Por mais que os detractores (aqueles que nunca se deram bem com os estudos nem com as exigências) se esmerem em denegrir a sua obra, apontando questões descabidas como as raciais que muitas vezes se ouvem a trás da porta, a mulher da foto, Maria Gabriela da Silva Antunes, de seu nome, fez obra e fez homens.
Homens como Wadijimbi (Vice-Ministro da Comunicação social e antigo homem forte do DIP-MPLA que numa homenagem feita pelos ex-alunos da finada professora declarou-se, ele também, um dos pupilos de Gaby), homens como eu e vários outros que são o que são graças à célebre estiga "Atrasados Mentais", algo que todos de bom senso procuraram deixar de ser. E era verdade que para o nível de evolução que o mundo já conhecia, quando colocados na balança os nossos parcos conhecimentos, prejudicados pela ausência de livros e bibliotecas, somado à inexistência de uma cultura que incentivasse a leitura, falta de informação plural e diversificada, não éramos outra coisa do que não fosse AM.
Estamos hoje nos ministérios, nos institutos públicos, na banca, nas empresas de comunicação social, na assessoria, na diplomacia e em outros campos de actuação, feitos homens e mulheres úteis, graças aos inputs recebidos de uma senhora que soube ser professora e simultâneamente mãe para muitos órfãos de mães vivas que éramos.
Aprender a escrever e a falar correctamente (Língua Portuguesa), conhecer as artes e a cultura (ALA), e comunicar razoávelmente na língua inglesa foram imputs mais do que útes. E havia aulas em que confluiam as três cadeiras por ela ministradadas.
Ser bom ou razoável nas très disciplinas era o melhor que podia acontecer ao aluno da Gaby para que não fosse o pior dos AM( atrasados mentais). E esse epíteto era indistinto. Quer o AM fosse seu filho (que o diga o Jorge Antunes), miúdos de pão e leite do Alvalade, filhos de ministros e ou de embaixadores (oh Minguiedy estás aí)), miúdos do bombó com ginguba dos musseues de Luanda ou deslocados saidos recentemente do interior... O tratamento era idêntico, diferenciando-se apenas aqueles que eram menos Atrassados Mentais do que os outros.
E lembro-me do dia em que estando no primeiro mês da nona classe (curso médio de jornalismo no IMEL, 1993), a coordenadora do curso (GA) pediu que me apresentasse ao seu gabinete.
- Então, Sr. Luciano, o senhor já tem a foto para o cartão de estudante?
Era o meu primeiro contacto frente-a-frente, fora da sala de aulas, onde os “estilhaços” eram para todos. Fiquei apavorado, tentando endireitar a resposta que até era fácil. Acabei trocando o “trago-a amanhã” por “ levo-a amanhã”.
- Oh, seu atrasado mental, quem vem traz, quem leva vai. O senhor tinha que dizer que a vai trazer amanhã. Se já a tens dá-ma então.
Aprendi para o susto e aprendi a lição. Passei a “professor" dos meus amigos do musseeque Rangel que na minha presença nunca mais ousaram em trocar o trazer por levar e vice-versa.
São episódios como estes, e muitos outros, que os ex-estudantes da Gaby, no IMEL, vão trocando e trazendo à memória no Facebook. Já que fomos muitos, contando com três novas turmas em cada ano.
Houve ao longo do percurso aqueles que, por demasia do seu Atraso Mental, ficaram mais do que os três anos do então curso médio de jornalismo (não foi o meu caso, pois dei uma de vini, vidi, vinci), estes tiveram de aturar a "mãe" por mais algum tempo. Outros desistiram do curso, procurando a conhecida facilidade do PUNIV e houve ainda os que só concluíram o curso depois da professora ter dado a sua última aula. Também não faltaram os que fugindo da Gaby compraram certificados doutros institutos e hoje são “doutores”. Cada teve a sua sorte e o seu apreço ou desapreço pela Gaby que, quanto a mim, foi, de facto, uma mãe na ausência da Dona Maria Canhanga
Gabriela Antunes nasceu a 8 de Julho de 1937 em Nova Lisboa (Huambo).
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