Sabe-se que quando da independência, havia um comércio retalhista estruturado, com lojas e cantinas (comércio precário) com um sistema de produção de bens considerado aceitável para aquela época. Importa também reconhecer que a economia angolana nem sempre esteve totalmente monetarizada, coexistindo o comércio monetarizado e a permuta (troca de bens/produtos por outros de valor equivalente). Três factores animam nos últimos anos o nosso comércio.
De um lado está o comércio informal, feito em locais impróprios e que prejudica a vida urbana (circulação, asseio, estética, etc). De outro lado está o surgimento de grandes e médias superfícies que vão cobrindo, nas cidades, um vazio que há muito se fazia sentir em termos de concentração de bens e serviços num espaço único. Para o caso de Luanda existem os Shoping’s e os "Nosso Super". A terceira variante, e preocupante, tem a ver com o surgimento de cantinas, nos subúrbios das cidades, detidas maioritáriamente por cidadãos expatriados. É aqui que os cientistas sociais são chamados para estudos sobre as causas e objectivos dos promotores deste tipo de “apropriação silenciosa”.
Sabe-se que à luz da legislação económica angolana, os estrangeiros são chamados para investirem em áreas que envolvam avultadas somas monetárias e para as quais os nacionais não estão in solo “preparados” para a demanda que se impõe. O comércio grossista é, por via disso, um pedaço em que são chamados a debitar esforços. O que se assiste, porém, é o contrário e várias vezes nos perguntamos: _ Porque será que as cantinas passaram todas às mãos dos Kamarás, Dialós, Diarrás e Diakités?
Um estudo (ainda inacabado) sustenta que por trás dos cantineiros expatriados estará uma mão invisível que usa os mesmos métodos praticados pelos europeus nos longínquos séculos XIV e XV, ou seja, os 3M: marché, missionnaire et militaire (aqui entendível apenas como povoir/poder). Os norte e oeste-africanos usam o comércio/economia para expandirem a sua religião (islamismo) e com ela (a religião proporcionará o aumento de prosélitos angolanos confessos) virão outras formas de exercício do poder. Sabe-se que a economia e a política andam sempre de mãos dadas.
Não se podendo pôr termo ao surgimento das actuais cantinas que encarnam o chamado comércio de proximidade, urge a necessidade de regular/definir e fiscalizar os que o fazem e em que circunstâncias exercem esta actividade. Por outro lado, assistindo-se ainda à permuta em algumas áreas do interior do país, fruto do fraco nível de produção e distribuição, entendo que só a autosustentabilidade em termos de bens e serviços nos levará à completa monetarização do comércio e ao equilíbrio entre a procura e a oferta que muito afecta os preços.
Estando, com certeza, o Governo atento ao debate e às prementes necessidades dos angolanos, o anúncio feito pelo Presild, de pretender levar ao interior mais de dez mil lojas de proximidade, é um valente passo que só peca por tardia.
Publicado no jornal "Semanário Económico" do dia 15 de Abril de 2010.
1 comentário:
Boa reflexão. Concordo que se invista na fiscalização de todo tipo de comercio realizados nos espaços urbanos e rurais. Pois com essa acção descobrir-se-á atividades que estejam encobertas pela roupagem comercial e que influenciam deveras na mudança de comportamento, atitude e mentalidade dos cidadãos africanos e que muitas vezes geram conflitos nas relações sociais. É o caso de conflitos religiosos, guerra de traficantes pelo controle do mercado e mais... .
A fiscalização vai garantir também que os impostos sejam pagos, e o dinheiro venha servir para construção de mercados, lojas, cantinas condignas, agregando a isso valores como segurança e saúde pública.
África precisa crescer economicamente, porém com segurança.
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