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segunda-feira, outubro 17, 2016

A PRÓSTATA E A PROSTITUIÇÃO


- A próstata vem da prostituição. - Teimava Kandungu, já bem à maneira, perante a relutância dos amigos que pediam mais argumentos.
- É verdade. Vocês não vêem que as duas palavras têm a mesma base? Eu explico. - Dizia ele insistente.
Os grupos que se formavam, por diversas simpatias, faziam inventivas contra o tempo é o vento friorento que parecia teimoso. Era óbito no Rangel.
Já não me lembro quem tinha perecido mas era um membro influente da classe Jeremias, cargo da móvel Moisés. Alguém que tinha ocupado vários cargos na Kalemba, na Classe Kwanza-Sul, na Moisés e na Jeremias, classe do Rangel. O óbito era na rua da Ambaca, junto à pracinha do Kalisange (calissangue).
Kandungu, Kitembu, Kanhanga, Tina da Saia Longa, Aida, Laurinda, Kapitia, Pinto, os Anciães Pequenino e Domingos João, entre outros que davam vida à Moisés estavam presentes para consolar a família em luto.
Os mãos velhos discutiam sobre a bíblia e tentavam buscar a explicação sobre a razão da vida, buscando no Santo Evangelho as sábias lições. O quintal, pequeno e densificado de gente que exibia cantos de subir aos céus era o espaço que os acolhia.
Lá fora, na rua, encostados à parede alta de uma casa de madeira que se achava na redondeza, estava a turma do Kandungu. Falavam sobre os prazeres da vida terrena, uns favoráveis ao desfruto e outros fundamentando seus argumentos com base nos dez mandamentos da lei mosaica.
- Não adulterarás, diz a Bíblia. - Atirou Kanhanga, pondo lenha na fogueira.
- Sim, Kanhanga, tens razão. Atirou Kandungu, conhecido como "amigo da espuma". Eu, aqui, penso mesmo que mulher é o pior dos males. É por isso que me casei com a minha curtinha e espumosa.
Os amigos galhofaram até torcer as costelas. Mas Kandungu prosseguia:
- Vocês sabem que relação existe entre uma certa doença dos homens e uma certa prática de mulheres sem norte?
Instalou-se um silêncio de fazer inveja ao sepulcro.
- Não, respondeu Aida, esposa de Kapitia, interrompendo a distribuição do café que os homens baptizavam, diligentemente, com porções nada poucas de aguardente.
- Então Oiçam. Essa falta de géneros nas lojas do povo está a levar muitas de nossas irmãs à prostituição. Já não é novidade. Basta parar, à noite, no Nzamba-1, para ver quem mais apanha o autocarro 33, em direcção à baixa, onde moram os cooperantes. Mas o resultado para esses estranjas vocês nem imaginam... - Kandungu pôs travão na conversa para engolir um pouco de oxigénio e empurrar o pedaço de frango grelhado com um gole de cevada.
A turma se mantinha atenta e expectante no desfecho. Depois dele, entraria em cena outro contador de piadas, só para entreter.
- Termina então essa conversa de mulheres da vida e cooperantes. - Solicitou Kanhanga, já com a paciência aos soluços.
Kandungu, inclinou a caneca à boca e já mais torpe do que lúcido, retomou a cena.
- Yá. Todos os cooperas que conheço têm problemas na próstata. Tenho certeza que é o resultado da prostituição!
Entre aprovações e apupos, Kandungu terminou a sua cena.
Preparava-se Kanhanga para contar a sua cena sobre o Evangelho e o "pente policial", que no seu entender encontra cobertura em Mat. 5:25-26. Ainda não tinha aberto o órgão falador quando foi interrompido pela presença sorrateira do ancião Kambundu que se apercebera do subir de vozes no grupo da juventude. Kambundu era um conselheiro equilibrado que procurava meio-termo entre o admissível e o proibido. Tinha verificado toda a engenharia do abastecimento das latas de gasosa com uva fermentada e outras artimanhas. Aproximou-se vagaroso, com a mesma velocidade com que a mocidade foi guardando as latas e os copos. Dirigindo-se àquele que mais vozeirava, mas distribuindo olhares ao grupo todo, o ancião Kambundu fez-se anunciar:
- Ó Kandungu, vai, meu filho. Empurra. Bebe tua cerveja. Ninguém está a te ver!
A turma, atónita, não sabia se abria a boca ou se se mantinha calada, pois receava fazer-se denunciar pelo hálito do álcool. Apenas as mulheres meteram conversa, tentando desviar a atenção do mais velho que não caiu na cantiga.
No domingo seguinte, todos foram chamados ao gabinete do pastor Domingos João para uma reprimenda. Só Kandungu não compareceu pois era um pisca-pisca.
 

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