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segunda-feira, abril 28, 2025

LONGA: KWANDU NYI KUVANGU

"Aqui travaram-se encarniçados combates pela defesa da pátria ameaçada. Aqui tombaram camaradas" de várias procedéncias do nosso vasto país". Aqui se conta, nos dias que correm, estórias sobre resistência ao colono, na Sub-zona da terceira Região Político-militar do Glorioso, estórias sobre a resistência heroica contra os invasores sul-africanos quando os homens de Roelof Pik Botha e Pieter Botha pretendiam fazer em Angola um "passeio turístico" militar em socorro a amigos angolanos que a história se encarregou de catalogar. 

Hoje, a luta é reerguer o que se destruiu durantes as várias guerras (contra a ocupação colonial, contra a invasão sul-africana, contra a insurreição interna) e construir coisas novas. É produzir arroz, milho, leguminosas e tubérculos e aumentar o nível académico-cultural dos seus habitantes. 

Longa, com os seus perto de cinco mil almas, é uma comuna que "perdoa o passado lúgrubre", mas que jamais o esquecerá para que não se repitam as atrocidades que apagaram vidas e transformaram em escombros casas, lojas, hospitais e outros haveres.

A carcaça de um helicóptero militar danificado na cabeceira da pequena pista de terra batida da comuna do Longa e alguns edifícios coloniais convertidos em pedaços pela aviação e artilharia "inimiga" são hoje registos históricos que devem ser legados de geração em geração.

Os meninos do Longa contam a História lida nos poucos livros existentes e jogam à bola num pedaço lateral do "campo de aviação". 

A língua que mais se fala é Ngangela, sendo a língua portuguesa a segunda língua, obrigatória apenas na escola que foi,  felizmente, poupada e reconstruída. 

"Outra maior, de 12 salas, construída de raiz, aguarda pela inauguração, devendo elevar o nível de ensino e o  número de alunos escolarizados", contou João Mbambi, profesor do primeiro ciclo do ensino primário que ganhou um [livro] "Relógio do velho Trinta".

Os petizes, uns vestindo calções e camisolas amarelas e outros de tronco à mostra, imitavam, emotivos e sonhadores, os craques do Girabola. 

_ Quero ser como Job ou Ary Papel, disse um deles quando convidados para a foto-testemunho.

O árbitro vestia calças  jeans, uma tshirt e calçava chuteiras, ao passos que os pequenos "artistas da bola" poucos mostraram ter  o privilégio de jogar com os pés calçados. 

Alegres, sem temor, nem represálias. Hora pós-escolar, 5h30 da tarde, girava alegremente a bola no Longa, enquanto me aprumava para a viagem de regresso a Menongue que é longa, cerca de 90 km por cronometrar.

Moisés Sacinene, 14 anos, frequenta a sétima classe. Foi meu companheiro de conversas e fotógrafo de ocasião. Não se fez ao campo por consoderar aquele "um jogo de crianças". O seu campeonato é outro. Naquele pedaço de terreno plano roubado ao aeródromo militar, assiste apenas aos putos a se "trumunarem" ou é convidado a ajuizar os jogos dos kandenges.

"O nosso campo é no lado de lá da estrada, onde os colonos jogavam", contou.

Quem vai de Menongue ao Kwitu Kwanavale, tem no lado difeito do Longa a pista, parte da aldeia e o quartel. Do outro lado da Estrada Nacional 280 ficam os edifícios administrativos e equipamentos sociais como o mercado, as escolas, o posto médico e, por mais incrível que pareça, um campo relvado a reclamar por novas balizas. 

"Esse campo foi sempre assim desde que nasci", conta o professor Mbambi, quarenta anos, mais ou menos. 

"O campo é mesmo do Governo. É ela quem manda cortar  relva quando fica muito alta", esclareceu.

Podem ainda ser vistos, no lado norte, a antiga quadra de jogos de salão e sobras da guerra como tanques blindados e "mwana kaxitu" [lança rokets] já recortados em pedaços e aguardando pelo transporte à siderurgia onde as laças e canhões que serviram a guerra poderão ser "transformados em enxadas e arado" para lutar contra a fome e a pobreza.

Mais abaixo, junto ao rio que dá o nome à comuna e à fazenda que é exemplo nacional em termos de produção de arroz, um vasto prado se espalha em milhares de quilómetros quadrados de área, ladeando longitudinalmente as margens do Rio Longa cujas águas na3o só me convidaram para matar a sede,  mas também para lavar a "Maria Canhanga" [viatura] que me transporta nessa odisseia.

_ Tio não toma banho ali. Visita tem de ser acompanhado. _ Alertou-me um dos rapazes que desafiavam a lei de Pascal sobre a submersão, ao que obedeci. 

Na verdade, embora o Longa me tivesse convidado, a intenção era apenas lavar o rosto e saciar do caudal corrente e límpido a sede que caminhava comigo desde Menongue.

Enfim, conheci a Comuna do Longa, fruto da paz que o povo tanto pedia. E não vim cumprir a "vida Kwemba", nem em serviço forçado numa cadeia pidesca do caputu ou disesca da ressaca revolucionária. Estou a desfrutar Angola e os benefícios da força da razão que sempre lutou mais forte do que a razão da força que fez de todos nós meros objectos. 

Que saibamos todos dizer "tri-ti-ti nunca mais", porque agora que a paz já chegou "vamo mbora no Kwitu". E  a visita ao Kwitu Kwanavale, perto de 100 quilómetros a leste de Longa, fica na agenda por cumprir nas próximas férias.


PS: Talvez a minha Cda Emília Kacongo Kacongo me convide um dia a conhecer a capital da nova província do Kwandu (texto de 2015 revisto a 21 de Fevereiro de 2025).

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