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quinta-feira, abril 16, 2020

OS VENTILADORES E AS VENTOINHAS


Quando viu e ouviu a Ministra da saúde a falar sobre a importância dos ventiladores na recuperação dos doentes da covid-19, Mangodinho não se deixou ficar atrás. Homem avisado, filósofo e previdente, para o seu povo, decidiu tomar a dianteira.
- Esses nossos governantes também metem pena. Como é que num país como o nosso, que já vai tendo energia mas com hospitais sem janelas, os ventiladores já desapareceram? Uma ventoinha custa comprar? Custa caro para termos só uns cento e tal ventiladores de Kabinda ao Kunene e do Lupito ao Lwaw? - Questionou-se para depois chamar o povo.
Não tardou para que o terreiro tivesse representantes de cada agregado familiar. Ao lado dele estavam o puto Sembe e a miúda Madalena. Esses já tinham estudado mais do que Mangodinho e eram os que ajudavam nos trabalhos de sensibilização comunitária.
- Bom dia meu povo. A nossa conversa de hoje é curta. Antes vamos aos procedimentos de distância. Quem já foi tropa sabe do que vou orientar e quem nunca foi olha-me com atenção e faz o mesmo:
- Volta inteira volver, err!
O povo girou o corpo em 360 graus e posicionou-se no mesmo lugar.
- Contem agora: um, dois; um, dois. Apenas os que calharam com dois vão se movimentar. Assim, abriremos espaço de dois passos entre as pessoas.
- Atenção, número dois executar dois passos à direita, err!
Os presentes executaram o movimento r ninguém ficou colado ao outro.
- Marcar círculos no lugar e puxar cadeira.
Executados os procedimentos de distanciamento, Mangodinho puxou a conversa do dia.
- Bem, vocês devem ter ouvido na rádio e visto na TPA (por lá tudo que seja televisão é TPA). Os ventiladores, disseram, são arma de combate à covid-19. Ou melhor, quem tem ventilador, a doença até lhe salta. Temos que nos prevenir. É ou não é?
- É. - Respondeu a assistência.
- Quem tem ventilador em casa?
- Eu tenho uma ventoinha.
- Eu tenho duas: uma boa e outra estragada.
- Eu tenho, mas já não sopra bem. -  Disse Sembe, secretário da aldeia.
Bem, temos que ter ventiladores. Hoje (sábado) e amanhã as pessoas podem se deslocar um bocado. Quem tem possibilidade manda já comprar ventiladores. Deve ser cinco ou dez mil kwanzas. Vamos aproveitar antes de acabar e antes de voltarem a fechar os caminhos. Vou passar declaração de viagem para compras. Passem na Munenga para pôr carimbo da Administração. O destino é Dondo. Se não houver, cheguem mesmo a Luanda. Tragam os ventiladores e a gasolina para o gerador comunitário. Sembe, pega a carrinha. Madalena, avisa o marido. É missão comunitária importante. Levem também  alguns produtos do campo. Quem tem galinha, põe galinha. Quem tem mamão, põe mamão. Cada um de acordo as possibilidades do momento. Cada casa tem de ter no mínimo um ventilador!

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