Na aula de ciências integradas, terceira classe do ensino oficial angolano, o professor falava de profissões. Estávamos no ano de 1997. A fome ainda apertava muitos lares. Com ela o analfabetismo e a desvalorização da criança na família.
E o professor ia perguntando.
Joana, eu sou jornalista e professor: Quando fores grande que queres ser?
- Eu, sô pessor, enfermera.
Ok, disse o professor. _ E tú, Miguel?
-Taxista, professor.
Mas taxista porquê? perguntou o mestre.
_ Porque faz muito dinheiro e tem bué de blai's (mulheres).
E o Matadidi que espera ser?
- Eu quero ser pai, sô pressor!
Pai, como assim? indagou o professor.
Porque os pais "comeum" bué!
O aluno não foi maltratado, mas moral para se dar sequência à aula já não havia. E teve de ser dada uma pequena borla, antes do intervalo, para retomar a lição no tempo que estava reservado à aula de Português.
Obs: facto vivido
Luciano Canhanga
3 comentários:
100 comentarios!
Uma História bonita aqui retratada com alguma dor! essa dor pertence a muitos.....
Um dia essa criança passa a ser Pai. E a minha pergunta é?
Poderá ele alimentar os filhos seus de uma forma diferente?
Espero carinhosamente que os adultos tenham aprendido algo com esta criança!
Eu Aprendi!
E TU?????
Bem Hajas
São Sabugueiro
São, o professor fui eu. E foi uma grande lição. Para poder transmiti-la aos outros trouxe-a para esta pag.
É que meu pai sempre me disse para ser professor e encarnei o sonho. Nunca quis ser pai,embora goste como ninguém dos meus filhos que aprendem a ser gente em vez de pai.
L.C.
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