O (H)Ebo tem nome inscrito na luta e resistência das nossas FAPLA contra as incursões das forças armadas do regime segregacionista sul-africano, mancomunado com a Unita, que pretendiam impedir a independência de Angola a 11 de novembro de 1975.
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sábado, setembro 28, 2024
O (H)EBO E A HISTÓRIA POR DESVENDAR
O (H)Ebo é uma vila e município do interland kwanza-sulino, "encravado" entre Kibala, Waku Kungu (Sela), Konda, Amboim e Kilenda.
Desde que conheci o (H)Ebo, têm sido frequentes as visitas à vila sede. Nas conversas, os populares têm reclamado o asfalto em direcção ao Waku e Ngabela para aumentar o movimento.
_ O alcatrão parte do Kondé até à vila e não avança. Aqui, quem entra tem que sair pelo mesmo caminho. Não avança. _ Precisam os moradores.
_ A luz passa, mas não pára. _ Acrescentam os munícipes que dizem usar ainda candeeiros a petróleo.
Contam ainda os munícipes que "Hebo foi a vila que mais sofreu às mãos da Unita" que fazia dela sua logística alimentar.
_ Como aqui é nos matuku¹ e o reforço das tropas vindas do Sumbe ou Sétima Região Militar (Benguela) demorava, por falta de estrada asfaltada e minas que metiam nas picadas, eles quase moravam aqui e tudo que a população produzia acabava nas mãos deles. _ Narra Fernando Almeida, 68 anos, acrescentando que "levavam os cabritos, milho, batata, mandioca e até frutas nas árvores, sem pensar se o dono sente fome".
O (H)Ebo tem muitas estórias e história ainda por desvendar e registar.
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1- Esconderijo, entrada sem saída.
domingo, setembro 22, 2024
O HOTEL CUNHA E OUTRAS HISTÓRIAS KIBALENSES POR DESVENDAR
O meu dia (24.08.24) foi marcado por entrevistas exploratórias a jovens e adultos da vila e cercanias de Kibala.
As respostas foram nulas. Nem sobre os hotéis que foram apagados da toponímia, nem do lendário Comandante que muitos admiram até hoje.
As instalações que as fotos documentam eram de um hotel que, nas décadas de 40 e 50, era considerado "um dos melhores do Império Português".
O seu proprietário era o patrono da família Cunha, por sinal, avô de José Carlos Cunha "Oca". Há uns dois anos, visitei o Senhor "Oca" na sua fazenda em Kambaw, Kis(s)ongo, Lubolu, e falou-me sobre o hotel que seu avô, de origem portuguesa, erguera na Kibala.
Sendo eu "vasculhador e amante de estórias", meti-me no terreno para saber dos moradores com que fui cruzando, incluindo os ocupantes dos escombros do Hotel Cunha, "o que foram as instalações e que serventia deram à vila?"
Dentre os jovens indagados, ninguém sabia onde ficava o Hotel Cunha, nem do Hotel Império. Uns apenas se lembram das instalações da ETIM¹, também gravemente atingidas em 1984 e em outros ataques subsequentes.
Não há registos na blogosfera e os livros que façam referência aos imóveis supra-mencionados devem ser raros.
Segundo Ana Viana Dos Santos, natural da Kibala, diz que "o Hotel Cunha e o Hotel Império (este último ficava onde estão hoje as antes de telecomunicações) foram destruídos em 1984, 12 de Junho, quando se deu o 1° ataque da Unita à Kibala".
É importante que a história não se apague por completo. Procurei pelo Presidente da ANAKIBALA, Francisco Santos, para conformar as informações prévias.
_ Aqui era o Hotel Cunha, o maior que havia na Kibala. Mais a baixo, onde se acham as antenas, estava o Hotel Império e do outro lado a ETIM.
Francisco Santos levou-me à casa do irmão do Comandante Kandimba e à do "homem de confiança que recuperou a pasta dele, depois de ter tombado em combate". O Pastor Santos, como também é conhecido, levou-me, inclusive, ao que sobra do "tanque de guerra" em que o comandante tombou heroicamente a 13 de Fevereiro de 1993. Ainda perguntei aos jovens das cercanias, se conheciam ou tinham ouvido falar sobre o Comandante Kandimba. O único Kandimba que conhecem é o restaurante que fica na Alameda (rua principal), num edifício estropiado, cujos donos homenagearam o comandante, mas são oriundos do Moxico. Assim vai a nossa história!
Quanto ao futuro do que resta dos escombros do antigo Hotel Cunha, José Carlos Cunha "Oca", diz que "de momento, faltam forças para investir nele". Vi que algumas famílias encontraram nele abrigo, sem que saibam de quem foi, o que foram aquelas minúsculas sobras e quem são os seus herdeiros.
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1- Empresa de Transportes Intermunicipais.
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Publicado pelo Jornal de Angola a 15.09.2024
domingo, setembro 15, 2024
OS OLHOS DA MÃE E A PAIXÃO DO MEU AMIGO
Passei pela aldeia de Pedra Escrita para ver a mãe Alcinda (24.08.24).
_ Mãe, experimenta ainda os meus óculos. _ Disse-lhe.
Depois fizemos uma selfie.
Sinto sempre uma paz interior, uma alegria indescritível quando a visito. É algo como o que deve acontecer aos devotos quando vão ao santuário renovar energias.
Depois, passei pela casa do Faria, meu amigo de infância, que anda muito "apaixonado" pela "água do chefe". Maria, a esposa, quando me viu a vestir-lhe um colete, disse de soslaio:
_ O amigo gosta muito dele. Sempre que passa, entra na aldeia e deixa-lhe uma lembrança. Ele é quem não se gosta e quer entregar a alma ao senhor!
domingo, setembro 08, 2024
O TANQUE DO COMANDANTE KANDIMBA
Junto à entrada à EN140, que nos leva da Kibala ao Mus(s)ende, há uma rotunda. Olhando para a esquerda, estão dois terrenos devolutos que guardam segredos de uma História ainda por escrever.
Na rotunda, as casas e casebres abeiraram-se da rodovia, restando os dois terrenos ainda devolutos em que se acham dois artefactos militares, ou seja, dois tanques de guerra que, para contar a história das agruras por que Kibala passou de 1984 a 2002, se juntam aos edifícios totalmente desaparecidos (a exemplo do Hotel Império), aos escombros dos que foram totalmente dinamitados e destruídos (Hotel Cunha) aos que sofreram destruição parcial ou outros ligeiramente estropiados. Não há edifício que não tenha sofrido nos diversos ataques infligidos à Kibala desde o fatídico 12 de Junho de 1984, data do primeiro ataque da Unita, a 2002, ano da proclamação da paz que vivemos até hoje.
Francisco Pinto, 65 anos feitos em Agosto de 2024, conta que em 1992, depois da desmobilização das FAPLA e criação do que era chamado de "Exército Nacional Único", as FAA, o Batalhão 722 chefiado pelo comandante Kandimba havia sido extinto e o comandante desmobilizado.
"Quando entrámos para as eleições, era comandante da região, pelas FAA, o Cara Podre que não havia sido desmobilizado".
O antigo Oficial Operativo no Batalhão 722 e no "Exército Único" saído dos Acordos de Bicesse, avança que até Novembro de 1992, militantes do MPLA e da Unita ainda coabitavam na vila da Kibala e até diziam que as escaramuças de Luanda não deviam ser replicadas na Kibala. Porém, conta, surpreendentemente a UNITA se retirou para Katofe e começou a bombardear a vila, matando várias pessoas como o professor Smith e sua mãe.
"Eu era amigo pessoal de kandimba. Ainda o aconselhei a ir a Luanda, depois de desmobilizado, mas ele me respondeu que aguentaria mais um pouco".
"Em Finais de Janeiro de 1993 a Kibala recebeu reforço de tropas vindas do Waku Kungu. Como nem todos se conheciam (os da Kibala e os vindos do Waku) a Unita aproveitou infiltrar-se entre as forças e tomou a Vila, concentrando todo o seu fogo sobre os tanques que já não se movimentavam. O comandante Kandimba estava no primeiro que, embora ainda disparasse, não tinha mobilidade".
Pinto narra ainda que quando foi atingido o tanque tinha esgotado as "salvas" e jura que "Kandimba não foi capturado nem enterrado pelos familiares, pois ele se retirou do local e terá morrido em local incerto".
Um dos dois tanques que se acham na rotunda possui ainda a parte cimeira e o cano. O outro, desintegrado, que conserva apenas o esqueleto central e as esteiras locomotivas é nesse em que, na madrugada do dia 09 de Fevereiro de 1993, segundo Francisco Filipe tombou em combate o comandante Pedro Manuel Biano "Kandimba".
domingo, setembro 01, 2024
O OPERATIVO E O BOMBEIRO
Há coisas que alegram e servem de bálsamo à alma triturada pela negrura da vida de um adulto.
A 13 de Agosto, que não era sexta, mas segunda-feira de um dia nebuloso, quando ia a entrar no local de trabalho, o jovem da empresa de segurança, comummente tratados por "operativo", pediu desculpas por algo que eu não sabia e nem imaginava e parou-me.
_ Desculpa, Director. Você é diferente dos seus colegas. Cumprimenta toda a gente, cumpre os procedimentos e trata-nos como se também trabalhássemos aqui. Há muito tenho pensado em dizer-lhe isso. Continue essa pessoa, meu Director- Disse o jovem, mais ou menos 25 anos, quase em sentido como se estivesse a fazer continência.
Sorri para ele. Vinha cansado e preocupado com os entregáveis e os recebíveis atrasados. Dei-lhe um abraço e agradeci-lhe pelo feedback.
No dia seguinte, ia a caminhar da Agência bancária ao Minagrif. À porta do Quartel Principal de Bombeiros de Luanda, ouvi uma voz. Alguém que me vira e tentando recordar-se de mim, ia chamando:
_ Kota, professor!
Sabendo que já estive à frente e ao lado de muitos alunos e estudantes, virei para ver se era eu o visado. O jovem lembrou-se do meu nome.
_ Professor Luciano, sou o Osvaldo Inglês. Fui seu aluno.
Estendi-lhe a mão. Já não era o Vado. Eu sempre o tratei por Inglês. Ele e as duas irmãs. Era um senhor Osvaldo Inglês à frente de mim
_ O senhor foi bom professor e só se lembrava dos mais barras e dos mais fracos, puxando por ambos. O professor já está mesmo kota.
_ Sim, Osvaldo. Já são 50 anos.
O Osvaldo explicou que ainda vive no Rangel e é motorista nos Bombeiros do Cazenga. Era um aluno brilhante. Ombreava com a Maristela (filha do Pedro Montana), o Anselmo Arcanjo Arcanjo, o Guinho Luciano e o Jandir que é sobrinho do Eduardo Costa. Eu só nomeava delegado de turma o mais "barra" de cada classe.
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