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sexta-feira, novembro 25, 2022

DISTÂNCIAS DAQUELE E DESTE TEMPO

"Ai, ia, ia mama

Ai, ia, ia mama

Luanda fica longe!"


Essa canção do folclore angolano (interior) e do tempo da kitota, quando Luanda era "o porto mais seguro", tem, hoje, outros sentidos e outras abordagens.
- Que localidade fica, realmente, distante de qual outra e em relação a que outra de referência maior?
Quando, no Libolo dos anos 80 (sec. XX), cantávamos/reconhecíamos a distância até Luanda, fazíamo-lo com a consciência repousada nos mais ou menos 250 quilómetros alcançáveis somente em viagem de carro, que tinha que superar minas, buracos, possíveis ataques da rebelião (bem identificada e conhecida), avarias e kavwanzas dos tropas no Kyamafulu e outros postos de controlo. Mas havia outras regiões/localidades que distavam mais ainda, em relação a Luanda. Era o caso do Musende, da Kilenda (encravada e sem asfalto) ou do Waku, só para citar algumas. O Kasonge é e sempre foi mais para o Wambu do que Ngunza ou a capitalíssima.
Outros, embora cantassem/lamentassem a distância a que se achavam de Luanda ou Ngimbi, tinham outros referenciais. Ngunza, por exemplo, estava à "mão" de Gabela, Konda Uku, Hebo e Kibala, embora sofrendo os mesmos empecilhos na via. Do mesmo modo que os libolenses consideravam os kasongenses de "os mais distanciados de Luanda", os da Gabela, Konda e Seles também achavam os libolenses entre, ou senão mesmo, "os mais distanciados de Ngunza Kabolo". É o sistema de referência (física e social).
Bem, com estradas asfaltadas que vamos tendo e com manutenção permanente; escolas de qualidade e professores valorizados (com residências onde não haja mestres locais); postos e centros médicos com pessoal valorizado, instrumentos e medicamentos; campos agrícolas em permanente lavragem e colheitas, surgirão aldeias lindas que devem ser organizadas, energizadas e com água encanada, trazendo a pequena, media e grande indústria atrelada à cadeia agropecuária.
Quando isso acontecer (é possível que sim), teremos todas as distâncias encurtadas. Uns viajarão comodamente, sem pressa nem desgaste. Outros preferirão não migrar para o desconhecido, pois as suas aldeias farão homens fartos e felizes em realizarem as suas vidas e seus sonhos ao pé de seus ancestrais vivos e ou chorados.
Quando esse dia chegar (e temos todos de nos esforçarmos, cada um no seu posto e com o seu saber, para realizar a nossa pátria) já ninguém perguntará se "entre Libolo e Kasonge (norte e sul); Port'Amboim e Musende (oeste e leste), quem está mais distante e de quê?" A vida será prazerosa, onde quer que se esteja, e as viagens por terra transformar-se-ão em um autêntico deleite turístico!

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