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terça-feira, setembro 15, 2015

O NEGÓCIO DOS BORDERAUX

Entre ontem e hoje, ao longo da noite e madrugada, fiquei a pensar em como e por que o moço que fica nas proximidades da repartição pública vive vendendo borderaux.
Quem se dirige ao posto de identificação ou à administração local para tratar do bilhete, cédula pessoal, agregado familiar, declaração de pobreza, registo de óbito ou outra diligência, normalmente vai cedo, fazendo-se acompanhar de dinheiro físico ou virtual (cartão multicaixa) para pagar os emolumentos. Até aqui tudo bem. O Estado é um prestador de serviços e os cidadãos-clientes-utentes devem pagar por tais prestações.
Acontece, porém, que sendo exigível que o dinheiro seja depositado em banco, em vez de pagamento à vista, muitas dependências dos serviços supra enumerados não possuem balção bancário para o pagamento de emolumentos, muito menos um facilitador Terminal de Pagamento Automático, vulgo tpa. É aqui que surge o jovem da esquina que vive e ganha sua vida fazendo depósitos correspondentes aos mais diversificados emolumentos.
Aflitos, quando os utentes recebem, às 08h00 da manhã, ao se abrirem as portas, a recomendação "tem de ir pagar no banco", não fazem mais senão ir ao encontro do banco (normalmente o BPC mais próximo), ao que se lhes cerca o jovem da esquina "oferecendo" borderaux para essa ou aquela diligência, ao quadruplo ou mesmo sêxtuplo do valor depositado.
Aqui surge a matemática do dinheiro versus tempo.
- Quanto gastar em táxi até ao banco?
- Quanto tempo gastar na agência até voltar à repartição?
- Valerá mais gastar mil kwanzas com o jovem da esquina e resolver a situação de imediato ou ir pagar no banco e perder o lugar na fila da repartição?
Numa cidade imprevisível como a nossa capital, onde a qualquer hora pode surgir um congestionamento de transito ou o gerador substituir subitamente a energia da rede, a decisão da solução na esquina acaba sempre invadindo o nosso pensamento.
- Haverá como contornar tal situação?
Talvez um TPA resolvesse a situação, sobretudo agora que o dinheiro anda mais no cartão do que na algibeira. Ou não será?

Publicado no jornal Nova Gazeta de 08/03/2018

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