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quinta-feira, setembro 11, 2014

OVILAMO

(Crónica publicada no Semanário Angolense na rubrica "Palmas & Muxoxos")
 
Batem-se palmas quando alguém aprova algo bem feito ou bem dito. Soam estalidos bocais ou “mixoxu”, plural de “muxoxu”, quando se reprova uma atitude ou acção. É isso que se espera desta rubrica de crónicas que hoje se inaugura nas páginas do SA que atende a um “nga dibeka” do autor. Falando verdade verdadeira, o Director desabafou numa brincadeira que precisava de cronistas para o SA e eu “kasumbulei” a oportunidade. Isso mesmo. Candidatei-me via face book e obtive dele o “escreve já”.
Antes de iniciar o aprofundamento dessa conversa, apelo aos prováveis seguidores da odisseia que em muitos casos descuidarei o tratamento normativo da Língua Portugues. Portanto, aqui escreverei Português e “Angolês” que deve estar já aí a chegar!
 
O ponto 02 deste ponto prévio tem a ver com o “ovilamo” que na língua umbundo é saudação. Não sendo um “habitué” e ainda que fosse, teria sempre de saudar os Kotas do SA, que espero me recebam com ternura, e os leitores de quem aguardo leitura e crítica. Portanto, estais todos cumprimentados. Nga mi menekena, menekenu!
 
Bajular virou ciência? É a “maka” de hoje, também retirada dum “bate-letras” com um jovem desconhecido. E escrevi a minha verdade verdadeira, nua e crua. "Até a mulher que tenho (grande ‘mboa’ em tamanho e qualidade) foi graças ao chefe Graça que me escalou em missão de serviço a Katabola e lá conheci a vice-comissária municipal que depois, pelos caminhos da amizade desinteressada, me apresentou a prima-irmã com quem me amancebei".  Tem ou não razão de ser, agradecer aquela senhora do Bié?
Uns “muxoxaram”, acusando-me de adulador dum templo já em ruínas. Outros bateram palmas e uns ainda ficaram pelo NIM. Nem sim, nem não. São os que se posicionam sempre em cima do muro, esperando que o bom vento os leve ao quintal da fartura.
Defendi-me com os dentes, já cariados que me restam na boca, e as unhas, sempre roídas, que “isso não é graxa. É humildade e gratidão”. Disse-lhes, aos ‘artistas da pedra barata e gratuita’, que “ser grato é elevação. Ser elevado dá abertura e reconhecimento. Abertura dá fartura. Fartura dá estatuto. Estatuto dá poder”. Filosofei o máximo, buscando sofistas clássicos e contemporâneos da Grécia, Roma e Angola. Também temos sofistas!
Dito isso, ficaram mais furiosos ainda, mas… Mas que dizer-lhes mais depois de tanta verdade e más respostas ao “mahezu”?
Parte da minha turma: JL-A-1996
Exemplifiquei ainda com outro apontamento: o primeiro cronista em quem me inspirei, ainda nos tempos do IMEL, Curso de Jornalismo e não esse de hoje, chamado “de Comunicação Social”, em que se estuda quase tudo e sabe-se quase nada, foi precisamente o Salas Neto, com suas Crónicas de Areal. Era moda para nós, os estudantes, termos um jornalista sénior a quem seguir: uns imitavam o Kinguri ou o Mateus Gonçalves. Umas a Maria Luisa (Fançony ou Rogério). Outros o Sebastião Inácio Neto (Xé, não vale a pena chamar Kota Senghor, vai te mandar saudar a progenitora…). Uns imitavam o Balduino Carlos, Ernesto Elias, Edgar ou Dedaldino. Eu gostava de crónicas. Se calhar, foi por isso que quando fui à LAC para estágio profissional, o Mateus Gonçalves olhou para mim e disse muito sério: “puto escreves bem mas não tens voz para ler”. E fiquei a “reportar” muito tempo sem pôr voz, até que o avião do Maitre Beye desapareceu dos radares costa-ivoirenses. Era Sábado e José Rodrigues,  o Editor-chefe, fez-se de repórter. Com o loucutor atrasado tive de abrir o noticiário das 12h30. Portanto, (não me tratem de Senhor Portanto) dizia que escolhi o Salas como modelo na escrita da oralidade luandense. O Prof. Cacá Alberto que o diga! Mandou tarefa para fazer crónicas, sem estipular a quantidade. Na aula seguinte tinha 15 “filhotes de crónica” sobre a mesa. Tudo de minha autoria. A amizade começou ja mesmo aí, até hoje, longe de adivinhar a existência futura de jornais privados, como o SA, e vir a conhecer “caralmente” o ‘artista da palavra popular luandense’. Face book, hi5 e outros "devires" eram obras de “malucos” que eram seguidos à lupa para não “bombearem” os prédios das cidades. Isso é bajulação?
 
O indivíduo consegue um emprego e, contente da silva, desabafa consigo mesmo, com os amigos e transeutes: “graças a Deus, consegui deixar de matar ‘kasumuna’!” Isso também é “bajú” ou há "revús" para tudo e nada?
 
Se calhar, eu seja apenas um estagiário da “bajulogia”, que nunca chegará lá aonde alinham as vedetas do campeonato mundial da competição.
Kota Salas, quanto à bajulação estamos conversados. Que chovam aplausos e “mixoxu” depois do meu “ovilamo”.
 
Obs: Semanário Angolense, 06.09.2014

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