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domingo, outubro 06, 2019

GOSTILIDADES


- Epá! Sabes uma coisa? - Provocou Zeca ao amigo que se tinha baixado para manter o brilho dos sapatos.

 

- Não, Zeca. O que se passa?
- Estás a ver, ontem, na boda, nê? Não é que uma gaja estava a me morrer?
- Mas a te morrer, como assim? Quem foi que te disse? - Era a vez de Venâncio, expectante, a buscar aprofundar a conversa.
- Sim, Man Venas. Descobri, depois de um "podemos dançar"?
- Vindo dela ou de tua parte? - Indagou novamente Venâncio como quem procura a bola escondida num palheiro.
- Epá, dela. Da parte da mboa. Até levei um susto. O mambo era dum volume que jamais a imaginaria hospedada no meu monolugar.
- E foram dançar? Conta mais então, pá.
- Epá, estás a ver, né? Real e geralmente é nessas ocasiões em que "o que lhe morrem e a que lhe morre" se dão encontro corporal, sendo medidor das tendências a forma como ela entrega a carne ao assa+dor.
- Mas…, e então? Ela te abriu o jogo ou tu, te apercebendo do convite, disparaste primeiro a tua prosa?
- Compadre, naquele instante, na dança, nos encontros e reencontros corporais, algumas vezes com ousadia da contra-parte, fiquei momentaneamente contente. Eu era o wi. Só que, de repente, pensei na munzúbya do kubiku. Porra! Lhe avanço ou lhe ignoro? Vieram-me duas ideias: abro as hostilidades ou as gostilidades?
- E tu?
- Evitei as hostilidades em casa. Congelei as gostilidades que até podiam ser momentânea e ocasionalmente boas!


Publicado pelo Jornal de Angola de 18.08.19

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