apresentados têm a sua validade. Li (parcialmente ainda) o estudo do Dr. Carlos Figueiredo (Figueredo no meu kimbundu do Libolo) e o mesmo é bastante realista quanto as construções frásicas e uso dos pronomes primeiros, etc.
Quo vadis LP em Angola? Vamos a tempo de escolarizar todos os angolanos ao ponto de falarem o Português "camoniano" como lhe chamou KBGala? Teremos cada vez mais angolanos (escolarizados ou não) a falarem a LP com laivos de africanimo?
Vão existir os que tenderão para o "Português Europeu" e tantos outros (maioria, se calhar) a marcarem a sua identidade milenar na língua oficial que falam, imposta pelo antigo colonizador.
Por outro lado, vejo, hoje mais do que antes a preocupação dos escritores angolanos levarem de forma explícita para o discurso escrito essa identidade (antes representada apenas nas falas dos personagens) de modo a marcar um ponto de ruptura (?) ou anunciação de uma nova realidade tangível e inexpurgável. Há hoje a preocupação de alguns escritores em não só escreverem as pronúncias (redacção difusa), mas atentos à grafia correcta, de acordo aos idiomas bantu e à semântica que encerra. Basta ver por exemplo que Kanjala e Canjala dizem coisas diferentes (fome pequena no primeiro caso e relativo à fome, faminto no segundo caso). Lopito ou Upito é uma coisa (passagem/porta) e Lubito não existirá no vocabulário ovimbundu. Chamo o Gociante Patissa ao debate.
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Gociante Patissa: Mano Canhanga, seria "Upito", creio. Lupito é o que mais se divulga. Confrade KBgala Gala, precisaríamos de um distribuidor de jogadas, alguém que coordenasse os contributos e gerisse o espaço a criar no FB sobre línguas nacionais.
Lauriano Tchoia: Aula grande e parabéns por termos pessoas "assuntosas" como Luciano Canhanga. Tornar possível a existência actual de uma língua angolana, remete-me a reflexão e análise das diversas formas da expressão da língua inglesa onde as influências das diversas línguas interferem e distorcem a essência.
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KBgala Gala: Espero, meus amigos e em especial ao meu mano Luciano Canhanga, que o conteúdo desta conversa na vá para o lixo. Que se faça um arquivo. Abraço a todos.
 

 
 

sexta-feira, junho 20, 2014

IMPACTO DO CONSUMISMO NA ECONOMIA DOMÉSTICA

(A reflexão de sempre)

Acordei tropeçando em sapatos que raras vezes uso. Abri o roupeiro e deparei-me com muita roupa que uso de vez em quando ou quase nunca.

- Vivemos comprando coisas que não precisamos,

- Com o dinheiro que não é nosso (créditos bancários).

- Para parecer que somos o que não somos (financeiramente folgados).

É óbvio que não precisamos de viver no limite das possibilidades, tendo apenas o estritamente necessário. Não precisamos de ter “a máquina” no limite de potência, entrando em descompasso caso um “equipamento” entre inesperadamente em actividade. Mas, que tal ser mais comedidos nas compras?

Os especialistas em marketing sempre nos impingirão a comprar cada vez mais e satisfazerem, desta forma o desejo dos vendedores e prestadores de serviços para quem trabalham. Os fabricantes e prestadores de serviços (combinados ou desagregados) vivem da produção e venda. É o consumo que gera crescimento. Mais consumo resulta em mais dinheiro e mais investimentos. Hoje, os produtos e até os serviços que se prestam são dimensionados no tempo. Desvalorizam-se à velocidade da criatividade e da moda tornando muito efémera a sua duração. Você compra um veículo cujo design é atraente. Seis meses depois sai um novo modelo com um design “irresistível”. Você precisa de veículo em bom estado técnico para se locomover ou precisa de andar naquele com novo design?

Quem segue a moda apenas vai dançando a música dos produtores, amplificada pelos homens da promoção. Você será o homem ou a mulher que sempre estará na praça, comprando a qualquer preço, com o dinheiro que (ainda) não é seu. E vai trabalhar cada vez mais para pagar o que você deve ao banco que também lucra com os juros.

Ou você descarta a moda que o leva a usar "produtos perecíveis" ou sentir-se-á como eu que, mesmo estando desalinhado com a moda, me sinto cheio de coisas que me parecem estar a mais.
Falei sobre o lado técnico da coisa. Entretanto, o que me inquieta, para além de se caminhar às escuras e feitos “Maria vai com as outras”, é mesmo a falta de qualidade entre os que muito querem vender ou fornecer serviços na nossa praça.
Imagine-se agora num hotel (não importam as estrelas), para um jantar entre amigos. Um pede uma picanha, o segundo bacalhau com natas e o terceiro requisita uma garoupa recheada com verduras.
O estabelecimento, por ser o maior e mais chique da urbe é frequentado pelo Jet 7 e todos os demais integrantes da classe alta média e arrojada que se quer fazer passar por gente grande. Encontros para engates, reconciliações, enlaces matrimoniais, pedidos de noivado, celebrações de aquisições e reclamações de perdas patrimoniais, tudo acontecem aqui.
A picanha é servida a tempo. Vem cheirosa e com a gordura chorosa a fazer derramar saliva a quase todos os inquilinos da casa. O bacalhau é servido com cara trancada e a reclamar água para a dessalga. O feijão duro e gostoso e o arroz que deviam acompanhar a picanha chegam no fim do repasto, pois o garçon depositou a comida inicial e não mais voltou para perguntar sobre a qualidade dos produtos, nem se interessou por demais consumo.
A interação cliente – prestador de serviços é importante para que não haja desconforto. Os funcionários deverem estar muito bem preparados para lidar com os muitos imprevistos na elaboração do produto e prestação do serviço.

Mais do que vender, a preocupação deve ser a manutenção dos clientes.

 

domingo, junho 15, 2014

DESABAFO DUM LIBOLENSE INCONFORMADO

Sou profissional da Comunicação social há já 18 anos com experiência em Rádio, imprensa e assessoria de comunicação institucional.
Noto, com tristeza, rádios, supostas comunitárias, a lutarem por espaço em Luanda e umas invadindo o espaço vital de outras. Num território que tem os mesmos problemas “conflituam” pela busca de informação oficial, em vez de comunitária, rádios como a R. Luanda, R. Viana, R. Cazenga, Rádio Cacuaco, a quem se junta a Rádio Escola, Rádio FM Stéreo e as privadas, Rádio Mais, R. Eclésia, R. Kairos e Rádio Unia.
- Tanta Rádio p´ra nada?! – Diria meu finado pai. - E está ai o Libolo, município Kwanza-sulino que mostrou tudo o que tem de potencial para merecer uma rádio das ditas comunitárias e, até agora, nem água vai, nem água vem.
Acabei de ver a foto da maquete do que será o estádio do nosso Grandioso Recreativo, com seus dois campos anexos. Sigo notícias sobre a promissora indústria vinícola, única no país, vejo a agropecuária a ressurgir com força, a pequena indústria e serviços… Até já digo que “devemos construir um porto de águas profundas para que o mar chegue ao Libolo”… Talvez assim nos vejam, assim nos considerem…
Uma rádio comunitária para o Libolo é assunto para já. Haja coragem política!

terça-feira, junho 10, 2014

"PROVEDORIA" ORGANIZACIONAL


 Prover é agir a favor de...; tomar providências; arranjar ou dispor...
Aqui, o termo é usado não no sentido de oumbundsman, mas na acepção de "estar atento ao que a organização se predispõe ouvir de seus utentes e proporcionar feedback".
Quando as organizações entendem instalar caixas ou livros de reclamações não devem fazê-lo como mero exercício retórico para mostrar aparente abertura à critica e sugestões. A direcção da organização deve estabelecer uma periodicidade para recolher as críticas e sugestões, analisa-las e emitir respostas.
Neste exercício de dar as respostas possíveis, elas devem ser despersonalizadas para que os reclamantes ou pessoas que emitem sugestões  se sintam protegidos e em condições de continuarem com o exercício da critica racional.
Institua a comunicaçã
o na sua empresa e dê sempre retorno para que haja um clima de confiança entre todos os integrantes da organização, incluindo os stakeholders.