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terça-feira, setembro 01, 2020

EUFEMISMO, DISFEMISMO E JORNALISMO

Só para situar: eufemismo e disfemismo são figuras de estilo ou de retórica. A primeira visa encontrar palavras brandas para descrever uma situação cujo impacto pode ser alarmante. A segunda é o oposto. Sem ser hipérbole (exagero), amplia a intensidade da ocorrência, dando-lhe maior impacto "sentimental".

O jornalista que faz jornalismo é aquele mano ou mana que deve evitar adjectivos, eufemismos e disfemismos, servindo-se da linguagem coloquial.
Depois de nossas autoridades sanitárias se terem servido de disfemismo, em relação àquilo que seriam, eventualmente, os casos de covid-19 a essa altura, o que felizmente não está a acontecer, optaram por um eufemismo para se referir aos perecimentos causados por essa pandemia. Surgiu a expressão "foi a óbito de covid-19" que tem soado "foi ao óbito ..."
Dai que, de tanto ouvir "foi ao óbito" a septuagenária Kilombo, invisual mas atenta à televisão e que se gaba de "ouvir como se estivesse a ver", se tenha perguntado.
- Mas então o mesmo governo que proíbe ir aos cemitérios é o mesmo que permite as pessoas ir procurar óbito? Andam a ir procurar comida ou bebida?!
Tem razão, a meu ver.
Na conferência de imprensa diz-se ou pelo menos ouve-se "foi ao óbito de covid-19" e alguns jornalistas, sem olharem pora aquela regra que manda "falar barato sem cair no populismo", também vão reproduzindo "foi ao óbito".
- Mas foi lá fazer o quê com essa doença perigosa que anda a matar muita gente?! - Questionou-se ainda a velha Kilombo.
Então: morreu, faleceu, pereceu, ou "foi ao óbito"? Já não basta a "kikonda" perdeu a vida?

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