Volto a falar de "idosos malogrados"... Com gente incorrigível o melhor seria é não gastar latim. Já assim fora apelidado o finado Mesquita Lemos, aos 94 anos de idade. Cansaram-se de apregoar que lá se tinha ido o "malogrado"... que teve bons planos que ficaram pelo meio...
Agora é a vez de Holden Roberto. Já apelidado, em vida, de "velho Holden Roberto", o finado foi rebaptizado "jovem", agora na morte, já que só aos jovens que morrem, deixando planos por executar, vida cortada subitamente, se deve tratar de malogrados.
E volto ao dicionário para recordar que Malogro é terminar a vida prematuramente. Nesse caso morte prematura é que é malogro.
So não sei se por ter sonhado ver a FNLA reerguida, como também se apregoou, que ele mesmo dividiu ao não fazer renovação de mandatos em mais de 40 anos, se possa dizer que a morte de Holden tenha sido um malogro. Ou dito de outra forma, os autores do malogro talvez pretendessem que o Velho morresse somente aos 200 anos depois de reunificar a FNLA.
Pelo contributo que teve na luta pela emancipação do pais, ele merece, e como mereceu, honras de Estado. Aliás, devia tê-las ainda em vida. Mas malogro não foi... não.
Pena é que a Rádio e televisão do Estado e também a ANGOP se tenham cansado de apregoar a morte do Velho Holden como um malogro, como se a nossa esperança de vida fosse até aos 150 anos... quando o "Velho" até já tinha vivido duas vidas e tal, se termos em conta que a nossa esperanca de vida anda aí aos 42 anos, que só com muita sorte também se alcançam.
Pronto, ficamos a engolir esses malogros da RNA, TPA, ANGOP e Cia, quando o verdadeiro malogro é a falta de vocábulos para descrever uma dor que a todos directa ou indirectamente atingiu.
Soberano Canhanga
2 comentários:
passei aqui e gostei muito dos textos
abraços
O texto que se segue é de Fevereiro de 2006.
OS NOSSOS MALOGRADOS
Aprendi que morrer é morrer. Partir para não mais voltar. Por isso mesmo, sempre doloroso, independentemente de quem se vai.
Aprendi também, vendo e ouvindo, ao longo dos trinta ciclos que carrego, que há mortes que deixam todos estarrecidos, pesarosos, porque o finado parte forçado. Filhos por fazer, casamento por consolidar, curso superior por terminar, frutos por colher, enfim. Diz-se que foi puxado pelo Diabo e é por isso um malogrado. O malogrado Pedro de Menezes, por exemplo.
Para além desses há os que até dão trabalho à família. Retirá-los do quarto de dormir para o quintal para apanharem o sol, lavá-los, enfim. Depois de longa vida vivida tornam-se novamente bebés. Já se formaram no que pretendiam, trabalharam o que deveriam, procriaram quanto queriam e inclusive já “viuvaram” os próprios filhos, etc., etc. Numa só palavra, “já deram o litro”. É o caso do nosso “malogrado Mesquita”.
Quis a media pública, por ignorância do termo ou por excesso de pesar, dizer, e disse mesmo, nas suas edições que o finado locutor e professor de locução Mesquita Lemos, foi um malogrado, morrendo aos 93 anos. Que malogro!
Intrigado e preocupado com o ensino das novas gerações que aprendem tudo pelo que ouvem ou lhes é dado a ver pela Televisão, fui ao dicionário para tirar dúvida e esclarecer.
Malograr, diz o dicionário enciclopédico alfa, editado em 1992, é: perder-se cedo de mais, prematuramente.
Talvez num país como o nosso onde se morre aos quarenta anos os noventa e três de Mesquita tenham sido poucos. Se assim for, a minha mão à palmatória.
Por: Soberano Canhanga/ 20 Fev.06
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