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terça-feira, fevereiro 08, 2022

O "HOTEL" EBOENSE

É único na vila. O outro (dizem que) está na picada que vai ao Waku. É obra de um filho da zona que poupou moedas, trabalhando em cidade grande, e decidiu enterrá-las próximo do seu cordão umbilical.

O "hotel eboense" tem instalação eléctrica e canalização de água. O investidor fez a sua parte. O problema é que a energia eléctrica de Lawka ainda não atende os eboenses que ainda dependem, para os serões, da simpatia da lua cheia, satélites mecanizados e estrelas com brilho mais intenso.
"Ela passa mesmo aqui e falta só desviar dois cabos (positivo e negativo)", dizem os moradores, como se a coisa fosse tão fácil assim.
"É preciso uma estação para converter a alta tensão em média e baixa. Da maneira como a energia sai de Lawka não pode chegar às casas", explicou o jovem gabelense que pernoitou no "hotel".
"O mano, aqui, disse que não é fácil meter energia de Lawka nas casas. Acha que sofrer de sede e ver toda a hora a água a passar é fácil? Levem então o nosso apelo aos que entendem da coisa e podem fazer por nós. Ndala Kaxipo e Kibala já têm", recomendou Fernando Joaquim.
Voltemos ao "hotel" do Ebo. Tem quartos com wc, que chamam de suite, ao preço de 10 e 8 mil Kwanzas cada, e outros sem wc ao preço de 6 mil Kwanzas por noite. Ao que vi, no Ebo não há requisitantes de "serviços diurnos de alta rotação e curta duração". Assim, sem hóspedes de curta e longa duração, a vintena de quartos "passa a vida" a receber poeira e infiltração de água, quando chove, não sendo poucas as vezes em que São Pedro abre as comportas dos céus. Um dos moradores e viajado por Luanda, Sumbe e Huambo explica que "é por ser uma vila pequena e todos se conhecerem, o que leva a não haver segredo!".  
Sem energia, a água não chega ao quarto e o banho, meu Deus, é de "chapadas"!. Quando o frio aperta, é só mesmo lavar o rosto, as axilas e a zona púbica, deixando o resto do corpo com o seu kibuzu1 de todos os fumos.
Os manos do "hotel", guarda e recepcionista, são de uma educação e simpatia inigualáveis. Estão sempre prontos a atender com um sorriso, mesmo que o frio prenda os lábios. Não dominam, porém, a técnica amealhadora de Luanda. Não lavam os carros dos hóspedes raros, nem se prestam a isso, mesmo faltando clientes e trabalho intenso.

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1- Cheiro. Geralmente, nauseabundo.
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Publicado no Jornal de Angola de 09.01.2022

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