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quinta-feira, agosto 27, 2009

MONÓLOGO: A ANGOLANIDADE DO REI MANDUME

Ouvi, numa das televisões de Angola, um artista a dizer que tinha concebido uma obra em que pretendia demonstrar a angolanidade de Mandume Ya Ndemufayo, o rei dos Kuanyamas, tido por uns como “não angolano”.

E falei horas a fio com os meus botões sobre a pertinência das atordoadas e da obra que as refuta. Questionei-me se tal acção se podia enquadrar num desmentido ao indesmentível ou simplesmente numa factomania (mania de fabricar factos).

O artista em causa lá teve as suas razões, mas para mim, desmentir que Mandume não era angolano, constitui perda de tempo e explico-me porquê.

Monólogo
1-Mandume estaria interessado em obter cidadania angolana?
Resposta: não havia cidadania angolana, mas sim portuguesa, no tempo em que viveu.

2-Mandume precisava de ir a um cartório e registar-se para ser rei dos Kuanyama?
Resposta: Não! O seu povo o conhecia e o reconhecia. Os próprios portugueses e alemães que cobiçavam as suas terras também o sabiam que ele era o rei dos Kuanyamas.

3- Dizia o artista que muitos dos detractores afirmam que Mandume era namibiano. Como assim se a Namíbia só existe desde 1990 e Mandume morreu em 1917?
Resposta: Andam noutro planeta.

4- Terá Mandume nascido no território que é hoje parte da Namíbia?
Resposta: Pouco iteressa! O espaço geográfico e sócio-cultural dos ovambo se estende do norte do que é hoje a Namibia e Sul do que é hoje Angola.
5- Que nos leva a crer que se Mandume fosse do Angola Independente seria angolano e não namibiano?
Resposta: Os reis raras vezes vêm de regiões que não seja a capital do reino. A capital do reino dos Kuanyamas esta/va no território do que é hoje Angola.

6- Valerá tanto assim discutir o local de nascimento do rei Mandume Ya Ndemufayo?
Resposta: Absolutamente NÃO! A sua africanidade e os seus feitos contra a presença colonial/europeia são tão puros e tão nobres que tolo se torna quem os discute.

Luciano Canhanga

7 comentários:

Esqueci-o disse...

Uma bela lição de história. No entanto espanta-me o facto de pessoas com responsabilidades não pesquizem mais. Não é segredo para ninguém o "estrago" que o traçar das fronteiras africanas à régua e lápis fez a convivência entre os povos, mas por as afinidades e laços consaguíneos contunam, lá estamos nós convivendo irmamente. Sabiam que o grande Madiba e a Graça tem origem comum? Os seus antepassados ~pertenceram ao mesmo povo.

Esqueci-o disse...

Ressalvando: ...mas porque as ...consaguíneos continuam...(Gracias)

Anónimo disse...

Parabéns Luciano e muito Obrigado, hoje aprendi de ti algo muito bonito. Muito Obrigado
São sabugueiro

Soberano Kanyanga disse...

oBrigado a todos que visitam esta página e um apreço muito especial aos comentadores que são o barómetro destes escritos

Adriano Berger disse...

Quanto mais leio esse blog mais aprendo sobre a história e a lindíssima cultura africana, por onde se fala o mesmo português que o meu...

Mas sobre Mandume, que passei a conhecer agora, acredito que o amigo foi muito claro. E a mensagem central é aquela que diz em outras palavras que "mãe não é quem pari. Mãe é quem cria". O mistério envolvendo o local de nascimento do Rei torna-se irrelevante diante de sua história de vida. Mandume cuidou da sua nação como se fosse sua própria mãe... e isso elimina qualquer discussão acerca da nacionalidade.

Grande abraço!!

Angelino disse...

Muito obrigado Luciano,não poderia esperar de ti outra coisa continuas sempre a dar alegrias a quem te lê.
Todos os dias vou aprendendo algo contigo,parabens.
Um grande abraço.
Angelino.

O Sousa da Ponte - João Melo de Sousa disse...

Há sempre alguém a tentar uma discussão mais ou menos estéril se fulano era português, beltrano chinês e por aí fora.
Cristóvão Colombo descobriu a América ao serviço da coroa espanhola. Se era russo, Angolano ou Paquistanês tem pouca relevância para a questão.

De facto quando muito ele poderia ter sido português porque na época Angola era uma colónia portuguesa.

Agora se o homem tivesse um bilhete de identidade português, que creio que na época nem havia, fazia a mais pequena diferença?

E, se por acaso tivesse sido apanhado nos territórios ultramarinos portugueses por tropas alemãs durante primeira guerra mundial e lhe tivessem dado nacionalidade alemã?

Batatinhas....