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quarta-feira, novembro 01, 2023

DE VOLTA À MONTANHA

A 16 de Setembro de 2023 fui, pela terceira vez, ao cume da "Table Mountain", tida como uma das "sete melhores maravilhas turísticas do mundo", levado pelo telesférico ou "cable" na língua deles. 

Ao contrário das duas primeiras visitas, em que foram dias ensolarados e abertos, portanto, sem nuvens, desta vez a nuvens densas confundiam-se com chuva preguiçosa e a sensação térmica andava à volta dos 3° celcius, imprópria para um cidadão que vive regularmente próximo da Linha do Equador. 

Mesmo com essa adversidade (frio intenso), e depois de um café e um chocolate quentes, deu para me atrever a uma caminhada pelos andarilhos e pontos de observação cuidadosamente construídos no também Parque Nacional. Chamou-me à atenção a presença do Damão-de-Cabo ou Hyrox, um animal roedor que vive entre pedras, caminhando sobre elas como se tivesse araldite entre as patinhas com três dedos apenas. É o kezu, no nosso Kimbundu, ou canta-pedra, como aprendi no Português Libolense da minha infância.

Confesso. Já andei à caça destes mamíferos placentários e experimentei a missão árdua de os capturar e deliciar-me com o sabor de sua carne, num período de escassez de conduto. Lamento. Foi em uma época de total ignorância e carências, para além do facto de que o animal ainda se apresentava a cantarolar por todos os lados onde houvesse grutas e rochedos.

No Libolo, por exemplo, a deslocação forçada pela guerra civil de muitas pessoas de suas aldeias, deixando para trás os seus meios de subsistência, empurrou-os à caça desenfreada, não só para se alimentarem, mas também para trocarem a carne por outros alimentos e bens. Como consequência, criou-se o vício da caça pelo dinheiro e ficou gravemente acometida a fauna, algo que tende a persistir, demandando mão firme e pesada.

É triste que homens de hoje, alguns mais abastados, do ponto de vista de informação científica e materialmente, continuem a dizimar animais, legando a seus filhos e netos apenas estórias sobre animais (que estejam eventualmente) extintos da nossa fauna que já foi muito rica.

Cada um, na sua aldeia, no seu bairro, na sua comunidade pode ser influenciador positivo sobre a necessidade de criarmos animais domésticos e pouparmos os selvagens. 

Já nos idos de 1980, o meu pai (de feliz memória) recomendava:

- Só se mata uma fêmea se não puder ser identificada previamente.

E jutificava que "as fêmeas eram a continuidade da fauna". No dizer dele, embora com pouca instrução académica, "se as fémeas acabassem já não teríamos animal nenhum e deixaríamos de caçar".

É que se não tomarmos consciência agora, pode ser que os nossos netos tenham de ir, daqui a cinquenta anos, pedir à África do Sul um casal de canta-pedras para repovoar os nossos parques como o da Tundavala que, ao que se diz, foi declarado "Local de Interesse" depois de ter sido classificado como uma das 7 maravilhas turísticas de Angola.

Pense nisso!

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