Segundo Carlos Figueiredo, o termo Wombe remonta ao período da ocupação do território do actual Libolo pelos Kisamas, uma linhagem dos Mbundu que expulsou os povos San (Bosquímanos) e estabeleceu domínio sobre a região. Com o tempo, os próprios Quissamas foram desalojados por novos migrantes vindos de várias partes de Angola — Luanda, Malange, Kibala, Zâmbia, entre outras. Apesar das mudanças, o nome Wombe permaneceu como referência à terra ancestral, símbolo da fundação e da identidade cultural do povo libolense.
Na obra "Retratos do
Libolo", Figueiredo descreve-o como um território marcado por forte
resistência à colonização desde o século XVI, e por uma preservação notável de
traços linguístico-culturais nativos, mesmo após a pacificação no século XX.
Essa resistência prolongada permitiu que o território mantivesse uma estrutura
social e simbólica própria, onde zonas como Wombe assumem papel central na
memória e identidade local.
Embora o termo Thunda não apareça
explicitamente na obra, a lógica histórica e cultural permite inferir a sua
existência como zona complementar ou paralela a Wombe. Se Wombe representa o
núcleo original, Thunda pode ser entendida como uma zona de expansão, uma
linhagem paralela ou uma sub-região com identidade própria. Em narrativas orais
e etnográficas, é comum que os territórios sejam divididos em zonas simbólicas
— como “terra dos fundadores” versus “terra dos aliados ou descendentes” — e
essa dualidade pode também estar associada a funções sociais distintas, como
zonas de chefia, culto ou refúgio.
Para além da interpretação
histórico-cultural que associa Wombe à terra ancestral e Thunda à zona de
expansão, propõe-se aqui uma hipótese primária de natureza
cosmogeográfica, baseada na orientação secular pelo sol — elemento
fundamental na organização do tempo e do espaço pelas sociedades tradicionais.
Nesta leitura, Thunda
corresponderia ao nascente (leste), ponto onde o sol emerge e inicia o
ciclo diário da vida. É o lado da aurora, da origem, da fertilidade e da
fundação. O termo Thunda, neste contexto, simboliza o princípio, o começo, o
lugar onde tudo nasce — tanto no sentido físico quanto espiritual. É o lado da
memória, da ancestralidade e da luz que revela.
Por oposição complementar, Wombe
corresponderia ao poente (oeste), o lado onde o sol se recolhe e a sombra
se alonga. Wombe seria o espaço da maturidade, da recolha, da sabedoria e do
encerramento do ciclo. É o lado da introspecção, da chefia e da transcendência.
Se Thunda é o ventre que gera, Wombe é o horizonte que acolhe e transforma.
Esta hipótese solar encontra
respaldo nas práticas tradicionais de orientação, onde o nascer e o pôr do sol
servem como referências primordiais para a localização, a marcação do tempo e a
organização dos espaços rituais e sociais. A pergunta ritual “Kuthunda kubê,
kuwombe kubê?” — feita diante dos bichinhos da terra — pode então ser vista
como uma forma lúdica de introdução à cosmologia solar, ensinando às crianças a
distinguir os polos do mundo e a situar-se nele.
Ademais, a Kisama, terra próxima
e aparentada do Lubolu, tem o seu limite extremo o Oceano Atlântico que, no
caso, é aonde o sol se põe. Os Kisamistas, assumindo-se como kamwombe,
identificam-se com o polo do poente, o lado onde o dia se encerra e a luz se
recolhe, reforçando a sua posição simbólica como guardiães da sabedoria, da
chefia e da memória ancestral.
Assim, Thunda e Wombe não são
apenas zonas geográficas ou linhagens históricas, mas também arquétipos
solares, que estruturam a visão lubolense do mundo: o este como origem e o
Oeste como destino, o claro e o escuro, o começo e o fim — numa dança eterna entre
luz e sombra.
Carlos Figueiredo também destaca
que o Libolo, por ter sido um dos principais pontos de resgate de escravos,
contribuiu para a formação cultural e linguística do Brasil e da América
Caraíba. Os traços do quimbundo falado como L1 em várias comunas do Libolo, e a
forma como o português foi adquirido como L2, revelam uma cadeia de preservação
cultural que atravessa o Atlântico.
A realização de estudos
etnográficos locais e entrevistas com pessoas de terceira idade e autoridades
tradicionais pode aprofundar esta relação simbólica e histórica, sendo que a
memória oral, preservada nas brincadeiras, cantigas e provérbios, continua a
ser uma fonte viva e legítima para compreender a cosmogonia Kisamense e
Lubolense.

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