1. INTRODUÇÃO
2. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA E DISTRIBUIÇÃO DAS LÍNGUAS
2.1. Kimbundu
Falado predominantemente nas províncias de Luanda, Bengo, Cuanza Norte, Malanje e partes do Cuanza Sul e Uige, o Kimbundu é a língua do grupo Ambundu. Com mais de 3 milhões de falantes, apresenta estrutura tonal, sistema de classes nominais e forte prefixação verbal e nominal. É uma das línguas bantu mais estudadas em Angola, com influência lexical no português angolano e brasileiro.
2.2. Umbundu
Predomina nas províncias do Huambo, Bié, Benguela, partes da Huila, Namibe e Cuanza Sul, sendo a língua do grupo Ovimbundu. É a língua nacional mais falada em Angola, com forte presença na educação, cultura e comunicação social. A sua estrutura gramatical e riqueza lexical têm sido objeto de estudos linguísticos e etnográficos.
2.3. Kibala (ou Ngoya)
Falado na região da Kibala, abrangendo localidades como Hebo, Kilenda, Lubolu, Mbwim e Waku, é considerado por alguns estudiosos como uma variante do Kimbundu, enquanto outros defendem a sua autonomia linguística. O termo “Ngoya” é exógeno, usado por comunidades vizinhas, enquanto os falantes se referem à sua língua como “Kimbundu da Kibala” ou "Nosso Kimbundu".
3. INSTRUMENTOS NECESSÁRIOS PARA A AUTONOMIZAÇÃO DE UMA LÍNGUA
A autonomização de uma língua — ou seja, o processo pelo qual uma variante dialectal passa a ser reconhecida como língua independente — é um fenómeno linguístico, político, social e cultural. Não há uma única autoridade que o define, mas sim um conjunto de actores e etapas que contribuem para essa legitimação.
3.1. Codificação e Normalização
Gramática própria: Regras definidas de morfologia, sintaxe e fonologia.
Ortografia padronizada: Sistema de escrita consensual e estável.
Dicionário: Repertório lexical que legitima o vocabulário da língua.
3.2. Produção Escrita e Literária
Textos literários, científicos e jornalísticos.
Traduções para e a partir da língua, demonstrando sua capacidade de comunicação universal.
3.3. Reconhecimento Institucional
Inclusão em currículos escolares, exames e documentos oficiais.
Políticas linguísticas de promoção e preservação.
3.4. Uso Social Alargado
Comunidade de falantes nativos e fluentes.
Presença nos media: rádio, televisão, internet, redes sociais.
3.5. Autonomia Identitária
Sentimento de pertença.
Distinção funcional em relação a outras variantes.
4. QUEM DEFINE A AUTONOMIZAÇÃO DE UMA LÍNGUA?
Comunidade de falantes: O reconhecimento começa internamente, com o sentimento de identidade linguística.
Linguistas e académicos: Estudam, descrevem e codificam a variante.
Instituições políticas e educativas: Oficializam a língua e promovem sua inclusão nos sistemas de ensino.
Organismos internacionais: Como a UNESCO e o ISO, que atribuem códigos linguísticos.
5. COMO SE PROCESSA A AUTONOMIZAÇÃO?
Codificação linguística: Elaboração de gramática, ortografia e dicionário.
Produção cultural: Literatura, música, teatro, imprensa.
Mobilização social: Movimentos culturais e comunitários.
Reconhecimento oficial: Declaração como língua nacional, regional ou co-oficial.
6. COMO SE DEFINE O NOME DE UMA LÍNGUA?
O nome pode derivar de:
Autodenominação dos falantes (ex.: Umbundu).
Topónimo ou região (ex.: Catalão).
Grupo étnico ou cultural (ex.: Zulu).
Termo histórico ou tradicional (ex.: Latim, Tétum).
Em alguns casos, o nome é disputado ou evolui com o tempo, conforme o reconhecimento político ou académico.
7. O CASO DO NGOYA: LÍNGUA OU VARIANTE?
Kibala (ou Ngoya) representa um exemplo paradigmático do debate sobre a sua designação e autonomização linguística. Estudos como os de Tomé Grosso, Ndonga Mfwa, Gabriel Vinte e Cinco e Soberano Kanyanga apontam para uma variante do Kimbundu com identidade própria, falada na região da Kibala. A sua autonomização depende da aplicação dos instrumentos descritos, bem como do reconhecimento da sua identidade linguística pelos falantes e pelas instituições.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (ORDENADAS ALFABETICAMENTE)
Angenot, Jean-Pierre; Mfuwa, Ndonga; Ribeiro, Michela Araújo – As classes nominais do Kibala-Ngoya.
Araújo, Paulo Jeferson Pilar; Petter, Margarida – O quimbundo e o português do Libolo.
Canhanga, Luciano (Soberano Kanyanga) – A língua dos Kibala – Kimbundu ou Ngoya?
Cobbinah, Alexander – Lubolo-Ngoya | Endangered Languages Archive.
Grosso, Tomé – Monografia sobre o Dialecto Kibala e o termo Ngoya.
Jordan, Linda; Manuel, Isata – Sociolinguistic Survey of Kwanza Sul Province.
Kitumba, Evaristo – Problemática linguística da província do Kwanza-Sul.
Mfwa, Ndonga – Estudos sobre variantes do Kimbundu e o caso Ngoya.
Ndombele, Eduardo David – Reflexão sobre as línguas nacionais no sistema de educação em Angola.
O Pais – Colectânea “Letras sobre as Línguas de Angola”.
Pinto, Hermenegildo – Umbundu: caminhos para a sua preservação.
Ramos, Rui – A Língua Kimbundu.
Sacalembe, Júlio – Políticas linguísticas em Angola.
SIL International – Sociolinguistic Survey of Kwanza Sul Province.
Wikipedia – Ngoya language.