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sexta-feira, novembro 22, 2024

A CHUVA, A AGRICULTURA E O CONDUTO

Bem, o dia amanheceu tristonho para os kimonya¹ das cidades. Até ao meio-dia, "pinguiscou" água dos céus, como gostava de brincar o meu amigo Maninho Sócrates, referindo-se aos aguaceiros.
Não foi chuva que impedisse um agricultor a fazer-se a caminho do "arimo" ou largar a enxada no meio da jornada. Foi um gotejo demorado, mas que brigou com o calor causado pelo exercício físico do trabalho campestre.
E, sob gotejos não muito densos, mas persistentes, aproveitei corrigir um canteiro cujo milho tarda em germinar ou não quer germinar.
Da anterior colheita, havia sobrado umas espigas "kamabwinyi" que podem resultar em resolutas massarocas. Descarocei e levei os grãos à terra. Aproveitei completar a metade do terreno que aguardava por sementes. Quiçá, tenhamos algum milho para divertir os dentes daqui a quatro meses.
O milho é de colheita rápida e, em sistema de regadio, podem acontecer três colheitas anuais em um mesmo campo. Quem tem kibembe grande e puder intercalar o período de sementeira, chega a ter milho durante todo o ano.
Uma gajajeira, seis bananeiras e duas anonáceas foram transplantadas e a elas somadas alguns ramos de batateira, não faltando o bambu para conter a zona junto à vala que é propícia ao enravinamento.
Mas a prosa de hoje, embora associada ao campo, tem a ver com as tarefas que a sociedade rural atribui aos homens e às mulheres e outras que são comuns.
Na mesma manhã viajei para o interior. A uns dez ou menos quilómetros da vila da Kibala, vi rapazes com altas canas que usam para a pesca numa represa agrícola. Era sábado, dia de descanso escolar. Reparei que, tirando poucas, as meninas eram raras nas aldeias e na estrada.
Os rapazes sim. Uns com instrumentos rudimentares de pesca e outros com artefactos de caça. Viajei para os tempos da minha meninice.
_ As mães e as filhas estão na lavra. _ Cogitei.
É tempo de deitar sementas à terra e ou retirar as ervas daninhas que podem prejudicar o crescimento dos produtos. Essa tarefa é comum, todavia, se a mãe e as filhas colhem verduras e levam fuba, mandioca, batata, nhame, lenha (as raparigas) e outros mantimentos, é tarefa do pai e seus filhos cuidarem do conduto. A dieta equilibrada impõe a associação de vegetais e carnes (incluindo peixes e aves).
Um pai kinaña mbala² e filhos que não caçam nem pescam levam a mãe e as irmãs à condição de vegetarianas inconscientes. Por isso, os rapazes, cedo ainda, se esmeram na arte de confeccionar artefactos e técnicas de pesca e caça, começando com pequenos animais roedores, passarinhos e pássaros, estendendo-se aos antílopes, javalis e outros.
Na pesca, começa-se em pequenos rios e represas, sobretudo quando a chuva provoca a turbidez da água e expõe o bagre ou a enguia à isca armadilhada com salalé ou minhoca.
O subir da idade, ao que se acrescem as técnicas aprendidas na escola de iniciação masculina (circuncisão), vão aprimorar a ciência e os desafios.
Resumindo: a pesca e a caça foram confiadas aos homens, assim como desmatar, roçar e plantar bananeiras que exigem maiores esforços.

1- Preguiçosos
2- Que só passa o dia na aldeia.

1 comentário:

Soberano Kanyanga disse...

Publicado no JE&F de 22.11.24 e no Jor. Angola de 24.11.24