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sexta-feira, maio 12, 2023

ADEUS, MANGODINHO!

Era uma pessoa real, eternizada nas crónicas e contos de Soberano Kanyanga.

O nome dele de nascença, na aldeia de Mbangu-yo'Teka, era Katumbila, filho de Godinho. Na puberdade, atribuiu-se o de Zequeno (José pequeno) e assim ficou conhecido por toda a família e aldeias envolventes ao seu Kuteka. Exímio pescador por "tarrafa", "kikoyona" (rede de raspagem) e caçador de kambwiji, Zequeno ganhou outro nome que o eterniza enquanto "actor" da prosa para-literária e literária.

Um primo bricalhão e contista passou a tratá-lo por mano Godinho ou MANGODINHO, nome que lhe ficou ajustado como pele por cima de um boi bem nutrido, ficando assim conhecido além Lubolu nos últimos sete anos de sua passagem terrena.

A entrada de Mangodinho nas crónicas e contos de Soberano Kanyanga aconteceu em uma situação de óbito, em Luanda. Saído da sua aldeia de Kuteka para emprestar ombro aos que lamentavam a partida prematura de sua prima, 22 anos e quase doutora médica Cici, para Zequeno tudo era espanto. A piscina que lhe parecia "kizenga" (pequena represa em um rio e local para pesca); o andar e falar das pessoas sempre apressadas; a ausência do "bom dia" entre vizinhos; a solidão no quintal murado (dizia é cadeia); a comida farta, embora não tenham lavras; o vinho abundante, entre milhentas coisas. 

No dia de sua "estreia" como personagem de conto real (Mangodinho na Ngimbi) Zequeno recebeu um telefonema e, acto contínuo, foi-lhe ditado um número. Na ausência de papel, escreveu os algarismos em terra batida e gritou a um sobrinho que lhe arranjasse, rápido, papel e lápis para o registo. 

O soprar do vento e a passagem de carros eram tormento que o fez verter, internamente, rios de lágrimas, maiores do que as externalizadas quando da sua chegada ao velório da prima perdida. Assim surgiu o personagem Mangodinho "artista" de muitos relatos sucedâneos (ficção, realidade e mistos), ocorridos em inúmeras partes do mundo geográfico real e imaginário, trazidos por Soberano Kanyanga.

Mangodinho, acometido por uma doença pulmonar, foi levado às pressas à capital da "terra grande" para cuidados médicos especializados. Esboçou sempre simpatia e sorriso meio rasgado, mesmo respirando a custo.

Deixou-nos, desprovidos de chão, ao fim da tarde de 12 de Maio, num dos hospitais de Lwanda.

Adeus, Mangodinho!

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