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terça-feira, novembro 01, 2016

TCHUNA BABY

O angolano é inventivo. Isso mesmo. Criativo. Cientista da imaginação. Uma imaginação proporcionada por uma língua dinâmica, "o Português de Angola", que traz ao léxico novos vocábulos inseridos de forma genial, depois de capturados e reconfigurados a partir de outros idiomas. É essa reinvenção diária e em todas as situações análogas ao real que faz do angolano um "inventor linguístico".
 
Quando ouvi , pela primeira vez, pronunciar a expressão TCHUNA BABY a referência que tive era somente aquela relacionada a roupas curtas e ou justíssimas. Porém, o tempo me levou a entender que o "invento" se tornou extensivo a outras realidades que levem à ideia de aperto. A crise económica, por exemplo, é tida como "vida tchuna baby". Por extensão, as casas pequenas, também designadas evolutivas, as que não passam de quarto, sala e wc, ganharam o "modístico" nome de TCHUNA BABY.
 
Andando pelos "Zangos", encontrei dois pares de jovens conversando ao sol abrasador, meio descontraídos, embora algo revoltados, pelo menos a tirar ilações da dureza dos vocábulos e tonalidade que imprimiam nos discursos.
 
- Fogo! Porquê que deixam primeiro construir, para depois vir partir com a alegação de que é zona proibida ou reserva do Estado? Porquê que o Estado não chega primeiro e impõe a ordem? - Interrogava-se um dos jovem.
 
Ao que me apercebi, tratava-se de um operário numa fábrica recente, em Viana e que pretendeu erguer uma moradia nas proximidades do seu trabalho.
Mamelodi, outro jovem, questionava "por que se permitia ter dois sentidos da via asfaltada ocupadas por casebres de chapas, na Ilha Seca do Zango III, quando se casas de verdade não foram poupadas".
 
- Só porque erguidas em terrenos "vendidos" pelos camponeses da região? - Questionava-se Mamelodi, perante uma assistência que se revezava nas falas?
A conversa ia longa, regada de pinchos e cervejas. Quando os lamentos se esgotassem, antes de se retornar ao cancioneiro, falava-se sobre moda.
 
E foi nessa conversa sobre slin e XXX que soube que grande parte das pessoas que ergueram moradias nos arredores do novo aeroporto e vizinhança dos Zangos viram suas casas "kamarteladas". Uns, ao que me contaram, voltaram à "felicidade" que é repartir o tecto com a sogra desbocada e proprietária, ao passo que os mais orgulhosos decidiram procurar por casas do tipo TCHUNA BABY, para não voltar ao abrigo da mãe ou da sogra.
 
- Minha mãe, já na velhice, decidiu "comprar" terreno e construir nas imediações do que será o novo aeroporto. Nunca cheguei a visitar o espaço onde a casa recebia acabamentos. Quando já se preparava para lá ir morar, encontrou o que os vizinhos choravam. "A casa sumiu"! - Explicou Imaculada, uma das mulheres do grupo que reservou o sábado para procurar por tchuna baby.
 
- É a única maneira que tenho para  acudir a velha cuja tensão arterial é "normalmente" mais alta do que normal. -Concluiu.

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