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quarta-feira, dezembro 22, 2021

DISTÂNCIA DESINIBE QUEM QUER TRABALHAR

Entre Kakuzu e Kizenga, está Kambunze, um sector administrativo com edifícios (muitos) em ruínas que mostram a grande e viva vila que foi em tempos idos, quando o comboio era o principal meio de transporte colectivo no corredor Luanda-Malanje.
Pelo que já andei desta Angola, há sedes municipais que nunca tiveram um conjunto de infraestruturas ao quilate de Kambunze. A vila está afastada uns 2 ou 3 quilómetros da rodovia asfaltada que nos leva a Malanje. Mas é a 30 quilómetros de Kambunze, a caminho do rio Lukala, que um mukwaxi¹ foi "plantar sua árvore", de cuja sombra espera abrigar-se quando se reformar definitivamente.
Diferente dos que procuram terras para cultivo somente ao pé do asfalto, o mukwaxi adentrou o sertão 30 quilómetros até encontrar terra com mais planura do que declives que lhe permitiram instalar pivots de rega.
"A agricultura de sequeiro é insegura e pouco produtiva nesses tempos de secas e estiagem", disse.
A água permanente e em abundância era outro desafio. Aproveitou as formações do relevo que permitiram construir diques em pequenas nascentes e ou zonas de possível retenção de água pluvial, como também foi ao Lukala, 12 quilómetros do centro da fazenda, para alimentar os pivots que já vão a dezena e meia.
Uma conduta de 500 milímetros alimenta os diversos tanques e diques espalhados pelos milhares de hectares. O bombeamento é feito por potentes dínamos, movidos à energia eléctrica da rede pública que fez chegar a todos os pontos do empreendimento.
Só de olhar para os investimentos em energia e água é de se lhe aplaudir a ousadia até rachar as mãos.
"Hoje pagamos uma factura mensal de energia que vai a volta de 4 milhões de Kwanzas, mas não a deixamos por liquidar sequer 24 horas, pois, quando comparado ao que se gastava em gasóleo e manutenções, é um grande alivio", confidenciou o gerente do Projecto Pipe que existe desde 2010.
A soja e o milho, às vezes comprados antes de ser semeados, são as culturas mais visíveis, mas há um pouco de tudo: mangueiras, morangueiras, bananeiras, abacateiros, citrinos, nespereiras e batateira.
O empreendedor apoia a comunidade local, organizada em cooperativas, que beneficiam de preparação mecanizada de terras e sementes melhoradas de batata-doce que cuidam e colhem, repartindo os lucros da venda.
"Nós empregamos nossas máquinas que cuidam de toda a preparação da terra e fornecemos as sementes melhoradas. Eles têm gastos com o plantio, sacha, colheita, transporte e venda. É só depois de descontarem os seus gastos que vêm para dividirmos os lucros", contou o gerente, acrescentando que "há agricultoras cooperantes que já compraram carrinhas, fruto desta parceria".
Difícil seria toda essa empreitada sem estradas interiores em condições. O que observámos foram picadas largas (perto de 20 metros) em manutenção permanente e com varias ramificações, conferindo conforto e segurança ao condutor e durabilidade aos meios rolantes. Se a distância entre Kambunze ao rio Lucala é de perto de 45 quilómetros, a malha rodoviária interna pode chegar aos duzentos quilómetros.
É isso que alegra a todos e fazem todos crescerem juntos. Ao contrário dos que se confinam à berma da estrada asfaltada, pleiteando terra escassa com os aldeões nativos, não há distância que impeça quem tenha vontade de empreender.
A vontade de fazer vence a mata cerrada e faz nela emergirem autênticas rodovias que invejam cidades litorais!
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¹ Nacional, natural, local.
Foto: rio Lukala.

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